Nos últimos anos tem se acentuado a discussão em torno da categoria “paisagem cultural”, apesar de ela ter sido incluída há mais de vinte anos na Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO e de dezenas de paisagens já terem sido nela inscritas, inclusive o Rio de Janeiro em 2012. Ao lado do desafio colocado pelo próprio conceito de “paisagem cultural”, uma das questões que mais tem preocupado os pesquisadores e órgãos do patrimônio ao redor do mundo tem sido a da sua gestão. Afinal, como tratar essa nova dimensão – tão complexa e ampla – e que envolve sempre múltiplos – e muitas vezes conflitantes – interesses e atores?
Ao mesmo tempo em que essa categoria dá margem à polêmica, ela tem sido cada vez mais utilizada ao redor do mundo por pesquisadores, profissionais e órgãos de preservação. O fato é que a ideia de “paisagem cultural” tem aberto novas possibilidades para a área do patrimônio, combinando aspectos materiais e imateriais do conceito, que tradicionalmente foram operados separadamente, e indicando haver porções territoriais cujo valor cultural se expressa pelas interrelações intrínsecas e de longa data entre grupos sociais e o meio ambiente natural. Com isso, recoloca-se o próprio campo do patrimônio cultural, abrindo-se uma perspectiva contemporânea para, ao lado das novas contribuições se pensar também de forma mais integrada diversas ideias tradicionais do campo da preservação. Esse deslocamento parece ser reconhecido pela própria UNESCO, ao introduzir, com a ideia da Paisagem Urbana Histórica (Historic Urban Landscape – HUL), a perspectiva da paisagem no tratamento dos conjuntos urbanos.
Diante dos desafios colocados pelo conceito de paisagem cultural, especialmente no que tange à necessária interdisciplinaridade para a construção de políticas públicas de modo participativo e com incidência no território, faz-se necessário aprofundar o debate sobre a gestão do patrimônio cultural, de modo ampliado, e, ao mesmo tempo, reconhecer as limitações do campo do patrimônio para a condução dos trabalhos, implicando articulação, (re)definição de papéis e construção de novas estratégias para a ação preservacionista, com vistas ao desenvolvimento.
É frente a este quadro que aconteceu em 2018 a quinta edição do já tradicional “Colóquio Ibero-americano Paisagem Cultural, patrimônio e projeto”, promovido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável (IEDS), e pelo Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS-BRASIL).
Nesse colóquio se aprofundaram as discussões iniciadas nas edições anteriores, fazendo-se uma avaliação das diversas dimensões da ideia da paisagem cultural, tanto aquelas de natureza conceitual, metodológica e projetual, quanto suas implicações para as políticas de preservação, intervenção e gestão do patrimônio, com vistas ao desenvolvimento.