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A ideia de Clubes de Ciências para crianças e jovens remonta dos movimentos em prol da ampliação da presença das ciências naturais no currículo de escolas de educação básica dos EUA, em meados dos anos de 1920. Desde então muitas escolas, museus e associações científicas americanas abriram espaços para estimular vocações de crianças e jovens interessados em “se associar em clubes” e/ou participar de feiras de ciências, onde teriam a oportunidade de entrar em contato com conhecimentos científicos e satisfazer curiosidades a respeito de diferentes aspectos do mundo natural e avanços tecnológicos. A partir do final da década de 1950 – principalmente  por conta da crucial necessidade de formação de cientistas e engenheiros para ajudar os EUA e aliados na corrida espacial com a antiga URSS – clubes  e feiras de ciências ganharam ainda mais impulso e popularidade nesses países.

No Brasil a inspiração em projetos educacionais norte-americanos da década de 1960 também  estimulou a criação de clubes e feiras de ciências, onde os estudantes poderiam aprender e praticar um suposto método científico (que incluía a observação de fenômenos, experimentação, tabulação e análise de dados). Apesar das críticas ao empirismo ingênuo por trás das ideias pedagógicas propostas, o entusiasmo de alguns cientistas brasileiros ligados à UNESCO e acordos de cooperação entre Brasil e a Organização dos Estados Americanos (OEA) viabilizaram a tradução e difusão de materiais didáticos de diferentes projetos educativos dessa natureza (por exemplo, PSSC, BSCS e CBA) e a criação de centros de ciências para treinamento de professores em alguns Estados da Federação. Tais centros passaram a implementar e estimular a criação de clubes e a realização de feiras de ciências em vários lugares do Brasil.

Embora, na época, um centro de ciências não tenha sido implantado no Estado do Pará, o movimento de clubes de feiras de ciências acabou sendo defendido e disseminado por um grupo professores e estudantes universitários que, em 1979, criaram o Clube de Ciências da UFPA.

Durante as décadas de 1980 e 1990 o movimento foi se expandindo e se diversificando no Brasil. Foi nessa época e contexto que ocorreram os oito primeiros Encontros Nacionais de Clube de Ciências, cuja primeira edição foi realizada em 1987 na cidade de Porto Alegre, RS e a última  na cidade de Nova Friburgo, RJ, em 1998.

Além de resgatar e memória e parte dos ideais do movimento de clubes e feiras de ciência, o Encontro Nacional de Clubes de Ciências 2019 (ENACC 2019) pôs em pauta aspectos históricos e epistemológicos das diferentes iniciativas de estímulo à iniciação científica infanto-juvenil e formação de professores, a fim de compartilhar conhecimentos, estimular a realização de pesquisas educacionais sobre o tema e fortalecer a colaboração entre docentes, pesquisadores e estudantes de pós-graduação que atuam e/ou pesquisam em/sobre Clubes de Ciências no Brasil.

Nos anais do ENACC 2019 estão reunidos trabalhos que apresentam diferentes focos de discussão: detalhes históricos da criação e evolução de clubes de ciências, impactos formativos em docentes que participaram como professores-orientadores nesses espaços, peculiaridades de ações e atividades educativas em diferentes clubes de ciências e distintas perspectivas teóricas que subjazem as variadas ações realizadas nesses espaços.

Também não podemos deixar de mencionar as belas e merecidas homenagens realizadas durante o ENACC 2019, principalmente ao grupo de professores e estudantes universitários que, sob a liderança da Professora Terezinha Oliver Gonçalves, ousaram criar o Clube de Ciências da UFPA. Hoje, há 40 anos ativo, tendo sido o nascedouro de diversos outros programas de formação de professores, o CCIUFPA continua disseminando conhecimentos e inspirando atuais e futuros professores a implementar e pesquisar maneiras de aperfeiçoar a alfabetização cientifica de crianças e jovens em escolas e outros espaços educativos.

Jesus Cardoso Brabo

Comissão Organizadora do ENACC