ST01 - A SEMIOTIZAÇÃO SOB A ÓTICA DA
SEMIOLINGUÍSTICA: A ARGUMENTAÇÃO COMO PROPOSTA INTERSUBJETIVA DO MUNDO
Ilana da Silva Rebello - Universidade Federal Fluminense (UFF)
Luciana Paiva de Vilhena Leite - Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO)
De acordo com Charaudeau, todo
ato de linguagem é uma mise en scène
que comporta, no mínimo, quatro sujeitos, sendo dois situacionais e dois discursivos,
que, por meio de signos verbais e/ou não verbais, têm por finalidade proceder a
uma semiotização do mundo em que um mundo a significar passa a um mundo
significado e, consequentemente, interpretado pela ótica de um sujeito. A troca
entre sujeitos é controlada por um contrato de comunicação, responsável, dessa
forma, pela organização da matéria linguística, nos vários modos de organização discursiva, definidos por Charaudeau como o
conjunto de procedimentos que utiliza determinadas categorias de língua para
ordená-las de acordo com as finalidades discursivas do ato de comunicação. O
sujeito, mais ou menos consciente dos espaços de restrição e da margem de
manobra proposta pela situação de
comunicação, utiliza categorias de
língua ordenadas nos modos de
organização do discurso para produzir sentido, através da configuração de
um texto. Assim, dependendo dos
objetivos visados, do lugar social e dos papéis dos participantes, o
eu-comunicante, sujeito que põe em cena o eu-enunciador, poderá utilizar
sequências de um ou de vários modos em seu texto, de forma que, no jogo da
enunciação, possam estar presentes vários modos de organização do discurso,
conforme o projeto de dizer do enunciador. Dessa forma, sob a perspectiva
principal da Teoria Semiolinguística de Análise do Discurso, mas com a
possibilidade de interface de áreas inter e transdisciplinares, a proposta
deste simpósio é reunir pesquisas que abordem o tema da argumentação em sua
dimensão mais ou menos explícita e em diferentes corpora de pesquisa, através da contribuição de diversas áreas do
saber, pondo em evidência a produtividade do quadro teórico da semiolinguística
para esse fim, com vistas a contribuir para a formação e para o enriquecimento
dos participantes, bem como para o progresso das pesquisas em Análise do
Discurso. A proposta também pretende focar o olhar para pesquisas que considerem
a argumentação no bojo de gêneros que, tradicionalmente, não sejam pensados
como aqueles em que a argumentação seja o modo preponderante. Nesse sentido,
podem ser consideradas pesquisas que abordem corpus ficcionais,
imagéticos, multimodais, entre outros.
ST02
- ARGUMENTAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMATICA
Antonio Sales - Universidade Anhanguera (UNIDERP)
João Paulo Attie - Universidade Federal de Sergipe
(UFS)
Refletir sobre a argumentação em
educação matemática suscita uma série de questões relevantes, especialmente
sobre conceitos a ela relacionados, tais como a prova, a demonstração, a
explicação, a justificativa, o raciocínio, a compreensão e até mesmo a retórica
e o discurso, entre outros. Neste Simpósio Temático, estarão congregados
trabalhos que apresentem estudos e pesquisas que podem abranger desde a
fundamentação teórica relacionada a tais aspectos, como também aos conceitos ou
às práticas fundamentadas na Argumentação no Ensino e ou na Aprendizagem de
Matemática, em diversos contextos e abordagens metodológicas, dentre as quais
podemos citar teóricos como Balacheff (1988), Duval (1993), Toulmin (2007),
Perelman, & Olbrechts-Tyteca, (2006), Stylianides (2017) e Habermas (1999).
A existência e a permanência de um espaço para discussões, reflexões e análises
sobre a Argumentação no campo da Educação Matemática se justifica por algumas
razões principais, entre as quais destacamos: a relevância do conhecimento
matemático e de suas aplicações, tanto em termos individuais quanto em termos
socialmente instituídos – a despeito da invisibilidade aparente da qual essa
importância se reveste – a potencialidade da educação matemática, enquanto
promotora de uma cidadania crítica e reflexiva e, por último, mas não menos
importante, a singular importância da argumentação nesse campo, como um
alicerce para a superação de modelos de ensino e de aprendizagem baseados no
binômio memorização e repetição. Dessa forma, esse Simpósio Temático tem como
objetivos principais: 1) possibilitar a socialização de conhecimentos e o
debate sobre Argumentação em Educação Matemática, sob diversos olhares teóricos
e percursos metodológicos e 2) divulgar pesquisas que tenham como objeto de
estudo a análise desse tema. O perfil teórico metodológico esperado para as
intervenções é de natureza qualitativa ou quantitativa. A estratégia utilizada
pelos participantes durante o Simpósio será por meio da exposição de trabalhos,
do diálogo e de questionamentos sobre as concepções teóricas e metodológicas
relacionadas aos discursos e à argumentação nos espaços nos quais acontece a
educação matemática, aos usos da argumentação e demonstração nesses espacos,
especialmente nas aulas de matemática, e a importância da argumentação na
formação para a cidadania de alunos, futuros professores ou professores em exercício,
entre outros.
ST03 - ARGUMENTAÇÃO MULTIMODAL E
COLABORATIVA NA ANÁLISE DE PROJETOS DE FORMAÇÃO SUSTENTÁVEL E EMANCIPADORA
Fernanda
Liberali - Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)
Isabel
Cristina Michelan de Azevedo - Universidade
Federal de Sergipe (UFS)
A argumentação multimodal e
colaborativa desempenha um papel crucial na ação e formação de educadores,
impactando significativamente o desenvolvimento tanto dos educadores quanto dos
estudantes. Integrando múltiplos modos de comunicação como texto, imagem, som,
movimento e gesto, essa abordagem permite uma compreensão mais rica e
abrangente dos processos educacionais e dos resultados alcançados. No contexto
de diferentes iniciativas acadêmicas e de extensão, a argumentação multimodal e
colaborativa promove práticas educacionais mais inclusivas e dinâmicas,
facilitando o engajamento e a reflexão crítica entre todos os envolvidos. Esse
tipo de investigação acadêmica-científica e esses modos de agir no âmbito
educacional contribuem para conscientização de pesquisadores e professores
acerca das alternativas para a contraposição a diferentes problemas sociais,
como a gestão de resíduos, a manutenção das instalações comunitárias, o consumo
de água, o nível de conhecimento ambiental, entre tantos outros. Para que a justiça
social e a resistência sejam efetivadas na sociedade contemporânea, esforços
coletivos, em distintos espaços sociais, são necessários e o engajamento em
atividades destinadas à justiça, ao combate à desigualdade social, a busca pela
equidade nos espaços formativos e em ambientes de trabalho, entre outras
situações, são bem-vindos. Metodologicamente, interessa-nos propostas que
promovam a integração de abordagens qualitativas e quantitativas na
argumentação multimodal colaborativa, fundadas em métodos qualitativos, com
apoio em variados instrumentos e técnicas, como filmagens de eventos,
entrevistas e histórias de vida, que fornecem saberes valiosos para ajustar
programas e intervenções, garantindo uma compreensão mais profunda dos impactos
ético-políticos e sociais. Assim, neste Simpósio Temático, entende-se que a
argumentação multimodal e colaborativa contribui para a conscientização e
educação social e ambiental, sobretudo ao incentivar a sensibilização e a
produção artística e cultural. Em termos de educação cultural e comunitária,
destacam-se o desenvolvimento de currículos abertos e voltados à valorização de
grupos sociais variados, a participação comunitária e a preservação cultural.
Assim, serão acolhidas propostas que destacam ações de linguagem interessadas
em questões éticas e culturais e que querem discutir como a argumentação pode
colaborar com a investigação, análise, compreensão, enfrentamento e superação
desses desafios. Entende-se que as propostas podem integrar abordagens
qualitativas e quantitativas na argumentação, visando enriquecer a avaliação
dos acontecimentos sociais e a compreensão mais profunda dos impactos éticos,
políticos e sociais.
ST04
- ARGUMENTAÇÃO NA EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIAS DE ENSINO A PARTIR DE ESTRATÉGIAS POTENCIALMENTE ARGUMENTATIVAS
Sylvia De Chiaro - Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE)
Nádia Oliveira da Silva - Centro Universitário Boa Viagem
(UniFBV)
O uso da argumentação no
contexto de ensino desempenha um papel crucial no desenvolvimento de
habilidades que envolvem o pensamento crítico, reflexivo e metacognitivo. Isso
porque se trata de uma atividade social e discursiva que utiliza a linguagem
para justificar ou refutar posicionamentos ao considerar perspectivas
alternativas, visando aumentar ou diminuir a aceitabilidade dos pontos de vista
tratados entre pares que buscam resolver uma diferença de opinião (van Eemeren et al., 1996; van Eemeren; Grootendorst,
2002). Desse modo, um processo intrínseco à argumentação é a revisão de
perspectivas, sendo essencial para a construção do conhecimento e a prática
reflexiva (Leitão, 2000). Dado o seu teor epistêmico, houve um maior interesse
por parte de pesquisadores e educadores em compreender qual a função que
atividades argumentativas desempenham em contextos de ensino-aprendizagem. Em
linhas gerais, esses estudos apontam que a promoção de um ambiente
argumentativo viabiliza a reflexão crítica e a ampliação de critérios
utilizados na análise dos argumentos, ou mesmo na mudança de pontos de vista (a
exemplo De Chiaro, 2020; Ramínez, 2012; 2018). Uma das explicações para tal
feito é o fato da argumentação se tratar de uma atividade que envolve processos
cognitivos e discursivos fundamentais na construção do conhecimento e na
prática reflexiva, como, por exemplo, a habilidade de construir um ponto de
vista de maneira clara e fundamentada, o estímulo à revisão dos próprios
pensamentos e consequente desenvolvimento das habilidades de raciocínio dos
envolvidos (Leitão, 2011). Baseada nessas considerações, esta sessão de
trabalho (ST) visa fomentar discussões sobre experiências de ensino
fundamentadas na utilização de estratégias pedagógicas potencialmente
argumentativas, em diferentes contextos educacionais e áreas do conhecimento.
Aqui, entende-se que uma estratégia potencialmente argumentativa (EPA) deve ser
derivada de um desenho pedagógico em argumentação que seja intencionalmente
mediada e planejada de modo a estimular o exercício desta forma discursiva no
contexto da educação (De Chiaro, 2024). Nesse sentido, propõem-se um espaço no
qual pesquisadores e/ou professores de diferentes áreas de atuação e
conhecimento possam compartilhar e difundir conhecimentos atrelados à construção
e o implemento de Estratégias Potencialmente Argumentativas (EPA) no contexto
de ensino. Isso pode ser feito a partir de relatos de experiência,
investigações e/ou dados empíricos que atestem a eficácia e os benefícios
atrelados ao uso desses instrumentos pedagógicos.
ST05 -
ARGUMENTAÇÃO NO ENSINO DAS CIÊNCIAS: DESAFIOS, ABORDAGENS E PERSPECTIVAS
Valter César Montanher - Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP)
José Antônio Bezerra de Oliveira - Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE)
A implementação da argumentação
vem ganhando espaço no ensino de ciências, sendo reconhecida por muitos
pesquisadores e professores sua importância para o desenvolvimento do
pensamento crítico e para a compreensão de conceitos científicos. Existem
dificuldades na integração da argumentação em práticas pedagógicas, como a
falta de formação específica na teoria e prática argumentativa, a resistência
dos estudantes a metodologias ativas, e a complexidade na avaliação do
desenvolvimento das competências em argumentação e do aprendizado disciplinar
dos estudantes em situações argumentativas. Neste contexto, a presente proposta
de Simpósio Temático emerge a partir da reflexão sobre a necessidade de
desenvolver e aplicar estratégias pedagógicas que promovam um ensino e
aprendizagem mais reflexivos e críticos das Ciências Naturais, Exatas e da
Terra, em que a argumentação desempenha um papel essencial. Para nós, a
argumentação facilita o desenvolvimento de habilidades cognitivas específicas,
como a análise crítica, a resolução de problemas e a tomada de decisões
baseadas em evidências. Assim, ao argumentar, os estudantes compreendem melhor
os conceitos das ciências e se envolvem com o processo científico, questionando
e avaliando as informações de maneira crítica. Neste sentido, esta proposta de
Simpósio Temático visa trabalhos que tratem de: (a) discutir os fundamentos
teóricos da argumentação no contexto educacional e científico, explorando como
esses princípios podem ser aplicados efetivamente no ensino de ciências; (b)
identificar e analisar metodologias que favoreçam a argumentação em espaços
formais e não-formais de ensino das ciências, tais como as metodologias ativas;
(c) compartilhar experiências e evidências empíricas sobre a eficácia dessas
abordagens, apresentando resultados de estudos de caso e pesquisas recentes; e
(d) promover um debate sobre melhores práticas para a formação de docentes,
oferecendo orientações para integrar a argumentação de maneira eficaz no
currículo. A interdisciplinaridade é algo desejável, com ênfase em estudos de
caso, análises de corpora argumentativos e avaliações quantitativas e
qualitativas das práticas pedagógicas. Esperamos comunicações que tragam
contribuições teóricas e empíricas significativas, além de reflexões inovadoras
sobre a aplicação da argumentação no ensino das ciências. Ademais, essa
proposta visa abordar os desafios atuais de promover um ensino mais reflexivo e
crítico, que qualifique os estudantes a desenvolver habilidades argumentativas
robustas e a aplicar o conhecimento científico de maneira eficaz e responsável.
