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Notas sobre a cidadania digital: uma introdução à obra

Com o desenvolvimento das arquiteturas digitais de interação – como redes sociais digitais, plataformas, blockchain etc. –, todos os âmbitos da nossa experiência e das nossas relações assumiram novos formatos, permitindo, através do acesso a dados e diversas modalidades de interação informatizada, novas possibilidades de participação e novas práticas de protagonismo. A nossa privacidade, a nossa relação com o meio ambiente, a nossa saúde, os debates públicos, as relações com o governo, a nossa maneira de nos informar vêm passando por um importante processo de alteração. 

Mais do que um simples uso de novas ferramentas para a realização de práticas tradicionais, a chegada das interações em redes proporcionou novos significados, implementando, além de novas modalidades de participação e de ação, a necessidade de redefinir o próprio sentido do agir público em todo o mundo. Também no Brasil e na América Latina, a chegada da banda larga e das redes sociais digitais gerou uma tomada generalizada da palavra, oferecendo visibilidade e protagonismo a setores menos favorecidos da população e promovendo uma alteração qualitativa das esferas públicas nacionais. Novos atores, antes excluídos do debate público, por meio das tecnologias digitais, tomaram a palavra e iniciaram práticas originais de agregações e de ativismo via web em defesa de seus direitos.

Em época mais recente, o advento de plataformas de interação, de big data e de criptomoedas vem difundindo, através da disseminação de startups, um novo tipo de empreendedorismo de massa, baseado no compartilhamento de dados e no barateamento dos custos através do acesso a serviços de diversos tipos por meio da internet. Nesse novo contexto, a inovação tecnológica, a participação e as mudanças sociais tornaram-se aspectos incindíveis. Logo, a cidadania do terceiro milênio vem se revelando uma cidadania conectada, que promete redesenhar relações e dinâmicas, oferecendo novas oportunidades através das contribuições e do papel ativo desenvolvido pelas tecnologias informáticas. 

Diante da urgência de pensar esse cenário surgiu o Congresso Internacional de Cidadania Digital, evento transdisciplinar promovido pelo Centro Internacional de Pesquisa ATOPOS desde 2020, com o objetivo de representar e estimular o debate sobre a ideia e as práticas de cidadania realizadas por meio da introdução de tecnologias digitais, arquiteturas de redes e ambientes colaborativos. Em 2022, a proposta encontrou na floresta amazônica as condições ideais para a sua primeira realização presencial, tendo como principal parceira a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e como apoiadora a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

Em torno do tema “A comunicação da floresta e a conexão de todas as coisas”, a terceira edição do evento promoveu, entre os dias 21 e 25 de novembro, um debate itinerante entre as cidades de Manaus e Parintins (AM), com transmissão online e participação híbrida de professores e pesquisadores de todo o Brasil e de diversos países (Canadá, México, Argentina, Portugal e Itália). 

Em razão dos desafios impostos aos professores, pesquisadores, profissionais e ativistas de diversas áreas, o III Congresso Internacional de Cidadania Digital buscou estimular a produção de resumos expandidos, relatos de experiência, ensaios e artigos científicos que tratassem da temática a partir dos seguintes eixos:  

1) Epistemologias reticulares: o protagonismo dos não-humanos e a comunicação pós-antropocênica; 

2) Práticas de cidadania digital para se conectar com a Floresta Amazônica; 

3) O local digital das culturas; 

4) Net-ativismo, participação e conflitos em redes; 

5) Jornalismos possíveis: ecologia de traduções de mundos; 

6) Tecnologias imersivas e formação no contexto da Cidadania Digital; e 

7) Uma outra universidade possível.

As apresentações das palestras e mesas redondas do evento foram gravadas e estão disponíveis no canal do Centro Internacional de Pesquisa ATOPOS no YouTube: https://www.youtube.com/c/CanalATOPOS. Já nestes anais eletrônicos, leitores e leitoras encontrarão os trabalhos submetidos pelos participantes do Congresso – pesquisadores, professores, profissionais de diversas áreas, estudantes, ativistas, artistas etc. – e relacionados às tendências e caraterísticas da colaboração das tecnologias digitais para o desenvolvimento de práticas cidadãs, conforme cada eixo acima apresentado. 

Entre os trabalhos submetidos ao evento, 54 foram aprovados pela Comissão Científica, sendo 38 na modalidade resumo expandido, 3 relatos de experiência, 3 ensaios e 10 artigos científicos. Todos os conteúdos são de responsabilidade dos seus autores, que ao submeterem os trabalhos às mesas coordenadas declararam ciência das leis de direitos autorais em vigência, como também cederam os direitos de publicação nos anais do evento ou em produtos editoriais derivados do Congresso.

Por fim, este livro, que junta visões de diversas áreas de conhecimento sobre as mudanças que caracterizam a passagem para o novo milênio, tornou-se possível graças ao financiamento do Governo do Estado do Amazonas, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, que apoiou a realização do Congresso por meio do Edital n.º 02/2022 do Programa de Apoio à Realização de Eventos Científicos e Tecnológicos no Estado do Amazonas – PAREV.

Massimo Di Felice e Marina Magalhães

Massimo Di Felice é Professor titular da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, com pós-doutorado em Sociologia pela Universidade Paris Descartes V, Sorbonne. Fundador do Centro Internacional de Pesquisa ATOPOS. 

Marina Magalhães é Professora Adjunta do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (ICSEZ/UFAM). Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal). Pesquisadora integrada ao Centro Internacional de Pesquisa ATOPOS, ao Núcleo de Estudos de Linguagens da Amazônia (NEL-Amazônia) e ao Instituto de Comunicação da Universidade Nova de Lisboa (ICNOVA).