APOSENTADORIA DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO: UMA DISCUSSÃO SOBRE O IMPACTO PSICOLÓGICO.

Publicado em 30/12/2020 - ISBN: 978-65-5941-071-2

Título do Trabalho
APOSENTADORIA DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO: UMA DISCUSSÃO SOBRE O IMPACTO PSICOLÓGICO.
Autores
  • Daniel Francisco de Sousa
  • Elaine Cristina da Fonseca C. Pettengill
Modalidade
Comunicação oral (Resumo expandido)
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
30/12/2020
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2020/249442-aposentadoria-dos-militares-do-exercito-brasileiro--uma-discussao-sobre-o-impacto-psicologico
ISBN
978-65-5941-071-2
Palavras-Chave
Atividade Militar. Aposentadoria. Inatividade. Impacto Psicológico.
Resumo
APOSENTADORIA DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO: UMA DISCUSSÃO SOBRE O IMPACTO PSICOLÓGICO. Daniel Francisco de Sousa Elaine Cristina da Fonseca Costa Pettengill INTRODUÇÃO: Ao se aposentar, o militar se desvincula do quartel e do convívio dos amigos e se vê obrigado a enfrentar uma nova realidade diferente do ambiente o qual estava acostumado. Para falar da aposentadoria dos militares do Exército Brasileiro, é preciso antes de tudo, conhecer as peculiaridades dessa profissão, pois quando se trata da aposentadoria do militar (reserva ou reforma), os sentimentos que suscitam nessa fase da vida são bem mais intensos, pois, mais do que o exercício de uma profissão, é um estilo de vida que absorve a capacidade e a energia desse profissional (BOTELHO, 2005). De acordo com a Constituição Federal/1988 e a Lei nº 6.880/80, os militares ingressam na inatividade quando passam para a reserva remunerada ou são reformados. No primeiro caso, continuam mantendo vínculos com a respectiva Força Armada podendo ser reconvocado. No segundo caso, a obrigação de convocação desaparece por idade limite ou por incapacidade física. Nesse contexto tanto a reserva como a reforma representam um momento de mudança no ciclo de vida do militar exigindo do mesmo uma capacidade de reestruturação de suas atividades, valores e principalmente sua identidade pessoal. Mesmo vivendo como aposentados, muitos militares não conseguem se desvincular totalmente da vida no quartel, pois sua experiência no serviço ativo impregnou, na sua personalidade, valores, crenças e atitudes que permanecem na sua memória gerando dificuldades à adaptação ao novo contexto. OBJETIVO: discutir sobre os efeitos psicológicos da aposentadoria sobre a saúde mental dos militares do Exército, sendo justificado pela vivência de sofrimento psíquico relacionado à aposentadoria entre estes trabalhadores, apontado pela literatura. MÉTODO: pesquisa bibliográfica a obras clássicas da Psicologia do Desenvolvimento e acesso na internet, a trabalhos científicos. Durante a pesquisa, foram encontrados 25 artigos e 02 dissertações que abordam o impacto da aposentadoria entre os profissionais militares, onde foram selecionados apenas 18. Como critérios de inclusão, o artigo deveria ter sido publicado no período de 2005 a 2019 e discutir os efeitos psicológicos da aposentadoria relacionada aos militares, e como critérios de exclusão, artigos com mais de 15 anos de publicação e que abordassem este tema em outras categorias profissionais. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Se a vivência no quartel é um elemento constitutivo do “ser militar”, pode-se dizer que o afastamento dessa vivência torna-se uma “ferida” na sua própria identidade, pois quando entra para a reserva ou é reformado, um complexo contexto se impõe. A Pesquisa realizada por Botelho (2005) incluiu 06 (seis) militares, sendo 03 (três) do Exército, 01(um) da aeronáutica e 02 (dois) da Marinha, com faixa etária entre 47 a 58 anos de idade com tempo de reserva entre 11 meses a 05 anos. O autor obteve os seguintes resultados: 02 (dois) sinalizaram a passagem do serviço ativo para a inatividade como um evento normativo, ou seja, um acontecimento previsível e característico do desenvolvimento humano. Esses dois entrevistados compreendem a aposentadoria como um evento importante e que requer do sujeito, capacidade de adaptação. Nesse grupo, constataram-se sentimentos de ganho econômico, realização, gratidão e saudade. Já os outros 04 (quatro), interpretaram o processo da passagem para a reserva como um evento não normativo, vivenciado como crise ou como evento estressante, podendo servir de ameaça à continuidade e integridade do autoconceito, autoestima e esforços de enfrentamento. Estes entrevistados manifestaram sentimentos de frustração, perda econômica e da rotina do trabalho, exclusão social e inutilidade. O estudo bibliográfico realizado por Silveira (2010) analisou as possíveis