O OLHAR DA ESCOLA COM ALUNOS DISLÉXICOS

Publicado em 04/02/2020 - ISBN: 978-85-5722-415-5

Título do Trabalho
O OLHAR DA ESCOLA COM ALUNOS DISLÉXICOS
Autores
  • YLKA DE CARVALHO FERNANDES
Modalidade
Artigo Científico
Área temática
Educação
Data de Publicação
04/02/2020
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/amplamentecursos/237870-o-olhar-da-escola-com-alunos-dislexicos
ISBN
978-85-5722-415-5
Palavras-Chave
Dislexia, Distúrbio, Dificuldade de Aaprendizagem, Escola.
Resumo
1 INTRODUÇÃO O Início da vida escolar de uma criança é a etapa mais importante da vida. Na aprendizagem apresenta possibilidades de crescimento e avanços sociais, pois vivemos em uma comunidade letrada. Algumas crianças não conseguem se apropriar desse código de linguagem. A dislexia é um distúrbio pouco conhecido, mas bastante estudado. Crianças com dificuldades na aprendizagem e em codificar e decodificar a leitura e a escrita pode ser disléxicas e a dislexia passa despercebida em meio a conflitos na linguagem. As crianças acabam rotuladas em um ambiente que poderia ser acolhedor e socializador, como deveria ser a escola. Sem o conhecimento da dislexia, os professores associam a dislexia como dificuldades na leitura e escrita, má alfabetização, desatenção, baixa condição sócio econômica, desmotivação, baixa inteligência. Entretanto, a partir destes pressupostos podemos pensar, repensar e refletir sobre a educação dentro de uma perspectiva pedagógica. Através de um vasto conhecimento e um olhar investigativo, é possível enfrentar a dificuldade de aprendizagem e, a partir daí, questionar qual a melhor forma de identificar a dislexia e intervir na situação, decidindo quais procedimentos devem ser adotados para direcionar o aluno disléxico. Por meio desta compreensão, o estudo da dislexia nos possibilita, de forma abrangente e significativa, perceber como ocorre como proceder, suas causas, metodologias e qual equipe devem participar do processo e o rendimento do disléxico. Contudo, os disléxicos são inteligentes com habilidades surpreendentes, mas sentem dificuldades na linguagem. Todavia, este distúrbio normalmente é visto como falta de compromisso do aluno mascarando o transtorno. A partir da analise e do estudo da dislexia, compreende-se uma série de questões que levam a criança a não compreender a linguagem. Uma delas está ligada ao mau funcionamento na função de armazenagem de informações e como se dá esse processo na região cerebral. Dentre todos os transtornos de aprendizagem que atingem crianças e adolescentes, a dislexia é, sem dúvida, o mais pesquisado e difundido. Nos últimos anos, milhares de pesquisas foram desenvolvidas a esse respeito. Como resultado, há hoje dados robustos sobre a natureza, etiologia, diagnóstico, formas de tratamento e evolução desse distúrbio que afeta a vida de tantos indivíduos em todo o mundo. Apesar disso, a sensação que se tem é que ainda há dificuldade em se lidar adequadamente com esse transtorno, principalmente no contexto escolar. Como consequência, não é incomum termos de um lado o professor, que se sente frustrado e impotente por não saber lidar adequadamente com essa problemática, e de outro, o aluno, que vivência o constante sentimento de fracasso no curso do seu desenvolvimento. Várias são as explicações para tal realidade, porém chama-se a atenção para o desconhecimento sobre o transtorno e a ideia errônea de que a intervenção na dislexia é objeto apenas daqueles que atuam na clínica. Diante disso, há necessidade de que o profissional da educação adote uma nova postura em relação ao processo ensino-aprendizagem das crianças com dificuldade na leitura e escrita, secundárias (ou não) à dislexia. Tal postura exige capacidade de identificar precocemente aquelas que não estão evoluindo conforme o esperado, avaliar fatores de risco para o transtorno e elaborar e executar trabalho interventivo voltado para as dificuldades encontradas. Isso pressupõe, entre outras coisas, conhecimento sobre os aspectos que envolvem a aprendizagem da leitura/escrita e seus transtornos; domínio de diferentes métodos e/ou abordagens de ensino e capacidade de sistematização do processo interventivo. Com isso, o professor terá meios para analisar a evolução do seu aluno e poderá, quando necessário, encaminhar com mais segurança a criança com suspeita de dislexia à investigação interdisciplinar para diagnóstico diferencial. Nessa perspectiva, o professor deixa de ser mero expectador e passa a ser sujeito atuante, não só no processo de identificação e diagnóstico da dislexia, mas também na sua intervenção, que será necessária durante todo o processo de escolarização formal do indivíduo. Diante do exposto, neste artigo tem-se como objetivo abordar os principais conceitos relativos à dislexia, sua identificação e algumas possibilidades de intervenção. 