ST07 - ATO ÉTICO-RESPONSÁVEL, DIALOGISMO E CULTURA DA
ARGUMENTAÇÃO: IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS
Luciano
Novaes Vidon - Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES)
Vivian
Pinto Riolo - Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES)
Uma cultura da argumentação, segundo Zarefsky (2009), se
caracterizaria, fundamentalmente, por valorizar a contraposição discursiva,
isto é, por colocar em interação discursos e contradiscursos, pontos de vista e
perspectivas em contraposição, como também defendem, por exemplo, Plantin
(2008; 2011) e Grácio (2011; 2016). Uma cultura da argumentação contribuiria,
assim, para um ambiente mais democrático, igualitário ao conjunto de vozes
sociais que disputam os temas em pauta, assuntos em questão, segundo Plantin
(2008). A perspectiva dialógica do Círculo de Bakhtin se insere nesse horizonte
epistêmico ao conceber as relações dialógicas como vitais para a compreensão
das enunciações e interações argumentativas, éticas e políticas. Tais
interações discursivo-argumentativas não são de uma ordem puramente lógica,
mas, conforme Bakhtin (2010), incidem sobre elas centros valorativos que se
definem na situacão concreta do uso da linguagem. Assim, o valor atribuído ao
outro, à palavra alheia, e à situação de interação é que rege a palavra própria
em seu ato ético e responsável, e igualmente define a orientação da
contrapalavra na argumentação, o que afirma o vínculo afetivo entre os pares e
o tom do discurso. Neste sentido, o presente Simpósio Temático se propõe a
receber propostas de trabalhos de pesquisa, tanto teóricas, quanto aplicadas,
em que o foco é a argumentação vista como uma prática social,
discursivo-ideológica. Trata-se de um espaço multidisciplinar em que
pesquisadores das áreas do discurso, do texto, e da educação, entre outras,
voltados para a argumentação, em diferentes perspectivas, possam se reunir e
dialogar. Trazer a argumentação para o centro do debate teórico é confrontar as
diferentes perspectivas que foram e vem sendo construídas a respeito dessa
prática. Incluem-se aqui a retórica clássica, a nova retórica perelmaniana, a
teoria da argumentação de Toulmin, a perspectiva dialogal de Plantin e
interacional de Grácio, bem como as investidas da Linguística e da Linguística
Aplicada sobre esse tema. Outrossim, incluem-se, também, perspectivas
discursivas, como a dialógica, do Círculo de Bakhtin, a enunciativa de Ruth
Amossy e Patrick Charaudeau, e a semiótica discursiva, de Greimas e de seus
desdobramentos em semioticistas contemporâneos. Propõe-se, portanto, um espaço
para diálogos teórico-metodológicos com pesquisas sobre a argumentação nos
diferentes campos da atuação humana.
ST08
- DISCURSOS E IDENTIDADES: NARRATIVAS ARGUMENTATIVAS
Alexandre Ferreira da Costa - Universidade Federal de Goiás (UFG)
Luana Alves Luterman - Universidade Estadual de Goiás
(UEG)
O Simpósio Temático “Discursos e
Identidades: narrativas argumentativas” objetiva reunir propostas de
comunicação relacionadas aos estudos do discurso, identidades e narrativas de
professores no contexto do ensino de línguas. Nessa perspectiva, serão
bem-vindas contribuições de pesquisas finalizadas ou em andamento, assim como
relatos de práticas e experiências de pesquisas aplicadas no contexto da
educação básica que articulem acerca das possibilidades de estudo sobre identidades,
discursos e os seus encadeamentos no enunciado. Nesse sentido, o simpósio parte
de pesquisas que reconhecem o potencial argumentativo e identitário do discurso
em narrativas de docentes no contexto escolar. Para tanto, o simpósio se
fundamenta na Teoria de Análise do Discurso Crítica desenvolvida por Norman
Fairclough, em 1989, com destaque à Teoria Social do Discurso, reconhecendo a
Análise Crítica do Discurso (ACD) como uma proposta teórico-metodológica. No
que tange a relação intrínseca entre argumentação e linguagem, a proposta
apoia-se nos trabalhos de Ducrot (1987) e Anscombre (1995), linguistas
franceses que discutem sobre a orientação semântica do enunciado. Não podemos
parar de pensar nessa relação dialética, considerando que o discurso é moldado
pela estrutura social, visão presente nos trabalhos de Bakthin e do Círculo,
bem como a fecundidade das teorias bakhtinianas a cerca da compreensão
responsivo-ativa, na análise da argumentação. Com as contribuições de
Fairclough (2016) é discutido sobre os efeitos constitutivos do discurso: 1) o
discurso contribui para a construção de identidades sociais ou posições de
sujeito; 2) o discurso constrói relações sociais; 3) o discurso contribui para
a construção dos sistemas de conhecimentos e crenças. A ideia de trabalhar com
as narrativas é por propiciar e criar espaço para momentos pedagógicos no
ensino de línguas, nos quais as pessoas podem se conectar consigo e com outras,
como esboça Goodson (2019). Seguindo essas vertentes teóricas e metodológicas,
defende-se a ideia de que não há poder sem resistência, daí a possibilidade de
mudanças no discurso e no modo como é representada as identidades nos
discursos. Dessa maneira, a constituição desse simpósio temático se justifica
pela contribuição que os estudos nele desenvolvidos oferecem ao campo das
relações entre discurso, argumentação e identidades. As propostas em exame
devem ser resultado de processos de dar sentido e organizar o mundo de forma
compreensivo-ativa, por meio de enunciados que revelam verdades identitárias,
com atividades participativas e dialógicas, sejam de forma individual ou
coletiva.
ST09 -
ENSINO DA ARGUMENTAÇÃO NA PERSPECTIVA DIALÓGICA DO DISCURSO: ALGUMAS
ABORDAGENS
Maria Inês Batista Campos Noel
Ribeiro - Universidade de São Paulo (USP)
Thiago Jorge Ferreira Santos - Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC)
Neste simpósio, temos por
objetivo propor um espaço para a discussão sobre pesquisas de pós-graduação,
pós-doutorado e iniciação científica concluídas ou em andamento com foco no
tema da argumentação em diferentes níveis de ensino. A Base Nacional Comum
Curricular (BNCC/2018) e os currículos estaduais, como o Currículo Paulista
(2019, 2020) e o Currículo Base do Território Catarinense (2019, 2020),
descrevem diversas habilidades relacionadas à argumentação nos eixos do
componente curricular de língua portuguesa. Uma das competências gerais da BNCC
é a “Argumentação”, sendo transversal às outras áreas (Humanidades, Ciências da
Natureza e Matemática). Os documentos orientadores para a educação básica e os
estudos científicos destacam as novas formas de argumentação em meio digital
nos textos nativos digitais (PAVEAU, 2021), enfatizando diversos recursos e
funções argumentativas, como aquelas desempenhadas tanto pelos links (SAEMMER,
2015), quanto pela hipermídia (ROJO, BARBOSA, 2014). Ademais, constata-se que o
trabalho com os textos argumentativos, não raro, traz dificuldades para
estudantes (em diversos níveis de ensino) que advém dos bancos escolares com a
ideia de que dissertar é argumentar, assim para uma boa produção do texto
argumentativo basta conhecer a estrutura introdução-desenvolvimento-conclusão.
Ainda nesse binômio, a argumentação, majoritariamente, está presente em textos
escritos, negligenciando a argumentação no texto oral e os procedimentos
argumentativos dos textos verbo-visuais. No escopo dessas problemáticas, a
proposta é discutir as seguintes perguntas norteadoras: a) Como e quais
mecanismos textuais, discursivos e enunciativos favorecem o ensino da argumentação
na leitura/escuta e produção textual argumentativa (escrita, oral e
multimodal)?; b) Que saberes são necessários para os professores ensinarem os
gêneros do discurso que demandam argumentação?; c) Como os textos digitais
propiciam o ensino da argumentação?; d) Quais relações possíveis entre
argumentação, ensino e outras áreas do conhecimento? Acolhemos pesquisas
ancoradas na perspectiva teórico-metodológica da Análise Dialógica do Discurso
(BAKHTIN, 2016; VOLÓCHINOV, 2017, 2019) em diálogo com outras abordagens
teóricas do campo de estudos do texto e discurso, bem como a linguística
aplicada e ciências da educação; e que apresentam análises de dados obtidos de
diversos objetos, como sequências didáticas, manuais escolares e apostilados;
textos digitais em várias esferas de atividades humanas, além de materiais
produzidos por estudantes e professores de língua portuguesa na formação
inicial ou continuada.
ST10 - ENSINO
DA ARGUMENTAÇÃO SOB DIVERSAS PERSPECTIVAS: DA LÓGICA INFORMAL À ARGUMENTAÇÃO NO
DISCURSO
Antonio
Lailton Moraes Duarte - Universidade
Estadual do Ceará (UECE)
Kleiane Bezerra
de Sá - Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
Este simpósio temático abre
espaço para um debate sobre o ensino da argumentação sob diversas perspectivas,
desde a lógica informal, passando pela retórica clássica até a argumentação no
discurso. Para a teoria da argumentação no discurso (TAD), argumentar é
tentativa de modificar, de reorientar, ou mais simplesmente, de reforçar, pelos
recursos da linguagem, a visão das coisas da parte do alocutário (Amossy,
2011). Seguindo as concepções da autora, a Linguística Textual (LT) toma de
análise o texto como evento delimitado como unidade comunicativa de coerência
em contexto (Cavalcante et al., 2022) e defende que a argumentação é
constitutiva de todo texto. Neste quadro, objetivamos identificar diferentes
métodos para desenvolver habilidades e competências argumentativas nos variados
níveis educacionais, em consonância com as práticas sociais de linguagem e as
diversas formas de interação argumentativa. Desse modo, espera-se que os
trabalhos que compõem este simpósio intervenham: (1) refletindo acerca do lugar
da argumentação no ensino formal, para discutir as possibilidades de introduzir
práticas pedagógicas baseadas em práticas sociais de linguagem dirigidas ao
desenvolvimento das capacidades argumentativas de estudantes da educação básica
ao ensino superior; (2) discutindo sobre as práticas argumentativas cotidiana e
acadêmicas, como ferramentas para a construção responsável da cidadania e como
meio para a aprendizagem de conteúdos disciplinares; (3) socializando
experiências didáticas que se valem de práticas sociais multiletradas, em que
se demonstrem que as práticas pedagógicas precisam ir além do modelo
tradicional de ensino de redação de textos dissertativos e ensaios acadêmicos,
como indicam as demandas educacionais e os sistemas educativos; (4) discutindo
propostas alinhadas às demandas contemporâneas de uso da linguagem propiciados
pelas teorias argumentativas em suas diferentes perspectivas e vertentes, seja
da retórica clássica, da nova retórica, da argumentação na língua, da
pragmadialética, da argumentação erística, da argumentação do discurso, da
argumentação polêmica, dentre outras; (5) analisando critérios reguladores da
variabilidade dos diferentes graus da argumentatividade nos textos e sua
implicação para o ensino da argumentação; (6) apresentando reflexões teóricas,
procedimentos analíticos adequados à didatização e propostas de ensino de
argumentação, que possam servir de recurso para docentes em qualquer nível de
ensino.
