CONTROLE E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA PERSPECTIVA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL

Publicado em 04/08/2021 - ISBN: 978-65-5941-292-1

Título do Trabalho
CONTROLE E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA PERSPECTIVA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL
Autores
  • Tainá Da Silva Pereira
  • Fernanda Pita
  • Maria Eduarda Da Silva Simões Caprara
  • Luana De Souza Rodrigues
  • Marina Castana Fenner
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
04/08/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/362640-controle-e-violencia-contra-a-mulher--uma-perspectiva-analitico-comportamental
ISBN
978-65-5941-292-1
Palavras-Chave
Análise do Comportamento, Mulher, Violência, Controle.
Resumo
Introdução: a Violência contra a mulher se caracteriza por diversos tipos de violência em que há a presença de controle coercitivo ou de comportamentos controladores. Assim sendo, controle coercitivo é exemplificado pela intenção de controlar a vítima por meio de uma variedade de mecanismos como o abuso econômico, abuso emocional, uso de crianças, ameaças e intimidação, monitoramento constante, culpabilização da vítima, invocação de privilégio masculino e ameaças de envolvimento de trabalho ou família do parceiro (JOHNSON, 2011). Dessa forma, cabe ressaltar que a seleção de comportamentos de violência contra mulher é cultural, pois as desigualdades de gênero estão na base do relacionamento abusivo e que gênero refere-se a comportamentos socialmente aprendidos (DIAS e MACHADO, 2008). Ademais, apresenta-se como justificativa a escassez de materiais analítico-comportamentais relacionados aos temas de gênero, especialmente em língua portuguesa. Objetivos: entender as contingências existentes em um relacionamento abusivo e compreender as variáveis que tornam difícil sair de relacionamentos aversivos. Método: o presente trabalho foi realizado por meio de uma revisão integrativa da literatura a respeito da violência contra a mulher à luz da Análise do Comportamento. A pesquisa buscou artigos no banco de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO), a partir do termo "violência conjugal”, selecionando artigos brasileiros, na área da Psicologia, publicados no período de 2020 a 2021. A partir da busca foram encontrados 6 artigos e, após a leitura dos resumos, foram selecionados dois artigos e, para dar base teórica, foi utilizado um livro. Além disso, as autoras se utilizam de outros materiais relevantes para a construção do trabalho. Resultados: segundo o IBGE em 2018, 4.519 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa uma taxa de 4,3 homicídios para cada 100 mil habitantes do sexo feminino. Porém, os dados referem-se a um período anterior à pandemia de Covid-19, situação que trouxe a recomendação de isolamento social trazendo como consequência a maior convivência das mulheres com seus agressores, o que resultou em uma diminuição no número de denúncias. Assim a violência contra a mulher se caracteriza intenção do cônjuge de intimidar a mulher com objetivo de controlar seu comportamento através do medo (SINCLAIR, 2010, p.73). Segundo Costa (2019), são características descritas pelas vítimas como preditoras de violência doméstica: características de personalidade (como comportamento controlador), problemas psiquiátricos, sofrimento na infância, consumo de álcool, ciúmes e desavenças em relação ao sexo. Nessa perspectiva, Morais e Freitas (2019) citam como estratégias de controle sobre suas parceiras o uso da violência física e psicológica, mas após o estabelecimento da contingência aversiva, basta um lembrete (estímulo pré-aversivo) para que ele exerça controle sobre a parceira. Assim, mostra-se como uma ferramenta desse controle o enaltecimento do sacrifício da mulher em nome do cuidado aos filhos e da família e a responsabilização da mulher pelo cuidado e zelo pelo bem-estar de todos, de modo que, se ela está sendo vítima de violência doméstica, é por razão de suas falhas no lar (COSTA, 2019). Assim, a compreensão da manutenção dos padrões tradicionais de gênero, ao se preservar uma estrutura familiar patriarcal, se mostra relevante para o entendimento dos conflitos domésticos e das agressões dos maridos às suas esposas (CORTEZ e SOUZA, 2008). Neste seguimento, Ruiz (1998) demonstra que muitas fontes de controle são imperceptíveis, pois, são socialmente tidas como “inatas” ou “naturais”. Essas contingências são estabelecidas de modo a garantir a manutenção de padrões de comportamento que reforçam a supremacia masculina (NICOLADI e ARANTES, 2019). Curia et al. (2020) demonstram que a dificuldade de sair de relacionamentos abusivos está muitas vezes correlacionada à valorização da família e dos papéis familiares, dependência do companheiro, sentimento de culpa, ameaças, impotência, esperança da mudança e ausência de rede de apoio. Ressalta-se que a rede de apoio foi assinalada pelas autoras como um fator protetivo, assim como o suporte emocional. A rede de apoio composta, em especial, por mulheres favorece o empoderamento que, na perspectiva da Análise do Comportamento, é visto como o processo por meio do qual as mulheres adquirem novos repertórios comportamentais, que de outro modo não seriam reforçados (COUTO, 2019). Assim, a rede de apoio reforça comportamentos que auxiliam a mulher a sair da relação abusiva. Discussão: o nível de seleção cultural reforça diferentes comportamentos para meninos e meninas, o que faz com que estes aprendam diferentes repertórios comportamentais no decorrer da vida. A cultura reforça comportamentos mais vulneráveis em mulheres e mais dominantes em homens, o que contribui para a assimetria dos papéis sociais que, como supracitado, está na base dos relacionamentos abusivos. Dessa forma, a violência aparece como uma forma de controle, por meio da qual são instaladas contingências de punição e reforçamento negativo, em que a vítima é manipulada a pensar que é a causadora dos comportamentos violentos do parceiro. Costa (2019) expõe o fato da vítima não ter controle sobre as agressões e de o discurso culpabilizador do parceiro (que é uma reprodução de julgamentos sociais) fazem com que a mulher se sinta culpada pela violência sofrida. Ademais, a respeito da naturalização desse controle, Lieu (2013) discorre sobre a possibilidade de o algoz exercê-lo sobre indivíduos que não o percebem, o que minimiza a probabilidade de as vítimas se engajarem em comportamentos de contracontrole e diminui a necessidade do controlador utilizar-se de métodos aversivos, passando a utilizar esquemas de reforçamento. Nessa perspectiva, Bonha (2020) aponta em sua pesquisa que o comportamento controlador gera muitas vezes sentimentos de tristeza, irritação e raiva nas vítimas, o que indica que estes comportamentos colaboram para impactos negativos na saúde das mesmas (RIO e VALLE, 2017). Sendo assim, a respeito da dificuldade em sair de relacionamentos abusivos, cabe destacar que a alternância entre momentos considerados bons e momentos de violência configura-se em um esquema de reforçamento intermitente (COSTA, 2019) o que gera resistência à extinção desses comportamentos, fazendo com que a vítima permaneça nesse relacionamento aversivo. Historicamente, diversas demonstrações de violência contra a mulher foram legitimadas, em especial as que ocorriam em ambiente doméstico, pois o estado não intervinha em conflitos vistos como familiares e restritos a soluções domésticas (ANGELIM e DINIZ, 2009), o que contribui para que essa violência permaneça muitas vezes sem denúncia. No Brasil, buscando prevenir e coibir as diversas formas de violência contra a mulher, foi decretada em 2006 a Lei nº 11.340 (2006) conhecida popularmente como Lei Maria da Penha, que oferece à vítima uma rede de assistência e de proteção. Nessa mesma perspectiva, é importante ressaltar que apenas a criação de leis não é suficiente para diminuir e extinguir os casos de violência, pois, como consequência das contingências de dominação masculina, as mulheres são silenciadas e até mesmo responsabilizadas por esses crimes, havendo um baixo percentual de casos que acabam sendo denunciados (JONG; SADALA; TANAKA, 2008) e, mesmo quando é realizada a denúncia, isso gera uma exposição para a mulher, que se lembra desses momentos de maneira repetitiva (estímulos aversivos ligados à violência sofrida) e muitas vezes os casos não são julgados da maneira devida, mostrando assim falta de preparo, inexistência e/ou a inoperância de serviços de apoio à mulher vítima de violência, inclusive em Delegacias da Mulher (PASINATO, 2015). Considerações Finais: por fim, observa-se a importância de uma rede de apoio para que as vítimas possam aprender novos repertórios comportamentais e observar que se encontram em um relacionamento abusivo, aprendendo formas de denunciar agressões e obtendo amparo, além de ampliar seu repertório comportamental para evitar que entrem em outros relacionamentos abusivos. A facilitação do acesso a serviços de psicologia para aqueles com menos condições socioeconômicas é importante visto que os valores de atendimento psicoterápico são inviáveis para grande parte da população, situação que pode ser amenizada com o atendimento por tabela social e pelo aumento no número de psicólogos atuando no Sistema Único de Saúde (SUS), atrelado ao desenvolvimento de políticas públicas que encarem a violência doméstica como um problema de saúde pública além de práticas educacionais apoiadas no planejamento de uma cultura baseada em igualdade de gênero. É importante que existam mais estudos sobre as problemáticas relacionadas à mulher à luz da teoria analítico-comportamental, que entende que os problemas do mundo só poderão ser resolvidos com o aprimoramento da compreensão do comportamento humano. REFERÊNCIAS ANGELIM, Fábio Pereira; DINIZ, Glaucia Ribeiro Starling. O pessoal torna-se político: o papel do Estado no monitoramento da violência contra as mulheres. Rev. psicol. polít., São Paulo ,v.9, n.18, p.259-274,dez. 2009 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2009000200006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 maio 2021. BHONA, Fernanda Monteiro de Castro et al . Intimate Partner Violence: Controlling Behavior and Triggers of Aggression. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto , v. 30, e3032, 2020 . Disponivel em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2020000100204&lng=en&nrm=iso>. access on 08 May 2021. Epub Nov 06, 2020. https://doi.org/10.1590/1982-4327e3032. CORTEZ, Mirian Béccheri; SOUZA, Lídio de. Mulheres (in)subordinadas: o empoderamento feminino e suas repercussões nas ocorrências de violência conjugal. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 24, n. 2, p. 171-180, June 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722008000200006&lng=en&nrm=iso>. access on 20 May 2021. https://doi.org/10.1590/S0102-37722008000200006. COSTA, Analu Ianik. Contribuições do feminismo para a compreensão e intervenção em casos de relacionamento abusivo. In: PINHEIRO, Renata; MIZAEL, Tahcita (org.). Debates sobre feminismo e análise do comportamento. Fortaleza: Imagine Publicações, 2019. p. 244-263. COUTO, Aline Guimarães. O empoderamento das mulheres sob uma perspectiva analítico-comportamental. In: PINHEIRO, Renata; MIZAEL, Tahcita (org.). Debates sobre feminismo e análise do comportamento. Fortaleza: Imagine Publicações, 2019. p. 140-173. CURIA, Beatriz Gross et al. Produções Científicas Brasileiras em Psicologia sobre Violência contra Mulher por Parceiro Íntimo. Psicologia: Ciência e Profissão, [S.L.], v. 40, n. 1, p. 1-19, 2020. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003189184. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932020000100103&tlng=pt. Acesso em: 8 maio 2021. DIAS, Ana Rita Conde; MACHADO, Carla. Género e violência conjugal: Uma relação cultural. Análise psicológica, v. 26, n. 4, p. 571-586, 2008. JOHNSON, Michael P.. Gender and types of intimate partner violence: a response to an anti-feminist literature review. Aggression And Violent Behavior, [S.L.], v. 16, n. 4, p. 289-296, jul. 2011. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.avb.2011.04.006. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1359178911000589. Acesso em: 20 maio 2021 JONG, Lin Chau; SADALA, Maria Lúcia Araújo; TANAKA, Ana Cristina D' Andretta. Desistindo da denúncia ao agressor: relato de mulheres vítimas de violência doméstica. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 42, n. 4, p. 744-751, Dec. 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342008000400018&lng=en&nrm=iso>. access on 17 Mar. 2021. https://doi.org/10.1590/S0080-62342008000400018. LEI nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. planalto, 2021. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 20 Mai. 2021 LIEU, Nhi T. Rainhas da beleza se comportando mal: gênero, competição global e a formação de súditos vietnamitas neoliberais pós-refugiados. Frontiers: A Journal of Women Studies , v. 34, n. 1, pág. 25-57, 2013. MORAIS, Amanda Oliveira de; FREITAS, Júlia Castro de Carvalho. Métodos de investigação sobre cultura do estupro: o que a análise do comportamento tem a aprender com as contribuições das outras áreas do conhecimento. In: PINHEIRO, Renata; MIZAEL, Tahcita (org.). Debates sobre feminismo e análise do comportamento. Fortaleza: Imagine Publicações, 2019. p. 84-112. NICOLODI, Laís; ARANTES, Ana. Poder e patriarcado: contribuições para uma análise comportamental da desigualdade de gênero. In: PINHEIRO, Renata; MIZAEL, Tahcita (org.). Debates sobre feminismo e análise do comportamento. Fortaleza: Imagine Publicações, 2019. p. 64-83. PASINATO, Wânia. Acesso à justiça e violência doméstica e familiar contra as mulheres: as percepções dos operadores jurídicos e os limites para a aplicação da Lei Maria da Penha. Rev. direito GV. São Paulo , v. 11, n. 2, p. 407-428, Dec. 2015 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322015000200407&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 Mar. 2021. https://doi.org/10.1590/1808-2432201518. RIO, Ines Domenech del; VALLE, Elena Sirvent Garcia del. The Consequences of Intimate Partner Violence on Health: a further disaggregation of psychological violence?evidence from spain. Violence Against Women, [S.L.], v. 23, n. 14, p. 1771-1789, 11 out. 2016. SAGE Publications. http://dx.doi.org/10.1177/1077801216671220. RUIZ, Maria R. Inconspicuous sources of behavioral control: The case of gendered practices. The Behavior Analyst Today, v. 4, n. 1, p. 12, 2003. SINCLAIR, Débora; BONOMI, Miriam; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. Introdução à Violência contra a Mulher. Aspectos Psicológicos da Violência: pesquisa e intervenção cognitivo-comportamental. Santo André: ESETec, p. 69-83, 2010.
Título do Evento
2º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2021
Título dos Anais do Evento
Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PEREIRA, Tainá Da Silva et al.. CONTROLE E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA PERSPECTIVA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL.. In: Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande(MS) Unigran Capital, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2021/362640-CONTROLE-E-VIOLENCIA-CONTRA-A-MULHER--UMA-PERSPECTIVA-ANALITICO-COMPORTAMENTAL. Acesso em: 28/04/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes