EXCESSO NO CINEMA DE HORROR DO SÉCULO XXI

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
EXCESSO NO CINEMA DE HORROR DO SÉCULO XXI
Autores
  • Johanna Gondar Hildenbrand
  • Ricardo Salztrager
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 12] Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/109625-excesso-no-cinema-de-horror-do-seculo-xxi
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Memória; Subjetividade; Cinema; Excesso; Contemporaneidade.
Resumo
Temos como objetivo principal abordar a transformação da sensibilidade e da memória contemporâneas através da trajetória do gênero horror no cinema. Mais especificamente, iremos articular a transformação estética desse gênero, a partir do século XXI, com as mudanças no modo de sentir, perceber, lembrar e esquecer dos sujeitos na atualidade. Walter Benjamin, na década de 1930, em seu texto A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (1936) já havia afirmado que nossa sensibilidade e nossa percepção são históricas, sofrendo variações em diferentes épocas. Partindo dessa ideia, buscaremos entender o motivo e o modo pelo qual a diferença estética que se verifica entre diferentes momentos dos filmes de horror produz e expressa novas percepções, implicando também uma outra relação com a memória. Será problematizada a estética de um novo cinema de horror que apresenta uma intensidade maior de violência tanto no conteúdo quanto na forma, bem como na relação que se estabelece entre o espectador e as imagens. O que aqui está sendo entendido por violência não se reduz a uma ação ou movimento agressivo, impetuoso, descontrolado. Refere-se também às imposições e constrangimentos sobre o movimento, o ritmo e a forma de algo ou alguém, desconsiderando suas possibilidades de escolha. A esse respeito, Brecht escreveu uma frase famosa na qual ele diz que um rio é chamado de violento por não conseguir se conter e arrastar tudo em seu caminho, mas ninguém chama de violenta a margem que o comprime. Nos dois sentidos, assistimos a um aumento de violência no cinema de horror do século XXI. O horror é um tema que desperta interesse desde seu surgimento como gênero artístico. Ele fez e faz sucesso em todas suas formas. Passando pelo teatro, pelas artes plásticas e chegando à tela cinematográfica, o horror percorre nossos medos e angústias mais profundas intrigando seus mais diversos espectadores. O horror cinematográfico teve seu momento inaugural não muito depois da invenção do próprio cinema e a partir daí esse gênero, cheio de estímulos, encontra na Modernidade o cenário perfeito para se estabelecer como um dos gêneros preferidos das massas. A partir da década de 1930 –e ao longo das três décadas seguintes –as produções hollywoodianas foram dominantes no gênero, mesmo contando com baixo status e baixos orçamentos. Porém, no final dos anos 1950 e princípio da década de 1960, outros países começaram a apresentar ciclos próprios de produção de horror. Como por exemplo, o Japão e seus filmes de monstros gigantes, a Inglaterra e o resgate a monstros clássicos, a Itália e o surgimento do subgênero Giallo e o Brasil e os filmes de José Mujica Marins, também conhecido como Zé do Caixão. Os ciclos nacionais mencionados não chegaram a ameaçar a predominância da indústria hollywoodiana, que se manteve à frente com produções pequenas –hoje considerados clássicos do horror, como os filmes de George A. Romero –e depois inaugurou uma série de sucessos mundiais de bilheteria a partir do final dos anos 1960, como O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby, 1968, EUA), de Roman Polanski, e O Exorcista (The Exorcist, 1973, EUA), de William Friedkin, mantendo a liderança comercial ainda hoje na maior parte do planeta. Porém, a partir dos anos 2000, o cinema hollywoodiano de horror nos apresenta um novo ciclo um tanto diferente dos apresentados anteriormente. Esse novo ciclo chamou atenção (e chocou) espectadores de várias partes do mundo, motivando realizadores do gênero a aderir essa nova estética de filmes de horror. Walter Benjamin (1936/1985) já havia nos mostrado que os efeitos de choque são característicos do cinema, mas em nenhum outro gênero isso fica tão claro quanto no gênero horror. Cenas chocantes e violentas são próprias desse estilo cinematográfico, que a partir dos anos 2000 começou um novo ciclo, chegando a um patamar de choques nunca atingido. Ao assistirmos filmes de horror recentemente produzidos, de diferentes nacionalidades, percebemos uma grande mudança em relação a produções anteriores aos anos 2000 no que diz respeito a sua estética, ou melhor, percebemos uma mudança na forma como as imagens são apresentadas ao espectador. Observamos um aumento progressivo de cenas violentas e graficamente explícitas em relação ao corpo humano, como excesso de nudez, torturas, sadismo e mutilações. Como por exemplo, os filmes A Centopeia Humanana (The Human Centipede, 2009, HOL), de Tom Six, e A Serbian Film -Terror sem Limites (Srpski film, 2010, SÉR), de Srdjan Spasojevic. No campo da percepção, Benjamin já havia associado o choque a uma dimensão excessiva, pensando-o a partir da ideia freudiana de trauma. Freud define o trauma como um estímulo que excede nossa capacidade de assimilação. Então podemos entender o choque como um estímulo ao qual não conseguimos dar conta, um estímulo ao qual não conseguimos elaborar como experiência. Segundo Mariana Baltar (2012), o excesso é uma estratégia de engajamento e afetação que pretende mobilizar as reações sensoriais e sentimentais dos espectadores explorando um “frenesi do visível”. No cinema, essa estética explora imagens violentas, como aquelas que apresentam assassinatos, mutilações, torturas ou sadomasoquismo. Mas não apenas isso: o excesso se caracteriza, na imagem cinematográfica, como uma retórica repetitiva e saturante que busca transformar “tudo” em imagens, não apenas corpos em ação, mas também emoções e valores. Ou seja, o excesso não se reduz ao conteúdo das imagens, mas abarca também a própria possibilidade de transformar qualquer coisa em imagens. No excesso não existem nuances e sutilezas; pretende-se mostrar tudo pela imagem. Devido a grande produção e sucesso de público desse tipo de filme aqui mencionado, começamos a nos perguntar: o que acontece na atualidade para criar esse gosto e essa demanda por filmes violentos e chocantes, ou melhor, filmes esteticamente excessivos?
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

HILDENBRAND, Johanna Gondar; SALZTRAGER, Ricardo. EXCESSO NO CINEMA DE HORROR DO SÉCULO XXI.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/109625-EXCESSO-NO-CINEMA-DE-HORROR-DO-SECULO-XXI. Acesso em: 30/04/2025

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