BIOFILIA: FUNDAMENTO PARA NOVOS PROJETOS

Publicado em 04/08/2021 - ISBN: 978-65-5941-292-1

Título do Trabalho
BIOFILIA: FUNDAMENTO PARA NOVOS PROJETOS
Autores
  • Ana Carla Fiirst dos Santos Porto
  • Ana Carla Porto
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Design de Interiores
Data de Publicação
04/08/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/360981-biofilia--fundamento-para-novos-projetos
ISBN
978-65-5941-292-1
Palavras-Chave
biofilia, design biofílico, design de interiores
Resumo
Introdução A casa faz referência à construção física (tijolos e cimento), enquanto o lar é permeado de valores e princípios, onde os indivíduos apropriam-se do espaço, buscando aconchego. A soma de concepções de um indivíduo, traduz-se em símbolos e representações, lembrando que, a cultura é instável, podendo ser alterada por inferência de um outro grupo, ou mesmo devido à crescente globalização, trazendo mudanças de pensamento em um núcleo social, com o passar do tempo. A identidade e o multiculturalismo estão atrelados à memória afetiva e lembranças, desencadeando as sensações e percepções de um indivíduo. O design de interiores, ao trabalhar com o briefing do cliente, busca traduzir seus costumes e gostos, em forma de objetos e móveis, ou seja, produz os significados de uma vida, em um dado ambiente. Sinteticamente, o nível de satisfação de um indivíduo dentro de um espaço, caracteriza o conforto ambiental. Dessa forma, um espaço com qualidades ergonômicas, boas condições acústicas, térmicas e visuais, permitindo realizar atividades habituais, de lazer ou trabalho, pode ser sentido e percebido por quem o usa. Por conseguinte, a adequação de um ambiente envolve as condições físicas do espaço, junto às condições psicológicas de um indivíduo, o que torna o espaço percebido de formas diferentes por cada pessoa. Nesse ínterim, um novo termo surge para somar às discussões propostas, a biofilia, tida como “amor à vida.” Ou seja, a influência da natureza, bem como dos projetos de paisagismo, no conforto ambiental. O design biofílico, portanto, vem a somar com os conceitos supracitados, interferindo diretamente nas sensações e percepções obtidas em um ambiente. A arquitetura preocupa-se em planejar e projetar os espaços urbanos, frente à soma de elementos técnicos, históricos e culturais, enquanto o design de Interiores participa diretamente desse processo, buscando a melhoria da qualidade de vida das pessoas. A decoração faz parte dessa apropriação espacial, pois, com a composição interna, é possível conferir sentidos a um lugar, tornando-o mais significativo. A arquitetura e o design de Interiores, juntos, constroem o habitat. A forma, espaço, luz e sombra, influenciam nas relações interpessoais, atraindo ou expulsando pessoas, fazendo referência à atmosfera que se cria no interior, objetivando o conforto. Em se tratando do fatídico período pandêmico na qual o mundo está atravessando, faz-se necessário ressignificar a vida e o morar. Objetivo O presente artigo visa destacar a relação entre a biofilia e o design de interiores, agregando o novo termo como elemento complementar para se alcançar a satisfação do indivíduo em um espaço a ser projetado. Metodologia A pesquisa é de abordagem qualitativa e exploratória, buscando familiaridade com a situação, abordando a amplitude do design biofílico, partindo-se de revisão bibliográfica. Resultados Löbach (2001) destaca que, a estética não se trata da beleza de determinado objeto ou móvel, o que importa é a soma de formas, cores e texturas, que, de forma harmoniosa, possa sensibilizar o usuário. Para tanto, o uso sensorial depende, além da percepção do usuário, de experiências anteriores. A função simbólica, por sua vez, carrega um significado, estando intimamente ligada à percepção visual do indivíduo. A vida da maioria das pessoas não é mais imaginável sem o design, que é visto na casa, no trabalho, no lazer, no transporte, na saúde, em qualquer horário do dia ou da noite, em qualquer tempo (BÜRDEK, 2010). O design, é, portanto, imprescindível na tradução de uma ideia, sendo influenciado por disciplinas como a antropometria e ecologia, ao passo que produz beleza e funcionalidade. Em se tratando do design de interiores, relaciona-se à melhor forma de aproveitamento do espaço, em que o conjunto de ideias e soluções para otimizar o espaço a ser projetado, busca conforto, ergonomia, práticas sustentáveis, objetos e móveis multiuso. Ou seja, o projeto bem pensado e executado de acordo com as necessidades pendentes, visa praticidade e criatividade, integrando conforto, elegância e funcionalidade. Gurgel (2013) considera que o primeiro passo para um bom design, é a capacidade de alterar paradigmas, conceitos e preconceitos, mantendo a mente aberta a soluções desconhecidas e inovadoras. Sendo que, os componentes culturais devem e podem influenciar o design, sendo responsáveis pela identidade do projeto. Se cada povo tem sua forma de pensar, agir e viver, limitando sua cultura, essas características são, portanto, fundamentais no processo criativo do design de interiores. Muitos autores consideram que a história do Design começou com William Morris, designer têxtil, que combinou tradição artesanal com a simplicidade da forma. Ele foi o líder do movimento Arts And Crafts, que, de acordo com Tagliari e Gallo (2007), valorizava o trabalho artesanal, individualismo e regionalismo, além da unidade na composição artística. Giorgio Vasari, pintor e arquiteto, de acordo com a autora supracitada, foi um dos pioneiros a defender o caráter autônomo das obras de arte, sendo que em 1588 o termo Design foi descrito como “um plano desenvolvido pelo homem ou um esquema que possa ser realizado” (BÜRDEK, 2010, p. 13). Azevedo (1988), elucida alguns movimentos determinantes na história do design, como o Art Nouveau, em 1883, em que ressaltava o trabalho individual do artista, tendo foco em ilustrações, objetos de vidro, madeira trabalhada e ferro ornamentado. Antoni Gaudí, importante arquiteto gótico, teve grande destaque nesse movimento. Outrossim, a Vanguarda Soviética, um dos mais importantes movimentos dentro da Arte de Vanguarda, que primava pela reformulação da estética do design, pautado nas áreas de arquitetura, escultura, poesia e até diagramação de textos e, apesar das diversas nomenclaturas, “a ideia central era uma só: tornar a arte popular, uma arte de estilos da qual o povo era o maior beneficiado” (AZEVEDO, 1988, p. 26). Com base na linha do tempo, é notável a mudança social, econômica e ambiental, gerada pela industrialização. Um processo que trouxe avanços significativos de uma forma geral, impactou, sobretudo, no design, na construção, ambientes internos de moradia e trabalho e na forma de consumo desenfreado. Por outro lado, afastou o ser humano do meio natural. A natureza é portadora de significados, expressando valores e crenças, ou seja, possui uma dimensão simbólica. O estudo da paisagem, a técnica de planejá-la, é o que se chama de Paisagismo, sendo uma expressão artística em que participam os 5 sentidos do ser humano, proporcionando uma rica vivência sensorial (ABBUD, 2010). Como já citado, as sensações são individuais, desencadeadas a partir da cultura, identidade e memória do indivíduo. Portanto a percepção varia de pessoa para pessoa. O termo biofilia foi popularizado por Eduard Wilson, em 1984. Tem por significado o “amor à vida”, à natureza, ao natural, ou seja, a relação do ser humano com os demais organismos vivos. A necessidade da conexão com a natureza, refazendo esse elo perdido, é motivado pelas muitas mudanças ocorridas na sociedade, devido à evolução humana (LADISLAU, 2019). Ulrich (1984), sustenta que a biofilia é um conjunto de sensações positivas que a vegetação e os elementos naturais podem despertar no ser humano. Tais sensações podem ser desencadeadas por experiências vividas, causando percepções diferentes em cada indivíduo. Impera ressaltar a semelhança das características oriundas da Biomimética, não sendo simplesmente uma ciência que copia os elementos oriundos da natureza. Arruda (2015) afirma que a Biomimética é a solução necessária para problemas reais, propondo reflexões sobre mudanças, trazendo respostas para necessidades específicas, gerando novas perspectivas que permitem ter uma percepção visual de objetos com um viés mais sustentável e implantar na sociedade uma responsabilidade com relação ao futuro do nosso meio ambiente. Discussão O conceito do design biofílico vem da ideia de que 99% do desenvolvimento biológico humano é uma resposta direta das forças da natureza – gravidade, luz, ar, plantas, animais – e muito pouco de fontes artificiais como construções ou a tecnologia (BONI, 2018). O projeto que contempla a biofilia, além de promover a melhoria do meio ambiente onde ele está inserido, aumenta a produtividade e um amplo espectro de benefícios físicos, mentais e comportamentais, diminuindo o stress e ansiedade, trazendo facilidade na resolução de problemas. Ou seja, maior índice de satisfação e motivação (BONI, 2018). Nesse ínterim, vale ressaltar que a biofilia promove maior atenção e concentração, os ambientes que trabalham com vendas, por exemplo, teriam uma melhora significativa nos números. Quando se fala na aproximação e amor à natureza atrelados à biofilia, o primeiro pensamento é incluir a vegetação nos projetos. No entanto existem outros fatores a serem aplicados, como a iluminação natural. Há evidências crescentes de que somos mais saudáveis quando nossos ritmos circadianos