PARTO NORMAL E PUERPÉRIO: VIVÊNCIAS CONTADAS POR ELAS

Publicado em 08/05/2018 - ISSN: 2595-3834

Título do Trabalho
PARTO NORMAL E PUERPÉRIO: VIVÊNCIAS CONTADAS POR ELAS
Autores
  • Ana Cristina de Oliveira Abraao Santesso
  • Maria das Dores De Souza
  • Ingryd Guimarães de Oliveira
  • Natália de Freitas Costa
Modalidade
Comunicação Coordenada
Área temática
Enfermagem Obstétrica e Neonatal fazendo a diferença no cenário nacional
Data de Publicação
08/05/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cobeon/63433-parto-normal-e-puerperio--vivencias-contadas-por-elas
ISSN
2595-3834
Palavras-Chave
Saúde da Mulher, Parto Normal, Período Pós-Parto.
Resumo
Introdução: O momento da maternidade é esperado por muitas mulheres brasileiras. Pretas, brancas, pardas, indígenas, moradoras do território urbano ou rural, assalariadas ou não, casadas, solteiras, divorciadas, em liberdade ou em espaços de reclusão. À todas é, e deve ser preservado o direito de ter ou não ter filhos, e no caso da escolha de tê-los, quantos e com quem quiser, direito esse respaldado pela Declaração dos Direitos Humanos, adotada no ano de 1948, por meio da Organização das Nações Unidas (ONU)¹. Uma das causas de morte materna hoje no Brasil está relacionada ao excesso de intervenções no momento da gravidez, parto e puerpério, pois este confere um dos motivos para a morte materna direta, assim como omissões, tratamento incorreto e outros eventos. O índice de morte materna é um grande problema de saúde pública no Brasil, além de indicador de saúde da mulher, o qual evidencia o nível de saúde da população assim como o desenvolvimento econômico e a desigualdade social, fundamentando análises de programas e ações em saúde da mulher e avaliando os já existentes². No Brasil existe a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PNAISM)³, que tem como um de seus objetivos a promoção de uma assistência integral às mulheres gestantes, que sempre passaram e ainda passam por atendimentos em cenários de precariedade, sendo esta advinda de diversos fatores como: falta de profissionais qualificados para a assistência, locais inadequados, falta de educação em saúde para gestantes, medicalização desnecessária, práticas inadequadas no momento do pré-natal, parto e puerpério, negligência, falta de confiança na autonomia feminina, iatrogenias dentre outros fatores negativos, que nascem de uma raiz bifurcada de machismo e desigualdade de gênero². Estudos relacionados e em acordo com as últimas pesquisas associadas à assistência obstétrica no Brasil (Pesquisa Nascer no Brasil) revelam que muitos fatores negativos se destacam na área da saúde da mulher, sendo os principais a medicalização exagerada no parto e nascimento, a violência obstétrica e a iatrogenia constante sobre as mulheres atendidas em toda a rede de saúde, os quais são considerados os grandes motivos para a crescente prática de procedimentos intervencionistas no cenário obstétrico atual4. Diante das informações inicialmente expostas relacionadas ao atual cenário obstétrico brasileiro, questiona-se com este estudo, a percepção de puérperas, usuárias do Sistema Único de Saúde, sobre a vivência de seus partos, quando este foi normal. Tal questionamento está relacionado ao que tange à opinião das mulheres sobre como foi o seu parto, como se sentiram após, quais foram as orientações recebidas, assim como o papel dos profissionais de saúde no desencadear de cada vivência. Objetivo: o principal objetivo desta pesquisa é analisar as vivências do parto e do puerpério por puérperas atendidas na Atenção Primária a Saúde. Metodologia: pesquisa de caráter qualitativo e exploratório, submetida à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora tendo como protocolo de aprovação, o número 2.092.399, e em acordo com resolução 466/12 e suas complementaridades, realizada no bairro Santo Antônio do Município de Juiz de Fora – Minas Gerais (MG), sendo que a abordagem às participantes foi realizada especificamente na Unidade de Atenção Primária à Saúde do bairro Santo Antônio ou no domicílio da usuária. A coleta das informações ocorreu através de entrevista semiestruturada, ou seja, um instrumento contendo um roteiro com itens de caracterização