”UMA DISCUSSÃO SOBRE O PRÓDROMO DA ESQUIZOFRENIA A PARTIR DA ANÁLISE DA OBRA "O FUNDO É APENAS O COMEÇO"

Publicado em 03/01/2023 - ISBN: 978-85-5722-522-0

Título do Trabalho
”UMA DISCUSSÃO SOBRE O PRÓDROMO DA ESQUIZOFRENIA A PARTIR DA ANÁLISE DA OBRA "O FUNDO É APENAS O COMEÇO"
Autores
  • Luana De Souza Rodrigues
  • Elaine Cristina da Fonseca C. Pettengill
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
03/01/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2022/502242-uma-discussao-sobre-o-prodromo-da-esquizofrenia-a-partir-da-analise-da-obra-o-fundo-e-apenas-o-comeco
ISBN
978-85-5722-522-0
Palavras-Chave
Esquizofrenia, pródromo da esquizofrenia, sofrimento psíquico, prejuízos, prevenção.
Resumo
INTRODUÇÃO: A psicose é uma alteração no estado mental caracterizada por um prejuízo na visão de realidade, onde os pensamentos e fantasias do paciente são percebidos como acontecimentos reais, independentemente da verificação objetiva (GOMES et al, 2018). A principal forma de psicose, por sua frequência e sua importância clínica, é certamente a esquizofrenia (TSUANG; STONE; FARAONE, 2000 apud DALGALARRONDO 2018). A definição exata da esquizofrenia, seus sintomas mais fundamentais e característicos, aquilo que lhe é mais peculiar e central, é tema de intensas discussões em psicopatologia (DANGALARRONDO, 2008). Segundo Vasconcellos (2014), a esquizofrenia é um distúrbio mental caracterizado pela perda do contato com a realidade e por comportamentos anormais, causando prejuízos funcionais e sociais. O esquizofrênico cria um mundo próprio, no qual acredita mais do que na própria realidade (PALMEIRA et al, 2013). De acordo com o DSM-5 (AMERICAN PSYCRIATRIC ASSOCIATION, 2013), para que o diagnóstico de esquizofrenia seja fechado, é necessário que o sujeito apresente delírios, alucinações, discurso desordenado, comportamento desorganizado ou catatônico e sintomas negativos. Cada um destes sintomas devem estar presentes por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês. A idade de pico do início do primeiro episódio psicótico é entre o início e a metade da faixa dos 20 anos para o sexo masculino e fim dos 20 anos para o feminino (AMERICAN PSYCRIATRIC ASSOCIATION, 2013). O período prodrômico é o período que antecede este primeiro surto psicótico da esquizofrenia e, consequentemente, a perda de contato da pessoa com a realidade. Segundo Young e Mcgorry (1996 apud LAMB et al, 2015), o pródromo da esquizofrenia é um conjunto heterogêneo de sintomas comportamentais, muitos dos quais podem ser agrupados como sintomas negativos, que precedem o episódio psicótico, além de sintomas ansiosos e depressivos, alterações do sono e desconfiança. Esse estudo justifica-se pela necessidade de compreender o que se passa na mente de uma pessoa prestes a entrar no primeiro surto da esquizofrenia, de forma a evitar o máximo possível a ocorrência do surto e os prejuízos que dele decorrem, tendo em vista que, com a sua proximidade, os pacientes entram cada vez mais em estado de alerta, dormem pouco, ficam mais tensos, irritadiços ou agressivos (PALMEIRA et al., 2013). OBJETIVO: discutir sobre o pródromo da esquizofrenia a partir da análise das vivências do personagem Caden Bosch da obra “O Fundo é Apenas o Começo” do autor Neal Shusterman. METODOLOGIA: trata-se de pesquisa bibliográfica a obras clássicas da Psicologia, utilizando-se nove no total, além de duas obras contemporâneas, sete artigos científicos, uma dissertação de mestrado, e uma monografia de especialização, pesquisados nas bases de dados da internet SciElo (Scientific Eletronic Library Online), com destaque ao portal PePSIC (Periódicos Eletrônicos de Psicologia), Google Acadêmico, DocPlayer, Open Journal Systems, Repositório Institucional da UFMG, Univag Periódicos e Revistas Braz Cubas. Critérios de inclusão: foram selecionados estudos científicos publicados nos últimos 10 anos que discutiam sobre a esquizofrenia e o período prodrômico desse transtorno. Foram descartados dois artigos, uma dissertação, um trabalho de conclusão de curso e duas obras da Psicologia com mais de 10 anos, por não atenderem aos critérios de inclusão descritos. RESULTADOS: O livro “O Fundo é Apenas o Começo” de Neal Shusterman, foi publicado no Brasil em maio de 2018 pela Editora Valentina. Conta a história de Caden Bosch, um garoto que tinha uma rotina comum a qualquer adolescente e que tinha certo condão para desenhar, mas que, após fazer quinze anos, passa a vivenciar delírios de que alguém está tentando matá-lo, além de alucinações que alteram completamente sua percepção de coisas que antes eram perfeitamente banais e simples para ele, e de sentir uma estranha necessidade de caminhar por horas e horas sem rumo algum. O livro, nas palavras do autor, “não é exatamente uma obra de ficção”. DISCUSSÃO: Os delírios e as alucinações, além das fantasias de Caden, são sintomas do primeiro surto psicótico da esquizofrenia, doença que não apenas o protagonista possui, mas também Brendan Shusterman, o filho de Neal Shusterman. De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 11 (1993), antes do surgimento de sintomas esquizofrênicos típicos, há às vezes um período de semanas ou meses – especialmente em pessoas jovens – durante o qual um pródromo de sintomas não especificados aparece. É difícil estabelecer um padrão sintomático do pródromo, pois a variabilidade de manifestações é infinita, cada sintoma correspondendo às características desse mundo próprio que os pacientes aos poucos constroem e que irrompem as “barreiras do eu” no momento do primeiro surto (PALMEIRA et al, 2009). Um dos primeiros sintomas apresentados por Caden é o medo constante de estar sendo perseguido e ameaçado por um de seus colegas de classe, ora oscilando na certeza de que está certeza exagerando, ora apavorado com a ameaça. Esta oscilação entre um contato com elementos da realidade objetiva e afastar-se dela, é característica do período prodrômico da esquizofrenia, no qual o sujeito apresenta ideias deliróides de natureza persecutória, para então muitas vezes evoluir para um delírio propriamente dito. Segundo Paim (1993), as ideias deliróides são definidas como equívocos passageiros, crenças equivocadas do que é realmente verossímil, podendo ser uma consequência de experiências emocionalmente impactantes, enquanto os delírios são crenças inabaláveis, duradouras, as quais o sujeito não se deixa convencer do contrário, além de ser incompreensível para as pessoas que conhecem e convivem com ele. Caden também apresenta alterações da senso-percepção, como ilusão e alucinação, ao acreditar estar vendo por toda parte olhos cruéis e malévolos. Segundo Paim (1993), uma ilusão se trata da percepção distorcida de um objeto presente. A ilusão, por si só, não é suficiente para que seja feito um diagnóstico de doença mental, tendo em vista que situações emocionais extremas podem alterar a forma como o indivíduo percebe o que é real. Este não é o caso de Caden, já que tal sintoma está atrelado às alucinações, que ainda de acordo com Isaías Paim (1993), trata-se de uma imagem extraordinária que assume a característica de “real” e exterior para o juízo da pessoa que a está tendo. A diferença principal entre uma ilusão e uma alucinação está no fato de que as alucinações são percepções de objetos ou estímulos que não existem, e as ilusões são percepções distorcidas de objetos que de fato existem. Nota-se ao longo da narrativa que Caden nutre uma preocupação a respeito da suposta periculosidade projetada sobre seu colega de classe e as pessoas ao seu redor num todo, que o faz sentir-se ameaçado. Tal preocupação pode ser caracterizada como um delírio persecutório, sendo este a crença de que o indivíduo irá ser prejudicado, assediado, e assim por diante, por outra pessoa, organização ou grupo (AMERICAN PSYCRIATRIC ASSOCIATION, 2013). Na esquizofrenia, segundo a Organização Mundial da Saúde (1993), o paciente se vê como o pivô de tudo o que acontece. Após o primeiro sintoma prodrômico de Caden, ele passa a ter uma noção deturpada de sua própria importância, se preocupando excessivamente com a possibilidade de que um momento de contemplação pessoal tenha causado um terremoto na China, ainda que racionalmente saiba ser improvável. Aos poucos, Caden passa a se isolar dentro de si mesmo, adotando uma postura mais introspectiva. Ainda que faça algum esforço para estar junto de seus colegas e amigos, ele descreve a sensação como a de estar “preso num grupo de uma pessoa só”, ou seja, vivendo cada vez mais dentro de seu próprio mundo psicológico com seus objetos internos (SEGAL, 2015). De acordo com Palmeira (2013), no período prodrômico é comum que os pacientes se considerem despersonalizados de si mesmo, como se tivessem mudado drasticamente em um determinado espaço de tempo. Para além do isolamento de Caden, ele sofre com lapsos de atenção, onde se vê perdido em seus próprios pensamentos, “saindo do ar” de forma involuntária. Com o passar das semanas, Caden se vê cada vez mais perdido em seu próprio mundo particular, passando a apresentar comportamentos como: dores de cabeça frequentes; parar de estudar para as provas da escola; constante sensação de desamparo, como se pudesse voar, mas não houvesse lugar para pousar (ou seja, a experiência de despersonalização ameaçando a integração do ego, conforme WINNICOTT, 1970 apud DAVIS e WALLBRIDGE, 1982); negligenciar sua alimentação; uma crença irreparável de que os outdoors estão lhe passando instruções enquanto caminha de um lado para o outro pela cidade (ideias deliróides e ilusões, conforme PAIM, 1993), discurso extremamente desorganizado, oscilando de assunto em assunto, sem que nenhum deles faça sentido para o ouvinte (Fuga de ideias, segundo PAIM, 1993); total falta de preocupação com as consequências de seu comportamento, e reações agressivas e grosseiras quando intimado com relação a isso (ou seja, a função do superego e o uso das defesas do ego para lidar com seus impulsos primitivos estão comprometidos, segundo SEGAL, 1975); a certeza de que existe algo de errado com as outras pessoas, mas não com ele (ideia deliróide, conforme PAIM, 1993); atitudes irresponsáveis, como atravessar a rua sem olhar para os lados; falta de sono; ataques de pânico. No fim da história, as tentativas de Caden de se convencer de que estava tudo bem, ou seja, sua negação (SEGAL, 1975), a negação dos próprios pais a respeito de seu estado, a demora destes em oportunizar à Caden a ajuda profissional da qual precisava desde o início deste período prodrômico, a dificuldade de Caden para estabelecer um firme contato com a realidade, todos os sintomas e comportamentos atípicos do garoto acumulados ao longo de meses culminou em uma crise psicótica, e ele precisou ser contido em uma clínica psiquiátrica, situação que na maioria das vezes pode ser evitada, segundo PALMEIRA (2013), quando a família identifica rapidamente estes primeiros sinais de afastamento da realidade e de desajustamento de seu familiar e então busca a ajuda profissional necessária. CONSIDERAÇÕES FINAIS: a análise dos comportamentos atípicos de Caden, como a ansiedade persecutória, a ansiedade de aniquilamento ou desintegração do ego, a introspeção e as ideias deliróides, assim como a descrição das dificuldades dos pais em aceitar que o filho pudesse estar adoecendo, podem contribuir para o aprendizado dos estudantes de Psicologia e Psiquiatria e no trabalho dos profissionais da saúde mental no que se refere à identificação dos comportamentos próprios do pródromo da esquizofrenia, podendo inclusive auxiliar pacientes e suas famílias a esse respeito. REFERÊNCIAS: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. DALGALARRONDO, P.. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3. ed. Poroto Alegre: Artmed, 2018. GOMES, C. G.; TONIAZZO, P. B.; SPANEMBERG, L.. Abordagem e Manejo Inicial do Paciente Psicótico na Emergência. [S.I.]: [S.N.], 2018. Disponível em: https://docplayer.com.br/97179861-Abordagem-e-manejo-inicial-do-paciente-psicotico-na-emergencia.html. Acesso em: 21 set. 2021. LAMB, E. M.; NASCIMENTO, J. F.; MOREIRA, T. V. F.. Processos Neurológicos Envolvidos na Esquizofrenia. Thêma Et Scientia, Santa Cruz Cascavel, v. 5, n. 2, p. 29-37, jul. 2015. Disponível em: http://www.themaetscientia.fag.edu.br/index.php/RTES/article/view/326. Acesso em: 29 set. 2021. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 11: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre: Artmed, 1993. PAIM, I.. Curso de Psicopatologia. 11. ed. [S. l.]: E.P.U, 1993. ISBN 978-8512407104. PALMEIRA, L. F.; GERALDES, M. T. M.; BEZERRA, A. B. B.. Entendendo a Esquizofrenia: como a família pode ajudar no tratamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2013. SEGAL, H.. Introdução à Obra de Melanie Klein. [S. l.]: IMAGO, 1975. 147 p. ISBN 978-8531208324. VASCONCELLOS, P. C.. A relação entre sintomas negativos e cognição social na esquizofrenia. 2014. 82 f. Monografia (Especialização) - Curso de Especialização em Neurociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/VRNS-9TDNTY. Acesso em: 17 out. 2021.
Título do Evento
3º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2022
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

RODRIGUES, Luana De Souza; PETTENGILL, Elaine Cristina da Fonseca C.. ”UMA DISCUSSÃO SOBRE O PRÓDROMO DA ESQUIZOFRENIA A PARTIR DA ANÁLISE DA OBRA "O FUNDO É APENAS O COMEÇO".. In: Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.. Anais...Campo Grande(MS) Rua Abrão Júlio Rahe, 325, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2022/502242-UMA-DISCUSSAO-SOBRE-O-PRODROMO-DA-ESQUIZOFRENIA-A-PARTIR-DA-ANALISE-DA-OBRA-O-FUNDO-E-APENAS-O-COMECO. Acesso em: 25/04/2025

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