ST11 - ENSINO DE ARGUMENTAÇÃO
EMANCIPADORA: ASPECTOS CONCEITUAIS E EXPERIENCIAIS
Eduardo Lopes Piris - Universidade Estadual de Santa
Cruz (UESC)
Glícia Azevedo - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN)
O termo “ensino de argumentação
emancipadora” consiste numa expressão encapsulada, cujo significado busca
compreender, ao mesmo tempo, uma perspectiva emancipadora da educação e uma
concepção de argumentação como prática social de linguagem. A premissa é que o
planejamento de ensino materializa a esperança como forma de superar a
situação-limite na qual dada comunidade vê o agravamento de suas condições de
vida e vislumbra a tensão entre a denúncia de um presente intolerável e o
anúncio da necessidade de construir um futuro político, ético e esteticamente
melhor. No ensino da argumentação emancipadora, é fundamental que sejam
considerados e desenvolvidos, conjuntamente, os eixos de criticidade, reflexividade e
dialogicidade, bem como três conceitos-chave que sustentam o planejamento de
ensino de argumentação emancipadora: (i) a concepção freiriana de
ensino-aprendizagem; (ii) a concepção dialógica de linguagem; (iii) a
perspectiva interacional de argumentação. Isso posto, a sistematização do ensino
de argumentação emancipadora requer a análise de aspectos conceituais e
experienciais, uma vez que, ao focalizar a práxis social com vistas à
participação cívica, interventiva e emancipadora de uma coletividade, são as
variáveis situacionais, advindas de cada experiência, que oferecem contornos
singulares a essa proposta de ensino. Tal perspectiva suscita, de um lado, os
pressupostos teóricos da argumentação prática, cuja dinâmica interacional
requer dos participantes a identificação de uma exigência (problema) que deve
ser removida, a discussão sobre as alternativas de remoção dessa exigência como
forma de resolver ou dirimir um problema comum e a elaboração negociada de uma
proposta de ação e, de outro lado, a compreensão sobre o lugar das paixões na
argumentação como prática social, já que consideramos, com Paulo Freire, o
sonhar e o esperançar como o motor da luta contra a opressão e a injustiça.
Partindo desses pressupostos, neste simpósio temático (ST), temos o interesse
de reunir comunicações orais que tratem de experiências (finalizadas ou em
andamento) de ensino de argumentação emancipadora para que possamos mapear
aspectos conceituais e experienciais que as singularizam e que as atravessam.
Com isso, pretendemos vislumbrar possibilidades de sistematização dessa
proposta de ensino. Em razão desse interesse, priorizamos, neste ST,
comunicações que tratem de dados advindos de pesquisas de intervenção nas áreas
da Linguística Aplicada e de Letras, orientadas teórico-metodologicamente pela
concepção dialógica da linguagem, pelos estudos de letramento de vertente
sociocultural, pelos estudos da argumentação interacional e pela perspectiva da
educação crítica.
ST12 - ENSINO DE ARGUMENTAÇÃO
PARA O SÉCULO XXI: TEXTO, LEITURA E ESCRITA
Ana Lúcia Tinoco Cabral - Instituto de Pesquisas
Linguística “Sedes Sapientiae” para Estudos de Português da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (IP/PUCSP)
Sueli Cristina Marquesi - Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUCSP)
A Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) preconiza o ensino da argumentação, com vistas a formar cidadãos
atuantes, que contribuam para a discussão e solução dos problemas da sociedade.
Dessa forma, o documento destaca o saber argumentar como uma das competências
gerais para a Educação básica. Conforme o documento, argumentar se faz por meio
de “dados e informações confiáveis,
para
formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões” (BRASIL,
2018, p. 9). O documento acrescenta ainda a importância de que essas decisões
“respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional e
global,
com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta (BRASIL,
2018, p. 9). Embora a BNCC esteja voltada para a formação básica, entendemos
que os preceitos que ela traz relativamente à importância da argumentação para
a vida cidadã estendem-se igualmente para a formação profissional universitária
seja qual for a área de formação, seja qual for o nível, uma vez que saber
argumentar constitui uma
competência fundamental para a vida em sociedade, o que justifica o interesse de
professores e pesquisadores. Considerando a importância da argumentação para a
atuação política e cidadã, é pertinente abordar temas sensíveis da sociedade
contemporânea e as mais diversas manifestações, inclusive nas redes digitais.
Com base nessa reflexão inicial, o presente simpósio tem por objetivo promover
a discussão e a reflexão em torno do ensino da argumentação nos mais diversos
níveis do ensino, desde o básico até a pós-graduação. Para tanto, convocamos a
participação de professores e pesquisadores dedicados ao estudo da argumentação
e sua aplicação no ensino da argumentação, tratando especialmente de questões
textuais, tanto na escrita quanto na leitura, e considerando a organização
textual argumentativa, as estratégias linguísticas, enunciativas e os efeitos
de sentido. Assim sendo, a base teórica é a da Linguística Textual em diálogo
com Análise Textual dos Discursos, os Estudos da Enunciação, a Teoria da
Argumentação na Língua, a Argumentação no Discurso e a Nova Retórica. Serão aceitos trabalhos que, dentro das
abordagens teóricas apontadas, apresentem estudo ou proposta prática que
contemplem temas sensíveis da sociedade contemporânea e considerem o agir na
sociedade global por meio da Argumentação.
ST13 - O
TEXTO COMO ESPAÇO DE NEGOCIAÇÃO: ABORDAGENS ARGUMENTATIVAS NO ENSINO
Sâmia Araújo dos Santos - Universidade Federal do
Ceará (UFC)
Suelene Silva Oliveira - Universidade Estadual do
Ceará (UECE)
Este simpósio propõe reunir
trabalhos que exploram a Linguística Textual, com ênfase na concepção do texto
como um evento irrepetível e um acontecimento interativo. Nesta perspectiva, o
texto é visto como uma unidade comunicativa de coerência, funcionando como um
espaço dinâmico de negociação de sentidos. A coerência, assim redefinida,
torna-se uma condição indispensável para a constituição do texto (Cavalcante et al., 2022). Com base nessa abordagem,
defendida pelo grupo de pesquisa Protexto (Grupo de Pesquisa em Linguística), a
argumentação é entendida como parte inerente da linguagem, capaz de impulsionar
a negociação nas estratégias de textualização em contextos sociointeracionais
(Cavalcante et al.,
2020).Inspirando-se nas reflexões de Amossy (2018), o simpósio pretende
analisar práticas discursivas que, mesmo sem a necessidade de uma tese
explícita ou posicionamento claro do locutor, como em entrevistas, memes,
conversas e crônicas, ainda carregam uma dimensão argumentativa. Amossy expande
o conceito de argumentatividade ao sugerir que o discurso possui o poder de
"orientar os modos de ver, pensar e sentir dos interlocutores"
(Cavalcante et al., 2020, p. 30). Essa discussão encontra ressonância na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), que destaca a argumentação como uma das dez
competências gerais essenciais para os alunos da educação básica. A BNCC
enfatiza a capacidade de "argumentar com base em fatos, dados e
informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de
vista e decisões comuns" (Brasil, 2018, p. 30). Tal competência, vital
para a formação educacional, deve ser cultivada em todos os níveis de ensino,
desde a educação básica até a pós-graduação. Contudo, a reflexão proposta na
BNCC se concentra em textos de sequência argumentativa dominante, como artigos
de opinião, dissertações e artigos científicos, cujo objetivo é persuadir e
engajar os interlocutores nas opiniões defendidas (Adam, 2019; Amossy, 2018).
Conclui-se que a diversidade de modos de argumentar deve ser integrada ao
ensino de língua portuguesa, mesmo que documentos prescritivos, como a BNCC,
não afirmem explicitamente que todos os textos possuem um caráter
argumentativo. Este simpósio, portanto, convida à reflexão sobre o texto como
um evento irrepetível, explorando as práticas discursivas com dimensão
argumentativa ou visada argumentativa, e como estas podem ser incorporadas ao
contexto educacional.
ST15 - TEXTO, ARGUMENTAÇÃO E ENSINO
Suzana
Leite Cortez - Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE)
Vanda
Maria Elias - Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP)
Tomando
por base o que preconizam documentos curriculares para o ensino de língua, a
exemplo da BNCC, que postula a capacidade de “Analisar informações, argumentos
e opiniões manifestados em interações sociais e nos meios de comunicação” (Brasil,
2018, p.83), como uma das competências para o ensino de português, este
simpósio propõe-se a discutir como os textos podem ser trabalhados na escola
com atenção especial para sua argumentatividade. O tema da argumentatividade
dos textos vem sendo problematizado pela linguística textual (LT) brasileira
desde os primeiros trabalhos de Ingedore Koch que contribuíram para fundar a
tradição de estudos sobre questões da argumentação na linguística textual.
Conforme afirma Cavalcante (2016, p.106), isto “não traduz uma reivindicação da
LT como disciplina que teoriza sobre a argumentação, mas como uma disciplina
que sempre, e por diferentes conduções metodológicas, incluiu a argumentação
como um pressuposto inegável e como uma motivação para a análise de diversas
estratégias de organização textual”. Por este entendimento e, em conformidade
com Cavalcante, pode-se dizer que atualmente há quatro vertentes que lidam com
as questões da argumentação na LT: i) trabalhos orientados pela Teoria dos
Blocos Semânticos, de M. Carel e O. Ducrot, ii) estudos que seguem a Análise
Textual dos Discursos, com base em Jean-Michel Adam, iii) trabalhos que adotam
os critérios da Semiolinguística de Patrick Charaudeau e iv) estudos que se
fundam em postulados da Retórica e da Nova Retórica através de trabalhos como,
por exemplo, o de Ruth Amossy. Mesmo com esta diversidade, característica da
natureza interdisciplinar da LT, o que as abordagens têm em comum é o fato de
se voltarem ao estudo do texto considerando, especialmente, aspectos
enunciativos e pragmáticos. Nesta convergência, o simpósio destina-se a
trabalhos que se dedicam a discutir e investigar as questões da argumentação ou
a argumentatividade dos textos no ensino da leitura e da produção textual sob
diferentes enfoques no campo da LT. Dentre as questões da argumentação que
podem ser analisadas no trabalho com o texto no ensino de língua, citamos o
estudo do encadeamento de enunciados, da progressão textual, dos articuladores
textuais, das sequências textuais, da referenciação, da intertextualidade, do
tópico discursivo, do ponto de vista, da responsabilidade enunciativa, das
provas retóricas (ethos, pathos e logos), da heterogeneidade enunciativa, etc.
Espera-se que os trabalhos possam articular o estudo da argumentatividade dos
textos, seja na leitura, seja na produção textual, com temas de relevância
social em pauta no ensino de língua.
ST16 -
VOZES QUE PERSUADEM: ANÁLISE DA ARGUMENTAÇÃO EM CONTEXTOS ESCOLARES
Silvio Ribeiro da Silva - Universidade Federal de Jataí
(UFJ)
Sebastião Carlúcio Alves Filho - Faculdade de Gestão e Inovação
(FGI)
O papel central da argumentação,
enquanto prática discursiva, tanto no contexto educacional quanto nas
interações sociais mais amplas e diversas, é indiscutível e fundamental. Ainda existem,
contudo, desafios significativos e complexos que precisam ser enfrentados para
uma melhor compreensão de como as técnicas argumentativas são ensinadas,
aprendidas e aplicadas na prática cotidiana. Um dos problemas centrais que será
abordado neste simpósio é a maneira como as teorias de argumentação têm sido
efetivamente colocadas em prática em ambientes escolares, especialmente no que
diz respeito ao uso de livros e materiais didáticos utilizados para esse fim.
Com isso, pretendemos analisar, com base nos trabalhos que serão apresentados,
a forma como a argumentação está sendo implementada nas práticas escolares e
educacionais. A justificativa para a realização deste simpósio está na
necessidade de promover um diálogo interdisciplinar que integre não apenas as
teorias da argumentação, mas também as práticas pedagógicas e a análise dos
contextos de interação nos quais a argumentação se faz presente e é essencial.
Buscamos, assim, contribuir de maneira significativa para a construção de uma
sociedade mais reflexiva, crítica e bem-informada, na qual a argumentação possa
servir como uma ferramenta eficaz para o diálogo e a resolução de conflitos.
Assim, os objetivos do simpósio são: (1) discutir as diferentes abordagens
teóricas da argumentação em uso no contexto escolar atual; (2) explorar as
diversas metodologias que são utilizadas para ensinar e analisar a argumentação
em ambientes escolares, seja por meio do uso ou não de livros e materiais
didáticos específicos; (3) identificar práticas pedagógicas eficazes que podem
ser implementadas para fortalecer e desenvolver a capacidade argumentativa dos
alunos de forma geral. O perfil teórico-metodológico esperado para as
intervenções durante o simpósio abrange uma abordagem interdisciplinar, que
combina contribuições e perspectivas da Linguística, Retórica, Educação e
Ciências Sociais. Esperamos que as apresentações incluam análises qualitativas
e quantitativas, estudos de caso detalhados e revisões teóricas, com foco
particular na aplicação prática das teorias de argumentação. Ao reunir
pesquisadores de diferentes campos e especialidades, este simpósio pretende
fomentar uma compreensão mais profunda e prática da argumentação, contribuindo
para a educação de sujeitos que sejam capazes de participar ativamente e de
maneira crítica não só na esfera escolar, mas também nas interações
extraescolares e na sociedade como um todo.
ST17 -
A ARGUMENTAÇÃO E AS ESCRITAS DE TEOR TESTEMUNHAL COMO GESTOS DE RESISTÊNCIA
Luciano Tocaia Magnoni - Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG)
Fábio Ávila Arcanjo - Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP)
Este simpósio tem por objetivo
reunir professores e pesquisadores que promovam o debate a partir de pesquisas
iniciais, em andamento ou finalizadas sobre (contra)discursos de resistência
associados ao testemunho. Amplamente difundido no campo dos estudos literários
e (ainda) em menor proporção no âmbito dos estudos linguísticos, a noção de
testemunho é consideravelmente multifacetada quando abordada no quadro das
ciências humanas, em virtude da flutuação terminológica que caracteriza o
conceito, o que o faz ser considerado por uns como gênero do discurso, por
outros como um teor, um modo discursivo ou apenas um efeito de sentido. No que
diz respeito às condições de produção, partimos do princípio de que a noção de
testemunho emerge a partir das barbáries do século XX, com destaque para a
Segunda Guerra Mundial, deslizando, a posteriori, para os inúmeros
embates e conflitos traumáticos de teores étnico, racial e sexual, instaurados
da segunda metade do século XX ao início deste século. Assim sendo, o
testemunho pode ser considerado um ato de resistência aos discursos mobilizados
por grupos hegemônicos, que primam em operar um enquadramento da memória
(Pollak, 1989), segregando a voz de sujeitos pertencentes a grupos
minoritários. É nesse sentido que pensamos o testemunho, isto é, como uma
possibilidade de escape do sítio da outridade (Seligmann-Silva, 2023), a
partir de uma desorganização da fala (Orlandi, 2004), na qual, a
contrapelo, os sujeitos estigmatizados resistem ao silenciamento imposto por
formações ideológicas vigentes. Nesse
âmbito, a escrita testemunhal é fundamentalmente argumentativa, funcionando
como um mecanismo de combate de sentidos (Orlandi, 2023), no qual são colocados
em movimento outro conjunto de formações discursivas, na inscrição de atos de
resistência à invisibilidade social, à inaudibilidade, à exclusão, dentre outros. Dessa
forma, aceitam-se, neste simpósio, propostas de comunicação sob o viés de
abordagens teórico-metodológicas de natureza discursiva e/ou argumentativas
relacionadas ao trabalho com o testemunho e resistência, encenados por
determinados sujeitos, em contextos diversos, como, por exemplo, os
sobreviventes da Shoah e demais genocídios, pessoas em situação de rua,
migrantes, povos originários, membros da comunidade LGBTQIAP+, entre outros.
Ademais, é bastante desejável que as apresentações possam, em alguma medida,
refletir sobre aspectos ideológicos, sociais e/ou psicanalíticos, em um gesto
de mobilização de categorias argumentativas e/ou discursivas voltadas para
lidar com as diversas relações porosas existentes entre o silenciamento e os
atos de resistência.
ST18 -
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO: REVERBERAÇÕES DA TENSÃO ARGUMENTATIVA
Rui Alexandre Grácio - Universidade de Aveiro, Portugal
Rubens Damasceno-Morais - Universidade Federal de Goiás (UFG)
São múltiplas as abordagens
teóricas da argumentação. Adoptando um ponto de vista linguístico, Ducrot e
Anscrombre desenvolveram uma “teoria da argumentação na língua”, no qual o
conceito de orientação é fundamental. Perspectivando a argumentação no quadro
da análise do discurso, R. Amossy elaborou uma “teoria da argumentação no
discurso”, defendendo que neste há sempre uma dimensão argumentativa e que, em
casos mais específicos, podemos falar de “visada argumentativa”. Autores como
Perelman e Olbrechts-Tyteca conceberam a argumentação como uma “nova retórica”
e outros autores privilegiaram a dimensão lógico-informal da argumentação. No
presente Simpósio Temático, propomos convocar a abordagem que desenvolve uma
teoria da argumentação “na interação”, privilegiando a noção de tensão
argumentativa e tomando como pano de fundo a ideia de que a oposição argumentativa é essencial para
considerar as práticas argumentativas a partir da interação entre discursos e
situações circunstanciadas, procurando assim captar e analisar a forma como se
desenvolvem as dinâmicas argumentativas em que o discurso de um e o discurso do
outro de confrontam e se desenvolvem. Nessa perspectiva, a atividade
argumentativa é vista como “irredutivelmente biface” (Plantin), isto é,
enunciativa e interacional, devendo ser analisada de forma mais aberta, na
flagrância de um conflito que se transmuta em diálogo racional, ou, em outras palavras,
numa “questão argumentativa”. Ali entender as regras do jogo faz parte do
próprio jogo em que a argumentação não é apenas questão de raciocínio, nem
tampouco a mera constatação da existência de pontos de vista antagônicos. Nessa
perspectiva a argumentação é vista como uma costura interacional entre
proponente, oponente, terceiro e afins, num jogo actancial em que mais importa
observar como se constroem argumentações diversas, independentemente se se
trata de ‘boa’ ou ‘má argumentação.
Propormos, assim, que as comunicações interessadas em participar deste
simpósio olhem para a argumentação em interação e que enfatizam a dependência
dos discursos e dos argumentos de um dos lados dos discursos e dos argumentos
do outro lado, num movimento de aprofundamento das dissensões com as quais a
argumentação procura lidar. Aguardamos, desse modo, sua participação para
estabelecermos um debate produtivo e instigante acerca da argumentação em
situações de interação.
ST19 -
ANÁLISES DA ARGUMENTAÇÃO DISCURSIVA PELO CRITÉRIO DA INTERTEXTUALIDADE
Ana Paula Lima de Carvalho - Instituto Federal do Piauí
(IFPI)
Patrícia Sousa Almeida de Macedo - Universidade Federal do Pará
(UFPA)
Neste Simpósio Temático,
pretendemos reunir trabalhos decorrentes de pesquisas já concluídas ou em
andamento que discutam sobre a intertextualidade como critério analítico da
argumentação em textos de diversas semioses e de variados gêneros. Na esteira dos
estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Protexto (UNILAB), encampamos o
pressuposto teórico da Análise da Argumentação no Discurso, proposta por Ruth
Amossy, de que a argumentação é constitutiva da linguagem, podendo, portanto,
ser identificada e/ou abstraída de todo e qualquer texto. Para além do que
sugeriu a analista do discurso, apontando critérios lexicais, morfossintáticos
e pragmáticos como instrumentos de análise dessa argumentação inerente aos
discursos, nossa saudosa orientadora de tese de doutorado, Mônica Magalhães
Cavalcante, defendeu a possibilidade de o fazermos por parâmetros de
textualização, tais como a referenciação, a sequencialidade, a topicalidade e a
intertextualidade. Desde 2016, os estudos sobre a argumentatividade discursiva
retoricamente orientada têm sido incluídos na agenda de pesquisas do Protexto,
ensejando trabalhos de grande relevância para o fortalecimento da Linguística
Textual no Brasil. Esses trabalhos também serviram para ampliar as perspectivas
de análise sobre esses fenômenos tipicamente textuais, tendo sido bastante
proeminentes os que se debruçam sobre a intertextualidade. Assim, buscamos
conhecer investigações que reexaminem as seleções intertextuais como
estratégias, a um só tempo, de textualidade e de argumentatividade, mobilizadas
com vistas a influenciar os modos de ver, de pensar e de sentir do
interlocutor, em uma análise retoricamente orientada da argumentação. Os
trabalhos, portanto, poderão apresentar análises de textos que busquem
demonstrar: a) as formas pelas quais relações intertextuais instauram
auditórios específicos em textos de um dado gênero; b) como as seleções
intertextuais permitem entrever os pressupostos dóxicos implicados em certos
textos; d) como o ethos, o logos e/ou o pathos poderiam ser abstraídos de um
dado texto a partir da identificação das escolhas intertextuais do locutor.
Quanto mais diversificados forem os exemplares textuais, semióticos e genéricos
das ocorrências intertextuais, além da heterogeneidade tipológica do fenômeno
intertextual (flutuando entre intertextualidades estritas e amplas), tanto mais
frutíferas poderão ser as trocas interacionais durante a realização deste
simpósio. Dessa forma, também esperamos que os proponentes apresentem
resultados em dados, corpus ou corpora de textos que relevem de
gêneros variados das esferas discursivas midiática, escolar, acadêmica,
jurídica, religiosa, dentre outras de natureza institucionalizada.
ST20 - ARGUMENTAÇÃO E
LINGUÍSTICA TEXTUAL EM INTERAÇÕES DIGITAIS
Mariza Angélica
Paiva Brito - Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
Mayara Arruda
Martins - Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
A Linguística
Textual (LT) brasileira tem se firmado como uma área essencial para a
compreensão das estratégias argumentativas, especialmente no contexto das
interações digitais, onde a argumentação se manifesta de maneira intensa e
multifacetada. Focada no estudo do texto como uma unidade de sentido em
contexto, a LT oferece ferramentas teóricas e metodológicas para a análise da
argumentação nos tecnotextos, como indicado por Cavalcante et al. (2022). Este
campo dialoga com a Teoria da Argumentação no Discurso (TAD), de Amossy (2020),
ao considerar que a argumentação é inerente a todo discurso, influenciando
sutilmente os modos de ver, pensar e sentir dos interlocutores. Cada texto
possui uma dimensão argumentativa porque possibilita uma suposição de
alteridade entre os participantes da interação. Essa suposição de confronto de
pontos de vista justifica a afirmação de que todo texto é argumentativo. A
argumentação só se efetiva na interação, envolvendo um "orador" (ou
locutor) dotado de intencionalidade, que visa persuadir o auditório, composto
pelo interlocutor e pelo terceiro. No ambiente digital, a argumentação adquire
novos contornos, pois os textos circulam em ecossistemas como Instagram, X
(antigo Twitter) e outras plataformas, frequentemente adotando modalidades
polêmicas e estratégias de interação. A LT, ao analisar essas práticas, revela
como processos referenciais, intertextualidade e marcas de heterogeneidade
enunciativa contribuem para a construção de sentidos e para a negociação de
posicionamentos entre interlocutores e terceiros. Esses processos são fundamentais
para entender como as vozes dos sujeitos se entrelaçam no espaço digital,
permitindo uma análise refinada dos embates textuais que ocorrem nesse
ambiente. A análise textual em contextos digitais também se beneficia da
integração entre LT e argumentação, especialmente ao considerar a dimensão
emocional dos discursos (pathos) e a maneira como os textos mobilizam emoções
para influenciar os interlocutores. Violência verbal e desqualificação do
outro, por exemplo, emergem como estratégias argumentativas amplificadas nas
interações digitais, onde a polêmica e a polarização se tornam elementos
centrais do texto. Este simpósio temático busca explorar as contribuições da LT
para a análise argumentativa dos tecnotextos, destacando como essa integração
teórica e metodológica pode enriquecer a compreensão dos fenômenos discursivos
contemporâneos. A proposta é evidenciar a relevância das estratégias de
textualização e argumentação no estudo das práticas comunicativas digitais,
demonstrando como a LT pode dialogar com outras abordagens teóricas para
oferecer uma análise crítica e aprofundada dos textos em suas diversas
manifestações.
ST21 - ARGUMENTAÇÃO E POLÊMICA NO
ESPAÇO PÚBLICO
Paulo
Roberto Gonçalves-Segundo - Universidade
de São Paulo (USP)
Lucas
Nascimento Silva - Universidade
Estadual de Feira de Santana (UEFS)
Leis
sobre aborto, demarcação de terras indígenas, linguagem “neutra”, questões de
gênero, direitos LGBTI+, direita x esquerda, religião x estado laico, liberdade
de expressão, políticas afirmativas e tantos outros temas sensíveis têm sido
objeto de muitas polêmicas no espaço público nacional e internacional,
sobretudo no espaço público digital. Essas controvérsias, muitas vezes, dão o
tom do debate público ao desencadear polarizações discursivas, colocando em
lados opostos opiniões públicas diversas. Assim, por vezes, essas disputas têm
servido para propor e gerir discussões importantes a diferentes grupos sociais,
mas, ao mesmo tempo, têm servido também de estratégia política para políticos
extremistas se elegerem e colocarem em risco importantes direitos conquistados
por movimentos sociais e minorias. Para compreendermos melhor nossa democracia
em sua pluralidade pulsante, é fundamental analisarmos como se argumenta e se
polemiza nas arenas públicas. Para tanto, nosso objetivo, neste simpósio, é
congregar pesquisas que se voltam ao estudo de polêmicas, controvérsias,
disputas públicas de sentido, marcadas pela argumentação e contra-argumentação
em múltiplos espaços interacionais, sejam nas ruas, nas páginas dos jornais,
nas plataformas digitais, dentre outras materialidades discursivas. São
bem-vindos trabalhos que se debruçam sobre o argumentar de forma complexa,
orientados por procedimentos metodológicos e articulações teóricas que visem a
romper fronteiras rígidas, por meio da articulação entre conceitos e
instrumentos condizentes com o que tem sido produzido hoje no âmbito das
dimensões lógica, retórica, dialética, dialógica, discursiva e multimodal da
argumentação. Nesse sentido, esperam-se trabalhos que: (i) discutam conceitos
produtivos para a análise de formas públicas de dissenso, como o de
controvérsia (Dascal, 2008), argumentário (Plantin, 2008; da Silva;
Gonçalves-Segundo, 2024), polêmica (Amossy, 2017), evento polêmico (Nascimento,
2019), dentre outros, de forma a ampliar e/ou problematizar os conhecimentos
vigentes sobre eles; (ii) debatam procedimentos metodológicos para a análise
argumentativa de corpora variados com
foco na depreensão dos sentidos, das posições e das razões em disputa na arena
pública; (iii) apresentem resultados parciais ou finais de pesquisas orientadas
ao estudo de polêmicas e/ou de controvérsias, lastreadas em uma articulação
entre diferentes dimensões da argumentação; (iv) discutam o papel social dessas
formas públicas de dissenso no âmbito do funcionamento democrático
contemporâneo, levando em conta o fortalecimento da desinformação (Wardle;
Derakhshan, 2018), do negacionismo (Hoofnagle; Hoofnagle, 2007) e do
cancelamento (da Hora; Martins; Karhawi, 2021).
ST22
- ARGUMENTAÇÃO E TECNOTEXTOS
Ananias Agostinho da Silva - Universidade Federal Rural do
Semi-Árido (UFERSA)
Eduardo Paré Glück - Instituição Evangélica de Novo
Hamburgo (IENH)
Nas interações mais cotidianas
ou em ambientes digitais, as estratégias de textualização por meio das quais o
locutor delineia o seu projeto de dizer despontam sempre um caráter
tecnolinguageiro, no sentido de que são caracterizadas pela confluência de
vários sistemas semióticos, mas também profundamente influenciadas pela
interveniência da tecnologia. É assumindo essa perspectiva ecológica e
pós-dualista de linguagem, proposta por Marie-Anne Paveau (2021), que a
Linguística Textual busca conferir, hoje, na análise de textos em ambientes on-line, igual importância aos aspectos
linguageiros e tecnológicos, reconhecendo que a linguagem, nesses ambientes, é
sempre compósita, indistintamente formada de matéria linguística e não
linguística. Assume, também, a partir de Ruth Amossy (2017; 2018), que, em todo
texto, há algum grau de argumentatividade, manifestado a partir de uma visada
retórica intencionalmente elaborada pelo locutor/enunciador e explicitamente
materializada na configuração textual, ou revelado pelo conjunto das
estratégias de textualização que lhes permite colocar em cena seu ponto de
vista ou o ponto de vista de outros enunciadores. Na confluência entre essas
abordagens, este simpósio buscará refletir sobre questões fundamentais que
envolvem a argumentação e os textos em contextos digitais, chamados aqui de
tecnotextos. Trata-se, portanto, de promover uma discussão ampliada acerca de
como aspectos da tecnodiscursividade (Paveau, 2021) implicam em estratégias de
construção da argumentação (Amossy, 2017; 2018), que podem ser evidenciadas por
critérios textuais (Cavalcante et al,
2020; 2022). Este simpósio se justifica pela relevância ainda bastante atual da
análise do texto em contexto digital, sobretudo no que diz respeito ao
funcionamento dos seus aspectos argumentativos e tecnolinguageiros. Desse modo,
com este simpósio, acredita-se que o diálogo entre essas abordagens possa
fornecer dispositivos relevantes para o analista investigar a complexidade de
textualidades que circulam em ecossistemas digitais. Portanto, o principal
objetivo deste simpósio temático é congregar trabalhos que possam analisar a
construção da argumentação em textos de diferentes ecossistemas digitais,
focalizando a mobilização de estratégias tecnolinguageiras e o seu
funcionamento textual-argumentativo, como, por exemplo, pelo uso de elementos
lexicais ou referenciais na construção do ponto de vista, pelo uso de
intertextualidades, pela organização tópica, pelas estratégias de (im)polidez
etc. Com esse delineamento, diferentes perspectivas teóricas da argumentação
poderão contribuir para este simpósio temático, estejam elas relacionadas à
Linguística Textual e à Análise do Discurso Digital.
ST23
- ARGUMENTAÇÃO E(M) RECURSOS EDUCACIONAIS
Cristiane Dall’ Cortivo Lebler - Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC)
Elizandro Maurício Brick - Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC)
A argumentação tanto pode ser
tomada como um objeto em si, em que se estudam suas especificidades, suas
técnicas, quanto um elemento presente nos discursos que circulam em nosso
cotidiano, uma vez que a língua e os mais variados sistemas semióticos, de
forma geral, são atravessados pela argumentatividade. Em maior ou em menor
grau, de forma mais ou menos evidente, há autores que defendem que nossos
discursos são permeados - e até mesmo constituídos - por uma dimensão
argumentativa, ainda que na sua essência o aspecto persuasivo não esteja
presente. Por outro lado, os materiais didáticos - recursos educacionais
físicos ou digitais - são elementos significativamente presentes nos espaços
educacionais de todos os níveis de formação e cumprem distintas funções no
processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, além das questões atinentes à
dimensão pedagógica, tecnológica e do conteúdo presentes implícita ou
explicitamente nos materiais didáticos, há a dimensão comunicativa. O estudo
dessa dimensão, independente área do conhecimento a respeito da qual versam
esses materiais, visa dar a conhecer as formas de dizer, os valores inscritos
nesses discursos, as imagens do ethos e do auditório que se projetam, formas
veladas ou explícitas de persuasão - ou seja, elementos que introduzem, de
forma compulsória, o caráter argumentativo, inclusive em uma perspectiva
política. Face a essa delimitação, e considerando a relevância dos temas
abordados, este simpósio temático tem como objetivo reunir trabalhos que se
inscrevam no grande tema da argumentação e que se dediquem à análise da
dimensão argumentativa de materiais didáticos. Podem constituir objeto dessa
análise elementos que tenham sido inseridos, com finalidade pedagógica, em um
contexto educacional formal ou informal, em quaisquer modalidades e níveis de
ensino, sejam eles livros didáticos, recursos educacionais digitais e recursos
educacionais abertos, de qualquer área do conhecimento, cuja análise tenha sido
realizada com base em teorias que tomem a argumentação como objeto de estudo.
ST24 - ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E SUAS MANIFESTAÇÕES
DISCURSIVAS: ENFOQUES TEÓRICOS, METODOLÓGICOS E
ANALÍTICOS
Rosalice
Pinto - Universidade
Nova de Lisboa (IFILNOVA/CEDIS)
Maria das
Graças Soares Rodrigues - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Os estudos
sobre a argumentação, apesar de toda a sua tradição aristotélica, só vieram a
se densificar, como se sabe, a partir do final da 2a Guerra Mundial, com o
surgimento das obras de Perelman & Olbrechts-Tyteca (1958) e a de Toulmin
(1958). A primeira vindo a influenciar, prioritariamente, os trabalhos
francófonos ; e a segunda, os anglófonos. Esses trabalhos precursores
foram fulcrais para que pesquisadores desenvolvessem esse campo de estudo a
partir de critérios metodológicos e analíticos específicos, seguindo
perspectivas teóricas diversas. Dentre essas várias abordagens, citam-se, a
Teoria da Argumentação no Discurso (Amossy, 1999, 2000) ; a Linguística
Textual (Adam, 1999 ; 2022) ; a Análise do Discurso (Maingueneau,
1999) ; o Modelo Dialogal da Argumentação (Plantin, 2008 ; Doury,
2016) ; a Lógica Natural (Grize, 1974) ; a Teoria da Enunciação
(Rabatel, 2023), a Pragmadialética do grupo de Amsterdam - Van Eemeren e
Grootendorst (2004) ; a Lógica Informal (Walton, 1989 ; Johnson e
Blair, 1994), a Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 2003 e Fairclough e
Fairclough, 2012) e a Argumentação Retórica de Tindale (2004). No entanto,
apesar desses « domínios epistemológicos » segmentados, o trabalho com
a argumentação em textos/discursos, sócio-historicamente instanciados e
construídos nas várias práticas sociais, veio a suscitar um desafio. Este
adveio da necessidade de aportes interdisciplinares e até transdisciplinares
para que o hermeneuta (pesquisador) pudesse dar conta da análise da
argumentatividade assente nos discursos em circulação. No que tange em especial
aos que circulam na prática jurídica, apesar de uma longa tradição ancorada no
cariz lógico associado à sua construção argumentativa (Toulmin, 1958) ou ao seu
caráter lógico-pragmático (Walton, Macagno e Sartor, 2021) ; observam-se
pesquisas mais voltadas para o viés retórico-discursivo (Pinto, Rodrigues e
Damele, 2018), dialogal (Damasceno-Morais, 2013) ou retórico-textual (Pinto,
2010, 2015). Essa panóplia de « ângulos de ataque », envolvendo
diálogos entre quadro teóricos distintos e a aportes das Ciências Jurídicas,
atestam a complexidade do ato de argumentar nessa atividade específica. Face às
inúmeras possibilidades analíticas, metodológicas e teóricas suscitadas, nesse
domínio específico, este simpósio, que reúne pesquisadores/docentes de
universidades brasileiras e internacionais, tem
como objetivo basilar apresentar trabalhos/pesquisas que descrevam a
argumentação em discursos inseridos nessa praxis específica. É de se
ressaltar que serão apreciadas, aqui, tanto contribuições que versam sobre a
análise da argumentação seguindo um quadro teórico específico, quanto aquelas
que optam pela construção de um aparato teórico de caráter integrativo (mas
epistemologicamente coerente).
ST25
- ARGUMENTAÇÃO NO DISCURSO POLÍTICO
Samuel Barbosa Silva - Instituto Federal do Ceará (IFCE)
Sóstenes Ericson Vicente da
Silva - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
A argumentação ganha ênfase no
campo das teorias do discurso, caracterizando-se como a propositura de uma
“nova retórica”, como também no resgate desse ato de linguagem no discurso
político, materializando sua capacidade de persuadir o outro, o sujeito interlocutor,
nos procedimentos argumentativos. Na cena enunciativa (Guimarães, 2002)
contemporânea, a “arte da palavra”, ao compartilhar sentidos com a argumentação
e com a retórica, elevou-se até o poder da persuasão na ação política e social.
Neste simpósio, propõe-se discutir a argumentação nos processos discursivos das
relações de poder na sociedade de classes, com ênfase no discurso político
(Courtine, 2006; Haroche, 1992). Toma-se a argumentação no processo
histórico-social, como um movimento da língua e da história, orientado pela
função social da ideologia para a reprodução da forma de organização movida
pelos interesses do capital, considerando por princípio fundamental que “a
argumentação se estrutura ideologicamente” (Orlandi, 2023, p. 40). Nesta sociedade,
deparam-se forças conflitantes (Corten, 1999) que agem tanto a favor da
manutenção da ordem vigente como a contestam em prol de outra organização
social, justa e igualitária. Essas formas conflitantes de expressão social se
apresentam de maneiras diversas em vários discursos, representados por sujeitos
porta-vozes de interesses comuns ou divergentes dos operantes no processo de
dominação do capital. São discursos que aparecem marcados por segmentos sociais
dos trabalhadores empregados, desempregados ou desalentados (Ericson, 2019),
fragmentados pelo discurso de grupos sociais “minorizados” ou da “diversidade”
como mulheres, negros, LGBTQIAPN+, povos indígenas, ribeirinhos e da floresta,
ciganos, quilombolas, imigrantes, pessoas com deficiência, pessoas privadas de
liberdade, adeptos de religiões não-cristãs, mas todos tendo em comum o direito
ao trabalho para a reprodução da vida, o que possibilita pensar as mediações
entre trabalho e linguagem e os mecanismos de resistência materializados no
discurso. Volta-se o interesse por práticas discursivas que articulam
diferentes dizeres para produzir sentidos em torno do objetivo fundamental de
todo discurso: argumentar para se fazer aceitar e ganhar adeptos em defesa de
“sua causa” (Amaral; Zoppi-Fontana, Ericson, 2023). Desse modo, propõe-se uma
discussão em torno dos processos argumentativos como mecanismos de discursos
políticos em circulação na sociedade contemporânea. Neste debate de práticas
discursivas, que se configuram nos espaços discursivos mencionados, e na
interlocução com temáticas como a “questão ambiental”, “questão agrária”,
“violência de gênero” e “racismo”, serão incorporados estudos que dialoguem com
a teoria materialista do discurso (Pêcheux, 2009), entendida como uma teoria
revolucionária do ato de ler e, consequentemente, de argumentar.
