INTEGRAÇÃO FINANCEIRA E HIERARQUIA MONETÁRIA COMO DETERMINANTES DA TAXA DE JUROS NO BRASIL

Publicado em 02/12/2024 - ISBN: 978-65-272-0872-3

Título do Trabalho
INTEGRAÇÃO FINANCEIRA E HIERARQUIA MONETÁRIA COMO DETERMINANTES DA TAXA DE JUROS NO BRASIL
Autores
  • Maria Isabel da Silva Santos
  • Angelo Rondina Neto
  • João Gabriel de Araujo Oliveira
Modalidade
Artigo (associados AKB)
Área temática
Área 6. Economia Monetária e Financeira
Data de Publicação
02/12/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2024/897195-integracao-financeira-e-hierarquia-monetaria-como-determinantes-da-taxa-de-juros-no-brasil
ISBN
978-65-272-0872-3
Palavras-Chave
Integração financeira; Hierarquia monetária; Taxa de juros; Política monetária.
Resumo
Este trabalho compreende o impacto da integração financeira sobre a taxa de juros em economias emergentes, com ênfase no Brasil. Sendo assim, o objetivo central é identificar como a integração financeira do Brasil influencia a Política Monetária corrente. Para isso, adicionalmente, analisar-se-á a influência da hierarquia monetária, especialmente a posição do dólar americano, sobre a política monetária de economias pequenas e abertas, como a brasileira. Embora a literatura sobre os determinantes da taxa de juros seja extensa (Pilkington, 2014, Holston et al., 2017, Leal, 2023), há uma escassez de estudos que abordem os fatores estruturais, particularmente no contexto da relação financeira internacional do Brasil (Barbosa et al., 2016, Costa, 2017, Bresser-Pereira; Nakano, 2020, Borges e Pessôa, 2021). Contudo, após ampla revisão da literatura , não foram encontrados trabalhos que relacionem os temas integração financeira e a exposição à moeda-chave, como proposto no presente trabalho. A discussão sobre a taxa de juros no Brasil ressurgiu no debate econômico após a adoção do Regime de Metas de Inflação (RMI) em 1999. Considerando o processo de industrialização, crescimento e desenvolvimento econômico, o país implementou medidas (regime de âncora cambial, uso da taxa de juros como âncora nominal, substituindo o câmbio do tipo crawling peg praticado anteriormente, vide Cardoso, 2021) que, em conjunto com o contexto externo (Mercosul e crises mundiais), elevaram a inflação devido à desvalorização do Real. A taxa de juros real no Brasil diminuiu ao longo do tempo, especialmente após o Plano Real e o RMI, mas ainda se mantém acima da média de países emergentes com sistemas semelhantes (Segura-Ubiergo, 2012). A meta para a taxa de juros básica, Selic, é o principal instrumento de política sob a gestão da autoridade monetária brasileira para promover a convergência da inflação do país à meta definida (Carvalho, 2023). Economias emergentes tendem a ter taxas de juros mais elevadas devido a fatores como maior necessidade de recursos estrangeiros e riscos de default mais altos (Segura-Ubiergo, 2012; Schulz, 2019). A globalização ou, ainda, liberalização financeira, é defendida à luz da eficiência de mercado na teoria mainstream, pois a dinâmica se torna benéfica ao crescimento das economias periféricas emergentes com a entrada de investimento externo. Assim, a vertente ortodoxa defende o livre mercado e as hipóteses dos mercados eficientes e das expectativas racionais. No entanto Kregel (2008) contesta, destacando o argumento de Keynes de informações assimétricas e de que as incertezas e choques a que a economia está vulnerável. Leal (2023) argumenta, ainda, que as economias periféricas tornaram-se mais vulneráveis a choques especulativos, volatilidade cambial e instabilidade macroeconômica. Ainda, o avanço da globalização para a periferia global e a centralidade do capital externo seria a causa de crises especulativas na década de 1990 que geraram fuga de capitais em outros mercados emergentes. Dada a divergência entre os argumentos sobre a influência do mercado externo na economia interna, emergiu a necessidade de entender como essas forças delineiam a política monetária brasileira após o regime de metas de inflação. A literatura aponta algumas hipóteses que buscam explicar os altos níveis da taxa de juros para o Brasil, dentre as quais: (i) domínio fiscal, (ii) ineficácia da política monetária, (iii) imperfeições no mercado de crédito, (iv) incerteza jurisdicional e, ainda, (v) hipóteses alternativas como o efeito-convenção (verificar autores como Favero; Giavazzi, 2002, Arida; Bacha; Lara-Resende, 2005, Netto, 2005, Barbosa, 2006, Pires, 2007, Goldfajn; Bicalho, 2011, Schwartsman, 2011, Segura-Ubiergo, 2012, Bresser-Pereira; Nakano; 2020). Já no tocante à taxa de juros neutra, de perspectiva de longo prazo sobre a economia, essa varia lentamente devido às mudanças estruturais na economia, como: progresso tecnológico, crescimento populacional e política fiscal (Amato, 2005). Costa (2017) identificou que as taxas de juros reais de longo prazo no Brasil são influenciadas principalmente pelas taxas reais de 10 anos dos EUA e pelo prêmio de risco. Outras variáveis, como níveis de endividamento e indicadores do mercado de crédito, não tiveram impacto significativo. O estudo do autor verificou que a política monetária não teve papel relevante sobre as taxas reais de longo prazo, indicando que fatores econômicos estruturais determinam a taxa real de longo prazo. A partir de uma investigação a despeito dos determinantes da taxa de juros brasileira, identificaram-se fatores que estão sintetizados na