TECNOLOGIAS DE MATRIZ AFRICANA NO PERÍODO DO BRASIL MONÁRQUICO

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
TECNOLOGIAS DE MATRIZ AFRICANA NO PERÍODO DO BRASIL MONÁRQUICO
Autores
  • Lucas César Rodrigues Da Silva
  • Rafael de Brito Dias
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 23] Uso de Materiais, Memória e Etnosaberes
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/110742-tecnologias-de-matriz-africana-no-periodo-do-brasil-monarquico
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Tecnologias de Matriz Africana, Cultura Material, Quilombos, Escravismo, Interdisciplinaridade.
Resumo
O escravismo no Brasil teve uma longa e perversa histórias, os efeitos da qual são ainda muito perceptíveis. A escravidão desestruturou os vínculos da população negra e contribuiu para a formação da epistemologia do racismo, assim, o legado africano passou a ser, com frequência, confundido com uma espécie de folclorismo (OLIVEIRA,2012 ; OLIVEIRA, 2018). Estruturando as relações no escravismo a partir das convicções das ciências sociais e humanas que caracterizaram, durante décadas, os europeus (brancos) como os detentores da intelectualidade e da civilização e os africanos (negros) e indígenas como povos incivilizados, como objetos e mão-de-obra, como seres vazios que precisavam ser preenchidos de conhecimentos e civilidade (OLIVEIRA, 2018; CUNHA JÚNIOR, 2010). Essa concepção da presença africana e afrodescendente no Brasil fortaleceu as práticas racistas e sobretudo o conceito do "escravo", sujeitos oriundos de populações incivilizadas, sem conhecimentos tecnológicos (CUNHA JÚNIOR, 2015). Em contraposição a essa visão, certas correntes epistemológicas das ciências humanas e sociais têm questionada a noção de ausência de conhecimentos nas populações africanas e afrodescendentes na produção de conhecimento (OLIVEIRA, 2012). Estudos conduzidos a partir de diferentes campos e abordagens demonstram o conhecimento tecnológico dessas populações em diversas áreas do conhecimento como metalurgia, agricultura, mineração, arquitetura, construção civil, produção com madeira e outros (CUNHA JÚNIOR, 2010; CARNEY & MARIN, 1999; PAIVA, 2002; LIBBY, 1992). Além do conhecimento tecnológico nessas áreas, esses estudos demonstraram também a procura de europeus por determinados grupos étnicos, devido aos saberes específicos sobre determinadas áreas do conhecimento (PAIVA, 2002; PENA, 2004; CUNHA JÚNIOR, 2010; CAMPOS, 2009). A participação africana e afrodescendente pode ser diagnosticada nos ciclos da economia brasileira durante o período monárquico, não na percepção reduzida de mera mão de obra, mas como produtora de conhecimento que foram apropriados pelos portugueses (CUNHA JÚNIOR, 2010). Como exemplo, no caso das práticas de mineração realizadas, principalmente, na capitania de Minas Gerais, mas também em diversas outras regiões do Brasil, foi observado que as populações africanas inseriram tecnologias como bateias, canoas e carumbés de madeira PAIVA, 2002). Na metalurgia, as populações africanas inseriram o cadinho, uma espécie de forja de ferro que se tornou uma tecnologia intensamente utilizada no Brasil até o século XVIII. Estudos de arqueometalurgia demonstram a superioridade nas peças de ferro produzidas a partir dos saberes africanos sobre as produzidas por europeus, só sendo superado no século XVIII. Os ferreiros africanos também tiveram importância nas produções de artefato de metal: além da produção no país, o Brasil importou enxadas do Congo durante longo período monárquico (CUNHA JÚNIOR, 2015; CAMPOS, 2009; LIBBI, 1988; LIBBY, 1992). Nas práticas agrícolas, como no café, arbustiva oriunda da Etiópia, as populações africanas introduziram técnicas de plantio, além dos macro ciclos; nos quilombos práticas agrícolas de pousio oriundas das regiões de Congo e Angola foram misturas com técnicas exercidas em comunidades indígenas (CUNHA JÚNIOR, 2015), as populações africanas também introduziram alimentos como inhame, arroz africano (uma qualidade específica de arroz oriunda do continente africano), feijão e outros ( CARNEY & MARIN, 1999). Na construção civil, técnicas difundidas por africanos na diáspora africana foram utilizadas nas construções do Brasil monárquico, esses construtores não assinaram suas obras, algo impensável no escravismo, mas a partir de códigos na arquitetura dessas construções, eles deixaram identificadas a presença africana. Dentre as tecnologias de construção herdadas dos saberes africanos e afrodescendentes estão o adobe, taipa de pilão e pau-a-pique (CUNHA JÚNIOR, 2010), técnicas de trabalho em madeira e produção de sabão. As tecnologias de origem africana e afrodescendente se configuram como parte da matriz africana, entendida como a herança africana transmitida pela oralidade, documentos escritos e monumentos (MARTINS, 2016). As tecnologias têm significados nas sociedades, e a partir delas, os seres humanos compartilham sua forma de ver o mundo, o seu uso e produção permitem transformar as condições sociais (ARNOLDI, GEARY, HARDIN, 1996). O estudo das tecnologias, a partir da concepção de cultura material exige do pesquisador a análise interdisciplinar, pautada em contribuições oriundas da história, da geografia, da antropologia, da arqueologia e de diversas outras disciplinas. Conectam-se como liames e possibilitam que a pesquisa possa ser desenvolvida superando os limites de cada disciplina (ARNOLDI, GEARY, HARDIN, 1996). Nesta perspectiva, este trabalho aborda as tecnologias de matriz africana no contexto de seu desenvolvimento e uso como forma de resistência ao escravismo.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SILVA, Lucas César Rodrigues Da; DIAS, Rafael de Brito. TECNOLOGIAS DE MATRIZ AFRICANA NO PERÍODO DO BRASIL MONÁRQUICO.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/110742-TECNOLOGIAS-DE-MATRIZ-AFRICANA-NO-PERIODO-DO-BRASIL-MONARQUICO. Acesso em: 28/04/2025

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