ST26 -
ARGUMENTAÇÃO, DISCURSO E COGNIÇÃO: INTERFACES TEÓRICAS E PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
Renata Palumbo - Universidade de São Paulo (USP)
Alexandre Marques Silva - Universidade de São Paulo (USP)
Estudos sobre as relações entre
argumentação, cognição e discurso têm-se consolidado como significativos, em
razão de apontarem para descrições de como o processamento
argumentativo-discursivo alia-se ao cognitivo e às características das
interações sociais, assim como vêm indicando os trabalhos de Aquino, Palumbo e
Bentes (2019), Charteris-Black (2009), Gonçalves-Segundo (2012, 2014, 2020,
2021), Vereza (2007), entre outros. Podemos dizer que a correlação entre
argumentação e cognição, de certa maneira, já estava prevista na Nova Retórica
de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996, p.150 e 158), ao observarem que o
convencimento está na ordem das ideias e ao afirmarem que “A linguagem não é
somente meio de comunicação, é também instrumento de ação sobre as mentes, meio
de persuasão”. Entendemos que ainda existe um campo profícuo de pesquisa e que
o investimento na interface discurso/cognição/argumentação ainda pode revelar
muito mais a respeito de como se operacionaliza a argumentação do ponto de
vista discursivo e cognitivo, sobretudo, na atualidade, marcada pelo aumento de
polarizações de ordens social, política e ideológica e caracterizada pela
diminuição das fronteiras do digital e do não digital, tornando as interações
muito mais complexas. Nesse viés, tornam-se importantíssimas investigações que
se atentem para a maneira como as estratégias argumentativas são recrutadas na
composição dos discursos e como influenciam percepções e crenças. Nessa
direção, este simpósio se propõe a explorar tais intersecções, discutindo como
a cognição influencia e é influenciada pelas práticas argumentativas e pelos
contextos discursivos. A proposta corresponde à reunião de trabalhos que
estejam voltados para a argumentação e que envolvam diálogos com as pesquisas
cognitivas, seja no que concerne à discussão de aspectos teóricos,
metodológicos ou de análise de corpora. Assim, o perfil teórico-metodológico
esperado para as intervenções envolve abordagens que articulem estudos do texto
e do discurso, teorias da argumentação e pesquisas acerca da cognição a partir
de perspectivas diversas: mesclagens conceptuais (Fauconnier e Turner, 1995), frames
e esquemas (Fillmore e Baker, 2009, Duque, 2015), metáforas (Lakoff e Johnson,
1980, Lakoff, 2004, Chilton, 2005, Charteris-Black, 2009, 2011, Kövecks, 2009),
metonímia (Lakoff e Johnson, 1980), analogia (Gentner e Bowdle, 2008, Ferreira,
2018), entre outras posições de pesquisadores dedicados à temática proposta.
ST27
- ARGUMENTAÇÃO, DISCURSO E VULNERABILIDADES
Márcio Rogério de Oliveira Cano - Universidade Federal de Lavras
(UFLA)
Luciana Soares da Silva - Universidade Federal de Lavras (UFLA)
O tema sobre vulnerabilidade
linguístico-discursiva vem ganhando espaço em várias áreas do conhecimento,
seja pela sua urgência histórica de discussão, seja pelo avanço da violência e
dos discursos de ódio das últimas décadas. Isso se potencializa em uma
sociedade organizada pelo avanço tecnológico e por uma exacerbada identidade
consumista, cujo engajamento se valoriza e se lucra mais pelos estados
passionais. A importância da nossa proposta de discussão se assenta em uma
sociedade historicamente construída pelas bases colonialistas, com a
concentração e o privilégio do poder nas mãos de um pequeno grupo, que vem se
reproduzindo e instituindo modos de exclusão social, empobrecimento e violência
simbólica e física contra grupos estereotipados e subalternizados. Desse modo,
tem-se como objetivos: (a) verificar, nos diferentes discursos, as estratégias
argumentativas que revelam os conflitos linguístico-discursivos, sociais,
raciais e de gênero e (b) problematizar a circulação de processos
argumentativos formadores do discurso do ódio, do discurso racista, das fake
News entre outros. Nesse sentido, a proposta abrange pesquisas em andamento ou
concluídas que tomem o discurso como seu objeto de estudo, em suas diferentes
perspectivas teóricas delimitadas no aspecto argumentativo. Nesse contexto,
nosso simpósio tem como finalidade propiciar espaço de discussão acerca dos
estudos da Argumentação e da Análise do Discurso, com base na abordagem de
diferentes materialidades que envolvam o machismo, o racismo, a homofobia e
demais grupos sociais de resistência e de vulnerabilidades analisadas a partir
de tais áreas. Com foco nesta temática, queremos socializar pesquisas de
diferentes correntes teóricas que se centram em compreender coma a
historicidade impacta no modo como se enraízam o dizeres violentos e
excludentes, assim como fazem emergir sujeitos marcados pelo ódio e como, no
processo de interação, o engajamento passional e argumentativo promovem a
adesão aos posicionamentos. Pensamos aqui, em estudos que trabalham com as
categorias de interdiscurso, ethos discursivo, cenas de enunciação,
historicidade, imaginários sociodiscursivos, pathos, argumentação entre outros.
Por fim, o espaço se propõe a fomentar debates que se estendam para a sociedade
e que possam contribuir com as diferentes pesquisas, de diferentes níveis e
instituições com vista a um amadurecimento acadêmico e social sobre as questões
envolvidas.
ST28 -
ARGUMENTAÇÃO, ENUNCIAÇÃO E POLIFONIA: ESTUDOS DESCRITIVOS OU APLICADOS
Erivaldo
Pereira do Nascimento - Universidade
Federal da Paraíba (UFPB)
Alvaro
Magalhães Pereira da Silva - Universidade
Federal da Paraíba (UFPB)
O
simpósio temático “Argumentação, enunciação e polifonia: estudos descritivos ou
aplicados” tem como objetivo reunir trabalhos que problematizem o fenômeno da
argumentação, no âmbito da língua e do discurso, em sua interface com os
estudos semânticos e enunciativos, a partir de investigações tanto de natureza
descritiva como aplicada. As
investigações e estudos desenvolvidos no âmbito da Semântica Argumentativa ou
da Semântica Enunciativa, partem da premissa de que a argumentação é inerente à
estrutura da língua e dela vai para o discurso, e se manifesta a partir de
diferentes elementos, recursos e fenômenos semântico-discursivos e pragmáticos.
Adotam, ainda, a premissa de que o sentido dos enunciados é, por natureza,
polifônico, já que é permeado por diferentes vozes ou pontos de vista. Para
descrever o sentido dos enunciados (observáveis) e a significação das frases
(entidades teóricas), verificam inclusive como os diferentes fenômenos
argumentativos linguísticos e discursivos se materializam em diferentes gêneros
discursivos ou contextos de uso da língua, orientando para determinadas
orientações discursivas (argumentação). Tomam como base os estudos da Teoria da
Argumentação na Língua (TAL) e da Teoria Polifônica da Enunciação, de Ducrot
(1987, 1988, 2014) e colaboradores, e mais recentemente da Teoria dos Blocos
Semânticos e da Teoria Argumentativa da Polifonia, desenvolvida por Ducrot,
Carel e Lescano (2005, 2008 2011), ou ainda o Enfoque Dialógico da Argumentação
e da Polifonia, de García Negroni (2018, 2019, 2021), e a Teoria Escandinava de
Polifonia Linguística (ScaPoLine), proposto Nølke, Fløttum e Norén (2004,
2017), entre outras teorias e estudiosos. Os estudos desenvolvidos por essas
diferentes correntes teóricas permitem observar como diferentes vozes, pontos
de vista ou menções ao discurso alheio são evocadas nos enunciados e discursos,
no sentido de produzir orientações discursivas, ou seja, argumentatividade.
Nesse sentido, este simpósio temático objetiva promover a discussão de
investigações científicas, seja de natureza teórica, descritiva ou aplicada,
sobre diferentes fenômenos argumentativos linguísticos e discursivos, no âmbito
das Semântica Argumentativa ou Enunciativa e em suas interfaces com diferentes
áreas (a Pragmática, a Análise de Discurso, entre outras), ou ainda aquelas
voltadas para o ensino desses fenômenos, de modo especial a polifonia
linguística ou enunciativa, em suas diferentes manifestações.
ST29 -
AS HISTÓRIAS QUE CONTAMOS: UM OLHAR RETÓRICO-ARGUMENTATIVO PARA AS NARRATIVAS
QUE PERMEIAM AS PRÁTICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS
Graciele Martins Lourenço - Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG)
Raquel Abreu-Aoki - Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG)
Este Simpósio temático examina
as interseções entre retórica, argumentação e narrativa, destacando como esses
elementos discursivos são usados para construir, negociar e desafiar
significados nas práticas sociais. A retórica, entendida como a arte da persuasão,
tem na argumentação seu principal recurso. Aristóteles, em sua obra Retórica
(2005), define-a como a capacidade de identificar os elementos adequados à
persuasão em cada situação discursiva. A construção argumentativa retórica,
portanto, alicerça-se no entimema, o silogismo retórico, que se baseia em
valores socialmente compartilhados para compor uma de suas premissas, a qual
será preenchida pelo raciocínio do auditório. As narrativas, por sua vez, atuam
como meios poderosos de argumentação. Olmos (2013) afirma que a narrativa
possui virtudes argumentativas, pois conecta experiências pessoais a temas
sociais mais amplos, legitimando pontos de vista e criando empatia entre os
interlocutores. Essa conexão ocorre no exercício retórico da completude discursiva,
que é constituída pela teia social que envolve os indivíduos de uma comunidade.
Essa perspectiva já se manifestava na Retórica antiga, quando as narrativas
ocupavam um lugar de destaque no discurso, sendo vistas como um elemento capaz
de alterar a disposição do auditório, moldando suas opiniões e influenciando o
discurso público. Esse entendimento é destacado especialmente nas obras de
Cícero (2009; 2010) e Quintiliano (1944), para os quais a capacidade da
narrativa de cativar os ânimos lhe confere uma forte dimensão persuasiva,
sendo, portanto, útil em qualquer dos gêneros discursivos tratados pela
retórica. No contexto das práticas sociais, as narrativas não apenas refletem
realidades, mas também as configuram, oferecendo novas perspectivas sobre questões
culturais, políticas e éticas. Ao analisar como as pessoas utilizam histórias
para argumentar e persuadir, aborda-se o impacto dessas narrativas na formação
de identidades, na mobilização social e na transformação de discursos
hegemônicos. Combinando teoria e prática, nosso ST propõe uma reflexão crítica
sobre o papel da argumentação retórica na construção de narrativas que
influenciam as práticas sociais, incentivando o debate sobre como essas
narrativas podem promover mudanças e resistências em diversos contextos
socioculturais. Convidamos pesquisadores a apresentarem projetos (em andamento
ou concluídos) que possam contribuir com essa reflexão.
ST30 -
DIREITOS HUMANOS E ATIVISMOS: O DISCURSO ARGUMENTATIVO EM PERCURSOS LITERÁRIOS
Adriana do Carmo Figueiredo - Fundação CEFETMINAS / IESLA
Antônio Augusto Braighi - Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)
A proposta
deste Simpósio Temático (ST) nasceu do nosso interesse, na condição de pesquisadores
do discurso, em discutir temas que tocam na tríade Literatura, Direitos Humanos
e Argumentação. De acordo com o jurista mexicano Diego Valadés (2005), existe
um nexo profundo entre o direito e as artes que se evidencia por meio da
literatura. Os vínculos produzidos pela linguagem da palavra, compartilhada
pela Literatura e pelo Direito, constituem uma fonte inesgotável para a
reflexão que, de maneira progressiva, convoca um crescente número de estudiosos
que mobilizam as interfaces transdisciplinares para as pesquisas em discurso e
argumentação. Tendo em vista esses vínculos, o objetivo central deste ST
busca concatenar a argumentação no discurso literário com gestos escriturais
que mobilizem as diferentes perspectivas relacionadas aos Direitos Humanos e
aos ativismos. No que se refere ao delineamento do perfil teórico-metodológico
adotado e/ou esperado para as intervenções deste ST, destacamos algumas
referências que se revelam importantes: as noções de identidade coletiva,
consciência cidadã e imaginários sociodiscursivos, com base na Teoria
Semiolinguística de Charaudeau (2008, 2015); a discursivização da argumentação
oriunda do gênero panfletário, conforme visada de Amossy (2014); e as
abordagens sobre narrativas de vida e saga familiar, como propõe Machado (2019,
2020), entre outras. No que se refere ao Direito e ao Ativismo, interessa-nos
uma interlocução com as Ciências Sociais em diferentes linhas de pesquisa, que
abordem, por exemplo: as noções de racionalidade fundamentada nos processos de
comunicação intersubjetiva, como Habermas (1999 [1981]) articulou; a linha
tênue dos estudos desse sociólogo com as teorias sobre os (novos) Movimentos
Sociais, vide Alonso (2009), especialmente a de identidade coletiva de Melucci
(1980); dando base para a concepção de Ativismo que visamos explorar neste ST,
como a de Jordan (2002) — com o sujeito socialmente engajado que visa um
benefício para a coletividade com a intervenção que empreende; em abordagens
literárias que sejam especialmente marcadas pelo trabalho crítico, o que Paulo
Freire (1987) nos lembra em sua Pedagogia, na problematização, com interlocução
baseada em uma horizontalidade de trocas e pela desalienação. Acreditamos que
os referidos eixos teóricos podem fornecer sugestões de gestos de leitura para
que possamos compreender as relações entre
Literatura, Direitos Humanos e Argumentação, destacando imagens de mundo dentro de uma concepção de justiça
que se reverbera pelos imaginários
sociodiscursivos refletidos nos discursos literários. Assim, enfatizamos
o propósito do nosso simpósio, em seu caráter multidisciplinar, ao oportunizar
debates entre diferentes pesquisas que abordem as temáticas supracitadas em
distintas materialidades discursivas.
