UMA ANÁLISE PSICOLÓGICA DO FILME PSICOSE DE HITCHCOCK

Publicado em 04/08/2021 - ISBN: 978-65-5941-292-1

Título do Trabalho
UMA ANÁLISE PSICOLÓGICA DO FILME PSICOSE DE HITCHCOCK
Autores
  • DIEGO RECENA AYDOS
  • Sandra Gabrieli Pereira Lino
  • Elaine Cristina da Fonseca C. Pettengill
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
04/08/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/366027-uma-analise-psicologica-do-filme-psicose-de-hitchcock
ISBN
978-65-5941-292-1
Palavras-Chave
Análise Psicológica, Psicanálise, Psicopatologia Psicose, Transtorno de Personalidade
Resumo
RESUMO EXPANDIDO: INTRODUÇÃO: Para Freud (1929), o homem é um ser em conflito. Esse conflito se dá entre conciliar as satisfações de suas pulsões (que em psicanálise é diferente de instinto) e as frustrações dessas. Enquanto a solução do neurótico seria o recalque de parte dessas pulsões, a fim de um outro benefício, por exemplo viver em sociedade. O psicótico, ao invés de recalcar, faz uma rejeição mais radical. Essa rejeição, esse expulsar, torna a dificuldade do psicótico, uma dificuldade com o mundo externo, justamente com aquilo que ele não subjetivou. Já, em relação à psicopatia, a psicanálise clássica não traz o psicopata dentro de uma estrutura de funcionamento. As estruturas de funcionamento do sujeito, classicamente, são as três já mencionadas: neurose, psicose e perversão. O conceito de psicopatia e o de psicopata são termos advindos da psiquiatria que os trata como um transtorno de personalidade. Mesmo assim, ainda há muita confusão nas conceituações do que seja a psicopatia. As nomenclaturas atuais do DSM-V e do CID-10 não são exatas para os casos de psicopatia ou para designar o psicopata. O diagnóstico Personalidade Antissocial (PAS) é usado como sinônimo de Psicopatia. Entretanto, autores como Faulk (2000) e Hare e Neumann (2008) ressaltam que nem toda pessoa com diagnóstico de PAS preenche os critérios diagnósticos para um enquadramento como psicopata. O termo psicopatia não se enquadra na nomenclatura atual, seja no DSM-V, seja na CID-10, porém tem sido usado em larga escala para caracterizar a personalidade que apresenta uma importante tendência à prática criminal, marcado por um elevado índice de reincidência e acentuado quadro de indiferença afetiva (SERAFIM; BARROS; CASTELLAN; GORENSTEIN. 2014). O imaginário popular vê na figura do psicótico alguém essencialmente perigoso. Alguns teóricos já abordaram isso. Entre eles, temos Michel Foucault (2002) com uma obra canônica intitulada Os Anormais. O livro traça uma linha cronológica desde quando os loucos, na Grécia, eram vistos como detentores de uma verdade, portadores de oráculos e, de certa forma, gozavam de um prestígio. Até o momento quando passam a ser vistos como aqueles que deveriam ser segregados do convívio social, perigosos e escória da sociedade. A partir daí, são jogados em campos longe da cidade; posteriormente, trancafiados em manicômios. Desde então, um estigma é posto na pessoa dos loucos, dos psicóticos, o estigma de que eles são delinquentes, perigosos, potencialmente agressivos, violentos e criminosos. Os filmes, geralmente, também reforçam essa ideia popular sobre os psicóticos, reproduzindo em suas telas os estereótipos sintomatológicos. Daí a importância de estudos que se prontificam a analisar e discutir os fenômenos psicológicos presentes em obras literárias e filmes, de modo a contribuir com a sociedade esclarecendo equívocos teóricos bem como favorecendo aos estudantes e profissionais da Psicologia e Psiquiatria o aprendizado de conceitos fundamentais para o exercício profissional satisfatório. OBJETIVO: destacar e discutir os fenômenos psicopatológicos presentes no filme Psicose (1960) dirigido por Alfred Hitchcock. MÉTODO: Estudo de Caso a partir de obras clássicas da Psicanálise e artigos publicados nos últimos dez anos que contemplem os fenômenos psicológicos observados no filme em questão. RESULTADOS E DISCUSSÃO: analisou-se a história do personagem Norman Bates, do filme Psicose, cujas condutas, em alguns momentos assemelham-se com a de um perverso ou de um psicopata. Zimerman (2007, p.122) diz que em “relação à perversão, existem muitas modalidades de como elas se manifestam, como é o caso de um franco sadomasoquismo com flagelo físico, exibicionismo e voyeurismo”. O comportamento voyeurista de Norman pode ser constatado no fato de que no motel administrado pelo mesmo, através do quarto número 1, ele consegue espionar os hóspedes. Aos 44min40 do filme ele espia Marion despindo-se. Fica bem evidente no filme que Norman tem esse voyeurismo como uma forma de suplantar o sexo normal, até porque ele não tem relacionamentos sexuais. Além de todo o exposto, a análise das parafilias e transtornos presentes em seu comportamento traz pontuações relevantes do histórico vivido pelo mesmo durante as fases psicossexuais, ou, como atualmente se denomina, durante o seu desenvolvimento emocional infantil. Aos 5 anos de idade, Norman está na fase fálica que é caracterizada pela percepção da presença ou ausência do pênis. “Fase intimamente conectada com as fantasias inerentes à "angústia de castração", ou seja, a fase fálica pode ser entendida como sinônimo do período vigente do "complexo de Édipo" (ZIMERMAN, 2007, p. 90). Essa etapa é fundamental para a constituição do sujeito onde há resolução do complexo de Édipo e a angústia da castração. A ausência do pai, pode ser um fator pelo qual ele não experimenta a subjetivação da castração, característica fundamental da psicose. Essa etapa na estrutura neurótica é resolvida tendo o superego como uma herança do Édipo: sabemos que o medo da castração, surgido no final do complexo de Édipo, leva-o ao seu declínio, dá origem ao superego e inicia o período de latência. Logo, em lugar de ideal do ego deveria ser superego (LAENDER, 2005, p. 67). Além do voyerismo, há outras características que poderiam assemelhá-lo a um psicopata, por exemplo, a sua sociopatia, nomeada no atual DSM-V como Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA). Anteriormente, o termo sociopata já foi utilizado para descrever um psicopata, mas entrou em desuso, embora alguns ainda insistam nessa utilização. De acordo com o DSM-V o Transtorno de Personalidade Antissocial tem como características principais a dificuldade em se adaptar às condutas que são consideradas lícitas e éticas perante a sociedade, ou seja, os indivíduos com esse transtorno podem apresentar comportamentos de desonestidade, manipulação, irresponsabilidade entre outros comportamentos mal-adaptativos. Norman vive isolado, não tem amigos e manipula situações. No filme, quando Marion questiona sobre suas amizades, ele responde que o melhor amigo de um homem é sua mãe (PSICOSE, 1960, 37min16), no caso, a mãe morta. Seguindo o diapasão do DSM-V, há outro Transtorno Parafílico além do Voyeurista que Norman apresenta características, é o Transtorno Transvéstico. Essa parafilia, pode ter se originado na fase fálica, pois, nessa fase há a percepção da presença ou ausência do pênis. A falta de um Pai, em conluio com a simbiose materna, pode ter provocado uma confusão identificatória em Norman, prejudicando a resolução edipiana. Em uma das cenas finais do filme, especificamente (1h41min) Norman aparece nitidamente transvestido como sua mãe, ilustrando bem esse quadro clínico. Em outras cenas ele está transvestido de mulher (sua mãe), porém, o diretor Hitchcock não mostra claramente para privilegiar o suspense e o desvelamento final desse transtorno que é a causa dos crimes praticados. Em vários momentos percebe-se no filme delírios de ruptura com a realidade externa. Por exemplo, as conversas com sua suposta mãe que já está morta. Em uma dessas vezes, Norman chama Marion para jantar, e logo em seguida (32m20) discute com “sua mãe ciumenta”, pois ela não quer que isso aconteça. A mãe ciumenta denota o vínculo patológico que a mãe de Norman possivelmente estabelecia com ele na infância, o que é próprio de mães imaturas e dependentes emocionalmente (ERICKSON, 1976). As conversas delirantes que Norman tem com sua mãe (lembrando que no caso é a sua personalidade fragmentada) denotam um ciúme mútuo. O ciúme que a mãe de Norman Bates sentia em relação a ele, agora, é projetado por ele na personagem Marion. A projeção psicótica é concebida como “uma verdadeira rejeição que ocorre de imediato para o exterior” (LAPLANCHE E PONTALIS, 1986. p. 196). A projeção também pode ser entendida como um sofisticado mecanismo de defesa em que “os pedaços que foram dissociados, e que são sentidos como maus ou intoleráveis, são projetados para fora (por exemplo, os sentimentos de ódio que a criança ou adulto, não conseguem suportar) ” (ZIMERMAN, 2007, p. 147). A apresentação da lógica do crime praticado encaixa-se no Transtorno Dissociativo de Identidade, conforme o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais DSM-V. As características desse transtorno são as presenciadas no protagonista do filme: O transtorno dissociativo de identidade é caracterizado por a) presença de dois ou mais estados distintos de personalidade ou uma experiência de possessão e b) episódios recorrentes de amnésia (2014, p. 291). Os crimes de Norman são crimes do imaginário (MOTTA, 2017), que ele pratica nessa personalidade feminina materna delirante. Para ele, quem está matando a jovem é a mãe ciumenta. Norman dessa forma, por meio da fragmentação de sua personalidade, não tem sentimento de culpa superegóica como se percebe na cena final do filme em que a personalidade delirante materna assume seu predominante. Por que, então, mesmo apresentando sintomatologias que poderiam enquadrá-lo na perversão ou ser chamado de psicopata, Norman não é considerado assim? Justamente, quando se percebe o caráter delirante de seus crimes e de sua vida. É precisamente isso que o exclui da perversão e da psicopatia, uma vez que se entende que nessas há total consciência da dita realidade. Nesse ponto, há uma afinidade entre a psicanálise e o DSM-V, uma vez que em se tratando de psicose, muitas das contribuições psicanalíticas estão presentes no referido manual. Assim, o DSM-V traz a psicose caracterizada pelos quadros de alucinação e delírio. Por ser uma estrutura radicalmente constituinte do sujeito, precisamente no que tange ao aspecto da realidade exterior, esse diagnóstico se sobrepuja aos demais e serve como linha condutora no entendimento dos mesmos. Outro personagem no filme que mereceu destaque nesse trabalho é Marion Crane, que também poderia enquadrar-se no Transtorno de Personalidade Antissocial. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Definir claramente os conceitos sobre psicose e o psicótico, também sobre psicopatia e psicopata é vital para que as repercussões sociais e jurídicas possam ser adequadas. A psicanálise contribui nesse sentido, destacando que os psicóticos devem viver em sociedade sem ser confundidos com pessoas perigosas. Cada vez mais, psicólogos são chamados a dar pareceres jurídicos sobre esses assuntos. Segundo os conceitos aqui discorridos, entende-se que um psicótico pode ser considerado inimputável (isento de pena), recebendo a sentença de tratamento psiquiátrico, conforme os artigos 26 e 97 do Código Penal Brasileiro. Todavia, um psicopata não, haja vista a plena consciência dos seus atos. REFERÊNCIAS ERIKSON, E. Identidade, Juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1976. FARIAS, Thais Maira da Silva; NANTES, Elaine da Silva; AGUIAR, Sirlei Maria de. FASES PSICOSSEXUAIS FREUDIANAS. IV SIEES – Simpósio Internacional de Educação Sexual. 22 a 24 de abril de 2015, UEM. FREUD, S. O mal-estar na civilização (1929). Rio de Janeiro: Imago, 1976. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol.) FOUCAULT, M. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2002 LEADER, D. O que é Loucura? Delírio e sanidade na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 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Dirigido e produzido por Alfred Hitchcock, Estados Unidos: Paramount Pictures, 1960. 1 DVD. ZIMERMAN, David E. Psicanálise em perguntas e respostas: verdades, mitos e tabus. Dados eletrônicos. Porto Alegre: Artamed, 2007.
Título do Evento
2º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2021
Título dos Anais do Evento
Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

AYDOS, DIEGO RECENA; LINO, Sandra Gabrieli Pereira; PETTENGILL, Elaine Cristina da Fonseca C.. UMA ANÁLISE PSICOLÓGICA DO FILME PSICOSE DE HITCHCOCK.. In: Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande(MS) Unigran Capital, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2021/366027-UMA-ANALISE-PSICOLOGICA-DO-FILME-PSICOSE-DE-HITCHCOCK. Acesso em: 25/04/2025

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