Tabela1 (verificar autores como Garcia e Didier, 2003; Amato, 2005; Modenesi, 2006; Barbosa et al., 2016; Rondina Neto, 2018; Schulz, 2019; Pessôa, 2021). Notou-se que autores, como os citados anteriormente, tangenciam de forma breve a temática acerca do contexto financeiro da economia brasileira. Tabela 1 – Determinantes do nível da taxa de juros brasileira considerando os componentes da equação de Fisher e seu grau de persistência. TABELA 1 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Rondina Neto (2018). Apesar de Keynes e os pós-keynesianos destacam a relevância dos mercados financeiros no provimento de crédito ao setor produtivo, também admitem a chance de a esfera financeira predominar. Isso ocorre à medida que o mercado financeiro supera o produtivo e se estabelece como o centro das operações especulativas (Mollo e Amado, 2015). Vale ressaltar que esse arranjo hierarquizado gera diversas assimetrias entre países centrais e periféricos, manifestando-se nas esferas monetária, financeira e macroeconômica (Prates, 2002). Para que as economias periféricas emergentes sejam atrativas ao capital externo, aumentam as taxas de juros para mitigar o contexto de maior risco. No entanto, esses países estão mais expostos à volatilidade cambial e vulnerabilidade externa, pois recebem fluxos de capitais mais voláteis e cíclicos (Bonizzi, 2017). A posição das moedas na hierarquia monetária afeta a capacidade de formulação de políticas que convirjam aos objetivos econômicos domésticos, além de tornar possível compreender os dilemas enfrentados e o grau de autonomia econômica dos países (Laplane, 2016). Metodologia A metodologia adotada para a análise é a estimação de um modelo de Vetor de Correção de Erros (VEC), com o intuito de verificar o comportamento de algumas variáveis-chave para a política monetária brasileira. A análise das funções impulso-resposta permite entender a dinâmica das variáveis do modelo durante um número determinado de períodos, dado um choque exógeno sobre outra variável do modelo. Com isso, analisou-se o comportamento dinâmico do modelo e quais as implicações de um choque no PIB, IPCA, SELIC, taxa de câmbio, commodities e o resultado na taxa de juros em 24 meses. Buscar-se-á investigar os impactos de fluxo de capitais, prêmio de risco, taxa de juros EUA, dívida pública, índice de desenvolvimento financeiro, termos de troca, taxa de câmbio, relatório Focus, índice de confiança. Resultados Preliminares Conforme verificado na Figura 1, a variável IPCA cheio foi a que apresentou resposta mais forte e positiva principalmente nos primeiros meses, estabilizando-se em torno de 5,2% após cerca de 16 meses, indicando alinhamento com a política de controle da inflação. Taxa de câmbio e preço de commodities geraram um aumento pouco expressivo ao longo do tempo na taxa de juros, mas que estabilizou-se a um nível de 0,1% e 1,5% respectivamente após 8 meses, comportamento este que sugere pouca exposição à pressões cambiais, quando há um choque nos preços das commodities notou-se uma resposta negativa, seguida por um aumento. O impacto do choque no PIB gera um aumento inicial, mas com reposta quase nula após o período inicial. Figura 1 - Choque positivo nas variáveis IPCA, PIB, taxa de câmbio e índice de preços das commodities e resposta na SELIC. FIGURA 1 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Eviews. Com relação ao IPCA livre, de acordo com a Figura 2, nota-se maior impacto na taxa de juros se comparado com a figura anterior. Após um choque no IPCA livre, a SELIC variou 4,9%, corroborando que a diretriz da política é a estabilidade do nível de preços. O choque na taxa de câmbio apresentou maior resposta da taxa de juros, um ajuste de 0,5%, em contrapartida, nos preços das commodities foi similar ao anterior. O choque no produto, revelou comportamento semelhante, com estabilização a partir de 8 períodos. Figura 2 - Choque positivo nas variáveis IPCA livre, PIB, taxa de câmbio e índice de preços das commodities e resposta na SELIC. FIGURA 2 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Eviews. De acordo com os dados e, tendo em vista, a decomposição da variância dos dados, compreende-se que a taxa de juros é caracterizada principalmente pelo impacto do IPCA (livre e cheio), conforme o esperado, posteriormente pelos preços de commodities e PIB, tendo a taxa de câmbio menor participação. Esses resultados, apresar de preliminares, sinalizam a posição do Brasil na dinâmica financeira global, indicando alguma exposição às pressões inflacionárias externas, embora a taxa de câmbio não exerça influência significativa. Este trabalho propõe uma nova agenda de pesquisa a ser desenvolvida para relacionar os temas integração financeira e a hierarquia monetária.
Título do Evento
XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Maceió
Título dos Anais do Evento
Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, Maria Isabel da Silva; NETO, Angelo Rondina; OLIVEIRA, João Gabriel de Araujo. INTEGRAÇÃO FINANCEIRA E HIERARQUIA MONETÁRIA COMO DETERMINANTES DA TAXA DE JUROS NO BRASIL.. In: Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira. Anais...Maceió(AL) FEAC-UFAL, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2024/897195-INTEGRACAO-FINANCEIRA-E-HIERARQUIA-MONETARIA-COMO-DETERMINANTES-DA-TAXA-DE-JUROS-NO-BRASIL. Acesso em: 24/04/2025

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