“BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO”: AS INCOERÊNCIAS DA CULTURA DE ÓDIO

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
“BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO”: AS INCOERÊNCIAS DA CULTURA DE ÓDIO
Autores
  • Ravena de Souza Zanon Dellatorre
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 20] Sistema judiciário, desigualdades étnicas e raciais
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/104459-bandido-bom-e-bandido-morto--as-incoerencias-da-cultura-de-odio
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Sociedade. Crime. Pena. Bandido. Discurso. Ódio.
Resumo
RESUMO Este trabalho tem como objetivo apresentar a complexidade do problema da criminalidade no Brasil, tentando identificar e explicar as contraposições impostas por uma grande parte de brasileiros, que insatisfeitos com o cenário violento vivido atualmente no país, usam da frase “bandido bom é bandido morto” como suposto meio de redução da marginalidade. Uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que cerca de 60% dos brasileiros concordam com a frase “bandido bom é bandido morto”, todos se sentem aptos a opinar, pois todos são vítimas em potencial, e não somente aqueles que estudam o direito penal. A população brasileira continuamente tem a sensação que se o Estado não cuida da população carcerária, também não cuida dela, pois são constantes os relatos de pessoas doentes em filas de hospitais, as escolas são ruins, não tem segurança nas ruas, então a sociedade tem a impressão que todos só se preocupam com os bandidos, é de onde parece vir essa espécie de ressentimento, dessas pessoas muitas vezes invisíveis e de pouco estudo. É importante explicar que não se trata de ficar preocupado com os bandidos, mas sim de iluminar um mau trato e uma má gestão. Dessa forma a pena de morta surge como a principal solução para essa questão, retribuir é a primeira resposta dada no sentido de justificar a pena, tendo uma idéia bem simples de vingança e de ‘olho por olho e dente por dente’, sendo essa visão nada coerente com um Estado democrático. Esmiuçando a pena de morte de diversas formas é perceptível não ser possível sustentá-la de nenhuma maneira, numa sociedade civilizada não se pode ter esse critério, pois está sujeito e inúmeros erros, entre eles a subjetividade, que é o mal desse século, então há a necessidade do sistema jurídico, que sim é moroso, e quando se esgota todos os recursos passaram-se muitos anos do crime cometido, perdendo o caráter do crime exemplar. Analisando os Estados Unidos, um país que tem pena de morte, os estados que tem a pena não tem a criminalidade menor do que a dos estados que não tem, por que serão executados muito tempo depois do tempo do crime, e num país como o Brasil adotando a pena de morte, tendo bons advogados e condição financeira, terão condição de se defender e de até adiar ou extinguir a pena, e os mais pobres e mais desprotegidos são os que vão depender do sistema do Estado, e serão esses os condenados à pena de morte, sendo a pena no Brasil altamente discriminativa. A nossa história penal já demonstrou que a possibilidade de aplicação da pena de morte no Brasil só serviu para o cometimento de mais injustiças, principalmente contra as camadas mais desprotegidas da sociedade, como ocorreu com os negros durante o Brasil Império. Não se poderia deixar de mencionar que, no caso da pena de morte, estar-se diante de uma vedação absoluta, portanto, uma cláusula pétrea somente poderá ser abolida ou restringida através de uma revolução, pelo uso da força, ou seja, através de uma ruptura total do atual regime e surgimento de um novo Poder Constituinte Originário. É óbvio que os crimes devem ser punidos, porém querer transgredir os nossos direitos penais e humanos, conquistados dificuldades, num país que passou por duas ditaduras militares, sendo incoerente. Os negros e mulatos são representados em maior número no sistema penitenciário, por que além da pobreza, há o preconceito racial, que é um preconceito muito forte no Brasil. É preciso desconstruir o preconceito da sociedade em cima do cidadão infrator, a ressocialização existe e é possível, bastando apenas uma visão melhor das pessoas na questão do tratamento para com o outro, e também de parte do Estado, com políticas públicas capazes e eficazes, pois as cadeias hoje são feitas para punir e não para recuperar. O sistema carcerário brasileiro é feito para castigar, as cadeias não têm condição humana de manter uma pessoa, e a sociedade aprova, não vendo o quão prejudicial é, pois lá dentro os réus se articulam, rancorosos, voltando para rua mais poderosos e perigosos que antes. Atualmente na sociedade existe um clamor muito forte por justiça, seria excelente se fosse aplicado da forma correta, quando esse protesto vem acompanhado de um discurso e de uma cultura de ódio, é preciso analisar o que causa isso no ser humano. Dizer que falta de escolaridade e a pobreza, juntamente com a falta de informação geralmente faz parte do perfil de pessoa que goteja esse tipo de frase é minimizar a conduta de muitas pessoas com oportunidades e condições sociais, que o fazem justamente por pura falta de caráter e humanidade, e também por serem pessoas com pensamentos mais primitivos na comunidade que vivem. O crime e a conduta não é o que se busca defender com esse trabalho, e sim o direito do indivíduo de responder ao processo penal e cumprir pena conforme deve ser, sem julgamentos intrínsecos de terceiros, que apontam o dedo na cara dos outros e atacam desejando justiça com sangue. O que já foi observado diversas vezes nas relações entre pessoas é que para alguns “bandido bom é bandido morto”, mas apenas se for pobre, negro e favelado, pois se for aquele colega riquinho que vende droga na festa ‘rave’, tudo bem, sem problemas, esse sim pode viver. A hipocrisia que uma parcela da sociedade vive é incrivelmente vexatória e perturbadora, alguns se auto-intitulam “cidadãos de bem”, mas dentro de suas casas escondem segredos terríveis. O discurso de ódio que alguns bradam tanto contra os “bandidos” pedindo tão facilmente a morte de um ser humano se contrapõe com o próprio discurso conservador em favor da vida e contra o aborto, provando mais uma vez a falta de nexo e estudo para chegar a conclusão de situações tão complexas. O discurso de ódio visa objetificar uma pessoa ou grupo de pessoas, sendo que a vitimização é difusa, sendo claramente na afirmação em questão “bandido bom é bandido morto”, apenas uma classe mais desprotegida da sociedade.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

DELLATORRE, Ravena de Souza Zanon. “BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO”: AS INCOERÊNCIAS DA CULTURA DE ÓDIO.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/104459-BANDIDO-BOM-E-BANDIDO-MORTO--AS-INCOERENCIAS-DA-CULTURA-DE-ODIO. Acesso em: 24/04/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes