ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTE RENAL CRÔNICO SUBMETIDO A TERAPIA SUBSTITUTIVA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Publicado em 30/12/2020 - ISBN: 978-65-5941-071-2

Título do Trabalho
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTE RENAL CRÔNICO SUBMETIDO A TERAPIA SUBSTITUTIVA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Autores
  • VIVIAN SCARPIN
  • Juliana de Medeiros
  • Priscila Vasselai Alves
Modalidade
Comunicação oral (Resumo expandido)
Área temática
Nutrição
Data de Publicação
30/12/2020
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2020/246998-estado-nutricional-de-paciente-renal-cronico-submetido-a-terapia-substitutiva--um-relato-de-experiencia
ISBN
978-65-5941-071-2
Palavras-Chave
nutrição, doença renal crônica, avaliação nutricional, desnutrição
Resumo
Introdução: O paciente portador de Doença Renal Crônica (DRC) necessita de acompanhamento multiprofissional no processo de compreensão da sua doença e adesão ao tratamento (TELLES; BOITA, 2015). A importância da nutrição no cuidado com a saúde renal é vista desde o contexto das medidas preventivas, pois o alto índice de massa corporal (IMC) é um forte fator de risco para DRC e pode ser modificado pela alimentação. Porém, uma vez instalada a patologia renal a nutrição desempenha um papel central na avaliação e no tratamento dessa doença. A DRC, seja na fase pré-dialítica ou dialítica, impõe desafios clínicos diretamente ligados ao estado nutricional (SANTOS; PONTES, 2020). Segundo a Resolução RDC n°154/2004, o profissional nutricionista deve compor a equipe mínima para o funcionamento das clínicas de diálise. A terapia nutricional tem como objetivos manter ou atingir um estado nutricional, com o adequado consumo de energia, proteína, vitaminas e minerais; controlar a ingestão de sódio, potássio e líquidos para evitar o desequilíbrio eletrolítico e o edema; ponderar a ingestão da vitamina D, cálcio e fósforo para evitar a osteodistrofia renal e propiciar ao paciente uma dieta adequada ao seu estilo de vida o mais próximo possível (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005; CLEMENTINO, et.al. 2014). Embora os benefícios da diálise permitam aumentar a expectativa de vida dos pacientes com DRC, a patologia e o tratamento dialítico repercutem em inúmeras modificações orgânicas com complicações agudas e crônicas nutricionais que devem ser avaliadas e acompanhadas por uma equipe multidisciplinar, sendo essencial a participação do nutricionista (BASTOS, 2011). Objetivo: Relatar experiência durante Estágio Supervisionado em Clínica I do sétimo período do curso de Nutrição, em Clínica Renal – Campo Grande, MS nos meses de fevereiro e março de 2020, relacionado com caso clínico de uma paciente da hemodiálise. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência de caso clínico de uma paciente em hemodiálise (HD), cujo método de intervenção utilizado foi avaliação nutricional, por meio de aplicação de um conjunto de métodos, que incluem: história global e alimentar, exame físico detalhado, medidas antropométricas, aplicação de questionário MIS (malnutrition inflammation score), avaliação dos testes bioquímicos, para se chegar ao diagnóstico nutricional adequado. As limitações desta pesquisa referem-se à veracidade do recordatório alimentar da paciente, visto que o relatado não condiz com o estado nutricional diagnosticado. O estudo foi autorizado pela direção da Clínica Renal onde a paciente realiza tratamento, respaldado pela Resolução 580/2018 que dispõe sobre a ética e o atendimento dos usuários do SUS, 6º parágrafo destaca sigilo do paciente. Resultados: M., sexo feminino, 58 anos, divorciada, analfabeta, aposentada, residente em Campo Grande/MS. Acometida de DRC em estágio final (CID-180), dialítica de três vezes por semana, apresenta sintomas de hipertensão arterial sistêmica, evoluiu Insuficiência Renal Crônica progressiva, sendo iniciada HD em 11/03/2011, quando foi admitida em hospital em uremia, sendo a etiologia da doença nefroesclerose hipertensiva e cistos simples nos rins. Apresenta desnutrição evidente, se queixa de fraqueza, cansaço, inapetência e mal-estar, em especial após as sessões de HD. Não realiza as sessões de HD completas, ficando ligada à máquina por no máximo 1 hora e meia, quando deveria ficar por quatro horas, justificando que passa muito mal após as sessões completas. Para ser obtido histórico dietético foi realizada entrevista com a paciente, que, em um primeiro momento, relatou se alimentar `normalmente`, com certa inapetência para carnes, porém acredita-se que as informações acerca do recordatório não são fidedignas, visto que, quando do preenchimento do questionário MIS e da anotação formal do recordatório alimentar, foi relatada a realização de cinco a seis refeições diárias, enquanto, em outro momento, comentou que ia sempre à diálise em jejum, e que, só ao chegar em casa, com muito mal estar