PSICOLOGIA, SUBJETIVAÇÃO E NEOLIBERALISMO

Publicado em 26/09/2021 - ISBN: 978-65-5941-340-9

Título do Trabalho
PSICOLOGIA, SUBJETIVAÇÃO E NEOLIBERALISMO
Autores
  • Rômulo Ballestê
  • Juliana Ferreira da Silva
  • Francisco Teixeira Portugal
Modalidade
Grupo de Trabalho
Área temática
Eixo 2 – Estado, violência e autoritarismo no contexto mundial-globalizado
Data de Publicação
26/09/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/sbpp/364372-psicologia-subjetivacao-e-neoliberalismo
ISBN
978-65-5941-340-9
Palavras-Chave
Psicologia, subjetivação, neoliberalismo, empresa de si, liberalismo, autoritarismo.
Resumo
Encaminhamos ao XI Simpósio Brasileiro de Psicologia Política a proposta de criação do Grupo de Trabalho “Psicologia, Subjetivação e Neoliberalismo”, cuja finalidade é integrar a reflexão dos modos de subjetivação contemporâneos e suas relações com a racionalidade neoliberal de governo. O GT pretende abrir espaços de reflexão sobre tais processos buscando dialogar com o cenário político atual no Brasil e na América Latina. O GT também pretende desdobrar os objetivos específicos descritos abaixo: ? Construir um espaço de articulação entre pesquisadoras e pesquisadores oriundos de diferentes regiões e instituições, incrementando produção acadêmica que contribua para a propagação e compartilhamento de um campo cooperativo de elaboração conceitual e interventiva entrelaçando neoliberalismo e subjetividade no Brasil e na América Latina. ? Proporcionar e aprofundar laços de cooperação acadêmica e a efetivação de projetos com pesquisadoras e pesquisadores que, de diferentes modos, têm seus estudos voltados para processos contemporâneos das articulações entre psicologia, subjetividade e neoliberalismo. ? Planejar conjuntamente projetos de pesquisa, publicações, seminários e bancas em parcerias com instituições e grupos nacionais e internacionais. Qual a relação deste GT com o tema do encontro? O campo da Psicologia Política orienta-se pelo diálogo com as questões do tempo presente, pelas linhas de força políticas, estéticas e sociais que atravessam a subjetividade. Neste sentido, é fundamental que nos debrucemos sobre a problemática atual vivida no Brasil governado pela agenda da racionalidade neoliberal. Os processos de franco ataque à democracia, desmonte de órgãos estratégicos e de fiscalização, desmantelamento de políticas públicas sociais, o ataque à universidade pública, o negacionismo da gravidade da pandemia de Covid-19, dos crimes da ditadura cívico-militar brasileira e do conhecimento acadêmico-científico conectam-se com o aumento do desemprego, da fome, da destruição ambiental, do crescimento de posições neoconservadoras, anti democráticas, fascistas e eugenistas. O neoliberalismo, como tecnologia de controle sobre a sociedade tal como elaborado por Foucault no Nascimento de biopolítica, alçou a competitividade à característica predominante de seu funcionamento. Laval (2016), indica o governo com “regulação concorrencial da sociedade” como fulcro da racionalidade neoliberal. A forma da concorrência, no funcionamento do mercado na racionalidade neoliberal, não se encerra na dogmática do liberalismo clássico cujas ações estavam circunscritas à ideia de liberdade clássica cuja compreensão do individual e do direito à propriedade privada, guiavam a economia de troca. Diferentemente, para que o mercado concorrencial possa se desenvolver é necessário que a ordem jurídica do Estado intervenha e o regule constantemente. Tal mercado concorrencial do neoliberalismo exige o ajuste do homo œconomicus a este tipo de funcionamento. A frase de Margaret Thatcher proferida em 1981, em entrevista ao The Guardian, é reveladora: “A economia é o método; o objetivo é mudar o coração e a alma". Assim, a intervenção para manter a desigualdade própria ao mercado concorrencial é acompanhada sobretudo da exigência de transformação da dimensão humana em capital, cuja gestão visa à maximização de suas positividades com vista ao aumento do sucesso e da eficácia. Esta é uma redefinição do neoliberalismo que tem a condição de sua sustentação na adaptação do indivíduo ao meio ambiente social do suposto livre mercado. Portanto, a intervenção sobre o meio social remete histórica e conceitualmente à noção de adaptação defendida pelo darwinismo social de Herbert Spencer, que influenciou o neoliberalismo norte-americano ou às ideias de mundo da vida (Lebenswelt), de uma “política da vida” (Vitalpolitik) do vitalista Jakob von Uexküll, que influenciaram os ordoliberais alemães. Apesar das divergências entre as escolas neoliberais e de nem sempre se ver a referência explícita, a presença da psicologia e de sua dimensão biologizante e evolucionista no discurso econômico neoliberal é marcante. O economista Gary Becker, da escola de Chicago, por exemplo, evidencia a captura do sujeito econômico sob a forma de capital humano, sob a forma do desejo pela lógica de transformação do indivíduo em empresa de si. Esta lógica gerencial decanta a complexidade política, transformando-a em mera positividade calculável e administrável e institui explicitamente uma ação subjetivante. Neste sentido, Nikolas Rose mostra que, ao longo do século XX, a Psicologia desenvolveu sua forma por meio do encontro dos requerimentos endereçados por instituições disciplinares, com as normas estatísticas e as demandas sociopolíticas, com o objetivo de administrar com eficiência os indivíduos em seus espaços. Reconhecemos, ao menos, dois aspectos centrais que se entrelaçam e exigem nossa reflexão: a sobrecodificação capitalística da subjetividade, a suposta exterioridade dos processos democráticos e a consequente indiferença quanto a seu papel político, quanto à dimensão da participação e do engajamento numa existência comum. A fabricação do sujeito sob a lógica da empresa de si mesmo regula, por meio do dispositivo da competitividade, o desejo orientado a investir em si e se manifestar como dispositivos ilimitados de auto-exploração (DARDOT & LAVAL, 2016). Produz-se, consequentemente, o esvaziamento da dimensão política, a destituição do espaço do comum. Portanto, a subjetividade, configurada sob a defesa do mantra da liberdade liberal, localiza no indivíduo toda a sede do funcionamento das máquinas capitalísticas globalizadas que se vê, por meio de um processo de implosão da dimensão política, desacreditada ou até capaz de demonizar a política. Assim a não aderência à dimensão política, a não identificação e reconhecimento das questões coletivas tornam-se corriqueiras. Além destas, em tempos de fortalecimento autoritário, a implosão da dimensão coletiva da política está aliada aos ataques antidemocráticos. Como vimos, a subjetividade não deve ser pensada em descontinuidade com as questões da governamentalidade neoliberal porque o processo de constituição social está intimamente articulado aos modos políticos e econômicos do exercício do poder. A psicologia, justamente por entender que a subjetividade não se realiza apartada da dimensão político-econômica, encaminha reflexões críticas sobre a ação, o sentir e o perceber inscritos nas transformações do capitalismo em jogos de força nos quais são produtores ao mesmo tempo em que são produzidos. Qual a relação com o eixo temático escolhido? Nossa proposta adere ao conteúdo do Eixo temático 2 - Estado, violência e autoritarismo no contexto mundial-globalizado. A sociedade brasileira, nos últimos anos, tem vivido o crescimento de discursos conservadores e ações autoritárias. O fortalecimento da hegemonia neoliberal tem contribuído para o agravamento das tensões entre a democracia e o autoritarismo. Neste sentido, nossa proposta de GT é colocar em circulação reflexões sobre a racionalidade neoliberal, de forma a problematizar os processos de captura do Estado e dos indivíduos, a produção de subjetividades distantes das questões políticas coletivas e de dispositivos de adaptação ao livre mercado. Dessa forma, o GT convida ao debate ético-político que possa enfrentar os temas do Estado, das violências e dos autoritarismos no contexto global. Que tipo de trabalho será acolhido e quais as discussões que o GT pretende promover O Grupo de Trabalho deseja acolher trabalhos que dialoguem com o tema central da proposta em diversos planos. Serão privilegiados trabalhos que abordem as subjetivações neoliberais em curso, quer no mundo do trabalho, da produção artística, das experiências e propostas educacionais assim como análises histórico-conceituais que visibilizem os dispositivos neoliberais e a produção subjetiva, e ampliem nossa compreensão e nossas formas de ação. A proposta é construir um espaço de debates que contribua para o aprofundamento dos trabalhos participantes, quer na estruturação conceitual, quer no campo pragmático selecionado. Adicionalmente, tais debates oportunizarão a elaboração de um plano comum de reflexão e investimento social.
Título do Evento
XI Simpósio Brasileiro de Psicologia Política | Ofensivas anti-democráticas, colonialidade, experiências de subjetivação política e a crise da democracia no Brasil
Título dos Anais do Evento
Anais do XI Simpósio Brasileiro de Psicologia Política
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BALLESTÊ, Rômulo; SILVA, Juliana Ferreira da; PORTUGAL, Francisco Teixeira. PSICOLOGIA, SUBJETIVAÇÃO E NEOLIBERALISMO.. In: Anais do XI Simpósio Brasileiro de Psicologia Política. Anais...Belo Horizonte(MG) Online, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/sbpp/364372-PSICOLOGIA-SUBJETIVACAO-E-NEOLIBERALISMO. Acesso em: 24/04/2025

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