INFLAÇÃO: ORIGENS E FORMAS DE TRATAMENTO

Publicado em 02/12/2024 - ISBN: 978-65-272-0872-3

Título do Trabalho
INFLAÇÃO: ORIGENS E FORMAS DE TRATAMENTO
Autores
  • DANIEL CESAR STUMM
  • Júlio Eduardo Rohenkohl
Modalidade
Resumo Expandido (associados AKB)
Área temática
Área 6. Economia Monetária e Financeira
Data de Publicação
02/12/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2024/894041-inflacao--origens-e-formas-de-tratamento
ISBN
978-65-272-0872-3
Palavras-Chave
Inflação, moeda, política monetária, taxa de juros, pós-keynesianismo
Resumo
1. Introdução A evolução do pensamento em economia monetária esteve atrelada às distintas experiências históricas e às dificuldades reais enfrentadas pelos formuladores de políticas econômicas, buscando conter pressões inflacionárias e deflacionárias (Carvalho, 2015). Evolução essa baseada em oposições, especialmente, na forma como os economistas entendem a moeda na economia e, consequentemente, como se dá (ou não) a relação desta com o aumento geral do nível de preços, a taxa de juros e o crescimento econômico. Mais precisamente, o seio dos debates dá-se a partir da capacidade da moeda exercer efeito sobre as variáveis reais da economia, vide o consumo, investimento, nível de emprego e o produto. Em outras palavras, trata-se de admitir ou não, a neutralidade da moeda (Lopes, Mollo e Colbano, 2012). Em termos históricos, a evolução do pensamento econômico acerca do efeito da moeda nas variáveis reais esteve situada em torno da evolução e das críticas à Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) (Friedman,1989). De modo geral, a TQM correlaciona a quantidade de moeda em circulação na economia ao nível de preços e para chegar a essa conclusão pressupõe, entre outras coisas, que a moeda seja neutra (Lopes; Mollo; Colbano, 2012). John Maynard Keynes, por sua vez, adquiriu papel central na crítica à TQM, argumentando que: “Se a economia não opera no pleno emprego, isto implica que variações na quantidade de moeda podem drenar o produto e o emprego antes de afetarem os preços.” (Corazza, 2007, p. 5). Contemporaneamente, enquanto que o novo consenso de política monetária entende a moeda como neutra no longo prazo - pressuposto herdado da TQM - para os pós-keynesianos - herdeiros da crítica à TQM de Keynes - a moeda tem papel fundamental na determinação do investimento, através da preferência pela liquidez (Lopes; Mollo; Colbano, 2012; Corazza, 2007). Essa compreensão distinta da moeda, por conseguinte, implica entendimentos diferentes da inflação, suas causas, formas de mitigação e/ou tratamento. A regra convencional de política monetária adotada pelo BACEN indica que na existência de pressões inflacionárias, a autoridade monetária deve responder com aumento da taxa de juros (Sicsú, 2007). Esse aumento da taxa de juros impacta, já no curto prazo, o consumo, as decisões de investimento, o nível de desemprego, a dívida pública e a distribuição de renda, entre outros. Ademais, conforme Lopes, Mollo e Colbano (2012) apontam, a taxa de juros presente pode afetar o produto potencial da economia, ou seja, as perspectivas de crescimento para o futuro. 2. Objetivos Diante do contexto abordado, o presente artigo tem por objetivo geral explorar as compreensões convencional/neoclássica e pós-keynesiana do processo inflacionário e responder ao seguinte problema: quais são as causas e formas de tratamento da inflação? Ademais, somam-se como objetivos específicos comparar as definições de moeda da teoria convencional e da abordagem pós-keynesiana, assim como apresentar a evolução dessas compreensões. 3. Método Tendo em vista os objetivos elencados, é utilizado como método de pesquisa a comparação entre abordagens macroeconômicas. Conforme Fachin (2001), o método comparativo permite a dedução de semelhanças e divergências ao observar fatos ou ideias análogas e constitui-se como uma investigação de caráter indireto. Para a operacionalização da comparação, por sua vez, são combinados procedimentos de revisão bibliográfica narrativa (ou tradicional) com a construção de quadros comparativos entre as proposições das teorias. A partir da revisão bibliográfica narrativa foi possível estabelecer os seguintes conceitos para realização da comparação: Concepção de moeda, Neutralidade da moeda, Demanda por moeda, Oferta de moeda, Origens da inflação e Tratamento da inflação. Ademais, a teoria convencional/neoclássica foi subdividida em três grandes grupos (TQM Clássica, Monetarismo e Novo Consenso Macroeconômico) tendo em vista suas respectivas distintas compreensões dos conceitos selecionados. 