e fraqueza, conseguia comer uma fruta e, mais tarde, jantar. Desse modo, foi tomado como base o recordatório de cinco refeições diárias, sabendo-se que o mesmo pode não ser condizente com a realidade vivida pela paciente. Durante o período deste estudo, não realizou HD completa, sempre solicitando o desligamento da máquina após no máximo uma hora e meia de filtração. A mesma apresentou perda ponderal acentuada durante o período deste estudo (cerca de 10% de seu peso seco). Por meio do exame físico, foi possível identificar magreza excessiva, pele ressecada, aparência abatida e presença de edema, mesmo logo após o final da sessão de HD. A paciente, para manutenção dos níveis pressóricos normais, faz uso de polifarmácia e utiliza medicamento para regulação dos níveis eletrolíticos. No prontuário da paciente não constavam todos os exames sugeridos nas Diretrizes de Terapia Nutricional para Pacientes em Hemodiálise Crônica, portanto, foram avaliados apenas os exames registrados, observando-se que: a albumina da paciente se apresenta em níveis normais; a ureia pós está acima dos valores de referência, o que pode ser justificado pelo tempo insuficiente de permanência na HD; a taxa de creatinina pode ser considerada satisfatória, considerando-se desvio padrão; a clearance é compatível com a DRC terminal, na qual a eliminação natural de substâncias quase não ocorre, ficando o paciente dependente de filtração extracorpórea; a glicemia em jejum se apresenta dentro dos parâmetros da normalidade; a hemoglobina demonstra anemia, um achado quase universal entre pacientes com doença renal crônica em fase terminal, que está associado com aumento de mortalidade e piora da qualidade de vida. Além dos aspectos físicos, clínicos e análise dos exames laboratoriais, foram utilizados os dados antropométricos - Peso seco (32,5 kg); Estatura (1,53m); Circunferência do braço (21cm); Circunferência de punho (14,5cm); Percentual de dobras (7cm) - para realização do diagnóstico nutricional, com base no IMC ideal para adultos como sendo 23kg/m2 e levando em conta o percentil 50 para a idade da paciente. Discussão: De acordo com o Projeto Diretrizes de Terapia Nutricional para Pacientes em Hemodiálise Crônica não existe um marcador único capaz de avaliar o estado nutricional do paciente em HD, portanto, recomenda-se a aplicação de um conjunto de métodos, que incluem a história global e alimentar, o exame físico detalhado, as medidas antropométricas e os testes bioquímicos, para se chegar ao diagnóstico nutricional adequado, o que foi realizado, chegando-se diagnóstico de desnutrição grave. Sabe-se que a presença da desnutrição é determinante independente de morbidade e mortalidade de pacientes em HD. Os indicadores nutricionais preditores do aumento da mortalidade em HD incluem a redução da ingestão de energia e de proteína, e baixos valores de IMC e de albumina sérica (CUPPARI et. al., 2007). Logo, a paciente deste caso clínico se enquadra nessas condições, que sinalizam a necessidade do início do tratamento dietoterápico. A primeira conduta a ser adotada abrange aconselhamento nutricional intensivo, com orientações específicas para aumentar a ingestão de energia e de proteína, sendo necessário considerar-se iniciar suplementação oral, caso a primeira intervenção não seja bem-sucedida e os parâmetros nutricionais continuem a piorar. É importante destacar a necessidade de dieta hiperproteica (1,1 a 1,2 g/kg/dia), normocalórica (30 a 35 Kcal/kg/dia) e restrita em líquido, sódio, potássio e fósforo à paciente, bem como a indicação de suplementação diária de vitaminas hidrossolúveis, devido às perdas significativas durante o procedimento hemodialítico. Com a exceção da vitamina D, a suplementação de vitaminas lipossolúveis não é recomendada, particularmente de vitamina A, que pode se acumular no organismo (CUPPARI et. al., 2007, 2019). Com relação à recomendação de energia, estudos demonstram que o gasto energético de repouso de pacientes em HD é semelhante ao de indivíduos saudáveis, pareados por sexo e idade (CUPPARI, 2019). De acordo com a National Kidney Foundation, embora o gasto energético aumente durante em até duas horas após o procedimento dialítico, o estilo de vida sedentário e a ingestão alimentar baixa possivelmente contrabalanceiam o gasto energético total; sendo assim, as recomendações de energia para esta paciente deverão ser semelhantes à de indivíduos saudáveis. Para adequação do peso da paciente do peso atual (32,5 kg) para o peso ideal (45,5kg) deve-se ajustar a dieta, respeitando as preferências alimentares da paciente e, sugerindo inclusive, oferta de alimentos durante a sessão de diálise ou até mesmo terapia nutricional por via enteral ou parenteral durante a sessão de HD (ARAÚJO et.al., 2006). Para calcular o gasto energético basal (GEB) da paciente, utilizou-se a fórmula de Harris e Benedict para o gênero feminino: GEB = 655,1 + (9,56 X P) + (1,85 X E) – (4,68 X