ST31 -
DISCURSO COMO MÉTODO DE ANÁLISE NA POLÍTICA E NO INTERNACIONAL
Sinara Bertholdo de Andrade - Secretaria de Educação de Goiás
(Seduc/GO)
Marina Bolfarine Caixena - Universidade Federal de Goiás
(UFG)
Os estudos discursivos, como
método de análise, ampliaram seu campo desde o início dos anos 2000, marcado
pela publicação da tradução de Izabel Magalhães para o português do livro de
Norman Fairclough, “Discurso e Mudança Social”. Esse trabalho da professora
difundiu nossa seara do conhecimento, pois deu acesso a diversos estudantes ao
campo téorico-metodológico da Análise de Discurso Crítica. O caráter
transdisciplinar da ADC resultou em uma parceria profícua, entre as
pesquisadoras que promovem esse simpósio, com o objetivo de aplicar o método de
análise de discurso crítico nos estudos realizados nos campos da ciência
política e das relações internacionais. A ADC como método e perspectiva teórica
para o estudo dos fenômenos políticos domésticos e internacionais é uma
oportunidade que se abre para ressaltar a dimensão sociológica e a perspectiva
crítica das interações políticas, seja no plano doméstico, seja no plano
internacional ou interestatal. A instrumentalização da ADC permite trazer para
as investigações sobre a política as representações, identificações e ações que
têm o discurso a capacidade de mobilizar nas interações humanas e entre os
grupos sociais em diferentes esferas. Considerando a pesquisa uma intervenção
política e, portanto, os impactos sociopolíticos da escolha metodológica, bem
como as aproximações com a teoria crítica nas ciências sociais, enfocar os
discursos no campo político são essenciais para análises políticas que superem
as práticas teóricas e metodológicas tradicionais que permeiam tanto a Ciência
Política, quanto as Relações Internacionais. Por isso, esse simpósio se propõe
tanto a divulgar os trabalhos de estudantes participantes das oficinas de ADC
promovidas pela pós-doutorandas e professoras Dra. Marina Bolfarine Caixeta e
Dra. Thaís Vieira e ministrada pela professora Dra. Sinara Bertholdo de
Andrade: uma em novembro de 2023 e outra que ocorrerá em novembro de 2024. As
oficinas são, ainda, uma parceria na construção de um dossiê temático dos
estudos discursivos nos campos das ciências políticas e das relações
internacionais que contará com a participação da autoria do professor Dr.
Rubens Damasceno-Morais, abrangendo o campo da argumentação na parceria desse
trabalho de análise na política e no internacional. Assim, o Sediar é um lugar
de encontro dessas parcerias acadêmicas que inovam na construção de
metodologias de análises que sejam engajadas nos argumentos discursivos nas
práticas sociais hegemônicas, contribuindo, conforme nos ensina Fairclough
(2000, tradução de Izabel Magalhães), com a transformação social através da
conscientização dos contextos discursivos em que estamos inseridos(as).
ST33 -
DO ÓDIO À ESPERANÇA: DISCURSO, ARGUMENTAÇÃO E TÁTICAS DE RESISTÊNCIA NA AMÉRICA
LATINA CONTEMPORÂNEA
Argus Romero Abreu de Morais - Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS)
Carlos Henrique Bem Gonçalves - Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ)
Nos últimos anos, muito se tem
refletido sobre a organização narrativa e argumentativa dos discursos da
extrema-direita global na atualidade, considerando tanto as singularidades
quanto as semelhanças entre as distintas realidades, com o objetivo de entender
o funcionamento político do ódio (ver, p. ex., Morais & Moita Lopes, 2024;
Moita Lopes & Pinto, 2020; Piovezani & Gentile, 2020; Rocha, 2021;
Teles et al., 2018). Tendo isso em mente, o propósito deste Simpósio Temático é
seguir o sentido inverso ao do título do texto de Pinheiro-Machado (2018),
intitulado “Da esperança ao ódio”, criando no evento um espaço para receber
pesquisas que tenham se detido, ao longo dos últimos anos, em investigar as
falhas, as fraturas, as resistências e as ressignificações em relação aos
discursos ou retóricas do ódio. Como destaca Kundera, em sua obra A
Insustentável Leveza do Ser, “a luta do homem contra o poder é a luta da
memória contra o esquecimento”. Nesse viés, temos por intuito reunir estudos do
campo discursivo-argumentativo que explorem as distintas práticas e
experiências coletivas no Brasil contemporâneo que tenham contribuído para desconstruir
e combater o recrudescimento da intolerância na cena pública latino-americana,
sejam elas desenvolvidas em ambientes online ou offline. Bem Gonçalves (2024),
por exemplo, aproxima a abordagem performativa de Butler (2021) do conceito de
polêmica em Amossy (2017) para avaliar os processos de ressignificação de
conceitos pejorativos contra o público LGBT no Brasil. Braga & De Sá
(2020), por sua vez, reúnem distintos trabalhos que tratam das lutas
antiautoritárias contemporâneas no país, propondo a reorientação da perspectiva
foucaultiana sobre o poder para sugerir uma Microfísica das Resistências. Nesse
caminho, nosso objetivo é selecionar trabalhos que investiguem a habilidade de
questionar, desafiar ou se opor a discursos, narrativas ou formas de linguagem
percebidas como opressoras, injustas ou hegemônicas, em especial, nos discursos
políticos de extrema-direita na América Latina. Os trabalhos podem abranger uma
variedade de corpora, incluindo textos políticos, midiáticos, jurídicos,
religiosos, sindicais, de lutas feministas, antirracistas, LGBTQIA+,
estudantis, de entidades de classe, literários, entre outros. Por fim,
ressaltamos que as bases teóricas para o desenvolvimento dos trabalhos podem
incluir estudos sobre argumentação, retórica e polêmica (p. ex., Perelman &
Olbrechts-Tyteca, Amossy, Angenot) e análise do discurso em sentido amplo (p.
ex., Pêcheux, Charaudeau, Maingueneau, Fairclough).
ST34
- ESTUDOS EM ARGUMENTAÇÃO E RETÓRICA: CONTORNOS TEÓRICOS E ANALÍTICOS
João Benvindo de Moura - Universidade Federal do Piauí
(UFPI)
Deywid Wagner de Melo - Universidade Federal de Alagoas
(UFAL)
Investigar de que modo os textos
e os discursos estão enredados de questões persuasivas é o que se tem feito em
pesquisas no âmbito dos estudos argumentativos e retóricos contemporâneos.
Diferenciar a dimensão argumentativa da visada argumentativa, bem como o
convencimento da persuasão é um passo sobremaneira importante para a
compreensão de estratégias argumentativas em diferentes manifestações
linguageiras encontradas em múltiplas práticas sociais. A partir desses
princípios, é possível estudar de que maneira textos e discursos convencem,
persuadem, orientam modos de agir, modificam opiniões e crenças, promovem
polêmica por meio do desacordo e do dissenso, manipulam a verdade através das
figuras de negação, influenciam as pessoas, enfim, entre outras finalidades
discursivas. Desde a Grécia antiga com o mestre grego Aristóteles, aprendemos
que a retórica é uma faculdade de observar quais são os elementos que tornam um
discurso persuasivo. Conforme o pai da retórica, tais aspectos, grosso modo,
giram em torno da tríade ethos, logos e pathos e de tudo
aquilo que essas provas depreendem, a exemplo da credibilidade do orador, dos
tipos de argumento empregados no discurso e das prováveis paixões que são
suscitadas diante de um auditório. Nesse sentido, em nosso simpósio temático,
objetivamos propiciar um espaço de discussões acerca de trabalhos que, de algum
modo, pesquisem elementos argumentativos e retóricos presentes em distintos
textos e discursos, descortinando as suas possíveis artimanhas que almejam
convencer, persuadir, orientar ou modificar opiniões, crenças e valores. Desse
modo, podem ser submetidos trabalhos que estejam concluídos ou em andamento,
que investiguem questões argumentativas e retóricas em distintos textos e
discursos pertencentes aos múltiplos domínios discursivos existentes, tais
como: religioso, educacional, político, jurídico, midiático, literário,
jornalístico, publicitário, comercial, instrucional, entre outros. Nesse
cenário, teorias como argumentação no discurso, retórica, semiolinguística,
linguística textual e sua recente filiação argumentativa, entre outras áreas
afins que dialoguem com os estudos retórico-argumentativos, configuram os
fundamentos epistemológicos da referida proposta. Finalmente, esperamos, em
nosso simpósio temático, compartilhar pesquisas e experiências no âmbito dos
estudos argumentativos e retóricos a partir de distintas vozes que abordem a
temática aqui apresentada, estabelecendo sólidos diálogos e saberes construídos
no processo da pesquisa. Certamente, será um momento proveitoso para que possamos
dialogar e fazer avançar os estudos em nossa área disciplinar.
ST35 - LA
RETÓRICA DE LAS (NUEVAS) DERECHAS: ARGUMENTACIÓN, RELATO Y PUESTA EN ESCENA EN
DEMOCRACIAS MEDIATIZADAS
Mariano Dagatti - Universidad Nacional de Entre
Ríos (UNER), Argentina
Rodrigo Seixas - Universidade Federal de Goiás (UFG)
El crecimiento o auge de las (nuevas) derechas en
Europa y las Américas es uno de los fenómenos políticos más notorios en las
democracias occidentales de la última década. Ocupan, por esa razón, un lugar central
en los debates académicos contemporáneos, interesados en su retórica
anti-establishment y en su crítica radical a gran parte de los consensos
democráticos que dan consistencia a las sociedades en las que se despliegan
(Crick, 2022; Lorenzi Bally y Moïse, 2023; Piovezani y Gentile, 2020; Wodak,
2015). La vigencia electoral de Donald Trump en los Estados Unidos, la
presidencia de Javier Milei en la Argentina, el gobierno de Jair Bolsonaro en
Brasil, las expectativas electorales de Keiko Fujimori en Perú, la buena
elección de José Kast en Chile, son fenómenos políticos que exceden el ámbito
nacional o regional y trazan coordenadas conjuntas con un continente europeo
donde diferentes expresiones de derecha gobiernan (Italia, Polonia, Hungría),
integran gobiernos de coalición (Estonia, Bulgaria), encabezan encuestas de
intención de voto (Suecia, Eslovenia) u ostentan vibrantes números y
constituyen oposiciones inevitables (Marine Le Pen en Francia, el partido Vox
en España). Como resultado de un estado de la cuestión en el que convergen
miradas políticas, sociológicas y culturales, partimos de la premisa de que las
derechas – y sus diferentes expresiones más o menos liberales o neoliberales,
nacionalistas, autoritarias, extremas, ultras o populistas – encuentran su
pista de despegue en la intersección entre la rabia y desencanto de amplios
sectores de la población y la irreverencia que celebra un lenguaje
“políticamente incorrecto” y la fascinación que provoca una inusual y
abigarrada estetización y puesta en escena. Así, buscan por medio de su
retórica arraigar su programa y sus temas fetiches: algunos comunes, como la
designación de un enemigo interno, la promoción de una actitud “sin vergüenza”
(shameless) contra la cultura progresista o woke; algunos muy diferentes
e incluso contradictorios si se presta atención a sus lógicas (Angenot): desde
el nacionalismo y la reivindicación de un Estado que defienda la unidad
nacional frente a la amenaza externa en Francia, Hungría y España hasta la
demanda de libertad individual irrestricta sin intervención alguna del Estado
en países como la Argentina. Nuestro simposio tiene como objetivo principal
abrir un espacio de discusión en torno la retórica de las (nuevas) derechas en
las democracias actuales, con especial foco en las de América Latina, tomando
en cuenta sus múltiples dimensiones argumentativas, narrativas y enunciativas.
Apuesta a compartir los resultados de investigaciones que estudian el discurso
y la argumentación como una de las dimensiones constitutivas fundamentales de
estos liderazgos, partidos, frentes y coaliciones a la hora de pugnar por la
hegemonía política, económica y cultural en sus respectivos países.