implicações do processo atividade-inatividade para a saúde mental do militar do Exército Brasileiro. Segundo a autora, quando passa para a inatividade, o militar possui mais tempo livre, e, consequentemente, passa mais tempo em casa, na companhia de seus familiares. Este retorno ao lar pode acontecer de forma pacífica e com benefícios para o sistema familiar ou pode ser fator desencadeante de crise. A esposa e a família são, durante sua vida profissional, muitas vezes o único elo da vida na caserna com a vida civil, fato que se torna mais visível na vivência da reserva. Mas, a família está inserida na sociedade fora do quartel, possuindo atividades e funções fora de casa; o que leva à diminuição do tempo de dedicação desta na recondução do parente aposentado à vida civil, podendo haver desentendimentos e mal-entendidos. Além disso, segundo Silveira (2010), pela falta do que fazer, o militar inativo passa a interferir em funções da casa, de responsabilidade da esposa, o que leva a conflitos entre estes. Além disso, a diminuição dos rendimentos (gerados pela inatividade), o aumento dos gastos (como exemplo, por não ocupar mais imóvel pertencente à União e consequentemente passar a gastar mais com moradia) são fatos de desordem financeira que acometem o militar; a perda da referência de vida; o aparecimento dos sinais do envelhecimento e o retorno ao convívio maior com os familiares acontecendo de forma conflituosa são fatores que podem desencadear crises e levar ao adoecimento mental (psicoses, depressão, alcoolismo, dependência química) e somatização física. Assim, a confrontação com o vazio deixado pelas horas que, anteriormente, eram dedicadas ao trabalho e o tédio do tempo desocupado, o afastamento ou a perda de relacionamento social de pessoas do meio profissional, o papel social que a ocupação representava e a perda de reconhecimento que dela advinha, diminuição de vantagens de ordem econômica, e, ainda, as dificuldades de um convívio mais extenso com a família, podem constituir um período de ameaça ao equilíbrio mental do indivíduo. (RODRIGUES et al, 2005). Junior e Brêtas (2011), em seu estudo com 18 (dezoito) militares do Exército Brasileiro, com o objetivo de conhecer o significado do envelhecimento para estes trabalhadores, verificaram comportamentos como perda da capacidade funcional, dificuldades de adaptação à vida fora dos quartéis, necessidade de reinvenção do convívio contínuo com os familiares, visto que antes, haviam ficado muitas vezes ausentes do contato com a esposa e os filhos em função das atividades nos quartéis ou até mesmo cumprindo missões em outros lugares e agora que se aposentam, permanecem mais tempo com a família passando a lidar diretamente com a rotina de casa. Quando não conseguem se readaptar a essa nova realidade, enfrentam muitas vezes quadros patológicos como depressão e transtorno de ansiedade. Santos e Martins (2018) referem que quando os participantes de sua pesquisa foram inqueridos quanto ao planejamento do que iriam fazer quando se aposentassem, observou-se relato sobre planos de viver em um sítio ou de reconstruir o laço familiar. Essa informação revela a importância do preparo do militar para o evento aposentadoria através de um planejamento onde se considera a necessidade de reorganização do tempo para abraçar novas experiências na vida familiar, no lazer, na vida sócio-comunitária e profissional, como meio adequado para o enfrentamento de possíveis condições frustrantes às quais qualquer aposentado está exposto. A ausência de um planejamento pós-aposentadoria pode gerar no próprio militar, sentimentos como: angústia, solidão e sensação de inutilidade, justamente por não ter mais uma ocupação profissional. Santos e Martins (2018) também observaram, a respeito da maior dificuldade enfrentada pelo militar enquanto reservista, que 60% responderam falta da rotina do trabalho; 20% adaptação com a rotina familiar; 10% responderam ociosidade e 10% responderam vicio em jogos ou bebidas. A maior percentagem dos entrevistados respondeu que a grande dificuldade enfrentada por eles é a falta da rotina do trabalho. Essa pesquisa mostra também que com a chegada da aposentadoria, acontece a perda do papel profissional e do afastamento do sistema produtivo, onde o sujeito necessita não só reorganizar seu espaço e seu tempo, mais também sua identidade pessoal (SANTOS, 1990). Quando interrogados sobre sua opinião a respeito da necessidade de existir um programa de preparação para aposentadoria aos militares da reserva, ainda no estudo de Santos e Martins (2018), 70% dos participantes responderam que isto é importante. A preparação para aposentadoria surge, então, como um auxílio para os militares a fim de oferecer-lhe um suporte na adaptação à sua nova rotina, fora do quartel. A aposentadoria surge então como um objeto bastante complexo para esta categoria de profissionais, uma vez que está associado a outros elementos como envelhecimento, ruptura com o trabalho e perda da identidade profissional. Esses elementos por sua vez, formam um sistema que gera um impacto psicológico diante dos novos desafios que surgem na vida do militar que se aposenta. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do impacto resultante do despreparo psicológico de muitos militares com relação à vivência da aposentadoria, o Comandante do Exército determinou através da Portaria nº 222, de 31 de março de 2010, a criação do Programa de Preparação para a Reserva e Aposentadoria do Exército Brasileiro (PPREB), através do qual pretende auxiliar o militar na transição do serviço ativo para a inatividade, facilitando a criação de possibilidades para que o mesmo possa se posicionar perante o mundo externo, através de novos espaços nos quais seja valorizado e reconhecido pelo conhecimento, experiência e por todo legado já construído. O PPREB tem por finalidade principal criar um espaço para reflexão sobre as questões que envolvem a reserva e o impacto provocado pela ruptura com o mundo do trabalho, oferecendo aos militares em vias de ingressar na reserva, uma oportunidade de mudança de atitude frente aos seus preparativos para esta nova e futura situação. Tal finalidade é reforçada pelos objetivos do programa que visam, através de ações diversificadas, minimizar as dificuldades e os possíveis problemas psicológicos acarretados aos militares que passam para a reserva, bem como o impacto provocado pelo processo de transição do trabalho para o pós-trabalho; disseminar a cultura de planejamento de vida no âmbito do Exército; contribuir para uma mudança de visão em relação ao “passar para a reserva”, a fim de que essa situação não se constitua em um problema existencial e social, mas numa efetiva oportunidade para a melhoria na qualidade de vida do militar, com a construção de seu próprio projeto de vida, oferecendo alternativas para uma melhor inserção do militar na comunidade e possibilitando a participação da família no desenvolvimento do projeto pessoal do militar da reserva, respeitando as suas particularidades. Os estudos supracitados revelam que uma parcela considerável de militares inativos do Exército Brasileiro percebe a questão da aposentadoria como uma experiência que vem acompanhada de ganhos e ao mesmo tempo de readaptação e falta da rotina de serviço, o que leva a concluir que a maioria desses profissionais, ao se aposentarem, não se sente adequadamente preparados para enfrentar essa nova etapa da vida. Observou-se também que, militares que sofrem em decorrência das mudanças geradas pela aposentadoria, são aqueles que não se prepararam psicologicamente e não realizaram nenhum tipo de planejamento para o enfrentamento dessa fase da vida. Além disso, quanto mais os militares da reserva entenderem que o envelhecimento é algo processual, mais ferramentas terão para modificar e incorporar hábitos e valores que são fundamentais não só para a qualidade do envelhecimento, mas também para a própria saúde mental. Palavras-chave: Atividade Militar. Aposentadoria. Inatividade. Impacto Psicológico. REFERÊNCIAS BOTELHO, P. L. C. Percepção sobre a Aposentadoria (reserva) em oficiais de carreira das Forças Armadas. Brasília, 2005. JÚNIOR, A. L. S. A.; BRÊTAS, A. C. P. O Envelhecimento para Militares que serviram no Exército Brasileiro. São Paulo, 2011. MULLER, R. M. O Impacto da Aposentadoria na Vida do Sujeito. Porto Alegre, 2016. RODRIGUES, M.; et al. A Preparação para a Aposentadoria: o papel do psicólogo frente a essa questão. São Paulo, 2005. SILVEIRA, J. H. S. Processo Atividade-Inatividade Sofrido pelo Militar e as Implicações para sua Saúde Mental. Salvador, 2010. SANTOS, E.; MARTINS, F. A Aposentadoria dos Militares de Carreira e seus Reflexos Psicossociais. Revista Ciência Contemporânea USP, jun./dez. 2018, v.4, n.1, p. 79 – 94. http://uniesp.edu.br/sites/guaratingueta/revista.php?id_revista=31.
Título do Evento
CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SOUSA, Daniel Francisco de; PETTENGILL, Elaine Cristina da Fonseca C.. APOSENTADORIA DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO: UMA DISCUSSÃO SOBRE O IMPACTO PSICOLÓGICO... In: Anais do CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital. Anais...Campo Grande(MS) UNIGRAN Capital, 2020. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2020/249442-APOSENTADORIA-DOS-MILITARES-DO-EXERCITO-BRASILEIRO--UMA-DISCUSSAO-SOBRE-O-IMPACTO-PSICOLOGICO. Acesso em: 27/04/2025

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