VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES INDÍGENAS NA FRONTEIRA DO BRASIL COM O PARAGUAI: ALDEIAS E CORPOS-TERRITÓRIOS

Publicado em 14/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0268-4

Título do Trabalho
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES INDÍGENAS NA FRONTEIRA DO BRASIL COM O PARAGUAI: ALDEIAS E CORPOS-TERRITÓRIOS
Autores
  • Roberto Chaparro Lopes
  • Marcos Mondardo
Modalidade
Resumo/Trabalho completo - Apresentação oral
Área temática
Eixo 3: Fronteiras e Limites em Múltiplas Escalas
Data de Publicação
14/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ivcongeo/661404-violencia-contra-mulheres-indigenas-na-fronteira-do-brasil-com-o-paraguai--aldeias-e-corpos-territorios
ISBN
978-65-272-0268-4
Palavras-Chave
Assassinatos, Intolerância religiosa, Gênero, Colonialidade
Resumo
Em 2021, segundo o Conselho Indigenista Missionário – CIMI, 6 mulheres indígenas foram assassinadas no estado do Mato Grosso do Sul. Um desses casos ganhou repercussão nacional e foi o de uma jovem indígena Guarani e Kaiowá, de apenas 11 anos, que foi espancada, estuprada e assassinada na Reserva Indígena de Dourados (CIMI, 2023). O objetivo deste trabalho foi levantar casos de assassinatos de mulheres indígenas em Mato Grosso do Sul, a fim de identificar os municípios e aldeias de maior concentração dessas mortes, as idades das vítimas, quem são os autores dos assassinatos, bem como os meios utilizados nos crimes. Para isso, foi realizado uma pesquisa documental em 26 jornais de circulação online do estado. O levantamento foi feito através do uso de palavras-chave no campo de buscas de cada jornal, sendo elas: assassinato índio, assassinato indígena, assassinato Guarani, assassinato Kaiowá, assassinato aldeia e assassinato reserva indígena. O processo de seleção e tratamento dos dados foi guiado pelo método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2016). Os critérios de inclusão utilizados se constituíram de: 1) a matéria ser relativa a assassinatos de indígenas, e; 2) o assassinato ter acontecido em Mato Grosso do Sul. Já os critérios de exclusão se constituíram de: 1) mortes de outra natureza que não assassinatos; 2) assassinatos sem causa esclarecida; 3) assassinatos de indígenas de outros estados; 4) assassinatos de pessoas não-indígenas, e, 5) matérias com casos repetidos. Não foram estabelecidos recortes temporais. Os casos selecionados foram sistematizados em uma planilha do programa de computador Microsoft Excel. Assim, aplicando os critérios acima, foram selecionados 31 casos de assassinatos de mulheres indígenas, cujo mais antigo datou de 20/10/2006 e o mais recente de 02/05/2018. O município de Dourados foi o que apresentou o maior número deles, com 61,2%. Os municípios de Amambai (19,5%) e Caarapó (6,5%) também apresentaram um número elevado, bem como Juti, Tacuru, Japorã e Itaporã (3,2% cada). Todos estes municípios se encontram na faixa de fronteira do Brasil com o Paraguai. Entre as reservas indígenas, a que mais apresentou registros foi a Aldeia Bororó, em Dourados, com 36% dos casos, seguida pelas aldeias de Jaguapiru (Dourados), Limão Verde (Amambai), Amambai (Amambai) e Tey Kuê (Caarapó), com 6,4% cada. Dentre os dados etários, tem-se que as faixas etárias que mais apresentaram registros foram de 11 a 20 anos, de 21 a 30 anos e de 31 a 40 anos, com 19,5% dos casos presentes em cada uma. Quanto aos autores dos assassinatos, 51,5% eram homens e 29% outras mulheres, e em 19,5% dos casos não foi informado e gênero do autor do crime. Em 64,5% das matérias não se obteve a informação da relação que o autor do crime possuía com a vítima, enquanto em 13% viu-se que o autor foi o companheiro ou ex-companheiro da vítima, e em 6,2% os autores foram os próprios irmãos. Em relação à conformação destas mortes, 48% delas de deram por meio de armas brancas, com grande presença de facas e facões. Também, puderam-se registrar mortes a partir de espancamentos (16%), pauladas (13%) e esquartejamento (3,2%). Em 22,5% dos casos houve a violência sexual juntamente com as agressões físicas. Além disso, a violência simbólica, conforme propõe Bourdieu (2012), também se faz presente entre as mulheres indígenas em Mato Grosso do Sul. Segundo dados da Kuñangue Aty Guasu (2022), entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021 foram registrados ao menos 21 casos de intolerância religiosa contra mulheres Guarani e Kaiowá, com situações de espancamentos, torturas, violência psicológica e perseguição. A perseguição as nhandecy (rezadeiras) acarretou, inclusive, na morte, em dezembro de 2022, da rezadora Estela Verá, que foi assassinada a tiros dentro de sua reserva no município de Japorã. A partir de tal contexto, propõe-se ler a violência contra a mulher indígena como um reflexo e consequência da colonização, do colonialismo e da colonialidade do poder e do saber. Segato (2012) afirma que o modelo civilizacional colonizador, intervencionista e violento, foi responsável por rasgar o tecido comunitário de diversas populações ameríndias, introduzindo noções de gênero hierarquizantes – em que o homem ocupa o centro da vida pública e política – onde antes elas não existiam, e aprofundando violências de gênero que já ocorriam, mas em menor escala. Desse modo, o presente estudo permite vislumbrar as conformações contemporâneas que a violência colonial apresenta direcionadas para as mulheres indígenas Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do Sul. Constituída por meio de assassinatos violentos ou através da perseguição e intolerância religiosa para com suas práticas tradicionais, tais mulheres sofrem cotidianamente os efeitos da colonialidade em seus corpos-territórios.
Título do Evento
IV Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território (CONGEO)
Cidade do Evento
São Paulo
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território - CONGEO
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

LOPES, Roberto Chaparro; MONDARDO, Marcos. VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES INDÍGENAS NA FRONTEIRA DO BRASIL COM O PARAGUAI: ALDEIAS E CORPOS-TERRITÓRIOS.. In: Anais do Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território - CONGEO. Anais...Sao Paulo(SP) USP, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/IVCONGEO/661404-VIOLENCIA-CONTRA-MULHERES-INDIGENAS-NA-FRONTEIRA-DO-BRASIL-COM-O-PARAGUAI--ALDEIAS-E-CORPOS-TERRITORIOS. Acesso em: 25/04/2025

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