das participantes como dados pessoais, idade, história obstétrica, situação conjugal, escolaridade, profissão e ocupação, renda familiar entre outros, assim como perguntas abertas sobre o objeto da pesquisa: a vivência do parto e questões sobre o puerpério, sendo estas realizadas no período entre os dias vinte de junho a cinco de julho de dois mil e dezessete. A escolha das participantes foi realizada de forma aleatória e as entrevistas aconteceram a partir de um agendamento prévio com a equipe e com as puérperas. A metodologia utilizada para a análise dos dados foi a técnica de análise de conteúdo de Bardin5 que consiste na exploração do material colhido nas entrevistas, busca para estabelecer unidades de registros com recorte, enumeração, classificação e agregação em categorização de informações. Resultados: a média de idade das participantes foi de 29 anos; 77,8% tem como nível de escolaridade Ensino Fundamental Incompleto; 11,1 % Ensino Médio Incompleto e 11,1% tem o Ensino Superior Completo. As casadas são 77,8% destas mulheres e 22,2% são solteiras. Em relação à renda familiar, 44,4% tem renda familiar igual a um salário mínimo e 55,6% possui como renda dois ou mais salários mínimos, sendo 22,2% das participantes beneficiárias do Programa Bolsa Família. As categorias e subcategorias estabelecidas foram: 1. O parto sob o olhar da puérpera/1.1 O protagonismo da mulher no momento do parto/ 1.2 “A dor que eu ainda não esqueci”/1.3 As intervenções// 2. A ignorância nem sempre é uma bênção/ 2.1 Orientações no pré-natal/ 2.2 Orientações no momento do parto// 3. Eu mãe: como é estar assim?/ 3.1 As dificuldades e facilidades do período do pós-parto/ 3.2 A saúde na perspectiva da mulher mãe/ 3.3 Sugestões para o aprimoramento da assistência no puerpério. A pesquisa revelou que dentro do cenário obstétrico, mesmo com o crescimento cada vez maior das evidências científicas encontram-se fatores como a falta de protagonismo das mulheres no evento que deveria ser totalmente individual, de acordo com os desejos e vontades da mulher; é forte a presença de violência verbal e da negligência quanto à opinião da parturiente por parte dos profissionais; há uma cultura arraigada no campo obstétrico brasileiro que ainda é embutida de forma cada vez mais sutil e velada desde a formação dos profissionais até o desenvolvimento de suas práticas, de que a mulher não é capaz de parir sozinha e que a presença de um profissional da saúde é indispensável; as mulheres brasileiras ainda estão passando por partos dolorosos pelo fato das mesmas não estarem tendo acesso às informações que deveriam ser oferecidas principalmente durante o pré-natal; verificou-se que, as mulheres sofrem pelo menos uma intervenção obstétrica, com destaque para a administração de ocitocina e a realização da episiotomia; falta de percepção das práticas e orientações de educação em saúde, assim como sua importância e sua relação com as atividades da atenção básica. Todas as participantes referiram ausência de doenças crônicas ou qualquer outro tipo de doença. As questões psicológicas também apareceram mesmo que minimamente, interligadas ao medo de engravidar novamente, medo da solidão e de todas as situações que podem acontecer no puerpério, principalmente para primíparas. As usuárias demonstraram respostas que nós como profissionais da saúde tanto procuramos, colocando o quanto é necessário uma escuta ativa e a promoção de espaços de avaliação para o aprimoramento da assistência, aprimoramento este que para acontecer é necessário que seja construído pelos profissionais em geral e juntamente com as mulheres usuárias do serviço de saúde. É válido destacar que o “cuidado” referido por uma das participantes trás grandes reflexões para a Enfermagem, pois, é nítido que a assistência obstétrica atual tem muita necessidade do desenvolvimento do cuidado, mostrando que ainda existem lacunas relacionadas ao serviço de enfermagem e sua atuação nos cenários que envolvem a saúde da mulher. Conclusões: Foi possível identificar que existe uma deficiência nas orientações referentes ao parto e puerpério durante a gestação, e uma necessidade de readequação por parte dos profissionais no aprimoramento de suas condutas durante o pré-natal, afim de ampliar o olhar feminino em direção à construção de um empoderamento que só poderá se concretizar a partir do desejo pessoal de cada mulher e das atitudes dos profissionais que a atenderão. Pode-se inferir também que existe uma carência de orientação para o casal no que tange à vivência do parto com autonomia e segurança, subsidiando os mesmos para a realização de suas escolhas e tomada de decisões de forma a possibilitar viver um trabalho de parto de forma plena e feliz. As puérperas demonstraram que grande parte das dificuldades apresentadas no pós-parto está relacionada ao período inicial de amamentação e falta de apoio familiar, preocupações com o cuidado com bebê, com a aparência física como mulher e dúvidas relacionadas à anticoncepção, reiterando a importância da educação em saúde. A pesquisa demonstra a importância da promoção de atividades grupais com gestantes e puérperas, pois muitas se manifestaram sedentas deste tipo de atuação da equipe de saúde, apontando a importância de gestores e profissionais dos níveis primário, secundário e terciário promoverem esses procedimentos, a fim de proporcionar trocas de experiências e ambiente propício para compartilhamento de conhecimentos sobre o período gravídico-puerperal. Aponta-se também a importância do real funcionamento das ferramentas de referência e contra-referência, fazendo com que a atenção primária a saúde esteja presente no acompanhamento da mulher em todo ciclo gravídico-puerperal de forma também concomitantemente a outros níveis de atenção ao quais estejam vinculadas. Contribuições para a Enfermagem Obstétrica: A presente pesquisa poderá contribuir para melhoria da assistência ao parto e nascimento no que tange a promoção de um atendimento mais humanizado e integral para gestantes, parturientes e puérperas; reafirmar aos profissionais da saúde tanto da atenção primária quanto da atenção secundária e terciária, a necessidade de se fazer uso das tecnologias leves disponíveis no SUS, buscando refletir juntamente com as usuárias, sobre a importância da autonomia feminina e protagonismo no pré-natal, no parto e no pós-parto. É possível também que este estudo possa contribuir para que haja uma atenção maior por parte de todos os profissionais envolvidos na atenção primária como também nos serviços especializados em obstetrícia, para políticas públicas já existentes direcionadas à saúde da mulher. Considerando o fato de que a Enfermagem tem íntima relação com os procedimentos e todo e qualquer evento que possa acontecer no momento no pré-natal, parto e puerpério, e que é responsabilidade da(o) enfermeira(o) a orientação da gestante e a manutenção de uma assistência digna, humanizada e menos intervencionista possível quando se trata de parto normal, este estudo poderá servir para direcionar novos olhares e possíveis soluções de questões relacionadas ao plano assistencial educativo e formativo no tocante ao parto e nascimento. Referências: 1 - BRASIL. Caderno de Atenção Básica: Saúde Sexual e Reprodutiva. 26. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 2 - DIAS, Júlia Maria Gonçalves et al. Mortalidade Materna. Revista Médica de Minas Gerais, [s.l.], v. 25, n. 2, p.173-179, 2015. GN1 Genesis Network. http://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20150034. 3 - BRASIL. Política Nacional de Atenção Integral à Mulher: Princípios e Diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. 4 - LEAL, Maria do Carmo et al. Intervenções obstétricas durante o trabalho de parto e parto em mulheres brasileiras de risco habitual. Cadernos de Saúde Pública: Nascer no Brasil, Rio de Janeiro, v. 30, p.17-32, ago. 2014 5 - BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.
Título do Evento
X COBEON - Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTESSO, Ana Cristina de Oliveira Abraao et al.. PARTO NORMAL E PUERPÉRIO: VIVÊNCIAS CONTADAS POR ELAS.. In: Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal. Anais...Campo Grande(MS) CCARGC, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/cobeon/63433-PARTO-NORMAL-E-PUERPERIO--VIVENCIAS-CONTADAS-POR-ELAS. Acesso em: 29/04/2025

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