ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: UMA BREVE ANÁLISE SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA

Publicado em 04/08/2021 - ISBN: 978-65-5941-292-1

Título do Trabalho
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: UMA BREVE ANÁLISE SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA
Autores
  • Ana Paula Nóbrega de Oliveira
  • Jeferson Renato Montreozol
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
04/08/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/364250-ensaio-sobre-a-cegueira--uma-breve-analise-sob-a-otica-psicanalitica
ISBN
978-65-5941-292-1
Palavras-Chave
Ensaio sobre a Cegueira; Psicanálise; Psicologia e literatura.
Resumo
Introdução: A obra Ensaio sobre a Cegueira, escrita pelo autor português José Saramago em 1995, narra a história da epidemia de uma cegueira branca repentina que inunda a realidade de um país fictício, criado pelo autor. A trama vai apresentar as relações de alguns personagens e como eles poderão lidar com esses novos desafios em um mundo caótico, onde a cegueira afetou a todos e há a perda do controle de uma sociedade inteira. No decorrer deste artigo fora analisado o comportamento dos personagens dentro das situações expostas nas cenas do livro, em que primeiro ocorre a cena do ladrão e o primeiro cego, logo nas primeiras páginas do livro, e segundo a cena da mulher do médico no armazém; foram identificadas e selecionadas as situações expressas no livro que possuem função relevante para a produção desta pesquisa, na qual o ladrão rouba o carro do primeiro cego, e a mulher do médico leva comida do armazém sem dividir aos demais cegos; por meio da psicanálise e suas ferramentas, fora analisado a relação destes comportamentos identificados no texto com os expoentes teóricos que a abordagem psicanalítica escolhida abarca. O presente artigo apresenta uma aproximação entre a literatura e a psicanálise, tendo em vista a crença na relevância que há quando se compõe um paralelismo entre esses dois campos de estudo primorosos como estes. Objetivos: Analisar o comportamento dos personagens presentes no livro Ensaio sobre a Cegueira, por meio da ótica da psicanálise. Metodologia: Utiliza como método a pesquisa bibliográfica, produzida por meio de uma revisão de literatura de materiais como livros, artigos de revistas e monografias. Para a produção deste artigo, fora escolhida a abordagem teórica psicanalítica, na qual se aplicou conceitos da teoria psicanalítica como ego, id e superego, bem como a angústia e os mecanismos de defesa. O texto fora disposto em três partes, contendo duas cenas diferentes do livro nas primeira e segunda parte, na qual fora apresentada primeiramente uma pequena sinopse detalhando a cena do livro que fora selecionada, descrevendo cenários, eventos ocorridos e comportamentos dos personagens, bem como traz também trechos da obra de Saramago, para melhor elucidação do leitor; e logo em seguida há a entrada da análise das respectivas cenas fundamentadas na abordagem teórica deste artigo, que é a psicanálise e a teoria do aparelho psíquico. Resultados: As partes do livro que foram selecionadas para a produção deste artigo são duas, elaboradas por uma seleção própria do autor do artigo, isto é, o livro de Saramago não se dispõe exatamente nesta ordem ou exclusivamente com estas cenas, mas sim foram selecionadas de modo particular para a composição do texto. A primeira parte consiste na cena dos personagens intitulados como ladrão e primeiro cego, na qual a cena se dá por meio da primeira manifestação de cegueira ocorrida repentinamente e sem motivos, durante a abertura de um semáforo que gera transtornos no trânsito. Desse modo, o primeiro cego necessita de auxílio para ser levado até sua casa, de modo que se encontra totalmente cego e não pode dirigir. O ladrão se mobiliza por um sentimento de solidariedade e se voluntaria para dirigir o carro do cego e levá-lo até sua casa. Mas, após deixar o primeiro cego em sua casa, o ladrão leva consigo as chaves do carro, roubando o carro do homem que acabara de ajudar. Já a segunda parte do artigo trata da cena da personagem intitulada mulher do médico, que se encontra em um armazém abastecido de alimentos, em um contexto em que todos os habitantes deste país estão em situação de vulnerabilidade e extrema fome, morando nas ruas, em meio à sujeira e miséria. Entretanto, mesmo havendo comida no armazém para alimentar os outros cegos, a mulher do médico leva a comida apenas para si e seu grupo, fechando o armazém e não informando os outros cegos a respeito dos alimentos ali presentes. Mais tarde ela busca se justificar alegando que, por haver uma escada no armazém, os cegos poderiam cair e machucar-se ao ir buscar a comida. Discussão: Para adentrar na discutição a respeito dos olhares da psicanálise, enquanto fundamentação teórica deste trabalho, Lima (2009) apresenta um discurso a respeito da teoria do aparelho psíquico elaborado por Freud, afirmando que o teórico buscava definir uma organização psíquica que se dispunha de sistemas ou instâncias psíquicas, possuindo funções específicas, imprescindivelmente relacionadas entre si, na qual a segunda tópica apresentada por ele, que será discorrida aqui, é intitulada Teoria Estrutural ou Dinâmica e é formada pelo id, ego e superego. Para Zimerman (2008), o id se caracteriza como sendo a instância psíquica que sede as pulsões inconscientes, de modo que a se constituir de forma impessoal e biológica, que é como as desconhecidas pulsões instintivas agem sobre o ego. Conforme relata Lima (2009) O id tem como papel abarcar um conjunto de conteúdos que se constituem de natureza pulsional e de ordem inconsciente, sendo desse modo considerado a reserva inconsciente dos desejos e impulsos do indivíduo. Para o autor, o id possui um mecanismo de interação com as funções do ego e superego, com os componentes da realidade exterior e também com as manifestações inconscientes e reprimidas. A respeito da primeira parte, pode-se considerar que o comportamento do ladrão em roubar o carro poderia ser configurado em seu funcionamento psíquico como a deliberação do ego em escolher seguir os instintos pulsionais do id e fazer aquilo que é seu desejo pessoal, não se importando com a situação vulnerável em que o cego se encontrava, tendo um comportamento que seria visto como moralmente incorreto para a sociedade. Desse modo, o personagem do ladrão ouve inteiramente as pulsões do id, é direcionado apenas pelo seu princípio de prazer e, rompendo com a ordem das convenções morais da sociedade, age de acordo tão somente com seus próprios interesses, mesmo com a tentativa do ego se impor-se e barrar seus fortes impulsos de prazer instintual. A respeito da segunda parte do artigo, Lima (2009) apresenta o conceito de superego, uma das três instâncias dinâmicas do aparelho psíquico e que se desenvolve a partir do ego, dentro de um período de tempo designado por Freud como período de latência, na qual se situa entre a infância e o início da adolescência. O superego age como um juiz sobre as pulsões do id, na qual em sua energia psíquica se sobressai principalmente a parte moral, supervalorizando as convenções e valores estabelecidos pela sociedade, isto é, o superego possui a função de reprimir os desejos pulsionais que compõem o id, usando para isso a pressão elaborada nas potencias do ego. Ao observar as condições da mulher do médico, o ego da mulher do médico sofre, após deliberar sobre não dividir os alimentos com os outros cegos, uma forte descarga psíquica das pressões do superego, denunciando seu comportamento egoísta e imoral, de modo que a partir desse momento o ego passa a sofrer uma angústia impulsionada pelo sentimento de culpa, buscando então mecanismos para lidar de melhor forma com essa nova dinâmica psíquica. Para tanto, após identificar tais mecanismos presentes na dinâmica do ego, no qual ele busca lidar as fortes demandas que o superego o traz, é sabido que ele retém, enquanto possuidor também de conteúdos inconscientes, mecanismos de defesa a fim de defrontar com tais sentimentos de angústia. Silva traz sua conceituação de mecanismo de defesa como processos que agem de forma inconsciente no psiquismo humano como modo de auxiliar o mesmo na resolução de problemas, ansiedades e angústias presentes em sua realidade (SILVA, 2010). Desse modo, a personagem busca a fuga da angústia que se encontra latente em seu psiquismo, por ter tomado uma decisão que beneficiaria apenas a ela própria e não aos demais que se encontravam naquele local, famintos e fragilizados, não escolhendo aquilo que o superego alegava ser a iniciativa correta, de maneira que seu ego recorre a um mecanismo de defesa elementar, fazendo uso então da racionalização, justificando seu ato por meio de argumentos voláteis, a fim de alcançar a autoconservação de sua instância psíquica. Sobre a terceira parte do artigo, Lima (2009) afirma que o ego se desenvolve a partir da diferenciação das capacidades psíquicas em contato com a realidade exterior. Para o autor, essa instância psíquica é regida pelo princípio da realidade, isto é, o sistema responsável pelo ajustamento ao ambiente em que o indivíduo está inserido, de forma que busca pela resolução de conflitos presentes entre o organismo e a realidade. O ego, ao agir segundo o princípio de realidade do sujeito, se comporta conforme as situações externas em seu ambiente se apresentam. Assim sendo, pode-se ponderar que o personagem do ladrão, retratado na primeira parte deste artigo, roubou o carro pois as condições do ambiente lhe permitiam isso, isto é, o cego se encontrava em situação vulnerável e não poderia saber o rosto de quem o roubou ou como encontrá-lo. Zimerman (2008) apresenta em sua obra duas categorias de ego: o ego-função, com características mais voltadas ao consciente e suas funções; e o ego-representação, que se estabelece nas raízes inconscientes e seus símbolos. Desse modo, é possível vislumbrar novamente, a partir daquilo que fora retratado na segunda parte deste artigo, na cena do livro em que a mulher do médico passa a se sentir culpada por não ter distribuído os alimentos que havia encontrado com os outros cegos, que o seu ego é atingido por fortes pressões de seu superego, devido à escolha que teve. Para tanto, a forma que seu ego busca defender de tais angústias que o seu superego lhe fere, é através de seu mecanismo de defesa, sendo neste caso a racionalização. A função ego-representação é a parte responsável por lidar com a formação desta angústia, bem como seus respectivos mecanismos de defesa para se proteger da mesma. Conclusão: O que se buscou no presente artigo fora analisar os comportamentos dos personagens da obra de José Saramago usando como base teórica a abordagem psicanalítica. Na primeira parte do artigo, pode-se identificar a dinâmica psíquica do ladrão ao roubar o carro do primeiro cego, na qual seu ego deliberou de modo a satisfazer os desejos pulsionais do id, não importando-se com possíveis consequências ou com a ausência de moralidade ao praticar tal ato; seu ego não suportou a energia pulsional do id e agiu conforme sua vontade instintual, considerando que seu princípio de realidade julgou como possível tal comportamento, segundo as condições do ambiente em que se encontrava. Já a mulher do médico, ao não dividir a comida do armazém com os outros cegos, dando ouvidos apenas a seus interesses próprios, fomenta o desejo pulsional do id e, diferente do que nos é apresentado na primeira cena, do ladrão, o ego da personagem é atingido por um maciço sentimento de angústia, gerado pelas pressões severas de seu superego, e por conseguinte, para se proteger e autoconservar, recorre ao mecanismo de defesa da racionalização, justificando-se por atos que seriam injustificáveis. Por fim, como fora apontado anteriormente neste trabalho, o ego, uma das três instâncias elementares do aparelho psíquico conforme estipula Freud, possui um papel regulador e julgador na dinâmica psíquica, carregando a função de deliberar entre a energia pulsional do id e as pressões morais do superego, ambos sendo também instâncias do aparelho psíquico, cada qual com suas aspirações e funcionalidades distintas, mas que interagem entre si. Referências: LIMA, Andréa Pereira de. O modelo estrutural de Freud e o cérebro: uma proposta de integração entre a psicanálise e a neurofisiologia. Revista Psiquiatria Clínica. Minas Gerais, ed. 2010. 22 out. 2009. SILVA. E. B. T. Mecanismos de defesa do ego. Trabalho apresentado a FUNEDI, Universidade do Estado de Minas Gerais. Minas Gerais, 2010. ZIMERMAN, D. E. Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise. 1° ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Título do Evento
2º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2021
Título dos Anais do Evento
Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Ana Paula Nóbrega de; MONTREOZOL, Jeferson Renato. ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: UMA BREVE ANÁLISE SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA.. In: Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande(MS) Unigran Capital, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2021/364250-ENSAIO-SOBRE-A-CEGUEIRA--UMA-BREVE-ANALISE-SOB-A-OTICA-PSICANALITICA. Acesso em: 26/04/2025

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