AUTOETNOGRAFIA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UMA DISCUSSÃO ÉTICA-METODOLÓGICA DESDE UMA TRAJETÓRIA PESSOAL

Publicado em 25/11/2022 - ISBN: 978-65-5941-910-4

Título do Trabalho
AUTOETNOGRAFIA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UMA DISCUSSÃO ÉTICA-METODOLÓGICA DESDE UMA TRAJETÓRIA PESSOAL
Autores
  • João Nackle Urt
  • Tchella Fernandes Maso
Modalidade
Trabalho avulso
Área temática
Ensino, Pesquisa e Extensão
Data de Publicação
25/11/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/spabri2022/505458-autoetnografia-em-relacoes-internacionais--uma-discussao-etica-metodologica-desde-uma-trajetoria-pessoal
ISBN
978-65-5941-910-4
Palavras-Chave
Autoetnografia. Etica. Povos Indígenas
Resumo
Este trabalho emprega, discute e examina as possibilidades da autoetnografia como protocolo ético fundamental para a atuação acadêmica em ensino, pesquisa e extensão. Seja envolvendo povos indígenas ou outras comunidades tradicionais, seja a partir da relação com movimentos sociais ou com grupos sociais subalternizados, esta discussão decorre da necessária dúvida ética sistemática que deve se apresentar diante da urgente tarefa de descolonizar a Universidade e o conhecimento científico. Ressoando com a recente virada narrativa em Relações Internacionais (Inayatullah 2011; Inayatullah e Dauphinee 2016), a proposta promove uma aproximação entre as RI e a escrita em primeira pessoa. O eu, sujeito-professor - que facilita a aprendizagem em sala de aula, promove a pesquisa e atua como extensionista - apresenta-se em seus comprometimentos corporais e afetivos, e dispõe-se a analisar as consequências dessas circunstâncias. A discussão ora proposta se dá em duas partes. Na primeira parte, apresenta-se a escrita em primeira pessoa de um dos autores: transitando entre os gêneros da autoetnografia, autobiografia e autoficção, João Urt aborda dez anos de sua história como professor de Relações Internacionais atuando com indígenas - estudantes, lideranças, territórios e temáticas. Do seu primeiro contato com pessoas indígenas ao engajamento social e político com esses povos, muitos processos levaram ao questionamento da branquitude e do possível papel dos colonos na luta anticolonial. Urt narra sua trajetória rumo à “clareira", metonímia da tradição lakota, em que um visitante, chegando a uma nova comunidade como forasteiro, deve instalar-se numa clareira, intencionalmente preparada pela comunidade-anfitriã, então acender um fogo e aguardar pacientemente até que a comunidade decida recebê-lo. No trabalho de Barker e Lowman (2016), sobre reconciliação entre indígenas e colonos, a “clareira” converte-se na representação de um espaço/tempo em que os colonos podem apresentar-se de boa-fé às comunidades indígenas, como primeiro passo para descolonizar suas relações. Essa trajetória pessoal, corporal e afetiva marca e mobiliza os dois corpos-pesquisadores rumo a um giro afetivo-reflexivo, cujas implicações são objeto da segunda parte deste paper: a reflexão crítica e a discussão epistemológica, metodológica e ética. Em seus aspectos meta-teóricos, o trabalho se fundamenta num encontro entre as reflexões epistemológicas-metodológicas de autoras indígenas - como Pauline Janyst (e sua coautora colona, Jessica Ball) (Ball, Janyst, 2008) e Linda Tuhiwai Smith (1999) - e a antropologia feminista, mais especificamente em seus usos da escrita em primeira pessoa como mecanismo ético de questionamento das estruturas de poder (Mclaren, 2016; Rago, 2013; Butler, 2015). Entre as técnicas utilizadas, está o itinerário corporal sugerido por Mari Luz Esteban (2013) como forma de desestabilizar o conhecimento androcêntrico e estabelecer conexões entre o local e o global, encarnadas em uma experiência. E o trabalho autoetnográfico de Carol Rambo (2019), que conta de modo fragmentário sobre as correlações entre um abuso sexual sofrido na infância e os limites e violências plasmados pelo saber científico. Tomando por base, portanto, o legado autoetnográfico e feminista dos últimos 40 anos, esta comunicação é texto de fronteira, que oscila entre o relato biográfico e o exercício reflexivo para buscar construir saberes críticos, anti-coloniais e próximos das demandas dos povos indígenas. Além disso, com conotações também literárias, o trabalho visa inspirar e encontrar ressonâncias (Cavarero, 2011) em outras vozes e ouvidos que não se sentem confortáveis com o modo academicista de produzir conhecimento. Nesse sentido, é um texto aberto, que convida ao diálogo desde a experiência encarnada por um pesquisador-professor que se questiona sobre seu lugar de fala em sua sociedade colona (Ribeiro,2019) e seu papel como branco em busca de parcerias com povos indígenas. Referências bibliográficas: BALL, Jessica; JANYST, Pauline. 2008. “Enacting Research Ethics in Partnerships with Indigenous Communities in Canada: ‘Do It in a Good Way’.” Journal of Empirical Research on Human Research Ethics 3 (2): 33–51. BUTLER, Judith. 2015. Relatar a si mesmo. Belo Horizonte : Autêntica Editora. CAVARERO, Adriana. 2011. Vozes plurais: Filosofia da expressão vocal. Belo Horizonte: EdUFMG. BARKER, Adam J.; LOWMAN, Emma B. 2016. "The Spaces of Dangerous Freedom: Disrupting Settler Colonialism". In Sarah Maddison, Tom Clark and Ravi de Costa (Eds.), The Limits of Settler Colonial Reconciliation: Non-Indigenous People and the Responsibility to Engage, Singapore: Springer, p. 195-212. ESTEBAN, Mari Luz. 2013. Antropología Del Cuerpo: Género, Itinerarios Corporales, Identidad y Cambio. Barcelona: Edicions bellaterra. INAYATULLAH, Naeem (Ed.). 2011. Autobiographical International Relations: I, IR. London and New York: Routledge. INAYATULLAH, Naeem; DAUPHINEE, Elizabeth (Eds.). 2016. Narrative global politics: theory, history and the personal in International Relations. London and New York: Routledge. MCLAREN, M. 2016. Foucault, Feminismo e Subjetividade. São Paulo: Intermeios. RAGO, Margareth. 2013. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas, SP: Editora da Unicamp. RAMBO, Carol. 2019. “Múltiples reflexiones sobre el abuso sexual infantil: Un argumento para una narración en capas”. In Calva, Silvia M. Bernard. Autoetnografía Una metodología cualitativa. México: Universidad Autónoma de Aguascalientes. RIBEIRO, Djamila. 2019. Lugar de Fala (Feminismos Plurais). Kindle. Pólen de livros. Autoetnografía Una metodología cualitativa SMITH, Linda T. 1999. Decolonizing Methodologies: Research and Indigenous Peoples. London: Zed Books.
Título do Evento
Seminário de Pós-Graduação da Associação Brasileira de Relações Internacionais
Cidade do Evento
São Paulo
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário de Graduação e Pós-graduação em Relações Internacionais
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

URT, João Nackle; MASO, Tchella Fernandes. AUTOETNOGRAFIA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UMA DISCUSSÃO ÉTICA-METODOLÓGICA DESDE UMA TRAJETÓRIA PESSOAL.. In: Anais do Seminário de Graduação e Pós-graduação em Relações Internacionais. Anais...São Paulo(SP) IRI-USP, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/spabri2022/505458-AUTOETNOGRAFIA-EM-RELACOES-INTERNACIONAIS--UMA-DISCUSSAO-ETICA-METODOLOGICA-DESDE-UMA-TRAJETORIA-PESSOAL. Acesso em: 26/04/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes