MIOCLONIA EM CÃO SUBMETIDO A ANESTESIA TOTAL INTRAVENOSA COM PROPOFOL – RELATO DE CASO

Publicado em 27/01/2021 - ISSN: 2237-4949

Título do Trabalho
MIOCLONIA EM CÃO SUBMETIDO A ANESTESIA TOTAL INTRAVENOSA COM PROPOFOL – RELATO DE CASO
Autores
  • Priscila Soares Ferreira
  • Bruno Guimaraes Marinho
  • Victória Guimarães Gorgulho
  • Ana Carolina de Souza Campos
  • Ana Carolina Fernandes Rio Torto
  • Patrícia Campanha Azeredo
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Anestesiologia
Data de Publicação
27/01/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/samvet2020/314249-mioclonia-em-cao-submetido-a-anestesia-total-intravenosa-com-propofol--relato-de-caso
ISSN
2237-4949
Palavras-Chave
TIVA, efeito adverso, seizure-like phenomena, anestesia intravenosa, OH
Resumo
Introdução O Propofol é o agente anestésico injetável mais utilizado na indução e manutenção da anestesia total intravenosa (TIVA) de cães. Ele atua potencializando os efeitos depressores do sistema nervoso cen-tral produzidos pelo neurotransmissor GABA (NATALINI, 2007), sendo caracterizado como agente hipnóti-co, apresentando também propriedades anticonvulsivantes (STEFFEN; GRASMUECK, 2008). Entretanto, a presença de movimentos excitatórios involuntários com a administração deste agente está bem descrita em humanos (WALDER et al. 2002), com alguns relatos reportados em cães (DAVIES, 1991; CATTAI et al., 2015). O movimento excitatório involuntário é considerado mioclonia quando há súbita contração de um grupo de células musculares seguido de imediato relaxamento (MITEK et al., 2013). A mioclonia na aneste-sia difere de tremor, movimento de pedalagem e espasmos musculares ao não cessar com a administração de bolus de propofol ou fentanil (CATTAI et al., 2015). A intensidade e consistência da mioclonia pode im-pedir a continuidade da cirurgia, sendo necessária a administração de outros fármacos mais efetivos para adequação do plano anestésico (CATTAI et al., 2015). O objetivo deste trabalho é descrever um caso de mioclonia em uma cadela hígida anestesiada com propofol para procedimento cirúrgico eletivo. Relato de caso Uma cadela saudável de 5 anos, sem raça definida, pesando 8 kg, foi anestesiada para ovariohisterectomia eletiva em um projeto de pesquisa aprovado pela CEUA da UFRRJ (CEUA Nº 5615280819). Na anamnese não foram relatadas doenças neurológicas prévias, como convulsão ou doenças neuromusculares, apenas o histórico de erliquiose. Para medicação pré-anestésica foi administrado acepromazina na dose de 0,03 mg/kg pela via intramuscular, com a qualidade de sedação pontuada como adequada. Um cateter intravenoso foi inserido na veia cefálica e o campo cirúrgico tricotomizado. A anestesia foi iniciada com os fármacos co-indutores: sulfato de magnésio (MgSO4) na dose de 50 mg/kg administrado pela via intravenosa durante 15 minutos, seguido de fentanil na dose de 2,5 µg/kg durante 2 minutos. Até este momento, o animal se manteve estável com os parâmetros fisiológicos de frequência cardíaca (FC) 67 batimentos por minuto (bpm), frequência respiratória (FR) 44 movimentos por minuto (mpm), pressão arterial sistólica (PAS) 100 mmhg e temperatura retal (TR) 38 ºC, sem apresentar intercorrências. Após 2 minutos do término da administração de fentanil, iniciou-se a indução anestésica com propofol na taxa de 2 mg/kg durante 1 minuto até a possibilidade de intubação endotraqueal. Foram administrados um total de 8 mg/kg de propofol, com qualidade para intubação ainda inadequada devido à presença de mioclonias, porém para segurança da paciente foi realizada a intubação endotraqueal, sendo conectado a um circuito respiratório fechado no fluxo de 50 ml/kg/min de oxigênio a 100%. Foram administrados 2 bolus adicionais de propofol 1 mg/kg durante 30 segundos a fim de adequar o plano anestésico, a paciente foi mantida na manutenção de propofol na taxa de 0,6 mg/kg/min associado à fentanil (10µg/kg/h) e MgSO4 (15 mg/kg/h). Entretanto, ainda permaneceu com marcado movimento de língua, deglutição e contrações musculares exacerbadas. Neste momento apresentava os parâmetros fisiológicos: FC 123 bpm, FR 60 mpm, PAS 145 mmhg e TR 38,4 ºC. Devido a intensidade e consistência dos movimentos involuntários não responsivo a administração de propofol, foi interrompida a infusão contínua do mesmo e iniciada a anestesia pela via inalatória com isoflurano. Cinco minutos após a troca do agente hipnótico, cessaram os movimentos excitatórios involuntários, atingindo adequado plano anestésico para realização do procedimento cirúrgico. A cirurgia durou 35 minutos, sem intercorrências. Durante a fase de recuperação anestésica, o retorno da consciência e a extubação traqueal foram suaves, com a qualidade de recuperação sendo pontuada como boa. Discussão Descreve-se a ocorrência de mioclonia após a administração de propofol na TIVA em cão. O mecanismo que justifica o aparecimento de mioclonia não responsiva a bolus de propofol ainda é inconclusivo, acredita-se que é uma reação neurológica excitatória, de natureza sub-cortical (BORGEAT et al., 1991), categorizado como “seizure like phenomena” (SLP). Assim como no trabalho