são equilibrados, e ter acesso à boa luz do sol ajuda muito com isso. Intuitivamente, mapeamos a hora do dia observando as sombras e a luz do sol. “Quando estamos em ambientes iluminados artificialmente, não percebemos a mudança de horário, por isso nosso cérebro não recebe a informação que está anoitecendo e deixa de produzir melatonina, o hormônio que nos faz relaxar” (RANGEL, 2018). Segundo Kellert e Calabrese (2015), é possível dividir a experiência com a natureza em três tipos: direta, indireta e de lugar. Contudo, o design biofílico deve ser incorporado em todas as escalas da construção, desde o planejamento da edificação, da ambientação interna, inclusive atingindo a paisagem do entorno, o espaço urbano. No quesito composição e personificação do ambiente, de maneira similar, Boni (2018) destaca no estilo biofílico o uso de materiais naturais, como madeira e pedra, formas orgânicas no mobiliário e acabamentos, além da presença de água e vegetação. Considerações finais A ideia de trabalhar em um grande escritório de advocacia, em edifício localizado na região central da cidade, andar alto, avenida com trânsito intenso, mas se sentir confortável, seguro, com boa qualidade do ar, sons da natureza e iluminação natural, congrega conceitos do design biofílico, proporcionando vantagens psicológicas, físicas e emocionais. Isto é, a intervenção da natureza em prol do melhor desempenho do homem. O design biofílico cria espaços inspiradores, a partir da experiência do homem com a natureza e os elementos que a compõem, para trazer conforto e bem-estar no dia a dia, diminuindo os níveis de estresse e ansiedade, situação relevante e preocupante em que vive a população contemporânea. Dessa forma, a biofilia incorpora as dimensões da natureza, favorecendo a saúde e produtividade, além da conexão social e ambiental. Aplicando as estratégias do design biofílico, a estética é apenas um dos fatores que somam ao design de interiores, concluindo que é um fundamento fortemente ligado à sustentabilidade. Referências ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. São Paulo: SENAC, 4.ed. 2010. ARRUDA, Amilton. Como a Biônica e Biomimética se relacionam com as estruturas naturais na busca de um novo modelo de pesquisa projetual. Universidade Federal de Pernambuco - Brasil Grupo de Pesquisa em Biodesign e Artefatos Industriais, 2015. AZEVEDO, Wilton. O que é Design. São Paulo: Brasiliense, 1988. BONI, Filipe. Interiores Sustentáveis: um guia prático para arquitetos e designers. Disponível em: https://www.ugreen.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Interiores-Sustenta%CC%81veis-www.ugreen.com_.br-Ed.00.pdf. Acesso em 10 dez. 2020. BÜRDEK, Benhard E. Design - história, teoria e prática do Design de Produtos. Tradução de Freddy Van Camp. São Paulo: Blucher, 2010. GURGEL, Miriam. Projetando espaços: guia de arquitetura de interiores para áreas residenciais. São Paulo: Senac, 2013. KELLERT, Stephen R.; CALABRESE, Elizabeth F. Nature by Design: The Practice of Biophilic Design. 2015. Disponível em: http://66.39.33.215/guides/biodguide.pdf. Acesso: 14 de Setembro 2020 LADISLAU, Amanda de Lourdes. Biofilia e sustentabilidade: Relação arquitetura-homem-natureza. Disponível em: http://pensaracademico.facig.edu.br/index.php/repositoriotcc/article/view/1670/1290. Acesso em: 15 set. 2020. LÖBACH, Bernd. Design industrial. São Paulo: Edgard Blucher, 2001. PLATCHECK, Elizabeth Regina. Design industrial: metodologia de ecodesign para o desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: Atlas, 2012. RANGEL, Juliana. Biofilia: O que é e como aplicar na arquitetura. Disponível em: https://sustentarqui.com.br/biofilia-na-arquitetura. Acesso em: 20 maio 2021. TAGLIARI, Ana; GALLO, Haroldo. O movimento inglês Arts and Crafts. In: Anais III ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE - IFCH/ Unicamp, 2007. Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/eha/atas/2007/TAGLIARI,%20Ana%20e%20GALLO,%20Haroldo.pdf. Acesso em: 10 abr. 2019. ULRICH, Roger. View through a window may influence recovery from surgery. American Association for the Advancement of Science, [s. l.], 27 abr. 1984. Disponível em: https://science.sciencemag.org/content/224/4647/420. Acesso em: 10 maio 2021.
Título do Evento
2º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2021
Título dos Anais do Evento
Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PORTO, Ana Carla Fiirst dos Santos; PORTO, Ana Carla. BIOFILIA: FUNDAMENTO PARA NOVOS PROJETOS.. In: Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande(MS) Unigran Capital, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2021/360981-BIOFILIA--FUNDAMENTO-PARA-NOVOS-PROJETOS. Acesso em: 29/04/2025

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