2 DISLEXIA DEFINIÇÕES E CONCEITOS Uma educação para todos precisa valorizar a heterogeneidade, pois a diversidade dinamiza os grupos, enriquece as relações e interações, levando a despertar no educando o desejo de se comprometer e aprender. Desta forma, a escola passa a ser um lugar privilegiado de encontro com o outro, para todos e para cada um, onde há respeito por pessoas diferentes. É na escola que a dislexia, de fato, aparece. Há disléxicos que revelam suas dificuldades em outros ambientes e situações, mas nenhum deles se compara à escola, local onde a leitura e escrita são permanentemente utilizadas e, sobretudo, valorizadas. Entretanto, a escola que conhecemos certamente não foi feita para o disléxico. Objetivos, conteúdos, metodologias, organização, funcionamento e avaliação nada têm a ver com ele. Não é por acaso que muitos portadores de dislexia não sobrevivem à escola e são por ela preteridos. E os que conseguem resistir a ela e diplomar-se o fazem, astuciosa e corajosamente, por meio de artifícios, que lhes permitem driblar o tempo, os modelos, as exigências burocráticas, as cobranças dos professores, as humilhações sofridas e, principalmente, as notas. 2.1. DEFINICAO A dislexia vem chamando muito a atenção no contexto educacional, por ser o distúrbio de maior incidência nas escolas. Em decorrência, estudiosos tem-se aprofundado na fundamentação de teorias sobre a dislexia. Segundo Santos (1986), “A dislexia do grego dys,(mal) e lexis, palavra frase é, em sentido amplo, qualquer dificuldade que se verifique no aprendizado de leitura e da escrita”. (p. 3). Para compreendermos a dislexia, verificamos que a razão do problema encontra-se na codificação e decodificação da linguagem escrita, resultando em uma linguagem incompreensiva. Neste sentido, Topczewski (2000) faz a relação entre a leitura e escrita: (...) A dislexia é definida como dificuldade relacionada à aquisição e ao desenvolvimento da leitura. Atualmente o sentido é mais abrangente, pois considera a dislexia relacionada também à escrita.” (p. 63). A dislexia, enquanto deficiência da linguagem no campo neurológico, traz dificuldade na leitura, na pronuncia e nas habilidades de soletração. O distúrbio constuise em muitas alterações na linguagem, principalmente na leitura e escrita. Villamarin (2001) completa que: Em sentido amplo, essa síndrome se caracteriza por dificuldade para pronunciar, ler ou escrever corretamente as palavras, porém em sentido estrito.”(p. 328-329). Pode-se afirmar que a dislexia possui diversas consequências que acarretam situações prejudiciais a vida do disléxico. A definição apontada por Debray (in Ajuriaguerra, 1990) é muito significativa: A dislexia é uma dificuldade duradoura na aprendizagem da leitura e a aquisição de seu automatismo, em crianças normalmente inteligentes, normalmente escolarizadas e isentas de distúrbios sensoriais. Estima-se a sua frequência entre 5% a 10% dos escolares. (p. 89) Ainda sobre a definição da dislexia, Massi (2007) esclarece que: A dislexia tem sido tradicionalmente divulgada pela literatura nacional e internacional como distúrbio de aprendizagem manifestado por um conjunto de alterações ‘patológicas’ que evidenciam na aprendizagem da escrita. (p. 17-18). Conforme afirmação acima, a dislexia tem se expandido como objeto de estudo em diversos países. A dislexia recebeu outras nomenclaturas no decorrer dos anos tais como: dificuldade de aprendizagem, dificuldade de leitura e escrita, problemas de aprendizagem, dislexia da evolução, dislexia do desenvolvimento, dislexia especifica da evolução ou dislexia caracterizadas pelo uso da escrita. Em relação às dificuldades de aprendizagem, vejamos a definição de Condermarin; Blomquist (1989), que ressaltam: O termo dislexia é aplicável a uma situação pela qual a criança é incapaz de ler com a mesma facilidade com a qual leem seus iguais, apesar de possuir uma inteligência normal, saúde e órgãos sensoriais intactos, liberdade emocional motivação e incentivos normais, bem como instrução adequada. (p. 21). Enfim, a dislexia é um distúrbio no qual a criança