O DISCURSO ULTRAMONTANO NO BRASIL

Publicado em 01/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0265-3

Título do Trabalho
O DISCURSO ULTRAMONTANO NO BRASIL
Autores
  • Tatiana Costa
Modalidade
Comunicação em Simpósio Temático
Área temática
Religião, religiosidades, política e poder (Prof. Dr. Fernando Neves - UFPA)
Data de Publicação
01/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/723425-o--discurso-ultramontano-no-brasil
ISBN
978-65-272-0265-3
Palavras-Chave
ULTRAMONTANISMO; REFORMAS RELIGIOSAS; BISPOS; RELIGIÃO
Resumo
O objetivo desta comunicação fruto da minha pesquisa de doutorado será analisar o discurso ultramontano no Brasil durante o século XIX, tendo por corte geográfico as Dioceses de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Será abordado a figura dos bispos Dom Antônio Ferreira Viçoso, Dom Antônio Joaquim de Mello e Dom Pedro Maria Lacerda, que se tornaram os personagens principais desta tese, pois, durante o século XIX, foram consagrados como bispos nas dioceses supracitadas e são considerados como marcos no pensamento ultramontano brasileiro. O termo "ultramontanismo" é uma expressão que se originou no contexto da Igreja Católica e tem significados diferentes ao longo da história. Geralmente, refere-se a uma posição de forte apoio ao papado e à autoridade do Papa sobre todas as questões religiosas e, por vezes, também sobre questões políticas e sociais. Uma das principais característica do movimento ultramontano seria, o apoio incondicional ao Papado. Originalmente, o termo "ultramontanismo" se consolidou no século XIX, principalmente na França, para descrever aqueles que eram vistos como ultrapapistas. Isso significava que eles defendiam vigorosamente a supremacia do Papa sobre o clero local e o governo civil. Todavia, a palavra "ultramontano" em si significa "além das montanhas", referindo-se às montanhas dos Alpes, que separam a Itália (onde fica o Vaticano) do restante da Europa. Assim, ser ultramontano significava apoiar o Papa além dessas montanhas. O ultramontanismo também está relacionado a uma posição teológica que enfatiza a infalibilidade papal, ou seja, a crença de que o Papa é incapaz de errar quando fala ex cathedra (do trono papal) em questões de fé e moral. Esse conceito foi formalmente definido como dogma em 1870 no Primeiro Concílio do Vaticano. Nos pontificados de Pio IX (1846-1878) e de seu sucessor Leão XIII (1887-1903), intensificaram-se as ações da Igreja Católica no sentido de combater a expansão do liberalismo, do racionalismo e de seus impactos nos campos religioso, filosófico e político. Esse combate ao mundo moderno ficou conhecido como ultramontanismo, pois pregava a total submissão dos poderes temporais à autoridade papal, situada “além dos Alpes”. A publicação da bula Syllabus Errorum no ano de 1864, amplamente usada e citada entre os ultramontanos, condenava os erros da moderna civilização pelo Papa e se tornou o impulso principal para a convocação dessa reunião conciliar. Essa bula tem por intuito promover uma condenação do mundo liberal, tendo destaque para a tese 76 que nega o fim do Estado Pontifício e a tese 80 que nega a reconciliação com o progresso. Além disso, a Syllabus Errorum de 1864 defendia que a Igreja devia se separar do Estado e redefinir sua autonomia. Essas bulas foram o ponta pé inicial para a proclamação do papa do Concílio do Vaticano I. Dessa maneira, podemos, então, perceber que esses religiosos, no contexto da reforma religiosa do século XIX, tiveram papel importante no processo, responsável pela ortodoxia da Igreja e por fazer que a população se imbuísse do “espírito católico”, substituindo pouco a pouco o tradicional catolicismo luso-brasileiro pelo catolicismo romanizado, com ênfase na doutrina, pelo menos em teoria. Ao assumir seu papel de propagador da religião católica, esse clérigo devia ser mais bem instruído de acordo com os preceitos tridentinos, mostrando-se seguidor das doutrinas emanadas de Roma e conhecedor da hierarquia da Igreja. Dessa forma, com a criação de seminários, era incentivada a formação de um novo clero para substituir o antigo, liberal e regalista, e através dele formar os católicos num modelo de Igreja tridentina, sacralizando os locais de culto e valorizando as práticas de sacramento. Evidentemente, essa instituição devia ser portadora de uma formação europeia e, para isso, contava com significativa participação da Santa Sé para impulsionar o projeto de formação religiosa. Pio IX foi um dos papas que mais incentivaram o clero, criando novas ordens, redefinindo as antigas e tornando-as mais militantes. Um dos pontos criticados pelos ultramontanos seria o envolvimento político do clero. Contudo, em alguns momentos da história, o ultramontanismo também se estendeu para questões políticas, com os ultramontanos defendendo a influência direta do Papa nas questões políticas dos Estados e a rejeição de qualquer forma de separação entre a Igreja e o Estado, e através das cartas escritas pelos bispos citados fica evidente essa questão política. Além das características definidas acima, o pensamento ultramontano não foi um bloco monolítico, possuía algumas diferenças regionais. É importante notar que essa corrente de pensamento variou em intensidade e aplicação em diferentes regiões e momentos da história, e nem todos os católicos compartilharam essa perspectiva. Desse modo, a comunicação visa compreender os discursos ultramontanos desses três bispos brasileiros. A princípio, se faz necessário no trabalho realizar uma análise do discurso desses bispos. A partir daí, deve ser feita uma reflexão histórica da reforma religiosa na Europa ao longo dos tempos até atingir a América Portuguesa para, depois, fazer um estudo acerca dos discursos ultramontanos, suas diferenças e semelhanças, partindo da perspectiva ultramontana desses personagens e tendo como documentação a discutir as cartas pastorais, a verificação das visitas pastorais e, também, a produção literária desses bispos. Desse modo, esses personagens encontraram grande apoio das associações religiosas construídas nas dioceses. Daí a grande importância de verificar o discurso propagado pelos leigos que aderiram ao ultramontanismo no século XIX, tendo como principal documentação os jornais divulgados por esses ultramontanos nas referidas dioceses, bem como os documentos produzidos pelas associações católicas. Portanto, o grande intuito seria verificar como se comportava o discurso ultramontano dos bispos, bem como da população leiga em relação a essa forma de pensar. Através desse estudo, analisamos não só o discurso institucional propagado pelo ultramontanismo, mas também ideais que ao mesmo tempo eram perspectivas particulares desses bispos e dos leigos. Esta análise nos permite proporcionar a compreensão de homens inseridos em seu tempo, num contexto histórico amplo, mas também cônscios de que eram pessoas dotadas de experiências e expectativas particulares que se fizeram presentes ao longo da análise documentária. Constata-se, então, que os estudos acerca do ultramontanismo consolidados dentro da historiografia carecem de mais perspectivas de análises.
Título do Evento
V Encontro de Pós-Graduandos da SEO
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro de Pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO)
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

COSTA, Tatiana. O DISCURSO ULTRAMONTANO NO BRASIL.. In: Anais do V encontro de pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO). Anais...São Luís(MA) UFMA, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/723425-O--DISCURSO-ULTRAMONTANO-NO-BRASIL. Acesso em: 29/04/2025

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