INFÂNCIAS INTERROMPIDAS: AS CRIANÇAS DO HOLOCAUSTO, 1933-1945

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
INFÂNCIAS INTERROMPIDAS: AS CRIANÇAS DO HOLOCAUSTO, 1933-1945
Autores
  • Fernanda Capri Raposo Gomes
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 12] Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/109358-infancias-interrompidas--as-criancas-do-holocausto-1933-1945
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Criança; Holocausto; Memória; Testemunho; Violência
Resumo
Esta comunicação é resultado dos estudos levantados até o momento para a tese de doutoramento, a qual visa analisar as memórias dos indivíduos judeus que na época do regime nazista eram crianças as quais foram vítimas das perseguições antissemitas, e que conseguiram sobreviver as ações genocidas legitimadas pelo regime. Circunscrevemos nosso universo aquelas crianças que, entre 1933-1945, e, também no pós Segunda Guerra, vieram para o Brasil na condição de refugiado do nazifascismo. Dentre as fontes selecionadas para análise estamos considerando: os testemunhos registrados no formato de testemunhos escritos/documento monumento, autobiografias, diários, crônicas testemunhais, cartas, documentos oficiais e vídeos/documentários. Através dos testemunhos procuramos identificar as estratégias utilizadas para subsistirem durante o período. Para tanto, consideramos importante reconstituir caminho percorrido por esses sujeitos em sua rota de fuga até a comunidade de destino. No entanto, para conseguirmos dimensionar estes momentos de rupturas, precisamos saber como viviam e como foi o processo de adaptação ao seu “mundo em caos” e em meio à violência que alterou seu cotidiano. E, quais foram as marcas que a guerra deixou. Desse modo, a pesquisa em andamento tem como foco as memórias daqueles que eram crianças de origem judaica, um dos grupos étnicos-sociais perseguido pelos nazistas como “raça indesejável”. O objetivo deste trabalho, portanto é apresentar os resultados preliminares sobre quais marcas indeléveis foram deixadas nas vidas desses indivíduos, hoje com mais de oitenta anos e, como reconstruíram sua vida em terras brasileiras, após enfrentar o episódio que pode ser considerado como um dos mais violentos na história da humanidade. A pesquisa vem sendo desenvolvida levando em consideração, em primeira instância, a produção historiográfica já existente. A partir de um amplo inventário preliminar, selecionamos e analisamos publicações disponibilizadas em bibliotecas virtuais e físicas. Uma vez, identificadas as lacunas que ainda prevaleciam sobre o tema e definido o nosso universo de pesquisa, dedicamos nossas ações investigativas na seleção das fontes, priorizando os testemunhos orais daqueles que eram crianças durante o Holocausto. A maioria destes registros orais, que estão disponíveis no Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação, da Universidade de São Paulo, nos Museus do Holocausto, de Berlim e nos Estados Unidos, que contêm transcrições dos depoimentos em língua original do depoente, português e em inglês. Para este trabalho foram selecionadas quatro entrevistas realizadas com mulheres sobreviventes hoje com idades entre 80 à 89 anos. Será apresentada, neste trabalho, uma análise do discurso dessas mulheres entrevistadas. Em meio ao caos provocado pelas perseguições nazistas, as crianças judias e ciganas, principalmente, tornaram-se vulneráveis à violência. Fossem fetos, bebês ou adolescentes, deveriam ser presas com ou sem seus pais, para serem exterminados. Segundo a Enciclopédia do Holocausto, os nazistas e colaboracionistas assassinaram cerca de 1,5 milhão de crianças. As crianças, judias e não-judias - caso não conseguissem um esconderijo que garantisse a sua sobrevivência - eram assassinadas nas ruas, jogadas nas sarjetas ou assim que chegavam aos campos de extermínio. Para o caso daquelas que nasciam ou viviam escondidas em alguma instituição ou que nasciam nos guetos e campos protegidas pelos prisioneiros, se encontradas seriam executadas. Aquelas que eram maiores de 12 anos eram usadas como escravas ou em experiências “médicas”. Apesar de sua grande vulnerabilidade, muitas crianças conseguiram meios de sobreviver roubando e trocando o produto de suas atividades por comida e medicamentos para levar para dentro dos guetos. Após a rendição da Alemanha nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial, havia milhares de órfãos nos campos para refugiados. Estas crianças foram posteriormente levadas para os diversos assentamentos judaicos pelo mundo. E o Brasil apesar do cenário de desfavorecimento também foi um local escolhido pelos grupos de auxílio e também pelos próprios sobreviventes para fixarem residência e recomeçarem suas vidas. Até o momento observamos que as crianças que sobreviveram ao Holocausto foram repetidamente expostas durante seus anos mais formativos a terríveis crueldades, como a solidão, tortura e fome. A maioria deles perdeu familiares, amigos, lar e pertences. Privados prematuramente da segurança e da inocência da infância, eles viram suas comunidades se desintegrarem e suas estruturas sociais entrarem em colapso. Essas experiências horríveis deixaram profundas e duradouras cicatrizes psicológicas em muitas dessas crianças sobreviventes. Existem evidências consideráveis, tanto clínicas quanto empíricas, de que crianças sobreviventes constituem um grupo de alto risco para psicopatologia e problemas de ajustamento, manifestados em depressão clínica e subclínica, ansiedade, somatização e perda de identidade e baixa autoestima, dificuldade em expressar raiva e capacidade prejudicada de criar e manter e relações interpessoais estáveis. Contudo, tanto clínicos como pesquisadores proporcionam indicações demonstrando que muitas crianças sobreviventes da Shoah evidenciam um impressionante poder de recuperação, manifestado em sua capacidade de gerenciar vidas normais e criativas e realizar uma variedade de tarefas psicossociais. Este capitulo negro dos maus tratos e violência, em especial, a crianças e adolescentes é a representação recalcada do destino das ações reformatórias e revolucionárias das atrocidades cometidas pelo nazismo, cujo sobrevivente carrega um conflito de testemunhar sobre o ocorrido, uma vez que os modelos representativos que permitem a transmissão da experiência para o texto são incapazes de representar tal como o fato ocorreu mesmo este sentindo a necessidade de (d)escrever.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI
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Como citar

GOMES, Fernanda Capri Raposo. INFÂNCIAS INTERROMPIDAS: AS CRIANÇAS DO HOLOCAUSTO, 1933-1945.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/109358-INFANCIAS-INTERROMPIDAS--AS-CRIANCAS-DO-HOLOCAUSTO-1933-1945. Acesso em: 05/07/2024

Trabalho

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