sente dificuldade de ler palavras e reproduzi-las através da escrita. No principio, as dificuldades ficam totalmente expostas no período da alfabetização. O distúrbio afeta o ato da leitura e da escrita, transtornando a codificação e decodificação das palavras. Caracteristicamente, os fatores de risco para dislexia são observados ainda na fase precoce, quando se observa dificuldade na consciência fonológica, na fala (algumas vezes) e, posteriormente, no reconhecimento das letras. Mais tarde, a dificuldade na decodificação de palavras pode comprometer outros aspectos relacionados à leitura (soletração e fluência), expressão escrita e, em parte dos casos, à matemática. Em relação a esta última habilidade, estudos demonstram que pode haver associação entre déficit do processamento e da consciência fonológica com defasagem na aritmética. O mau rendimento em matemática parece não ser tão evidente na fase inicial da alfabetização, porém, com o tempo esse tende a se agravar. Assim, adolescentes com dislexia podem apresentar dificuldades em conceitos matemáticos básicos que não seriam esperados para sua idade e etapa de ensino. Destaca-se que as alterações acadêmicas são os sintomas mais evidentes e, portanto, facilmente identificadas por pais e professores. Porém, há que se atentar também para outros aspectos que costumam afetar crianças com dislexia, dentre os quais merecem ser mencionados: comprometimento da linguagem, sintomas de desatenção, dificuldade de coordenação motora, prejuízo das funções executivas e comorbidades psiquiátricas (como depressão, ansiedade e transtornos disrruptivos). Depreende-se, então, que embora o problema de base da dislexia seja a leitura e a escrita, não se pode perder de vista que habilidades cognitivas, acadêmicas e problemas de ordem psicossocial podem estar comprometidos e, portanto, é importante que sejam valorizadas e avaliadas, já que podem interferir no desempenho global da criança. Na fase adulta, a evolução da dislexia é variada e os estudos, quando comparados à infância e adolescência, são escassos. Sabe-se, porém, que há indivíduos que conseguem concluir o ensino superior, quando recebem intervenção adequada. Porém, outros abandonam a escola muito cedo, muitas vezes sem sequer receber o diagnóstico. Infelizmente, no nosso meio, esse segundo grupo é mais comum. Isso porque, na prática clínica, o que se observa é que a dificuldade com a leitura e escrita normalmente é identificada ainda na fase precoce e, a partir desta, se inicia um longo percurso de avaliações isoladas, com especialistas variados. Muitas crianças com dislexia conseguem adquirir habilidade suficiente para codificar e decodificar palavras e textos. Entretanto, não é incomum que apresentem dificuldade na compreensão da leitura, problema esse que normalmente é atribuído à lentidão e a pouca precisão na leitura de palavras. Na prática clinica, o que se observa é que o aumento da demanda da memória de trabalho (com textos mais longos, por exemplo) é um dos principais fatores que levam o sujeito a ter dificuldade de compreensão. Por outro lado, outros trabalhos apontam para o fato de que esse tipo de dificuldade pode ocorrer em indivíduos que decodificam adequadamente, o que remete à ideia de que se pode estar lidando com uma desordem distinta da dislexia. Caracteristicamente, esses indivíduos conseguem decodificar e soletrar palavras com precisão, mas tem problemas no entendimento daquilo que leram. 2.2. REFLEXÃO PARA CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O educador deve estar aberto para lidar com as diferenças, e como Frederic Litto, da Escola do Futuro da USP coloca: ”deve ser um estimulador do prazer de aprender, um alquimista em fazer o aluno enxergar o “contexto“ e o “sentido” e, um especialista em despertar a autoestima”. Para que isto ocorra, deve transformar a sala de aula em uma “oficina”, preparada para exercitar o raciocínio, isto é, onde os alunos possam aprender a ser objetivos, a mostrar liderança, resolver conflitos de opinião, a chegar a um denominador comum e obter uma ação construtiva. Sob este prisma, a interação com o aluno disléxico torna-se facilitada, pois, apesar do distúrbio de linguagem, este aluno apresenta potencial intelectual e cognitivo preservado; desta maneira estará sendo estimulado e respeitado, além de se favorecer um melhor desempenho. Algumas atitudes que podem facilitar a interação: Dividir a aula em espaços de exposição, seguido de uma “discussão” e síntese ou jogo pedagógico; Dar “dicas” e orientar o aluno como se organizar e realizar as atividades na carteira; Valorizar os acertos; Estar atento na hora da execução de uma tarefa que seja realizada por escrito, pois seu ritmo pode ser mais lento por apresentar dificuldade quanto à orientação e mapeamento espacial, entre outras razões; Observar como ele faz as anotações da lousa e auxiliá-lo a se organizar; Desenvolver hábitos que estimulem o aluno a fazer uso consciente de uma agenda para recados e lembretes; Na hora de dar uma explicação usar uma linguagem direta, clara e objetiva e verificar se ele entendeu; Permitir nas séries iniciais o uso de tabuadas, material dourado, ábaco e para alunos que estão em séries mais avançadas, o uso de fórmulas, calculadora, gravador e outros recursos sempre que necessário; Se precisar que seu aluno com dislexia faça uma atividade em etapas, explique-lhe também oralmente. Eles são ótimos em instruções orais. Se for escrito, use marcadores em etapas, mas que sejam marcadores com formas diferentes, como número e letras. Se usar marcadores iguais, poderá ser um problema, então, nada de bolinhas ou tracinhos! A dislexia fica muito evidente em aulas e leitura e interpretação. A dificuldade parece ser maior nessas aulas, mas não significa que o aluno não consiga aprender. De novo: ele apenas aprende de forma diferente! Use outras estratégias! Quais? É equivocado insistir em exercícios de “fixação“: repetitivos e numerosos, isto não diminui sua dificuldade. A inclusão do aluno disléxico na escola, como pessoa portadora de necessidade especial, está garantida e orientada por diversos textos legais e normativos. A lei 9.394, de 20/12/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), por exemplo, prevê: – que a escola o faça a partir do artigo 12, inciso I, no que diz respeito à elaboração e à execução da sua Proposta Pedagógica; – que a escola deve prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento (inciso V); – que se permita à escola organizar a educação básica em séries anuais, períodos semestrais e ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios ou por forma diversa de organização (artigo 23); – que a avaliação seja contínua e cumulativa, com a prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período (artigo 24, inciso V, a alínea a). Diante de tais possibilidades, é possível construir uma Proposta Pedagógica e rever o Regimento Escolar considerando o aluno disléxico. É importante manter a comunidade educativa permanentemente informada a respeito da dislexia. Informações sobre eventos que tratam do assunto e seus resultados, desempenho dos alunos portadores da dislexia, características desse distúrbio de aprendizagem, maneiras de ajudar o aluno disléxico na escola, etc. Não é necessário que alunos disléxicos fiquem em classe especial. Alunos disléxicos têm muito a oferecer para os colegas e muito a receber deles. Essa troca de humores e de saberes, além de afetos, competências e habilidades só faz crescer amizade, a cooperação e a solidariedade. A avaliação de dislexia traz sempre indicação para acompanhamento específico em uma ou mais áreas profissionais (fonoaudiologia, psicopedagogia, psicologia…), de acordo com o tipo e nível de dislexia constatado. Assim sendo, a escola precisa assegurar, desde logo, os canais de comunicação com o(s) profissional (is) envolvido(s), tendo em vista a troca de experiências e de informações. Os professores que trabalham com a classe desse aluno (a) devem saber da existência do quadro de dislexia. Quanto aos colegas, o critério é do aluno: se ele quiser contar para os companheiros que o faça. Não há receita para trabalhar com alunos disléxicos. Assim, é preciso mais tempo e mais ocasiões para a troca de informações sobre os alunos, planejamento de atividades e elaboração de instrumentais de avaliação específicos; Após essa observação, o professor constatará se possui ou não um aluno disléxico e a partir desses dados coletados, ele deverá procurar a melhor forma de colaborar para o sucesso no processo de ensino aprendizagem desse aluno.“[...] se o disléxico não pode aprender do jeito que ensinamos, temos que ensinar do jeito que ele aprende!”