ST35 (tradução): A retórica das (novas) direitas: argumentação, narrativa e encenação
políticas em democracias midiatizadas
O crescimento ou a ascensão da (nova) direita na Europa e nas Américas é
um dos fenômenos políticos mais notáveis nas democracias ocidentais da última
década. Por esta razão, ocupam um lugar central nos debates acadêmicos
contemporâneos, interessados na sua retórica anti-establishment e na sua
crítica radical a grande parte do consenso democrático que dá consistência às
sociedades em que estão implantados (Crick, 2022; Lorenzi Bally e Moïse, 2023;
Piovezani e Gentile, 2020; Wodak, 2015). A eleição de Donald Trump nos Estados
Unidos, a presidência de Javier Milei na Argentina, o governo de Jair Bolsonaro
no Brasil, as expectativas eleitorais de Keiko Fujimori no Peru, a eleição de
José Kast no Chile, são fenômenos políticos que ultrapassam o âmbito nacional
ou regional e traçam coordenadas conjuntas com um continente europeu no qual
diferentes expressões da direita governam (Itália, Polónia, Hungria),
constituem governos de coligação (Estónia, Bulgária), lideram inquéritos de
intenção de voto (Suécia, Eslovénia) ou ostentam números vibrantes e constituem
oposições inevitáveis (Marine Le Pen em França, o partido Vox na Espanha). Fruto
de um estado de coisas em que convergem visões políticas, sociológicas e
culturais, partimos da premissa de que a direita – e as suas diferentes
expressões mais ou menos liberais ou neoliberais, nacionalistas, autoritárias,
extremistas, ultra ou populistas – encontra a sua pista de decolagem na
intersecção entre a raiva e o desencanto de amplos setores da população e a
irreverência que celebra uma linguagem “politicamente incorreta” e o fascínio
que provoca uma inusitada e heterogênea estetização e encenação política.
Assim, através da sua retórica, procuram enraizar o seu programa e seus temas
fetichistas: alguns comuns, como a designação de um inimigo interno, a promoção
de uma atitude “sem vergonha” contra a cultura progressista ou acordada;
algumas muito diferentes e até contraditórias se prestarmos atenção à sua
lógica (Angenot, 2008): desde o nacionalismo e a exigência de um Estado que
defenda a unidade nacional contra ameaças externas em França, Hungria e Espanha
até a exigência de liberdade individual irrestrita sem qualquer intervenção do
Estado em países como a Argentina. Diante desse contexto, o principal objetivo
do nosso simpósio é abrir um espaço de discussão em torno da retórica da (nova)
direita nas democracias atuais, com especial enfoque nas da América Latina,
tendo em conta as suas múltiplas dimensões argumentativas, narrativas e
enunciativas. Pretendemos, assim, propiciar um espaço para a partilha de
resultados de pesquisas que estudam o discurso e a argumentação como uma das
dimensões constitutivas fundamentais destas lideranças, partidos, frentes e
coligações quando lutam pela hegemonia política, econômica e cultural nos seus
respectivos países.
ST37 -
PRINCÍPIOS FUNCIONALISTAS E ESTUDOS DA ARGUMENTAÇÃO
Vânia Cristina Casseb Galvão - Universidade Federal de Goiás (UFG)
Déborah Magalhães de Barros - Universidade Estadual de Goiás
(UEG)
Este simpósio abriga estudos que
envolvem o diálogo entre funcionalismo linguístico, aqui denominado, em sentido
amplo, de Gramática Funcional (GF), e a Teoria da Argumentação (TA) como
aportes analíticos para situações de uso da língua em contexto de avaliação em
larga escala. Nesses estudos, princípios funcionalistas, por exemplo, como o da
interação atividade cooperada (DIK, 1997, 1989) e o de que, no nível
interpessoal da gramática, os elementos linguísticos refletem os papéis do
locutor e do interlocutor na atividade interativa (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008),
cumprindo a função interpessoal da linguagem (HALLIDAY, 1985), são pareados com
princípios da teoria da argumentação a partir de noções como auditório, tipos
de argumento, adesão dos espíritos e mapas mentais etc (PERELMAN;
OLBRECHTS-TYTECA, 1999; MOSCA, 2004, 2006, 2007, 2008; CHAVES, 2013). São
previstos também estudos que conciliem principios da Gramática de Construções
(Traugott e Trousdale, 2013; Masini, 2016 etc) com a análise argumentativa dos
textos. Essas possibilidades analíticas decorem da percepção de que GF e TA
partem da mesma concepção de linguagem e estão voltadas para os estudos da
capacidade argumentativa como um atributo inerente à competência
social-interativa. Logo, estão na base de quaisquer análises que atentem para
os recursos da gramática da língua portuguesa a serviço da organização do
projeto argumentativo do texto. A conjugação de princípios funcionalistas
com princípios da nova retórica não é inédita. Casseb-Galvão e Duarte (2018)
apresentam uma proposta de ensino voltada para o gênero artigo de opinião,
conjugando principios do Funcionalismo clássico e da Nova retórica. Lucena
(2008), ao estudar a evidencialidade, categoria linguística relativa à
expressão da fonte do conhecimento enunciado, em uma perspectiva funcionalista
da linguagem, recorreu a postulados da teoria da argumentação para testar a
hipótese de que fatores de ordem conceptual, interacional e contextual, como as
intenções enunciativas, as condições de produção do discurso e a autoimagem que
o orador deseja construir perante o seu auditório, condicionam a manifestação
da evidencialidade, o tipo evidencial e o efeito de descomprometimento com a
verdade enunciada produzido pelos usos evidenciais.
ST38 - RETÓRICA, ARGUMENTAÇÃO E
DISCURSO: O ESTUDO DO ETHOS SOB MÚLTIPLOS OLHARES
Flávio
Passos Santana - Universidade
de Pernambuco (UPE)
Fabiana
Lisboa Ramos Menezes - Universidade
Federal de Sergipe (UFS)
Segundo
Mariano (2024), apesar de os estudos sobre o ethos no Brasil, nos últimos anos
(2016-2023), desenvolverem trabalhos com temas de grande relevância, ainda é
necessária uma exploração em outros terrenos e contextos. Como se sabe, o
ethos, para Aristóteles [2011 (384-322 a. C.)], era o principal vértice do
triângulo aristotélico, e constitui o caráter do orador, a imagem que ele cria
de si. De lá para cá, esse conceito vem ganhando outras roupagens: para Ruth
Amossy (2005, 2018), que segue uma linha
sob a ótica da Análise do Discurso, o orador constrói o seu ethos por
meio da imagem prévia que ele faz de seu auditório, bem como da imagem que o auditório
construirá dele; para Fiorin (2008), o ethos é explicitado na enunciação
enunciada, nas marcas deixadas por essa enunciação e o distingue em ethos do
interlocutor, ethos do narrador e ethos do enunciador; já Brait (2012) entende
que o estilo de um autor é perpassado pela imagem que este tem do seu ouvinte,
como se eles fossem indissociáveis; Sobral (2012) argumenta que, à medida que
enunciamos, criamos uma imagem de nós e, a partir dessa imagem, os outros nos
reconhecem; por sua vez, para Dominique Maingueneau (2005), que parte da perspectiva
dos estudos argumentativos, o ethos não apenas persuade por argumentos, mas
explicita como ocorre a adesão do auditório, que pode aderir ou não ao discurso
apresentado. Justificamos a proposta deste Simpósio Temático devido, mais
recentemente, a visão maingueneauniana (2020) que sugere a possibilidade de
estudar o ethos em qualquer manifestação linguageira, bem como o carecimento de
pesquisas que abordem distintas esferas investigativas. Nesse sentido, nosso
Simpósio Temático tem como objetivo reunir pesquisas sobre o ethos em diversas
perspectivas teóricas, metodológicas e analíticas, com o intuito de oferecer um
diálogo a respeito dos múltiplos olhares que engendram o estudo do ethos dentro
e fora do país. Esperamos, portanto, oportunizar um debate valioso acerca do
tema em distintos corpora de pesquisa (cinema, teatro, propagandas, discursos,
imagens, charges, narrativas, entre outras de igual relevância), com a intenção
de colaborar no engrandecimento dos pesquisadores e no progresso de seus trabalhos.
ST39 -
ARGUMENTAÇÃO E DISCURSO NA FORMAÇÃO DO LEITOR-ESCRITOR CRÍTICO EM FACE AOS
MÚLTIPLOS LETRAMENTOS
Jarbas Vargas Nascimento - Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC/SP)
Rosangela Carreira - Universidade Federal de Goiás
(UFG)
O Simpósio “Argumentação e
discurso na formação do leitor-escritor crítico em face aos múltiplos
letramentos” entende que a leitura e a escrita são práticas sociais da
linguagem e, por meio delas, são estabelecidas
interrelações que garantem a inserção dos sujeitos nas práticas de
letramento da sociedade e demandam o desenvolvimento de criticidade e
competências leitoras e escritoras capazes de alcançar a
percepção/interpretação das estratégias argumentativas nos diferentes gêneros
discursivos, que fazem parte das
atividades dos sujeitos (Cano, Carreira e Silva, 2022). E compreende
também que os múltiplos processos de letramento envolvidos nas práticas
cotidianas ou institucionais constituem e fazem parte da formação do sujeito
leitor-escritor crítico. Tendo em vista que essas práticas e esses eventos de
letramentos envolvem aspectos sociais, culturais, discursivo-interacionais e
cognitivos em diferentes instâncias dessa formação, são bem-vindas as reflexões
sobre diferentes posicionamentos investigativos frente a temas como letramento
digital, letramento de gênero, letramento étcnico-racial, letramento literário
e outros e sua interface com os estudos da argumentação e do discurso. Soma-se
a esse contexto geral da aprendizagem a necessidade de uma revisitação dessas
grandes competências em uma perspectiva de formação crítica. Embora sempre
presente nos estudos acerca da leitura e da escrita, a criticidade do sujeito
que aprende se torna mais urgente em tempos atuais devido aos contextos de
emergências de polarização de grupos extremo-conservadores, de discurso de ódio
e de violência, de negacionismo e de tentativas de exclusão dos diversos grupos
subalternizados do espaço público e político. Fenômenos estes ligados ao avanço
do uso das redes sociais, de uma sociedade de consumo da informação e da
circulação de Fake News. Nessa conjuntura, pesquisas e socializar pesquisas que
contextualizam a formação do leitor/escritor na constituição de um sujeito
crítico tornam-se mais centrais e necessárias. Este simpósio, portanto, tem por
objetivo reunir pesquisadores cujos trabalhos tratem de aspectos
discursivo-argumentativos no processo de leitura e/ou escrita para formação
crítica. Tem-se como objetivos: a) observar como as estratégias argumentativas
vem sendo consideradas na formação de leitores e/ou escritores; b) analisar e
problematizar as instâncias de formação
de um leitor e/ou escritor; c) questionar a ideia que se instituiu socialmente
sobre o que é ser um sujeito crítico e suas interfaces com a argumentação; d)
expandir as discussões acerca da relação entre práticas discursivas,
argumentação e letramentos.
ST40 - MUNDOS E COSMOPERCEPÇÕES EM
CORPOREIDADES NARRATIVAS: A ARGUMENTAÇÃO EM DEFESA DE EXISTÊNCIAS
Eunice Pirkodi Caetano Moraes
Tapuia - Núcleo Takinahakỹ da
Universidade Federal de Goiás (UFG)
Hildomar José de Lima - Universidade Federal de Goiás (UFG)
A ciência moderna fundou o mito
do conhecimento universal: imparcial, neutro e objetivo, tendo a Europa como
referência geopolítica, o europeu branco, cis-masculino-hetero-branco, cristão,
herdeiro rico, como referência corpo-política, e as línguas europeias modernas
como referência linguística e epistemológica para a construção e divulgação dos
conhecimentos. Os programas pedagógicos considerados de excelência são
ancorados nesses referenciais científicos, que se reproduzem nos países
colonizados, periféricos ou não. As outras muitas formas conceber e escrever o
mundo são deslegitimadas e quando consideradas são objetos de experimentos para
o avanço da ciência legítima. Nesse contexto, compreendemos que a narrativa é
um lócus de manifestação das cosmopercepções, um modo de significação de mundo,
das corporeidades (corpo, território, línguas, conhecimentos, sentimentos,
espiritualidades etc.) não consideradas pela ciência legítima, portanto,
invalidada pelas epistemologias hegemônicas, como, por exemplo, o Exame
Nacional do Ensino Médio - Enem. A narrativa, dessa forma, para os povos
subalternizados pela colonização escravagista, é loci pedagógico e epistemológico
e um importante modo de argumentação na vida cotidiana, nas denunciações, nos
embates e nas disputas políticas nas propostas de equidade pelos sujeitos de
direito da diversidade do mundo. Assim, nesta proposta de Simpósio Temático,
convidamos pessoas interessadas em discutir a narrativa – verbal ou não verbal,
oral, escrita (em línguas orais ou de sinais), sinalizada, performada, cantada,
dançada etc. – como ato e modo de significação de mundo e como modo de
argumentação no mundo para defesa de direitos e exercício de cidadania de
grupos subalternizados pela colonialidade.