4. Principais resultados No que diz respeito à moeda, a teorização convencional a entende, essencialmente, como um meio de troca. Assim, para a TQM Clássica - que considera válida a Lei de Say e a velocidade de circulação da moeda constante - a expansão da quantidade de moeda em circulação implicaria tão somente o crescimento proporcional do nível de preços. Ou seja, a moeda seria neutra no que diz respeito às variáveis reais da economia já no curto prazo. Para os monetaristas, no entanto, impulsões monetárias poderiam criar a ilusão de que os salários reais estavam crescendo, levando à maior oferta de trabalho por parte dos trabalhadores. Esse efeito, no entanto, se restringiria ao curto prazo, com os trabalhadores ajustando as suas expectativas e a economia retornando à sua taxa natural de desemprego. Assim, a relação entre inflação e desemprego proposta pela Curva de Phillips seria válida para o curto termo, enquanto que o resultado final do processo seria somente o aumento do nível de preços, ou seja, a TQM mostrar-se-ia válida. A oferta de moeda, por sua vez, tanto para os clássicos como para Friedman, seria de responsabilidade do banco central, ou seja, passível de ser controlada. No Novo Consenso Macroeconômico, por sua vez, a partir do fracasso da abordagem de controles monetários proposta por Friedman e da admissão de componentes endógenos da oferta de moeda - a exemplo das atividades dos bancos comerciais - a taxa de juros passa a ser o instrumento principal de política monetária. Não consideram, no entanto, que as variáveis monetárias venham a afetar o crescimento econômico no longo prazo, sendo esse delimitado pelo lado da oferta real da economia. Assim, movimentos da taxa de juros que implicam diminuição da liquidez no sistema não afetariam o potencial das economias, ou seja, a moeda segue sendo entendida como neutra na abordagem convencional, embora a concepção da moeda em si no NCM seja imprecisa e sua modelagem se dê como um resíduo dos processos econômicos. Keynes e os pós-keynesianos, por outro lado, entendem que a moeda apresenta uma propriedade adicional, a de reservar valor na forma mais líquida possível. Por conseguinte, essa capacidade de retenção e de liquidez teria a capacidade de determinar o próprio processo de acumulação capitalista pois, especialmente em momentos de incerteza, os empresários teriam preferência por manter seus recursos na forma de ativos financeiros, em detrimento de investimentos produtivos. Assim, a demanda por moeda por parte dos agentes seria instável, rompendo o nexo causal entre moeda e nível de preços proposto pela TQM. Por outro lado, caberia à autoridade monetária - por meio da definição da taxa básica de juros no mercado de reservas bancárias - estimular a transformação da moeda de ativo para meio de troca. Esse processo, embora influenciado pelos bancos centrais, dependeria também dos objetivos de lucratividade e liquidez dos bancos e, ao final, das próprias demandas por crédito das firmas e indivíduos, possuindo a moeda componentes endógenos. Já em relação às origens e formas de tratamento da inflação, para a TQM Clássica, assim como para o monetarismo - embora o processo de ajuste ocorra de formas distintas - existiria uma inequívoca relação causal entre a quantidade de moeda em circulação e a inflação, sendo o controle da oferta de moeda suficiente e necessário para que os preços se mantivessem estáveis. Para o NCM, por sua vez, mesmo que não seja advogada a relação direta entre moeda e preços, a inflação segue entendida como um fenômeno causado pelo excesso de demanda em relação à capacidade de oferta da economia. Ademais, as expectativas quanto à inflação futura tendem a retroalimentar o processo de inflação já presente. Assim, a função da autoridade monetária seria - através do estabelecimento da taxa de juros - controlar o hiato do produto, assim como, ancorar as expectativas dos agentes. Os pós-keynesianos, por outro lado, entendem a inflação como um fenômeno multifacetado, com origens principalmente na estrutura de oferta das economias, a exemplo de aumentos dos salários e lucros acima do crescimento da produtividade da economia, de rendimentos decrescentes de escala, de choques de oferta, de relações externas (cambiais e produtivas) e impostos. Ressaltam também, que a capacidade de impactar o nível geral de preços de cada um desses focos inflacionários dependeria de fatores como o grau de monopólio da economia, da abertura externa e do hiato de emprego. Cada um desses focos, por sua vez, deveria ser atacado com um instrumento específico. Para processos inflacionários decorrentes de aumentos de salários e/ou lucros acima do crescimento do nível de produtividade da economia, por exemplo, seriam recomendadas tax based income policies. Já para a situação de rendimentos decrescentes são recomendadas políticas permanentes de qualificação do trabalho e de desenvolvimento tecnológico, enquanto para a restrição externa, deveriam ser utilizadas políticas cambiais e de substituição de importações. No que tange aos choques de oferta, esses poderiam ser amenizados por meio de estoques reguladores ao passo que inflações de impostos deveriam ser evitadas pelo próprio governo. A inflação de demanda, por sua vez, poderia ser controlada via taxa de juros, embora os custos sociais em termos de desemprego decorrentes desse processo sejam não-negligenciáveis.
Título do Evento
XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Maceió
Título dos Anais do Evento
Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

STUMM, DANIEL CESAR; ROHENKOHL, Júlio Eduardo. INFLAÇÃO: ORIGENS E FORMAS DE TRATAMENTO.. In: Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira. Anais...Maceió(AL) FEAC-UFAL, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2024/894041-INFLACAO--ORIGENS-E-FORMAS-DE-TRATAMENTO. Acesso em: 25/04/2025

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