BIOFILIA APLICADA AOS AMBIENTES CORPORATIVOS

Publicado em 04/08/2021 - ISBN: 978-65-5941-292-1

Título do Trabalho
BIOFILIA APLICADA AOS AMBIENTES CORPORATIVOS
Autores
  • Ana Carla Fiirst dos Santos Porto
  • Ana Carla Porto
  • Jucymaire Da Silva Castilho Uema
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Design de Interiores
Data de Publicação
04/08/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/360987-biofilia-aplicada-aos-ambientes-corporativos
ISBN
978-65-5941-292-1
Palavras-Chave
design biofílico; percepção; conforto; bem-estar
Resumo
Introdução Considerando a evolução na forma de viver, o homem contemporâneo tem se afastado cada vez mais da natureza, habitando e trabalhando em construções frias e sólidas, sem qualquer vínculo afetivo ou emocional, afetando sua qualidade de vida. A palavra “biofilia” é carregada de significados, sintetiza a ideia do amor à vida, voltando a atenção do ser humano a tudo que é vivo, com as formas, texturas, cores, sons e cheiros que se assemelham à natureza. O intuito é reconectar-se com a natureza, a fim de recuperar o elo perdido, sendo o design biofílico uma ferramenta que carrega os elementos capazes de trazer essa percepção ao ambiente construído. Objetivo O presente artigo visa destacar a relação entre os meios interno e externo, a fim de proporcionar maiores sensações positivas ao homem, fazendo referência ao ambiente de trabalho. Metodologia Quanto à metodologia da pesquisa, utilizou-se a técnica de investigação qualitativa e exploratória, partindo de revisão bibliográfica, com fundamentação teórica, partindo de estratégias que possam ser aplicadas no design biofílico. Resultados Cada vez mais o homem ocupa espaços urbanos, dados do crescimento da população vivendo em áreas urbanas tem se mostrado de forma acelerada, Browning e Cooper (2015) citam o Brasil com aumento populacional de 51% em 60 anos, desde 1950. Esse aumento vem descaracterizando o cenário natural, dando espaço à massa construída. De acordo com a ONU (2019), atualmente 55% da população mundial vive em áreas urbanas e a expectativa é de que esta proporção aumente para 70% até 2050. A tarefa essencial da arquitetura é acomodar e integrar, propondo vivência com o mundo, ao passo que aumenta a sensação de realidade e identidade pessoal dos usuários. Nesse viés, a percepção do corpo e a imagem do mundo, se tornam uma experiência contínua de trocas, formando um vínculo entre espaço e corpo humano. Ou seja, os elementos arquitetônicos e decorativos interagem com o cérebro, responsável por vincular emoções e ações (PALLASMAA, 2011). Segundo De Botton (2007), os ambientes feitos pelo homem, dando uma impressão de regularidade e previsibilidade, são bem aceitos, pois há confiança e descanso para as mentes. A sensação é um fenômeno psíquico, resultante das ações de estímulos externos, afetando os órgãos dos sentidos; a percepção é definida como a função psíquica que permite o organismo receber e elaborar as informações de seu entorno, através dos sentidos (LIMA, 2010). A percepção visual está associada às diversas sensações em um espaço. Conforme analisa Lima (2010), receber e elaborar as informações vindas do ambiente ao seu redor, por meio dos sentidos, que funcionam juntos, resultam nessa percepção. Enquanto o mundo à nossa volta produz constantes mudanças, os estímulos sensoriais estão em fluxo, e enquanto recebemos informações, nossa percepção inconsciente assimila todas e armazena na memória experimental, deixando para a percepção consciente as informações mais importantes. A sensibilidade à arquitetura tem aspectos profundos e problemáticos, visto que o espaço pode alterar os sentimentos do indivíduo. “Se a nossa felicidade pode depender da cor das paredes ou do formato de uma porta, o que acontecerá conosco na maioria dos lugares que somos forçados a olhar e habitar?” (DE BOTTON, 2007, p. 13). Cada espaço construído é moldado de acordo com as necessidades da empresa, na maioria das vezes, levando em conta somente a funcionalidade da tarefa exercida. Pessoas dividindo ambientes de estruturas artificiais, sem conexão com a ecologia e biodiversidade local, sem iluminação natural e que não permitem a renovação do ar, são situações comuns no cotidiano. Vale ressaltar que as sensações produzidas por um ambiente, desencadeiam percepções diferentes em cada indivíduo, pois estão associadas à memória e experiências. O termo Biofilia surgiu da junção dos significados bio (vida) e philia (amor), de origem grega, ou seja, o amor à vida, à tudo que é vivo. Aproximando o ser humano ao conceito de valorização da natureza e de toda importância que a cerca. Difundido pelo pioneiro no assunto, o biólogo Edward Wilson (1984), a Biofilia é a predisposição inata de focalizar a vida e aos processos semelhantes, sendo que desde a infância o homem foca sua atenção a si mesmo e a outros organismos, aprendendo a distinguir a vida das coisas inanimadas. Kellert (2012) ressalta que o bem-estar, a saúde física e mental e a produtividade dependem da conexão com a natureza, mesmo em um mundo construído. Santos (2016) sustenta que a vida humana com saúde só é viável através do trabalho prestado pela Terra, que produz oxigênio e alimento ao ser humano, limpa a água e recebe luz solar. De fato, os problemas psicológicos, aumento do estresse, déficit de atenção e hiperatividade são desencadeados devido à falta de conexão com a natureza. De acordo com Andrade e Pinto (2017), nos ambientes urbanos é crescente o número de casos de estresse, doenças cardiovasculares e danos ao sistema imunológico, casos estes provocados por estressores nos ambientes antrópicos. Por meio de uma pesquisa de satisfação com os usuários, Detanico et al. (2019) identificou as emoções positivas dos alunos de um novo ambiente construído em um campus de Porto Alegre, associadas aos atributos do design biofílico. Nesse contexto, as áreas abertas, luz natural, vegetação, dentre outros artifícios utilizados, provocaram sentimentos como relaxamento, estímulo, encantamento, inspiração e alegria, proporcionando bem-estar. Esse conjunto de sensações positivas que os elementos naturais propiciam ao ser humano, também podem ser vistas em um estudo realizado no Reino Unido, em que, comparando dois grupos de funcionários expostos a diferentes tipos de contato com a natureza, puderam observar um aumento de 15% na produtividade, ao longo de um período de três meses, para aqueles que trabalhavam em escritórios com vegetação natural, em contrapartida aos que trabalhavam sem contato com o verde ou outros elementos naturais (BROWNING e COOPER, 2015). Evidenciando esse raciocínio, os mesmos autores apresentaram uma pesquisa envolvendo 7600 funcionários, os quais relataram seus sentimentos ao entrar em ambientes de trabalho com e sem espaços verdes. Tal estudo concluiu que os trabalhadores em ambientes com vegetação, sentiram-se mais felizes e inspirados, enquanto que os outros relataram ser mais ansiosos e às vezes entediados, enfatizando, assim, a importância de se criar ambientes caracterizados pela natureza, sempre que possível. Discussão Compreendendo toda essa importância do processo natural para o bem-estar humano, retomando o elo perdido entre homem e natureza, verifica-se a necessidade da inserção de características biofílicas que agreguem ao projeto de interiores. As estratégias que podem ser adotadas desde o conceito inicial proposto em determinado ambiente, mesclando elementos naturais ao ambiente edificado, congregam o Design Biofílico. Seguindo a análise desses autores, dando ênfase nos ambientes corporativos, em que é necessária a socialização, colaboração, produção e melhor aproveitamento do tempo, infere-se que agregar a biofilia aos ambientes internos, sanando as deficiências da construção contemporânea, é um caminho precursor. O design emocional importa nos projetos de arquitetura e design de interiores, sendo que as sensações desencadeadas em um ambiente, podem amenizar possíveis transtornos ocupacionais, físicos ou psicológicos. Assim, a aplicação dos conceitos biofílicos nos ambientes corporativos visa o estímulo à criatividade, conforto e bem-estar, contribuindo no conjunto do conforto ambiental, ergonomia e composição de linhas, cores e materiais. Segundo Kellert (2008), “o design biofílico é a tentativa deliberada de traduzir a compreensão da afinidade humana inerente para se afiliar aos sistemas e processos naturais, conhecidos como biofilia, no design do ambiente construído.” De acordo com Kellert e Calabrese (2017), dentre os princípios que regem o design biofílico, fundamentais para sua prática, requer um envolvimento repetido e contínuo com a natureza, concentrando-se em adaptações humanas ao mundo natural que, ao longo da evolução, tem promovido a saúde e bem-estar das pessoas. É relevante o estímulo ao apego emocional com ambientes e lugares específicos, promovendo interações positivas entre as pessoas e a natureza, que estimulam um senso de responsabilidade com as comunidades humanas e naturais. Incentivando a promoção de soluções arquitetônicas de reforço mútuo, interconectadas e integradas, Kellert e Calabrese (2017), apresentam estratégias de experiência e atributos para aplicação do design biofílico, categorizando em três grupos: a experiência direta com a natureza, experiência indireta e a experiência espacial. A experiência direta com a natureza refere-se ao contato real com o meio natural no ambiente construído, através da luz natural, ar puro, ventilação, plantas, animais, presença da água, percepção do clima, fogo, materiais naturais. O contato com a representação da natureza ou sua transformação, incluindo imagens, materiais naturais, cores naturais, simulação da luz e ar natural, formas naturais, ou processos ambientais que foram importantes na evolução humana, como envelhecimento e a passagem do tempo, a riqueza da informação, geometrias naturais e aplicação da biomimética, são estratégias explanadas por Kellert e Calabrese (2017), ou seja, a experiência indireta. As imagens da natureza podem ser aplicadas através de quadros, papel de parede, fotografias, esculturas. A ambientação feita com materiais naturais, como a utilização da madeira nos móveis, piso e teto; acabamentos e revestimentos em pedras, sofás e almofadas em couro, lã, algodão, provocam respostas táteis e visuais positivas ,permitindo também a utilização de materiais que envelhecem, denotando a passagem do tempo. Utilização das cores com tons da terra, azuis, verdes e amarelos, remetem ao solo, céu, rios, oceanos, plantas e ao sol, respectivamente. E, finalmente, a experiência espacial, apresentada por Kellert e Calabrese (2017), que refere-se ao contato com características espaciais do ambiente natural que promovem saúde e bem-estar humanos, sendo perspectiva e refúgio, complexidade organizada, integração das partes com o todo, espaço de transição, mobilidade e circulação, conexão cultural e ecológica local. De acordo com Sá (2018), o Design Biofílico se baseia em criar espaços inspiradores para a restauração do corpo e da mente, que estejam integrados às especificidades e ecossistemas urbanos e naturais do local de sua construção. Considerações Finais A aplicação das estratégias projetuais busca a melhora da produtividade e as experiências multissenssoriais impulsionam o amor ao espaço. A escolha das ferramentas utilizadas em cada ambiente dependerá de diversos fatores do projeto, seu tamanho e restrições, logística, interior e paisagismo, orçamento, condições culturais e ecológicas, dentre outros necessários ao seu planejamento. Referências ANDRADE, Rafael Medeiros de; PINTO, Rogério Lafayette. Estímulos naturais e a saúde humana: a hipótese da biofilia em debate. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/34272/24292. Acesso em: 12 maio 2021. BROWNING, B.; COOPER, S. C. 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Título do Evento
2º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2021
Título dos Anais do Evento
Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PORTO, Ana Carla Fiirst dos Santos; PORTO, Ana Carla; UEMA, Jucymaire Da Silva Castilho. BIOFILIA APLICADA AOS AMBIENTES CORPORATIVOS.. In: Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande(MS) Unigran Capital, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2021/360987-BIOFILIA-APLICADA-AOS-AMBIENTES-CORPORATIVOS. Acesso em: 29/04/2025

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