. (BAUER, 1997, p.97) Existem muitas dúvidas quanto à forma de trabalhar a alfabetização com alunos disléxicos. Segundo Andrew W. Ellis (1995), embora a dislexia seja na maioria das vezes decorrente de condição herdada, há possibilidades de o disléxico obter avanços na capacidade de leitura e escrita se no processo de ensino aprendizagem forem utilizados métodos eficazes. Os disléxicos apresentam mais dificuldades na área da fonética, por isso os métodos de ensino mais utilizados são focalizados nessa perspectiva. De acordo com Condemarin e Blomquist (1986), a criança que não possui as habilidades para a leitura, precisa decifrar lentamente os símbolos e isso faz com que diminua a compreensão necessária para a aprendizagem, fazendo com que tenha mais dificuldade nas outras disciplinas como literatura, ortografia, gramática e etc., nas quais a leitura torna-se cada vez mais indispensável. Ianhez e Nico (2002) afirmam que o melhor local para o ensino do disléxico é o ambiente da sala de aula normal, em convivência com outras crianças e com um professor que compreenda suas especificidades e adapte suas aulas de acordo com a necessidade do aluno disléxico. 3 DISLEXIA: ATITUDES DE INCLUSÃO A inclusão do aluno disléxico na escola, como pessoa com de necessidade educacional, está garantida e orientada por diversos textos legais e normativos. A experiência tem demonstrado a necessidade de se manter a comunidade educativa permanentemente informada a respeito da dislexia. Informações sobre eventos que tratam do assunto e seus resultados, desempenho dos alunos portadores de dislexia, características da síndrome, maneiras de ajudar o aluno disléxico na escola, etc. No Externato chama-se isso de informação de manutenção, cujos objetivos são prevenir, alertar e orientar os docentes no seu trabalho. Tais informações são veiculadas em reuniões e por meio de cartazes, informativos internos, folders sobre o assunto, etc. Não é necessário que alunos disléxicos fiquem em classe especial. Alunos disléxicos têm muito a oferecer para os colegas e muito a receber deles. Essa troca de humores e de saberes, além de afetos, competências e habilidades só faz crescer a amizade, a cooperação e a solidariedade. O que nós, do Externato, temos feito, até então, é colocar alunos disléxico de uma mesma série em classes diferentes, e a experiência tem dado certo. O diagnóstico de dislexia traz quase sempre indicação para acompanhamento específico em uma ou mais áreas profissionais (fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia...), de acordo com o tipo e nível de dislexia constatados. Assim sendo, a escola procura assegurar, desde logo, os canais de comunicação com o(s) profissional(is) envolvido(s), tendo em vista a troca de experiências e de informações. Todos os professores que trabalham com a classe sabem que tal aluno é disléxico e o próprio também sabe disso. Quanto aos colegas, deve-se deixar a critério do aluno: se ele quiser contar para os companheiros, que o faça; se ele quiser que nós o auxiliemos a contar para eles, nós o fazemos; se ele não quiser falar disso com terceiros, ninguém o fará. Dessa forma, temos alunos que já passaram por várias séries sem terem chamado a atenção dos colegas e sem terem sentido a necessidade de revelar-se, assim como há aqueles que o fazem sem cerimônia. Hoje, depois desses anos de prática, temos professores que já criaram uma metodologia própria para lidar com os disléxicos. Os que vão trabalhando com eles nas séries seguintes já os conhecem das anteriores e sabem como agir com eles; isso parece facilitar, e muito, o trabalho. Antunes (2009) refere que se devem fornecer instruções explícitas, tal como os enunciados devem ser claros, curtos, com letras bem legíveis e espaços adequados entre as palavras. E se necessário, as instruções deverão ser complementadas com informação oral. Por sua vez, Henningh (2003, p. 35) defende que os professores devem tentar desenvolver métodos de ensino multi-sensoriais. Uma vez que materiais que implicam o uso da visão, do tacto e da audição são meios importantes de aprendizagem para estas crianças (Frank & Livingston, 2004). O professor deverá ainda, segundo Henningh (2003, p. 35), promover uma visão positivista da leitura, para que a motivação seja cada vez maior. Antunes (2009, p. 66) também refere que o disléxico deve ter apoio suplementar com reforço positivo constante perante a leitura. Quer seja em contexto escolar ou fora do mesmo, deve tentar-se minimizar o efeito “rotulador” do diagnóstico da dislexia, que poderá danificar a auto-estima da criança ou diminuir as expectativas que esta tem em relação a si própria ou aquela que os outros têm a respeito dela (Henningh, 2003). Os padrões de leitura de pais, professores e alunos deverão servir de modelo à criança com dislexia para que ela compense e elimine os padrões típicos da dislexia (Henningh, 2003). Segundo Antunes (2009, p. 66) é importante mostrar à criança que a leitura é algo importante mas alguém terá de lhe ler primeiro. Tal como também se devem reforçar competências de leitura fundamentais, como o som, a letra e o reconhecimento de palavras (Henningh, 2003), através da utilização de todo o tipo de materiais, incluindo o próprio corpo, para desenhar as letras. Especificamente, dentro da sala de aula com crianças disléxicas, podem adoptar-se diferentes metodologias da linguagem. Segundo Henningh (2003, p.55) existem quatro técnicas: leitura partilhada; leitura silenciosa orientada; ensino através do recurso a pares e tutórias estabelecidas com alunos de diferentes idades. Todas estas estratégias e metodologias vão variar consoante a idade e o nível de competência real da criança, tendo de se adequar às características da mesma. No entanto, segundo Fichot (1972, p.55) estes métodos e estratégias dependem da precocidade da descoberta da dislexia; da extensão e da diversidade das perturbações e do comportamento da reeducação e da participação da criança e dos familiares. Existem, assim, facilitadores ou barreiras que poderão ajudar ou dificultar todo o processo de aprendizagem e de desenvolvimento das competências da criança dislexia. “Face aos desafios atuais, o professor precisa desenvolver as competências adquiridas na formação inicial e na maioria das vezes de construir competências inteiramente novas.” (PERRENOUD, 2000, p. 158). Segundo Heber Maia (2011, p. 92), o trabalho com o aluno disléxico deve ser realizado primeiramente por profissionais de saúde, o que não exclui o trabalho do professor, da família e do próprio aluno no processo de aquisição da leitura e escrita. Logo, a escola exerce o papel mais significativo no processo de transformação da situação da criança com dislexia. O tratamento com o aluno disléxico deve acontecer onde o problema surge, ou seja, se ocorrer na sala de aula é lá que o professor deve fazer a intervenção. Não se pode simplesmente rotular uma criança, é necessário conhecer a fundo o comportamento da mesma, para assim, através de uma análise geral, realizar as intervenções e encaminhamentos necessários. De acordo com Ianhez e Nico (2002), as crianças que possuem dislexia aprendem de forma diferente, mas é possível que acompanhem o ensino tradicional se o professor preocupar-se em dar a ela apoio necessário para superar suas dificuldades. O professor deve promover ao aluno a possibilidade de relacionar o aprendizado com o concreto, pois o disléxico apreende melhor o conteúdo se no processo houver a estimulação dos órgãos sensoriais: tato, paladar, visão, sensação, etc. “Todo aprendizado que envolva os vários sentidos funciona de maneira positiva para os disléxicos e, convém ressaltar, também para os não disléxicos.” (IANHEZ; NICO, 2002, p. 78). Ianhez e Nico (2002) apresentam ainda várias estratégias para o trabalho com alunos disléxicos. A primeira delas é o jogo da memória, onde os alunos são estimulados a desenvolver habilidades de concentração, observação e memória e também auxilia no trabalho a memorização de objetos, letras ou números. “Escrever no céu” ou “escrever no ar” também é um ótimo exercício, pois, reforça o padrão neurológico. Para o trabalho com a matemática sugere-se a permissão do uso de calculadora ou tabuada, pois o trabalho com materiais concretos facilita a aprendizagem. O computador também é um aliado, pois permite que a criança cometa erros sem punições, mas deve-se tomar o devido cuidado, procurando escolher programas que se adaptem ao perfil do aluno. O gravador também pode ser usado no processo de aprendizagem, ele auxiliará o aluno, possibilitando que o mesmo possa gravar a leitura de textos e aulas, entre outras coisas, para posterior revisão. Além dessas estratégias apresentadas pelas autoras citadas anteriormente, a Associação Nacional de Dislexia (AND) elenca algumas sugestões para que o professor possa garantir o sucesso na aprendizagem do aluno, são elas: Certifique-se de que as tarefas de casa foram compreendidas e anotadas corretamente; Certifique- se de que seu aluno pode ler e compreender o enunciado ou a questão. Caso contrário, leia as instruções para ele; Leve em conta as dificuldades específicas do aluno e as dificuldades da nossa língua quando corrigir os deveres; Estimule a expressão verbal do aluno; Dê instruções e orientações curtas e simples que evitem confusões; Dê "dicas" específicas de como o aluno pode aprender ou estudar a sua disciplina; Oriente o aluno sobre como organizar-se no tempo e no espaço; Não insista em exercícios de fixação repetitivos e numerosos, pois isso não diminui a sua dificuldade; Dê explicações de "como fazer" sempre que possível, posicionando-se ao seu lado; Esquematize o conteúdo das aulas quando o assunto for muito difícil para o aluno. Assim, a professora terá a garantia de que ele está adquirindo os principais conceitos da matéria através de esquemas claros e didáticos; "Uma imagem vale mais que mil palavras": demonstrações e filmes podem ser utilizados para enfatizar as aulas, variar as estratégias e motivá-los. Auxiliam na integração da modalidade auditiva e visual, e a discussão em sala que se segue auxilia o aluno organizar a informação. Por exemplo: para explicar a mudança do estado físico da água líquida para gasosa, faça-o visualizar uma chaleira com a água fervendo; Não insista para que o aluno leia em voz alta perante a turma, pois ele tem consciência de seus erros. A maioria dos textos de seu nível é difícil para ele. (DISLEXIA..., 2014) Ianhez e Nico (2002) afirmam que a dislexia é um distúrbio que acompanhará o disléxico por toda sua vida, mas isso não é uma condição que o tornará incapaz, ele pode com ajuda superar suas dificuldades e aprender a conviver com elas. A ajuda de pais e professores contribuirá para que ela vença a frustação e alcance o sucesso. Todos nós, seres humanos, disléxicos ou não, possuímos limitações, porém o que nos move é a esperança de sermos reconhecidos por aquilo que fazemos de melhor. Para Ianhez e Nico (2002), a escola não deve focar-se apenas no ensino, mas preocupar-se principalmente com o processo de aprendizagem dos alunos. O educador em sua prática deve esgotar-se em recursos a fim de que todos os alunos inclusos no processo aprendam de forma significativa e eficaz. Fica evidente a necessidade de se redefinir as práticas pedagógicas e criar novas alternativas que favoreçam a todos os alunos. Isso só ocorrerá se houverem mudanças relevantes nas metodologias utilizadas a fim de torná-las compatíveis com o desafio de lidar com uma criança disléxica. Essas mudanças não devem partir apenas do educador, mas na escola como um conjunto. O trabalho só terá efeito se todos os participantes do processo estiverem comprometidos com os objetivos e em busca das finalidades propostas. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da experiência descrita nesse artigo, foram adquiridos conhecimentos e aprendizado para a formação, foi possível compreender a necessidade de ser flexível diante as situações que surgem inesperadamente na pratica cotidiana. Analisar ações que envolvem a dislexia torna-se uma questão desafiadora e preocupante para a sociedade na qual o sujeito com a dificuldade de aprendizagem torna-se vitima do despreparo dos profissionais e familiares. À margem deste pressuposto, professores vêem a situação-problema com atitudes equivocadas. Esta e outras dificuldades que afetam a aprendizagem necessitam de acompanhamento profissional. Procurou-se demonstrar neste artigo que a prática educacional diária, é essencial não só para a identificação dos fatores de risco da dislexia, mas também para o seu diagnóstico e intervenção. O sucesso do processo interventivo dependerá, em grande parte, da atuação da escola, já que é nesse contexto que a criança permanece a maior parte do seu tempo. Intervenções com especialistas são fundamentais e, certamente, serão necessárias no curso do desenvolvimento da criança com dislexia. Entretanto, deve-se ter clareza que se trata de um trabalho de parceria. Sem a mesma, corre-se o risco de se produzir fracasso escolar, com todas as consequências que isso envolve. Ressalta-se, ainda, que o processo de intervenção escolar não se encerra quando a criança com dislexia aprende a codificar e decodificar palavras e textos, já que a compreensão na leitura geralmente está prejudicada. Assim sendo, durante todo o processo educativo, a criança e/ou adolescente pode necessitar de atenção, muitas vezes individualizada. Apesar de todos os entraves vivenciados no nosso contexto educacional, considera-se que a intervenção psicopedagógica adequada no contexto escolar é possível e viável, desde que haja estudo constante, formação continuada e, principalmente, envolvimento e perseverança por parte da escola. Por fim, fica evidente com este artigo que A dislexia apenas faz com que o aluno aprenda de maneira diferente. Não significa que ele não possa aprender. Ele geralmente tem maior dificuldade que os demais alunos, porque seu lado direito do cérebro é dominante e os livros didáticos dão enfoque no lado esquerdo do cérebro. Usar mais atividades para que o aluno disléxico aprenda não adianta muito. Como expliquei anteriormente, ele aprende de forma diferente, então qual seria a vantagem de mexer na quantidade e não na qualidade de sua aula? Recursos visuais e auditivos ajudam bastante e não fazem uma mudança brusca nas aulas, na verdade, apenas as enriquecem. 5 REFERÊNCIA ARAUJO, G. M. L. de; LUNA, M. J. de. M. (ORGS). Formação em Lingua Portuguesa – Novas experiencias. Recife: Editora Universitaria UFPE, 2005. AJURIAGUERRA, J de; et al. A Dislexia em questão: dificuldades e fracassos na aprendizagem na língua escrita. Porto Alegre: Artes Medicas, 1990. BAUER, James J. Dislexia: ultrapassando as barreiras do preconceito. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. 104p. CIASCA, S. M.; CAPELLINI; S. A.; TONELOTTO, J. M. F. Distúrbios específicos de aprendizagem. In CIASCA, S. M. (Org). Distúrbio de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. CONDEMARÍN; Mabel; BLOMQUIST, Marlys. Dislexia: manual de leitura corretiva. Tradução de Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. Revista Dislexia http://www.dislexia.org.br/como-interagir-com-o-dislexico-em-sala-de-aula/ Acessado em 26/03/2018 CONDEMARIN, Mabel; BLOMQUIST, Marlys. Dislexia: manual de leitura corretiva. Tradução Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. 143p. DINIZ, Margareth. Inclusão de pessoas com deficiência e/ou necessidades específicas: avanços e desafios. Belo horizonte: Editora Autêntica, 2012.110p. DISLEXIA: Sugestões para professores. Disponível em: < http://www.portaltrocandoideias.com.br/?p=2644 > Acesso em: 12 ago. 2014. ELLIS, Andrew W. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. Tradução de Dayse Batista. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 153p. IANHEZ M. E; NICO, M. A. Nem sempre é o que parece: como enfrentar a dislexia e os fracassos escolares. São Paulo: Alegro, 2002. MASSI, Gisele. A Dislexia em questão. São Paulo: Plexus Editora, 2007. MAIA, Heber(Org.). Necessidades educacionais especiais. Rio de Janeiro: Wak editora, 2011. 132 p. (Neuroeducação; v.3) PENNINGTON, Bruce F. Diagnósticos de disturbios de aprendizagem. São Paulo: Pioneira, 1997. SANTOS, C. C. dos. A dislexia especifica da evolução. São Paulo; Savier, 1986. OLIVEIRA, Simone Diegues. Dislexia e suas características. Disponível em: . Acesso em: 02 nov. 2013. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000. 162p. RICHART, Marley Barbosa; BOZZO, Fátima Eliana Frigatto. Detecção dos sintomas da dislexia e contribuições pedagógicas no aspecto ensino aprendizagem para alunos do I ciclo do ensino Fundamental. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2013. ROSS, Alan Otto. Aspectos psicológicos dos distúrbios de aprendizagem e dificuldades na leitura. Tradução de Alexandra Fares. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1979. 287p. SANTOS, Maria Thereza Mazorra dos; NAVAS, Ana Luiza G.P. Distúrbios de leitura e escrita: teoria e prática. São Paulo: Editora Manole Ltda, 2002. 389p. TOPCZEWSKI, Abram. Aprendizagem e suas desabilidades, como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. VILLAMARÍN, Alberto J. G. A. Educação Racional. Porto Alegre: AGE, 2001. ZORZI, Jaime Luiz. Guia prático para ajudar crianças com dificuldade de aprendizagem: dislexia e outros disturbios. Um manual de boas e saudaveis atitudes. Pinhais: Editora Melo, 2008.
Título do Evento
EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA NA CONTEMPORANEIDADE
Título dos Anais do Evento
Anais Educação e Formação Continuada na Contemporaneidade
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FERNANDES, YLKA DE CARVALHO. O OLHAR DA ESCOLA COM ALUNOS DISLÉXICOS.. In: Anais Educação e Formação Continuada na Contemporaneidade. Anais...Natal(RN) Evento on-line - Amplamente Cursos, 2019. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/Amplamentecursos/237870-O-OLHAR-DA-ESCOLA-COM-ALUNOS-DISLEXICOS. Acesso em: 29/04/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes