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Apresentação

Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa. Aquilo que a negra Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos contava. Pombada contava aos meninos de Corumbá sobre achadouros. Que eram buracos que os holandeses, na fuga apresssada do Brasil, faziam nos seus quintais para esconder suas moedas de ouro, dentro de grandes baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles buracos. Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos. (Manuel de Barros em Memórias Inventadas – A Infância) Entre os dias 26 e 28 de março de 2018, a Universidade de Brasília teve a honra de sediar o Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância, o primeiro evento de outros que ainda virão. Os anais do evento, que ora apresentamos, trazem o conjunto das pesquisas apresentadas no âmbito desse primeiro colóquio com abordagem sobre crianças e territórios de infância no Brasil. A temática se reveste de importância na contemporaneidade, pois revê abordagens que, tradicionalmente, tratavam o espaço de uma forma materialista e operacional, privilegiando, ao invés de vivências, conteúdos que faziam a opção pela reprodução mnemônica. Assim, busca-se, na atualidade, avançar na compreensão de princípios mais abrangentes em que estejam contemplados o conjunto desse espaço físico material e as vivências daqueles que compartilham esses espaços e os transformam em ambientes plenos das relações interpessoais, dos afetos e contendas, da cultura produzida em territórios em que processos de aprendizagem e desenvolvimento possam vir a ser favorecidos. Procurou-se, assim, contemplar a concepção de que toda criança nasce num certo momento histórico, num certo grupo cultural, num certo espaço-tempo, onde-quando vai, concomitante e complexamente, estabelecendo interações sociais, construindo identidades sociais e constituindo-se como pessoa. Pode-se inferir, então, que toda criança é criança em alguns locais dentro do local, pois esse mesmo mundo adulto destina diferentes parcelas do espaço físico em que vão sendo materializadas as infâncias aí produzidas que são, elas mesmas, produtoras de culturas. Nessa primeira edição, o evento teve como objetivos: contribuir com o intercâmbio de professores e estudantes das Universidades participantes; propiciar o estreitamento de vínculos entre Grupos de Pesquisa de Universidades brasileiras e estrangeiras; fomentar a divulgação e a sistematização de estudos teóricos sobre infância e território e estabelecer convênios entre os programas de pós-graduação com as universidades estrangeiras participantes, criando projetos de pesquisas comuns, missões de trabalhos e estudos entre os países. O debate engendrado permite reflexões acerca da Geografia da Infância, na perspectiva de contribuir com a construção de um arcabouço teórico que possa contemplar essa temática, ao mesmo tempo em que a articule aos diferentes campos do conhecimento nessa busca. Assim, ao tratar das temáticas: Crianças, Territórios de Infância, Geografia e Sociologia da Infância propomos, primeiramente, um papel plural a essas identidades infantis, localizadas espacialmente nas mais diversas paisagens do planeta, informadas por uma diversidade de ambientes, culturas e realidades sociais. Dessa forma, dialogamos com Heywood (2004) que nos conclama a refutar qualquer discussão que proponha a existência de um único modelo de infância, ancorado em visões hegemônicas dessa mesma infância. E ampliamos o diálogo na perspectiva histórico-cultural de Vigotski que, em obra póstuma de 1934, aborda o “role, meaning and influence that environment plays in the course of child development”, em uma perspectiva teórica na qual cultura e história humanas envolvem o fenômeno da experiência social. Nessa orientação, busca-se compreender como a criança se torna consciente, interpreta e se relaciona emocionalmente a certos eventos que ocorrem no ambiente e são singularizados pela sua experiência emocional (perizhivanie). Nos três dias do evento foram apresentados três tipos de atividades. Foram cinco conferências de especialistas convidados, nacionais e internacionais. Quatro mesas redondas, chamadas de Territórios de Conversa, formadas por palestrantes convidados que debateram temáticas a partir de abordagens diversas. Foram apresentados 109 pôsteres, em duas sessões, como Espaço de Diálogo, em que trabalhos de demanda espontânea e resultantes de pesquisas foram apresentados em sessões muito concorridas, nas quais cada um dos autores expunha e debatia seus trabalhos com uma dupla dos palestrantes convidados. Essa dinâmica permitiu a valorização dos trabalhos pela ampliação do diálogo de pessoas em diferentes momentos de desenvolvimento acadêmico. Os trabalhos apresentados foram divididos em seis temáticas em que se procurou abarcar a diversidade das abordagens. O mesmo arranjo por eixos temáticos organiza o texto destes Anais. Assim, discutir, no eixo 1, “A Infância na Cidade”, permitiu inserir as pesquisas e debates acerca da territorialidade das crianças na cidade, seus deslocamentos, seus olhares e compreensões sobre esse território, bem como suas vivências e experiências, ou ainda, para seu afastamento das ruas e dos espaços públicos. Nesse sentido, a contribuição de Dutra (ANAIS, 2018) é emblemática: “a saída das crianças das ruas é advinda da influência capitalista nas cidades, de forma a produzir a dissolução de uma ou algumas formas de viver e de práticas sociais - como o brincar na rua - acompanhada de uma redistribuição espacial das atividades, homogeneizando-se de maneira a promover a desvalorização e descaracterização dos espaços, quando não sua destruição”. Acreditamos, como nos ensina Harvey, que a cidade expressa a confluência/conexão entre o mundo e a vida. Essa abordagem descortina uma perspectiva de “construir e reconstruir as cidades como importante direito humano” e aponta para a premissa de que “a liberdade de fazer e refazer a nós mesmos e a nossas cidades e é um dos nossos direitos humanos mais preciosos, ainda que um dos mais menosprezados" (HARVEY, 2014, p. 28). Assim, pensar a infância, nesse contexto, permite lançar olhares sobre esses tempo(s)/espaço(s) na perspectiva da criança em seu universo infantil. Já o eixo 2, “Estudos da Infância em sua dimensão política”, transitou sobre o protagonismo infantil e sua condição de agente, sujeito criativo e criador de seus contextos. Assim, assumimos as palavras de Lima (ANAIS, 2018) para ilustrar o percurso percorrido pelos pesquisadores no âmbito desse eixo “(com)versar sobre a criança que pensa o ainda não pensado (mesmo que por ela) e por isso cria poeticamente novas existências, novos mundos, tempos, novos territórios, novas lógicas através de novas palavras e maneiras de fazê-las existir na concomitante criação de novas existências”. O eixo 3, “Infância em contextos culturais e sociais específicos”, apresenta a discussão sobre essas múltiplas infâncias inseridas em contextos espaciais, culturais, sociais, econômicos, específicos “onde o espaço/tempo é essencial na tessitura da identidade da criança e na produção do próprio espaço”. (DINIZ, anais, 2018). Assim, esse eixo nos permite confrontar a ideia de “normalidade” e considerar os direitos das crianças em diferentes contextos e suas competências em uma variedade de espaços, sem juízo de valor sobre estar ou não “fora do lugar” fazendo ou não “coisas que não correspondam ao universo infantil” (AITKEN, 2015, p. 133). O eixo 4, “Teorias sobre os estudos de bebês, crianças e infâncias”, aborda a temática dos bebês e das teorias envolvendo essas categorias. Os trabalhos apresentados apontam para a necessidade de se estudar o processo de desenvolvimento humano, com ênfase no desenvolvimento infantil, o que “requer uma postura investigativa que nos permita entender como um produto da vida social, a cultura, torna-se parte da vida das crianças, transformando seu próprio modo de ser” (SANTANA; PEREIRA, anais, 2018). O eixo 5, “Metodologias de pesquisas com bebês, crianças e infâncias, permitiu que pudéssemos conhecer as diversas metodologias que vêm sendo utilizadas para se trabalhar com a temática da infância, bem como as discussões acerca da ética na pesquisa com crianças e bebês. Assim, o relato a seguir pode nos dar pistas desses processos e abrir a gama de possibilidades tratadas nesse eixo: “Mas ver o mundo pelo olfato, pelo paladar, pelo tato, pela audição enfim pelo corpo (sinestesia) toma a dimensão de um ato visível para uma pessoa cega. Esse ver com o corpo permite que os outros sentidos se tornem centros geradores de uma nova percepção da paisagem. Então, o som da chuva permite que se saiba identificar uma paisagem, assim como o cheiro que essa chuva deixa no contato com os elementos da paisagem” (ARRUDA, anais, 2018). Por fim, o eixo 6 buscou abarcar outras possibilidades de tratar a temática da infância “Educação Infantil: políticas, formação e práticas.” Assim, às indagações de Paulino (ANAIS, 2018) sobre ser “possível que se imponham práticas, na educação infantil, voltadas à docilização dos corpos? A escola, como espaço de aprendizagem, pode reforçar, de forma oculta ou não, práticas nas quais os estudantes sejam podados na sua liberdade de criar e se expressar”, somam-se tantas outras que colocam as políticas públicas, o desafio da formação inicial e continuada de professores, os diversos programas voltados à infância em evidência. O evento teve como culminância a exposição Infancia /Dictadura: Testigos y Actores (1973-1990), organizada pela Profa. Dra. Patrícia Castillo Gallardo e trazida ao Distrito Federal pela Casa da Cultura da América Latina da UnB, com o apoio do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (SINPRO) e da Universidade Academia de Humanismo Cristiano. Precisamos, por fim, agradecer ao Fundo de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, pelo financiamento que foi de fundamental importância para o sucesso do evento. Agradecer também a Universidade de Brasília pelo apoio no uso de espaços, disponibilização de servidores técnico-administrativos, apoio institucional de decanatos e diretorias, entre outros. Almejamos que, para além da continuidade de outros eventos que ainda virão, possamos manter o envolvimento acadêmico no debate para continuar produzindo intercâmbios, vínculos, divulgação, novas sistematizações e projetos comuns. Comissão Organizadora Maria Lidia Bueno Fernandes Jader Janer Moreira Lopes Cristina Massot Madeira Coelho Bruno Muniz Figueiredo Costa Referências: AITKEN, Stuart C. Children’s rights: a critical geographic perspective. In: VANDERHOLE, W. et al. Routledge International Handbook of Children’s Rights Studies. London; New York: T&F Routledg, 2015. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=Y6WsBwAAQBAJ&printsec=frontcover Acesso: 24 fev.2017. ARRUDA, Luciana. A utilização de uma maquete multissensorial para a aprendizagem do conceito de paisagem nas séries iniciais. In: Anais do Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância. Brasília, 2018. DINIZ, Reinaldo Ramos. A poesia da infância tecida no espaço-tempo de Manoel de Barros. In: FERNANDES, M. L. B. et al. Anais do Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância. Brasília, 2018. DUTRA, Cristian. A saída das crianças das ruas: três momentos. In: Anais do Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância. Brasília, 2018. HARVEY, David. Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014. LIMA, Márcia Fernanda Carneiro. As crianças e seus modos poéticos e aberrantes de povoamento da terra. In: FERNANDES, M. L. B. et al. Anais do Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância. Brasília, 2018. PAULINO, Belister Rocha. Corporeidade e educação infantil - percursos formativos e ações pedagógicas com o movimento na escola. In: Anais do Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância. Brasília, 2018. SANTANA, Cláudia da Costa G.; PEREIRA, Luiz Miguel. Teoria histórico-cultural e teatro com bebês, vivências e enunciações no contexto da pesquisa. In: Anais do Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância. Brasília, 2018. VYGOTSKY, L. Semenovitch, The problem of environment. In: The Vygotsky Reader, pp. 338-354, ed. Rene van der Veer and Jaan Valsiner



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Responsável

Maria Lidia Bueno Fernandes

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