ENTRE O HORROR E A INDIFERENÇA: SUICÍDIO, POESIA E A CLÍNICA FENOMENOLÓGICA

Publicado em 23/12/2022 - ISBN: 978-85-5722-491-9

Título do Trabalho
ENTRE O HORROR E A INDIFERENÇA: SUICÍDIO, POESIA E A CLÍNICA FENOMENOLÓGICA
Autores
  • Elina Eunice Montechiari Pietrani
Modalidade
Tema livre
Área temática
5. SAÚDE MENTAL: UM OLHAR SOBRE AS DIVERSAS FORMAS DE EXISTIR: 5.5 Quadros clínicos disfuncionais, formas de sofrimento e propostas de intervenção.
Data de Publicação
23/12/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cgtrio22/522375-entre-o-horror-e-a-indiferenca--suicidio-poesia-e-a-clinica-fenomenologica
ISBN
978-85-5722-491-9
Palavras-Chave
Suicídio, poesia, clínica fenomenológica, estranhamento, indiferença.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar o modo de lida com o gesto suicida, presente na poética de Chico Buarque (1971), Construção, e suas repercussões na clínica fenomenológico-existencial. O ato suicida pode desvelar a ambiguidade que a própria compreensão da morte suscita no homem moderno: o horror do espetáculo e, ao mesmo tempo, a indiferença à situação. O gesto suicida, constituído no bojo da vida cotidiana, rompe, por alguns momentos, a cadência instalada no meio dos atos habituais, para direcionar o olhar à cena suicida. Tal olhar passa a ser investido frequentemente por uma leitura estranhada (até mesmo aterrorizada) frente ao espetáculo (real ou virtual) que tal fenômeno suscita. Segundo Silva (2018) e Lessa (2018), a partir da modernidade, a vida tomou contornos de um bem supremo, inalienável. O homem da modernidade se vê na iminência de vencer a morte a qualquer custo, triunfar sobre ela, ignorando seu caráter de mortal. O suicídio desafia o asseguramento da vida, tão caro à era moderna. Trata-se de um ato desviante e, assim, enquadrado nos diagnósticos da psicopatologia, frequentemente como transtorno mental. O horror gerado pelo gesto suicida reproduz, em verdade, o assombro frente àquele que rompe a cadência normatizadora do mundo. Entretanto, Chico Buarque nos alerta, com sua letra, que a indiferença também permeia nossa existência atual: a morte daquele que opta pelo suicídio tende a ser logo esquecida. Sabe-se que na época atual, a valorização do temporal, do efêmero, do passageiro conduz o homem a querer aproveitar todo o prazer que a vida oferece. Desse modo, é preciso afastar o que atrapalha essa cadência do mundo. Também a clínica psicológica, algumas vezes, frente à queixa da ideação suicida, é tomada ora pelo horror, ora pela indiferença. Na primeira situação, deparamo-nos com o desconforto, ou mesmo a tensão, do/a psicólogo/a, frente à temática do suicídio, expresso frequentemente em ações imediatas, e até irrefletidas, para evitar que a queixa se concretize. Tal atitude é amparada nos próprios estudos sobre o suicídio, que associam comumente tal intenção a transtornos psíquicos. Partindo dessas concepções teóricas, a psicologia se articula em torno de determinados procedimentos, visando, em última instância, a partir da suposta eliminação dos transtornos, interditar a decisão da morte antecipada. No que se refere à indiferença, algumas vezes o/a psicólogo/a tende a menosprezar a queixa do/a cliente, justificando seu interesse pelo suicídio apenas para atrair a atenção de outros ou mesmo generalizar o comportamento como característico de uma fase, por exemplo, da adolescência, e que, portanto, “vai passar”, ou ainda relacionando o gesto suicida à influência de redes sociais e amigos “indesejáveis”. Acreditamos que ambas as posições podem conduzir a psicologia a um distanciamento daquilo que pode estar em questão para a pessoa que pensa em terminar sua vida antecipadamente. Seguindo os passos do método fenomenológico, inspirado em Husserl e Heidegger, propomos pensar o suicídio por meio do próprio fenômeno, qual seja, a relação que se estabelece entre o homem e o mundo e suas motivações mais próprias que o levam, em determinado momento, à decisão pela antecipação de sua morte. O/A psicólogo/a, junto àquele que o/a procura na clínica, pode acompanhar, na serenidade, o tecer e o destecer da trama existencial daquele que pensa em terminar sua vida antecipadamente, suspendendo qualquer concepção prévia acerca do suicídio, ora como um fenômeno na contramão da vida, ora como uma patologia. Ao agirmos fenomenologicamente e inspirando-nos também na poética de Chico Buarque, possamos construir um caminho psicoterapêutico que não fique no estranhamento nem na indiferença à voz daquele que se diz predisposto a se matar antecipadamente, aproximando-nos daquilo que está em jogo na decisão pessoal de pôr fim à vida, podendo, então, tal decisão aparecer em seu caráter universal, mas também singular.
Título do Evento
VIII Congresso de Gestalt-terapia do Estado de Rio de Janeiro
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PIETRANI, Elina Eunice Montechiari. ENTRE O HORROR E A INDIFERENÇA: SUICÍDIO, POESIA E A CLÍNICA FENOMENOLÓGICA.. In: Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Hotel Windsor Guanabara, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/CGTRIO22/522375-ENTRE-O-HORROR-E-A-INDIFERENCA--SUICIDIO-POESIA-E-A-CLINICA-FENOMENOLOGICA. Acesso em: 27/04/2025

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