TORNIQUETES NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: RISCOS E BENEFÍCIOS DA PRÁTICA PARA O CONTROLE DE HEMORRAGIAS

Publicado em 08/04/2024 - ISBN: 978-65-272-0395-7

Título do Trabalho
TORNIQUETES NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: RISCOS E BENEFÍCIOS DA PRÁTICA PARA O CONTROLE DE HEMORRAGIAS
Autores
  • Mateus Gamarra Schwieder
  • Diandro Amaral
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Emergências relacionadas ao trauma
Data de Publicação
08/04/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/traumaemergencia/791713-torniquetes-no-atendimento-pre-hospitalar--riscos-e-beneficios-da-pratica-para-o-controle-de-hemorragias
ISBN
978-65-272-0395-7
Palavras-Chave
Hemorragia. Assistência Pré-hospitalar. Torniquetes.
Resumo
Introdução: o uso de torniquetes (TQs) para o atendimento a vítimas de hemorragias é amplamente difundido no âmbito militar, sobretudo devido a serem preconizados pelo guia “Tactical Combat Casualty Care” (TCCC), que busca elucidar técnicas para a assistência a soldados feridos em campos de batalha, e terem notória eficácia para a diminuição da incidência de choques hipovolêmicos nestes ambientes (TEIXEIRA, et al, 2023). Neste ínterim, convém ressaltar que as hemorragias, quando não controladas em tempo hábil, podem culminar rapidamente no óbito da vítima, devido à perda importante de volume sanguíneo. Contribui para este cenário um estudo de O’Reilly (2021) que concluiu que, ao se considerar que o paciente com quadro hemorrágico é exposto a um estresse intenso, devido ao estímulo simpático, ocorre um importante aumento do débito cardíaco, capaz de alcançar até mesmo onze litros por minutos. Destarte, considerando-se que, a depender do vaso rompido, cerca de 20% do volume sanguíneo correspondente a ele é perdido em cerca de cinco segundos, evidencia-se a necessidade de agir rapidamente perante a situação, a fim de evitar-se que o indivíduo afetado perca a consciência (SALES, et al, 2023). Defronte ao abordado, salienta-se que, conforme o protocolo de Suporte Básico de Vida (SBV) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), a primeira opção perante o atendimento à vítimas civis de traumas que apresentam quadro hemorrágico constitui-se como a compressão direta do local com compressas e, unicamente na impossibilidade da conduta anterior de deferir as demandas assistenciais, aplicar o TQ (BRASIL, 2016). Frente ao abordado, revela-se como imperioso discutir acerca da aplicabilidade dos torniquetes no atendimento pré-hospitalar, de maneira a possibilitar a fundamentação científica da prática, além de fomentar o atendimento integral ao paciente, tal qual preconizado pelo Artigo 7º da Lei 8.080, de Setembro de 1990, inciso II, que define a integralidade como “conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (BRASIL, 1990, n.p.). Objetivo: discorrer, a partir da literatura vigente, acerca dos riscos e benefícios do uso do torniquete durante o atendimento pré-hospitalar à vítima com quadro hemorrágico. Metodologia: trata-se de uma revisão narrativa da literatura, metodologia escolhida devido a constituir um instrumento educativo útil por condensar variadas informações em um formato legível, além de apresentar uma perspetiva alargada do tópico em revisão (RIBEIRO, 2014). Primeiramente, foi necessário elaborar a questão norteadora da pesquisa, que denotou-se como: “Qual a relação risco x benefício da utilização do torniquete durante o atendimento pré-hospitalar para com pacientes com quadro clínico hemorrágico?”. Na sequência, foram utilizados os descritores “Hemorragia”, “Assistência Pré-hospitalar” e “Torniquetes”, fundamentados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), para a procura nas bases de dados Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online (Scielo), Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (Lilacs) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para critérios de inclusão, foram admitidos publicação nos últimos dez anos, em Língua Portuguesa ou Inglesa, disponibilização gratuita e pertinência ao tema. Resultados/Discussão: ao se utilizar os descritores supracitados nas bases de dados cabíveis, obtiveram-se 209 obras, das quais 10 foram selecionadas para leitura na íntegra após análise de títulos e resumos, que excluiu 199 obras. Neste ínterim, foi possível obter vertentes distintas acerca da temática abordada, sendo que parte dos autores elucidou as vantagens da utilização do TQ no atendimento a civis, enquanto que os demais ressaltaram os riscos desta prática. Acerca da primeira temática, é importante considerar que a utilização dos dispositivos da natureza discutida, quando utilizados da forma correta, contribuem consideravelmente para o prognóstico do paciente. Sobre essa ótica, é imperioso citar um estudo publicado por Ode e demais autores (2015) que trouxe à tona a temática ao utilizar como população as forças militares estadunidenses atuantes na Ásia, que evidenciou que cerca de dois mil militares foram salvos devido à rápida intervenção com a técnica, após um trauma importante que resultou em quadro hemorrágico (BUTLER, 2015). Neste aspecto, surge uma das principais preocupações acerca da utilização do TQ no atendimento pré-hospitalar, pois os principais estudos sobre o assunto, incluso o supracitado, abordam a utilização de dispositivos comerciais, fato que fomenta uma lacuna acerca daqueles que são improvisados durante a assistência, situação muito comum no ambiente pré-hospitalar. Quanto a esta temática, é possível citar um estudo multicêntrico realizado por Schroll e demais autores (2015) que analisou 197 situações nas quais foram utilizados TQs, sendo 20,3% (n=40) improvisados, grupo no qual nenhum dispositivo pode ser associado a um maior índice de complicações, amputações ou óbito, frente aos de origem comercial. Contudo, é imperioso que o profissional que realizar a aplicação do TQ, especialmente quando este for improvisado, detenha domínio acerca de como realizar o atendimento, além de de fatores como o local de colocação do torniquete na lesão, tempo de permanência e nível de força de compressão empregados, haja vista que estes influenciam diretamente no desfecho da integridade do membro (GOMES, et al, 2024). Neste ínterim, as principais iatrogenias oriundas da aplicação de TQ relacionam-se à isquemia induzida pelo dispositivo na região, que leva à hipóxia tecidual, hipoperfusão e hiponutrição, que potencializam a necrose e apoptose celular, capazes de culminar em lesões neurovasculares, dor, diminuição dos movimentos e transtornos relacionados a próteses, porém a maior parte das lesões relaciona-se à permanência do torniquete por mais de 150 minutos (NETO, ARAÚJO, FARIAS, 2022; GOMES, et al, 2024). Neste sentido, o protocolo de SBV do Ministério da Saúde traz importantes recomendações para a práxis abordada, como a observação constante do local de aplicação, retirada do dispositivo em até duas horas e não remoção de objetos encravados na área (BRASIL, 2016). Ademais, alguns autores recomendam que o local seja reavaliado a cada 30 minutos, a fim de se verificar a necessidade de afrouxar ou não o dispositivo (JOARDER, et al, 2023). Não obstante, é interessante que o socorrista siga um protocolo fundamentado cientificamente para o atendimento, a fim de nortear suas ações. Assim, o Ministério da Saúde, através do Protocolo de SBV, orienta que deve-se tentar primeiramente a compressão do local e, caso isso não obtenha sucesso, o local de sangramento deverá ser exposto, mesmo que para tal as vestes do paciente precisem ser cortadas, instalar o dispositivo acima do ferimento, em sentido proximal, aplicar força de compressão suficiente até produzir uma pressão que cesse completamente o sangramento e o fluxo arterial distal, manter o ferimento coberto e reavaliá-lo de forma contínua, até a chegada que dará prosseguimento ao atendimento (BRASIL, 2016). Com isso, garante-se que o atendimento seja realizado com segurança, sem expor o paciente a riscos evitáveis. Conclusão: o uso de torniquetes é envolto em diversas controvérsias, devido a não se ter uma consonância na literatura acerca da sua aplicabilidade segura para a contenção de sangramentos. Nesse sentido, a pesquisa evidenciou que, para o correto manejo do dispositivo, mesmo em situações de improviso, é essencial que a pessoa que realizar sua aplicação detenha conhecimento sobre a forma correta deste ato, a fim de se reduzir as chances de iatrogenias. Ademais, recomenda-se que a primeira tentativa de socorro utilize como ponto de partida o emprego de compressas para contenção do sangramento e, apenas na hipótese deste ato não obter sucesso, empregue-se o uso do torniquete. Descritores: Hemorragia. Assistência Pré-hospitalar. Torniquetes. Área temática: Emergências relacionadas ao trauma REFERÊNCIAS BRASIL. Lei. LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. Brasília, DF. Presidência da República, 1990. 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Título do Evento
III CONGRESSO NACIONAL DE TRAUMA E MEDICINA DE EMERGÊNCIA
Título dos Anais do Evento
Anais do III Congresso Nacional de Trauma e Medicina de Emergência
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SCHWIEDER, Mateus Gamarra; AMARAL, Diandro. TORNIQUETES NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: RISCOS E BENEFÍCIOS DA PRÁTICA PARA O CONTROLE DE HEMORRAGIAS.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/traumaemergencia/791713-TORNIQUETES-NO-ATENDIMENTO-PRE-HOSPITALAR--RISCOS-E-BENEFICIOS-DA-PRATICA-PARA-O-CONTROLE-DE-HEMORRAGIAS. Acesso em: 27/04/2025

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