MONITORAMENTO DAS POPULAÇÕES DE PRIMATAS PÓS EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA NA REGIÃO SERRANA DO ESPÍRITO SANTO UTILIZANDO DADOS DE CIÊNCIA CIDADÃ

Publicado em 26/09/2022 - ISBN: 978-65-5941-785-8

Título do Trabalho
MONITORAMENTO DAS POPULAÇÕES DE PRIMATAS PÓS EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA NA REGIÃO SERRANA DO ESPÍRITO SANTO UTILIZANDO DADOS DE CIÊNCIA CIDADÃ
Autores
  • Andresa Guimarães
  • Michelle Noronha Da Matta Baptista
  • Maria Cecília Martins Kierulff
  • Laís Cardoso do Amaral Souza
  • Natalia Pirani Ghilardi-Lopes
Modalidade
II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã - Resumo expandido
Área temática
Desenvolvimento, metodologias e aplicações de projetos de ciência cidadã
Data de Publicação
26/09/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/iwdrbdcc2022/488556-monitoramento-das-populacoes-de-primatas-pos-epidemia-de-febre-amarela-na-regiao-serrana-do-espirito-santo-utiliz
ISBN
978-65-5941-785-8
Palavras-Chave
macacos, monitoramento, ciência cidadã, febre amarela, Espírito Santo
Resumo
Tipo de estudo: Produção científica RESUMO A febre amarela (FA) é uma doença que afeta humanos e macacos, com ocorrência esporádica de epidemias no território brasileiro. O objetivo do presente estudo foi avaliar as populações de primatas da região serrana do Espírito Santo após a epidemia de FA por meio de ciência cidadã (CC). A população colabora enviando registros da ocorrência de primatas para os pesquisadores responsáveis pelo projeto de CC “Eu vi um macaco no mato!” por meio de Whatsapp e Instagram. Dos 25 registros obtidos, foram enviadas fotografias, vídeos ou áudios de 85 animais de 5 espécies, dos quais 2,4% foram Callithrix geoffroyi, 7,1% Callithrix flaviceps, 14,1% Brachyteles hypoxanthus, 15,3% Callicebus personatus, 18,8% Callithrix híbridos e 42,4% de Sapajus nigritus, sendo a primeira e a última as únicas que não estão ameaçadas. Alouatta guariba foi a única espécie sem registro, apesar de ocorrer na região. Monitorar espécies silvestres em áreas afetadas e não afetadas pela FA pode ajudar a compreender o panorama da doença e prevenir novas epidemias. INTRODUÇÃO/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nos anos de 2016 a 2018 uma epidemia de febre amarela (FA) silvestre atingiu a região sudeste e outros estados do Brasil. O impacto deste surto foi alto nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, onde foram registrados 777 casos confirmados e 261 óbitos de pessoas até julho de 2017 (BRASIL, 2017). A FA também causou a morte de milhares de primatas, principalmente de bugios (Alouatta spp.) e saguis (Callithrix spp.). O total de epizootias de dezembro de 2016 a julho de 2017 registradas reuniu, pelo menos, 7.064 animais afetados em todo o Brasil, sendo 888 registros de epizootias no estado do Espírito Santo (BRASIL, 2017). A FA é causada por um vírus transmitido por um vetor artrópode e, no ciclo silvestre, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes são os responsáveis pela transmissão (BRASIL, 2014). Os macacos atuam como sentinelas da FA e, portanto, a morte de primatas pode ser indicativa de que o vírus está circulante no ambiente, sendo necessária a investigação e, caso confirmada a presença do vírus, a adoção de medidas de vigilância sanitária no local (BRASIL, 2017). A eliminação do ciclo da FA silvestre é inviável devido a diversos fatores físicos e ecológicos envolvidos. Por isso, o monitoramento de primatas não humanos em áreas de risco de FA é importante para se entender a influência da doença nas populações e evitar futuras reduções e extinções populacionais (GONTIJO, 2019). O objetivo do presente estudo foi avaliar as populações de primatas da região central serrana do Espírito Santo após a epidemia de febre amarela utilizando ferramentas de ciência cidadã. METODOLOGIA Na região Central Serrana do Espírito Santo ocorrem seis espécies de primatas, sendo que algumas estão ameaçadas de extinção de acordo com Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2018): Callicebus personatus (guigó ou sauá), classificado como “Vulnerável” (VU); Alouatta guariba (bugio ou barbado), classificado como “Vulnerável” (VU); Brachyteles hypoxanthus (muriqui-do-norte), como “Criticamente em Perigo” (CR) e Callithrix flaviceps (sagui-da-serra), classificado como “Em Perigo” (EN). Já Sapajus nigritus (macaco-prego), e Callithrix geoffroyi (sagui-da-cara-branca) não se encontram ameaçados. Para o monitoramento, a obtenção de registros ocorreu através do projeto de ciência cidadã “Eu vi um macaco no mato!”, no qual a população registra a ocorrência de primatas (por fotos, vídeos ou áudios), e encaminha aos pesquisadores junto às informações sobre o registro (data, espécie, quantidade de indivíduos e outras observações) pelo WhatsApp do projeto e pela rede social Instagram (@macaconomato). A divulgação do projeto e das espécies registradas pelos cientistas cidadãos na região aconteceram por publicações nas redes sociais e por atividades de educação ambiental no Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e em eventos do município de Santa Teresa (ES). RESULTADOS Foram obtidos, em 2020 e 2021, 25 registros, distribuídos nos municípios de Santa Teresa, Santa Leopoldina e Domingos Martins. Das seis espécies de primatas relatadas para a região Central serrana do Espírito Santo, cinco foram registradas pelos cientistas cidadãos, exceto o bugio (Alouatta guariba). Também houve registros de animais híbridos Callithrix sp. e a observação