de Cattai et al. (2015), o fenômeno ocorreu alguns minutos após a indução da anestesia, continuando durante a manutenção até a troca do agente anestésico. Walder et al. (2002) sugeriram que SLP tendem a ocorrer durante alterações rápidas nos níveis de propofol no tecido cerebral. Este fenômeno não é comum, pois Cattai et al. (2015) relataram a apresentação de mioclonia em 6 de 492 (1.2%) cães anestesiados com propofol em TIVA. Davies (1991) reportou a presença de movimento excitatório involuntário em 12 casos de 159 cães (7.5%) em que se utilizou propofol como agente indutor e em alguns casos na manutenção da anestesia. A paciente foi pré-medicada com acepromazina, um fármaco que historicamente quando associado ao propofol está associado a convulsão (DAVIES, 1991), entretanto Tobias et al. (2006) em seu estudo retrospectivo, mostraram falta de associação entre a administração de acepromazina e a ocorrência de convulsões em cães com histórico de epilepsia. Os outros dois fármacos coadministrados ao propofol na anestesia da paciente, sulfato de magnésio e fentanil em literatura não promovem as alterações apresentadas neste relato, além de que durante suas administrações isoladas, e associadas ao isoflurano, não promoveram nenhuma das alterações citadas. A administração de múltiplos agentes durante a anestesia tem grandes vantagens, porém, na ocorrência de efeitos adversos pode ser difícil identificar o fármaco causador (LERVIK et al. 2010). Mioclonias e convulsões durante a anestesia podem ocorrer de forma mais específica em pacientes com histórico de epilepsia (NATALINI, 2007). A paciente não tinha tal histórico, porém, não se pode excluir a possibilidade de doença neurológica pré-existente, sendo o limiar para manifestação da doença diminuído pelos fármacos administrados. O tratamento instituído foi a transição da TIVA com propofol para anestesia inalatória, tendo os episódios de mioclonia cessados em cinco minutos. Cattai et al. (2015) contraindicaram a anestesia inalatória como primeira escolha de tratamento, por promover hipotensão e não resultar em controle imediato da mioclonia, sugeriram que o uso de bloqueador neuromuscular seja a primeira opção de tratamento, considerando também o uso de bolus de lidocaína. Entretanto, no caso relatado, a anestesia inalatória foi efetiva no controle do fenômeno e não promoveu nenhuma outra complicação. Conclusão Apesar de doença neurológica pré-existente e demais fármacos utilizados não terem sido totalmente excluídos como causa dos efeitos neurológicos observados, os autores concluíram que o propofol foi o responsável pelo fenômeno encontrado. Assim, veterinários devem estar atentos aos eventos neuroexcitatórios associados à administração de propofol e a forma de tratá-los. Agradecimentos: Agradecimentos à CAPES pela concessão de bolsas de estudos Referências ADAMI, C.; SPADAVECCHIA, C.; CASONI, D. Seizure activity occurring in two dogs after S-ketamine induction. Schweizer Archiv für Tierheilkunde, v.155, p. 569-572, 2013. BORGEAT, A.; DESSIBOURG, C.; POPOVIC, V.; MEIER, D.; BLANCHARD, M.; SCHWANDER, D. Propofol and spontaneous movements: an electroencephalographic study. Anesthesiology, 74, 24–27, 1991 CATTAI, A.; RABOZZI, R.; NATALE, V.; FRANCI, P.; The incidence of spontaneous movements (myoclonus) in dogs undergoing total intravenous anaesthesia with propofol. Journal of Veterinary Anaesthesia and Analgesia, v. 42, p. 93-98, 2015. DAVIES, C. Excitatory phenomena following the use of propofol in dogs. Journal of Veterinary Anaesthesia and Analgesia, v. 18, p. 48-51, 1991. LERVIK, A.; HAGA, HA.; BECKER, M. Abnormal motor activity during anaesthesia in a dog: a case report. Acta Veterinaria Scandinavica, v. 52, p. 1-5, 2010. MITEK, AE.; CLARK-PRINCE, SC.; BOESCH, JM. Severe propofol-associates dystonia in a dog. The Candian Veterinary Journal, v. 54, p. 471-474, 2013. NATALINI, C.C. Teoria e técnicas em anestesiologia veterinária. Porto Alegre: Artmed, cap.4, p. 72-73, 2007. STEFFEN, F.; GRASMUECK, S. Propofol for treatment of refractory seizures in dogs and a cat with intracranial disorders. Journal of Small Animal Practice, v. 41, p.496-499, 2008. TOBIAS, K.; MARIONI-HENRY, K.; WAGNER, R. A retrospective study on the use of acepromazine maleate in dogs with seizures. Journal American Animal Hospital Association, v.42, p. 283 – 289, 2006. WALDER, B.; TRAMER, RM.; DPHIL.; SEECK M. Seizure-like phenomena and propofol. Journal of Neurology, v. 56, p. 1327-1332, 2002.
Título do Evento
VI SAMVET 2020 - Semana Acadêmica da Pós-Graduação em Medicina Veterinária - SamVet / VI Mostra de Trabalhos da Medicina Veterinária
Título dos Anais do Evento
Anais SamVet 2020
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FERREIRA, Priscila Soares et al.. MIOCLONIA EM CÃO SUBMETIDO A ANESTESIA TOTAL INTRAVENOSA COM PROPOFOL – RELATO DE CASO.. In: Anais SamVet 2020. Anais...Seropédica(RJ) UFRRJ, 2020. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/SamVet2020/314249-MIOCLONIA-EM-CAO-SUBMETIDO-A-ANESTESIA-TOTAL-INTRAVENOSA-COM-PROPOFOL--RELATO-DE-CASO. Acesso em: 29/04/2025

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