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Apresentação
As realidades urbanas vêm assumindo protagonismo nos rumos que as sociedades hodierras constroem. A Pandemia de Covid 19 afetou drasticamente a vida social e os modos de usar o espaço geográfico. O rastro de morte e devastação escancarou as contradições do capitalismo nos mais variados quadrantes, revelando que as formações socioespaciais responderam de modo diverso em razão das suas estruturas econômicas e sociais, os níveis de desigualdade e as escolhas por parte do Estado em enfrentar o vírus.
Nesse
bojo, as discussões sobre o comércio e o consumo assumiram um lugar importante,
uma vez que a atividade comercial constitui-se como essencial da vida urbana e
econômica das cidades, fomentando encontros, trocas, relações e experiências,
além de ser, também, parte constitutiva da dinâmica da acumulação e reprodução
capitalista.
As
implicações da pandemia global da Covid-19 ainda não foram completamente
compreendidas, em parte devido à rapidez com que ocorreram os acontecimentos como
o isolamento da maioria da população, porém interconectada, e em parte pela
velocidade das consequentes mudanças. Essa situação trouxe à tona novos
desafios e oportunidades que estão começando a transformar tanto a economia
urbana quanto as nossas interações com o meio ambiente, também os produtos
producidos. Nesse contexto, é essencial compreender o papel das cidades, que
abrigam a maior parte da população mundial e funcionam como motores das
economias nacionais, em grande parte, pelo funcionamento do comércio e dos
serviços. É por este motivo que o tema do evento em São Paulo teve como tema
central A Cidade como Vitrine das Mudanças do Comércio e do Consumo no Período
Pós-Crise Sanitária.
O IX CCC 24 contou com mesas-redondas, apresentação de trabalhos, palestras e debates sobre questões relacionadas com as mudanças ou continuidades do comércio urbano e do consumo e suas implicações com o futuro das cidades; assim como os agentes que influenciam ou organizam a cidade em múltiplas escalas geográficas impactando nos setores econômicos urbanos.
O
evento teve como objetivo fomentar o avanço do conhecimento científico sobre a
influência mútua entre Cidade, Comércio e Consumo, bem como disseminá-lo para
além dos limites da academia, por meio da organização periódica de eventos
internacionais nos quais os principais resultados de pesquisas são
apresentados.
Os
eventos do CCC são fruto de um projeto coletivo iniciado no ano 2006, com o
encontro do grupo de pesquisadores de diversos países interessados em explicar
as mudanças urbanas provocadas pelas transformações estruturais,
principalmente, aquelas derivadas das novas tecnologias e das sucessivas
reestruturações econômicas.
O primeiro encontro aconteceu no Rio de Janeiro em forma de Seminário Internacional e foi o modelo que se consolidou e que vem acontecendo desde então a cada dois anos entre América Latina e Europa. Depois do evento acontecer em 2022 em Barcelona (Espanha), está voltando a ser organizado na cidade de São Paulo (Brasil).
Título - Ano, cidade, país
Dezembro de 2024
Sobre
a logo do XI CCC 2024
Como
o nosso primeiro evento após os eventos trágicos resultantes das crises
globais, buscamos traduzir o tema do seminário em uma imagem inspirada na
alegria do reencontro de bons amigos, um abraço desta cidade, São Paulo, em
formato de coração, magnética em cores vibrantes nascentes de todo Brasil. A
mudança sistêmica inspira novos pontos de vista, consolida pesquisas, e as
atividades de observação do lugar, antes particulares e apaixonadas agora
coletivas, aquecem as descrições e politizam as análises que transformam
estudos em ciência do modo como existir nas cidades, inclusive visualmente.
A
decisão de confluir visões no trabalho coletivo de um projeto de design gráfico
reflete as mudanças nos modos de ver a cidade, no entendimento dos limites e
principalmente dos circuitos, em composições desencaixadas de propósito, de
títulos e legendas em degraus, em molduras em preto imitando botões de saiba
mais combinados com a estética de cartazes splashs de promoções de hiper, supermercados
e do atacarejo. Textos escritos como letreiros de mercado desafiam páginas como
grafittis nas fachadas e viadutos, obras de arte a construir essa paisagem.
Olhar para os posters, telas e vitrines, mas com uma abordagem, de dentro pra
fora.
Para
alguns maravilhados em um passeio a pé pelas ruas vazias, silenciosas nunca
antes vista, tradução do isolamento social coletivo durante a pandemia do COVID
19, com suas restrições de sociabilização, de contato, de proximidade.
Movimento que salvou milhões de vidas, mas que lançou sobre os centros,
periferias, comunidades e toda sorte empreendimento, lojas, shoppings, a
urgência de políticas públicas.
A
comunicação digital assumiu tanto protagonismo que as pessoas e suas falas
hackeadas são representadas em balões em listas de compras, de seguidores nas
redes sociais online, de músicas e vídeos para assistir, listas das atividades
a fazer, ranking dos melhores, dos desejados em plataformas segmentadas. O
hiperconsumo de informação em uma rede de dados, se materializou em uma
padronagem de micro módulos quadrados de
QRCodes que como tijolos, como células mutantes transformando,
monetizando tudo que tocam.
