O texto acima é adaptado do Simpósito Temático 23, "Que corpos podem ocupar as ciências ditas exatas?", proposto pelo Grupo MatematiQueer de Pesqusisa e Extensão no âmbito do XI CINABETH - Congresso Internacional de Diversidade Sexual, Etnicorracial e de Gênero. Na 1ª Escola de Estudos de Gênero e Sexualidades em Educação Matemática (E²GSEM) - evento internacional - particularizamos a temática para o campo da Educação Matemática, área que se dedica - em poucas palavras - a compreender processos de produção, de ensino e de aprendizagem de matemática, de modo histórico, político e socioculturamente situado. Na E²GSEM refletimos sobre que papeis podem ter meninas e mulheres e pessoas LGBT+ nos campos da Matemática e da Educação Matemática. Discutimos sobre representatividade, sobre interseccionalidade, sobre criar ambientes seguros para que essas e outras minorias sociais possam se sentir confortáveis ao escolher essas áreas profissionalmente. O evento foi uma tentativa de conhecer melhor os campos dos Estudos de Gênero e Sexualidades, dos Feminismos, dos Estudos Queer, das Mulheridades e Masculinidades, das Epistemologias Trans e demais assuntos que se articulem ao escopo do evento. Nos interessou discutir o papel político da (Educação) Matemática, visando uma formação que prepare profissionalmente docentes a planejarem e implementarem aulas de matemática que considerem e valorizem as diferenças, que sejam antidiscriminatórias, em particular, antimachistas, antissexistas, antiLGBT+fóbias, anticapacitistas, antirracistas etc.
A 1ª Escola de Estudos de Gênero e Sexualidades em Educação Matemática (E²GSEM) foi realizada online entre 17 e 21 de junho de 2024 e contou com 414 pré-inscrições, sendo 309 efetivadas. As pessoas participantes são majoritariamente do Brasil, mas também do Chile, da Colômbia, dos Estados Unidos da América e da Inglaterra. Em relação à distribuição de inscrições por categorias, foram 13 estudantes da Educação Básica, 60 de graduação, 87 de pós-graduação, 43 docentes da Educação Básica das redes municipais, estaduais e privadas, 81 docentes EBTT da rede federal de Educação Básica ou do Ensino Superior nas diferentes redes. Além disso, recebemos 13 inscrições de pessoas trans ou hipossuficientes que não se enquadram nas categorias anteriores. O evento recebeu participantes de 24 unidades federativas brasileiras, ficando de fora os estados Amapá, Roraima e Sergipe. Em relação a alguns marcadores sociais, temos os seguintes dados a partir das pré-inscrições:
Quanto à identificação racial: Amarela (7), Branca (198), Indígena (6), Parda (112), Preta (49), Outras (4), Preferiu não responder (38), totalizando 414 respostas.
Quanto à identificação de gênero: Homem Cis (131), Homem Trans (9), Mulher Cis (198), Mulher Trans (7), Pessoa Não-Binária (19), Outras (21), Preferiu não responder (31), totalizando 416 respostas. Esse número maior que 414 foi possível porque algumas pessoas se identificaram, por exemplo, como sendo homens trans e pessoas não-binárias.
Quanto à orientação sexual: Assexual (8), Bissexual (52), Heterossexual (166), Homossexual (96), Pansexual (18), Outras (3), Preferiu não responder (76), totalizando 419 respostas. Esse número foi possível porque algumas pessoas se identificam como pertencentes a mais de uma categoria.
Quando a ser uma pessoa LGBT+: Ainda não sabe (14), Sim (169), Não (166), Preferiu não responder (65), totalizando 414 respostas.
Quanto a ser uma pessoa com deficiência: Pessoa Autista (9), Pessoa com Deficiente Visual ou Cegueira (3), Pessoa Surda (1), Pessoa Discalcúlica (1), Pessoa com TDAH (1).
O evento recebeu 123 submissões de resumos, dos quais 116 foram aprovados e 106 apresentados. Além disso, foram submetidas e realizadas 9 oficinas. Foram 164 pessoas autoras, 162 brasileiras e 2 chilenas. Dentre os temas dos trabalhos apresentados, foi possível notar a ausência de pesquisas que falem sobre masculinidades, pessoas LGBT+, em particular, trans e travestis na educação matemática, assim como maior exploração da interseccionalidade a partir de marcadores sociais como raça, classe, faixa etária, funcionalidades físicas e mentais etc.
Outro ponto alto do evento foi uma sessão que reuniu grupos com projetos ou linhas de pesquisa associadas à temática do evento. A reunião contou com a presença de 14 grupos que com mais ou menos foco, consideram as questões de gênero e sexualidades como relevantes para suas pesquisas em Educação Matemática. Destacamos os nomes e instituições de cada um dos grupos representados: Grupo de Pesquisa e Extensão MatematiQueer: Estudos de Gênero e Sexualidades em Educação Matemática (Universidade Federal do Rio de Janeiro), NIEMS – Núcleo de Investigação em Educação Matemática e Sociedade (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), DEVIRES – Grupo de Pesquisa em Educação Matemática, Diferença e Inclusão (Instituto Federal do Espírito Santo), GECUDEDIS – Grupo de Estudos Curriculares Decolonialidade, Diversidade e Subalternidade (Universidade Federal do Paraná), GFOPEM – Grupo Rondoniense de Estudos e Pesquisas em Formação de Professores(as) que Ensinam Matemática (Universidade Federal de Rondônia), P3RmiTA-SE² – Pesquisas em Resistência, Responsabilidade e Respeito, matematicamente incluindo as Tecnologias e a Aprendizagem-Situada em Espaços-Educativos (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Grupo Aya-Sankofa de Estudos Decoloniais e Afrocentrados em Educação Matemática (Universidade Federal de Pernambuco), GEduMaD – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática, Diversidade e Diferença (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), Educirs - Laboratório de Pesquisa em Educação em Ciências e Representações Sociais (Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro), GHOEM – Grupo de História Oral e Educação Matemática (Universidade Estadual Paulista), NIPAC – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Avançadas em Currículo (Universidade Estadual Paulista), EduTec.Utf: Grupo de Pesquisa em Práticas e Políticas Educacionais na perspectiva da Educação Tecnológica (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), HEMMSUT – Grupo de Pesquisa em História, Educação Matemática e Mulheres: Saberes, União e Trajetórias (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e NIEMATHS – Núcleo de Investigação e Estudos em Educação Matemática, História e Sociologia (Universidade Federal do Triângulo Mineiro).