da presença de filhotes em alguns registros. Dos 85 animais observados no período, 2,4% foram Callithrix geoffroyi, 7,1% Callithrix flaviceps, 14,1% Brachyteles hypoxanthus, 15,3% Callicebus personatus, 18,8% Callithrix híbridos e 42,4% de Sapajus nigritus. DISCUSSÃO A ausência de registros de bugios no presente estudo indica uma possível redução das populações destes animais devido à epidemia de febre amarela. Ainda, a grande quantidade de indivíduos de macacos-prego (S. nigritus) observados pelos cientistas cidadãos indica que as populações desta espécie possivelmente foram menos afetadas. Estes dados são concordantes com os obtidos por Gontijo (2019), que realizou 81 entrevistas com moradores da região serrana para avaliar a percepção em relação à presença das espécies de primatas, antes e após a epidemia na região. De acordo com as entrevistas, houve redução recente de populações de primatas isoladas em fragmentos percebida em 82,5% para Alouatta guariba, em 49,1% para Callithrix spp., em 25,5% para Callicebus personatus em 23,7% para Sapajus nigritus e em 19,0% para Brachyteles hypoxanthus. Embora estudos recentes demonstrem que populações de primatas estavam em crescimento no período anterior ao surto de FA, as populações de algumas espécies foram drasticamente reduzidas com a epidemia que atingiu a região entre 2016 e 2018, especialmente as espécies mais susceptíveis como os barbados e saguis-da-serra; em contraponto, os macacos-prego foram afetados em menor proporção (GONTIJO, 2019, NERY et al., 2021). Historicamente, as populações de primatas sofrem redução na região devido ao desmatamento, à fragmentação do hábitat e consequentemente ao isolamento de populações muito pequenas que não são demográfica e geneticamente viáveis a longo prazo. Um exemplo digno de nota é o sagui-da-serra (C. flaviceps), que além da perda do hábitat e de uma distribuição restrita apenas às regiões serranas do Espírito Santo e sudeste de Minas Gerais, tem cruzado com espécies invasoras de Callithrix soltas na área (C. penicillata e C. jacchus) e com espécies parapátricas que estão expandindo suas distribuições (C. aurita e C. geoffroyi) dando origem a indivíduos híbridos. Este tipo de interação coloca ainda mais em risco C. flaviceps, cuja estimativa do número total de indivíduos maduros na natureza é menor que 2.500 e estima-se que cada subpopulação é formada por menos que 250 saguis-da-serra em virtude da fragmentação severa da região de ocorrência da espécie (Hilário et al., 2014). No presente estudo, 18.8% dos saguis (Callithrix sp.) registrados pelos cientistas cidadãos eram híbridos, realçando a gravidade desta situação na região serrana capixaba. Os resultados aqui apresentados evidenciam a importância de se realizar o diagnóstico e o acompanhamento das populações de animais silvestres, monitorar aquelas em risco de extinção, avaliar o efeito das mudanças ambientais na ocorrência de epizootias e criar um sistema de alerta que possa detectar animais doentes ou mortos na floresta, no início dos surtos e antes que a doença atinja a população humana. Finalmente, monitorar espécies silvestres em áreas afetadas e não afetadas pela FA pode ajudar a compreender o panorama da doença e prevenir novas epidemias. AGRADECIMENTOS Aos cientistas cidadãos que colaboraram com o projeto “Eu vi um macaco no mato!”. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Emerge^ncia epidemiolo´gica de febre amarela no Brasil, no período de dezembro de 2016 a julho de 2017. Bol Epidemiol [Internet], v.48, n.28, p.1-22, 2017. Disponível em: http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/ setembro/06/2017_027.pdf BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia de vigilância de epizootias em primatas não humanos e entomologia aplicada à vigilância da febre amarela / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde. 2014. 100p. GONTIJO, N.R.C. 2019. Impacto do surto de febre amarela na ocorrência de primatas em paisagens fragmentadas do Espírito Santo. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES. HILÁRIO, R.R.; FERRAZ, D.S.; PEREIRA, D.G.; MELO, F.R.; OLIVEIRA, L.C.; VALENÇA-MONTENEGRO, M.M. Avaliação do Risco de Extinção de Callithrix flaviceps (Thomas, 1903) no Brasil. In: Espécies ameaçadas - Lista 2014. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7201-mamiferos-callithrix-flaviceps-sagui-da-serra-claro. Acesso em: 31 julho 2021. KRUSE, H.; KIRKEMO, A.M.; HANDELAND, K. Wildlife as source of zoonotic infections. Emerg Infect Dis. v.10, n.12, p.2067-72, 2004. NERY, M.S.; PEREIRA, R.P.; TABACOW, F.P.; DE MELO, F.R.; MENDES, S.L.; STRIER, K.B. Citizen Science for Monitoring Primates in the Brazilian Atlantic Forest: Preliminary Results from a Critical Conservation Tool. Primate Conservation, v.35, n.1, p.1-13, 2021.
Título do Evento
II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã
Título dos Anais do Evento
Anais do II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

GUIMARÃES, Andresa et al.. MONITORAMENTO DAS POPULAÇÕES DE PRIMATAS PÓS EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA NA REGIÃO SERRANA DO ESPÍRITO SANTO UTILIZANDO DADOS DE CIÊNCIA CIDADÃ.. In: Anais do II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã. Anais...São Paulo(SP) online, RBCC, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/iwdrbdcc2022/488556-MONITORAMENTO-DAS-POPULACOES-DE-PRIMATAS-POS-EPIDEMIA-DE-FEBRE-AMARELA-NA-REGIAO-SERRANA-DO-ESPIRITO-SANTO-UTILIZ. Acesso em: 26/04/2025

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