Nesta
atmosfera de urgência, milhões de transações transcontinentais de produtos
mundiais. Compra, encomenda, despacho, centros de distribuição, aviões,
containers, navios. O entregador de aplicativos de pedidos de delivery corta
sobre minha tos e bicicletas, entregam comida de dark kitchens, ícone de
uma geração, da precarização do trabalho, do movimento insustentável de consumo
e da produção. Enquanto vitrines exibem doces exóticos e roupas do fast
fashion resultado do trabalho análogo ao escravo em uma atmosfera
nostálgica de comércio imperialista, super painéis de leds exibem paisagens
transculturais geradas por inteligência artificial e universos distópicos de
fantasia em propagandas de óculos de realidade virtual.
Noutra
face de um prédio, de uma Square, um trabalhador monta esse gigante display
luminoso, símbolo de urbanidade, de sucesso, enquanto o mundo assiste praias e
desertos de resíduos plásticos crescendo, sufocando comunidades, famílias,
futuros. Ressignificar os centros urbanos, regenerar florestas e oceanos são
algumas das soluções para problemas sociais como a violência, a pobreza, as
questões ambientais e culturais e mesmo a fome, a perda da biodiversidade. Isso
nos convoca a representar as vitrines como metalinguagem, como telas digitais
em diversos formatos, como gritos de alerta, para que luminosas e dinâmicas
apresentem além de sonhos de consumo, novas ideias de futuro.
Pessoas
em situação de rua, pedestres, comerciantes informais, a mãe que conduz o
filho, o catador de embalagens, histórias capturadas, fragmentos de grandes
amores, que falam de esperança, de trabalho, de representatividade, de
inclusão, de luta contra o racismo em corações que flutuam de caixa, pacotes
perdidos destinados a serem encontrados como num filme.
A
estética do varejo é escolhida para agrupar as soluções no material promocional
e símbolos do marketing como sacolas e camisetas são estampados com fragmentos
da metrópoles cada vez mais dinâmica, mais sensorial e imersiva já que o QR
code é personagem também, critica, zomba essa dinâmica mais conectada das redes
sociais online, que mesmo distantes em confirmar a previsão de melhorar as
pessoas, transformam, ressignificam as transações comerciais, o trabalho, a
vida, aproximando as relações, as pessoas. Transportam-se para outros
universos, outras experiências de consumo, de sonho e escapismo.
O
monumento do índio pescador, a ponte estaiada, prédios, outras esculturas, símbolos
históricos da cidade estabelecidos ao longo do tempo, não estão nas imagens,
são substituídos por um não lugar vazio, como a sala de um apartamento, um por
de sol, um tapete pra sentar na calçada, como se fosse possível fugir dessa
arquitetura que transforma em blocos a experiência entre proximidade e
distanciamento redimensionando a silhueta vista de longe das cidades com seus
troféus do capitalismo, instigando a repensar os espaços e territórios,
lembrando a cidade pulsante com esquinas, vielas, viadutos, passarelas,
escolas, favelas, museus e feiras.
A
cidades se materializa por meio do simbólico, na sigla CCC em letras
tridimensionais que apresentam a natureza mutante, do arredondado, curvo,
sinuoso, orgânico para o completamento pixelado, encaixado, empacotado. Reflexo
da captura do tempo do design, da escala, da padronização, visível em viagens
de qualquer duração pelo Brasil. Milhares de cidades encomendam, reprisam e
copiam colocando nomes com letras gigantes, intoxicadas por outras cidades mais
famosas, pela estética de tabuleiro vista de cima por drones que simulamos em
planos isométricos, sombras e vidros espelhados que refletem a humanidade em
mecanização, se esbarrando na moda, na reprodução de padrões de comportamento e
consumo.
Nossos
cartões postais, registros da memória gráfica de um patrimônio material
transferido para o digital pode até ser interpretado como pasteurizado, mas nos
convoca a conhecer o restaurante, as lojas de rua, a universidade, os parques,
até a fonte de água para lançar moedas e fazer pedidos. Traduzindo souvenirs do
tipo “estive em São Paulo e lembrei de você” sob uma luz âmbar que matiza tudo
com a densidade do tempo e também dos efeitos climáticos.
Reunindo
sentimentos e impressões desse lugar tão polissêmico, saudamos a todas com
essas desigualdades e contrastes, num bom bate papo com as pessoas que vieram
até a cidade que tem o café como símbolo para uma participação ativa na
investigação, descrição textual do discurso e análise sob um olhar cheio de
propósito e vitalidade. Que as vozes que aqui se encontraram reverberem esse
novo sentido de lugar... Da ideia de
abraço, de amizade que buscamos construir com essa imagem de micro universo,
mimetizando a natureza, as árvores que respeitam o espaço, a luz para as copas
ao redor permitindo que todas coexistam em harmonia.
Manuel Teles de Oliveira Filho (UFPE e IFPI)
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Responsável
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