I), sendo E a estatura em cm, I a idade em anos e P o peso em Kg. Desse modo, o GEB da paciente é de 697 Kcal/dia. Para elaboração de Plano Alimentar adequado à estratégia de ganho de peso, sugere-se um acréscimo de aproximadamente 670 Kcal/dia ao GEB, de acordo com a fórmula de bolso para ganho de peso, que se baseia em 30 a 35 Kcal/kg/dia. Além disso, deve-se atentar a necessidade de dieta hiperproteica (1,1 a 1,2 g/kg/dia) para o paciente acometido de DRC em HD (ARAÚJO et.al., 2006). Ademais, apesar da restrição e controle na ingestão de determinados nutrientes, o planejamento dietético deverá ser, sobretudo, compatível com uma dieta saudável, estimulando o consumo de alimento in natura em detrimento aos processados e evitando a monotonia alimentar. Conclusões ou Considerações Finais: Os maiores determinantes da mortalidade e morbidade do paciente em hemodiálise são: estado nutricional e eficácia da diálise. Acredita-se que há uma inter-relação significativa entre esses dois fatores, pois os pacientes que são bem dialisados e possuem uma boa ingestão alimentar apresentam melhora significativa. Dito isso, pode-se concluir que a diálise reduzida realizada na paciente pode ter relação com seu estado nutricional. Além disso, foi possível concluir que a orientação é fundamental quanto à ingestão hídrica, alimentação saudável, sobre as medicações e seguir rigorosamente a prescrição médica, no entanto, o papel do nutricionista muito além dos fatores citados, deverá ser o de compreender os aspectos clínicos da doença renal crônica e a complexidade do seu tratamento, especialmente quando da modalidade terapêutica e a hemodiálise, que promove não apenas sintomas físicos, mas, mudanças significativas na rotina de vida diária e impacto negativo na qualidade de vida de pacientes e seus familiares. Referências: 1. TELLES, C.; BOITA, E. R. F. Importância da terapia nutricional com ênfase no cálcio, fósforo e potássio no tratamento da doença renal crônica. Perspectiva, v. 39, n.145, p. 143-154, março/2015. 2. Santos PR, Pontes LRSK. Mudança do nível de qualidade de vida em portadores de insuficiência renal crônica terminal durante seguimento de 12 meses. Rev Assoc Med Bras 2007;53:329-34. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302007000400018. Acesso em: 03/03/2020. 3. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Diretrizes Clínicas para o Cuidado ao paciente com Doença Renal Crônica – DRC no Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília: Ministério da Saúde, p.37, 2014. 4. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Alimentos, nutrição e dietoterapia. 10. ed. São Paulo: Roca, 2005. 5. CLEMENTINO, A. V.; PATRICIO, A.F.O.; LINS, P.R.M.; OLIVEIRA, S.C. P.de; GONÇALVES, M. da C.R. Avaliação Nutricional de Pacientes com Insuficiência Renal Crônica Submetidos à Hemodiálise em uma Clínica de Nefrologia em João Pessoa-PB. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 18, n. 4, p. 287-296, 2014. 6. Bastos, M. G., Biomarcadores de Função Renal. Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFJF. Departamento de Epidemiologia e Prevenção da Doença Renal da Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2011. E-book. Disponível em: https://arquivos.sbn.org.br/pdf/biomarcadores.pdf .Acesso em: 21/03/2020. 7. Martins C, Cuppari L, Avesani C, Gusmão MG. Terapia Nutricional para Pacientes em Hemodiálise Crônica. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral Associação Brasileira de Nutrologia. 22 de agosto de 2011. Disponível em: https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_para_pacientes_em_hemodialise_cronica.pdf . Acesso em: 21/03/2020 8. Kamimura MA, Draibe SA, Avesani CM, Canziani ME, Colugnati FA, Cuppari L. Resting energy expenditure and its determinants in hemodialysis patients. Eur J Clin Nutr 2007;61:362-7. 9. CUPPARI, Lílian. Nutrição Clínica no Adulto - 4ª Ed. – Barueri -SP: Manole, 2019. 10. Araújo IC, Kamimura MA, Draibe SA, Canziani ME, Manfredi SR, Avesani CM, et al. Nutritional parameters and mortality in incident hemodialysis patients. J Ren Nutr 2006;16:27-35. 11. National Kidney Foundation. Kidney Disease Outcome Quality Initiative. Clinical practice guidelines for nutrition in chronic renal failure. Am J Kidney Dis 2000;35(Suppl):1-139.
Título do Evento
CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SCARPIN, VIVIAN; MEDEIROS, Juliana de; ALVES, Priscila Vasselai. ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTE RENAL CRÔNICO SUBMETIDO A TERAPIA SUBSTITUTIVA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.. In: Anais do CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital. Anais...Campo Grande(MS) UNIGRAN Capital, 2020. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2020/246998-ESTADO-NUTRICIONAL-DE-PACIENTE-RENAL-CRONICO-SUBMETIDO-A-TERAPIA-SUBSTITUTIVA--UM-RELATO-DE-EXPERIENCIA. Acesso em: 30/04/2025

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