DA HIPNOSE À ASSOCIAÇÃO LIVRE: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA PSICANÁLISE E DE SUA REGRA FUNDAMENTAL

Publicado em 05/12/2018 - ISSN: 2176-3968

Título do Trabalho
DA HIPNOSE À ASSOCIAÇÃO LIVRE: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA PSICANÁLISE E DE SUA REGRA FUNDAMENTAL
Autores
  • JULIA MONTAZZOLLI SILVA
Modalidade
Prorrogado envio de Resumo até dia 09/10/2018
Área temática
Filosofia da Psicanálise
Data de Publicação
05/12/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/125161-da-hipnose-a-associacao-livre--consideracoes-sobre-os-primordios-da-psicanalise-e-de-sua-regra-fundamental
ISSN
2176-3968
Palavras-Chave
hipnose, associação livre, psicanálise
Resumo
Embora o marco histórico do nascimento da psicanálise coincida com o abandono da hipnose e da sugestão por Freud, em especial no contexto da passagem do método catártico para a associação livre, a cada crise do movimento psicanalítico a questão de sua permanência voltava a ser colocada, em especial na problemática que envolve a transferência. No entanto, a sugestão remete a algo que parece se opor ao que Freud buscou demarcar como característico de seu método de tratamento: o distanciamento de qualquer postura educativa, interventiva. A única direção técnica imposta como condição para que haja análise, aliás, é a não diretividade – deve-se seguir o curso das associações do paciente, buscando-se criar condições para que elas ocorram o menos possível tolhidas pela resistência. A partir dessa perspectiva, o presente trabalho visa realizar breves considerações sobre o lugar da hipnose e da sugestão nos primórdios da psicanálise, de forma a lançar luz sobre o que permitiram ao pensamento de Freud em termos de avanços teóricos, culminando na elaboração da regra fundamental e na teoria sobre o recalque. Freud elenca três situações em que o fenômeno contido na hipnose o impressionou: quando era um estudante, ao assistir uma exibição de Hansen, o magnetista; nos estudos em Paris com Charcot (e já nesse caso como técnica para produzir e remover sintomas histéricos); e quando soube dos estudos realizados na escola de Nancy, referentes ao uso ativo da sugestão, com e sem hipnose, para fins terapêuticos (Freud, 1996/1925). Freud fez uso da hipnose e da sugestão ativa para trabalhar com as tidas doenças nervosas, porém poucos anos após seu início identificou que seus resultados não se mostravam assim tão promissores (Freud, 2017/1890). Depender do método era, para ele, limitador. Às vezes tornava-se necessário repeti-lo indefinidamente para obter sua eficácia, e a profundidade do estado hipnótico a ser induzido era extremamente variável, dificultando seu uso universal, não somente porque nem todas as pessoas conseguiam atingi-lo, mas porque uma série de processos emergiam dificultando. Especialmente na tentativa de utilizar a sugestão como forma de suprimir diretamente o sintoma, Freud já identificava a existência de uma espécie de barreira, de modo que sua eficácia parecia travar embate com forças que ocasionavam e mantinham a doença (Freud, 2017/1890). A busca por conhecer os mecanismos subjacentes à neurose levou-o a procurar Breuer, que à época trabalhava com o método catártico. Nesse método, supunha-se ser possível localizar um evento na vida do paciente que teria evocado a doença, no qual haveria um quantum de afeto que ficara represado. Levava-se o paciente a relatar tal fato, podendo experienciar o afeto estrangulado, e dessa forma conseguia-se um efeito terapêutico importante (Freud, 1996/1914). Freud refere neste contexto ter feito uso da hipnose de uma outra maneira – para fazer falar (Freud, 1996/1925). Assim, ao invés de utilizar a hipnose para viabilizar a sugestão, em nome de uma supressão do sintoma imposta pelo médico, hipnotizava-se o paciente para obter um relato (Freud, 1996/1914; 1925). Embora o abandono da sugestão ativa tivesse aberto o campo para uma elucidação maior dos fenômenos subjacentes a eles, muitos dos problemas remanesciam os mesmos. A eficácia do método continuava apresentando-se temporária, incerta, dependente de uma relação médico-paciente sem qualquer forma de perturbação (Freud, 1996/1895; 1912). Ou seja, de que a atmosfera de sugestionabilidade, a posição do médico como aquele que fosse capaz de curar permanecesse ativa. A causa da doença, efetivamente, parecia não estar sendo tratada. Freud fora espectador de um experimento de Bernheim em que o médico hipnotizador demonstrara certa permeabilidade entre o estado hipnótico e o de vigília, de forma que, havendo hipnotizado um paciente, demonstrou ser possível fazê-lo acessar memórias sobre coisas que dissera e vira após despertá-lo. Recorda-se dessa experiência e, após o atendimento de uma paciente que insistia para que ele a deixasse falar, aposta na ideia de que os conteúdos de interesse à técnica eram de algum modo detidos pelos pacientes. Freud passa então a insistir junto a eles para que fizessem associações, buscassem trazer à tona as lembranças que se relacionavam ao advento da doença. Percebeu que esse movimento, no entanto, exigia um esforço ativo e constante de sua parte, o que lhe deu a ideia de que estava lidando com uma força opositora, uma resistência à emersão destes conteúdos (Freud, 1996/1895). Descobriu que, inclusive, em alguns momentos as ideias até surgiam, mas eram de alguma forma barradas em sua comunicação ou banidas da consciência. Freud percebe, assim, que “O 'não saber' do paciente histérico seria, de fato, um 'não querer saber'” (Freud, 1996/1895, p. 294). Ao analisar as ideias objeto das resistências, Freud observou que eram unanimemente ideias aflitivas, geradoras de autocensura, vergonha, dor psíquica (Garcia-Roza, 1985). Quando Freud muda sua prática, focando-se em levar o paciente a uma outra forma de discurso que lhe possibilitasse contato com o que resiste a saber sobre si mesmo, ele o faz de modo que sua técnica cerceia o uso do poder e do saber pelo médico, conferindo esse saber ao paciente. É essa operação, portanto, que torna possível a regra fundamental da psicanálise, e que a funda enquanto campo diverso à medicina. O analista, diferentemente do médico, não sabe ao certo o que vai suscitar e quais efeitos desencadeará, embora não deixe de ser quem viabiliza que o que ocorre no atendimento seja análise e não outra coisa. Dessa forma, evidenciar os obstáculos que se colocavam à cura pelo uso da hipnose torna possível identificar o processo gradual que culminou na criação da psicanálise, a partir da necessidade de olhar fenômenos suscitando o questionamento sobre as origens dessas barreiras à eficácia da técnica.
Título do Evento
Congresso Humanitas | Filosofia
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
XVI Congresso de Filosofia Contemporânea da PUCPR: O Futuro das Humanidades
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SILVA, JULIA MONTAZZOLLI. DA HIPNOSE À ASSOCIAÇÃO LIVRE: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA PSICANÁLISE E DE SUA REGRA FUNDAMENTAL.. In: XVI CONGRESSO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA DA PUCPR - O FUTURO DAS HUMANIDADES. Anais...Curitiba(PR) pucpr, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/125161-DA-HIPNOSE-A-ASSOCIACAO-LIVRE--CONSIDERACOES-SOBRE-OS-PRIMORDIOS-DA-PSICANALISE-E-DE-SUA-REGRA-FUNDAMENTAL. Acesso em: 24/04/2025

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