AUTISMO E NEURODIVERSIDADE: INCLUSÃO DA DIFERENÇA

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
AUTISMO E NEURODIVERSIDADE: INCLUSÃO DA DIFERENÇA
Autores
  • Bruna D'Alincourt Carvalho Henriques
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 01] Acessibilidade em tempos de diversidade, inclusão social e escolar
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/112701-autismo-e-neurodiversidade--inclusao-da-diferenca
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Autismo, Neuroatípico, Neurodiversidade, Estereotipias, Identidade social.
Resumo
O trabalho pretende trazer à luz uma luta de forças por fronteiras a respeito da identidade autista e suas possíveis circunscrições: enquanto patologia ou, em contrapartida, como modo de existência social possível. Enquanto os ativistas da neurodiversidade defendem o autismo como diferença, por outro lado, muitos pais e profissionais buscam inovações para curar esta doença. Diante disso, como objetivo deste trabalho buscaremos analisar, de forma crítica, a forma pela qual o autismo vem sendo tratado dentro da sociedade, a partir de uma articulação entre o campo da memória social e o campo da psicologia/psicanálise. Temos em vista contribuir na disseminação de maneiras de tratar do autismo de maneira a considerar a voz ou expressão do paciente, buscando o respeito pelas diferenças. Além disso, o debate contribui para a conscientização da sociedade a respeito da neurodiversidade. Na psicanálise, o autismo costuma ser abordado segundo as seguintes metáforas: fortalezas vazias, carapaças, ovo, buraco negro, entre outras. Essas metáforas apontam para definições do autismo por uma via deficitária. Trata-se sempre de apontar o que os sujeitos autistas não têm: ausência do desejo, de fantasia, de relação com o mundo e com a vida. O autista vem sendo tratado, neste campo, como um ser quase sem subjetividade. É descrito com frequência por suas faltas, falhas, deficiências, ou seja, por aquilo que ele deveria ser e não é. De acordo com Foucault (2013), delimitou-se, a partir do saber psiquiátrico, perfis normais versus perfis patológicos dentro da sociedade. Surge então, como consequência disso, a identidade neurologicamente típica (neurotípica) versus a neurologicamente atípica (neuroatípica), que inclui pessoas inseridas no espectro autista, de acordo com alguns sintomas definidos pela psiquiatria. A identidade neurotípica é socialmente exaltada e reconhecida enquanto um molde ao qual todos deveriam pertencer e os neurologicamente atípicos são vistos como um molde aquém e deficiente, para o qual deveria ser buscada uma cura ou um tratamento que o tire deste “quadro”. No campo social predomina a lógica identitária, que segrega estas pessoas como diferentes. Em consequência, são expulsas do convívio social, e a elas são indicados tratamentos que eliminem suas diferenças, como por exemplo, suas estereotipias (ou stimmings). O movimento “nada sobre nós sem nós” é composto por pesquisadores “deficientes”. Os ativistas desse movimento questionam as categorias psiquiátricas e buscam ter voz diante da sociedade. (Ortega, 2009) Os ativistas da neurodiversidade estão buscando dignidade para si, rejeitando certos tipos de tratamento que têm como objetivo erradicá-los e curá-los. Estes ativistas defendem que o fato de serem vistos à luz do fantasma do que se esperava que fossem constitui uma violência emocional para muitos autistas. (SOLOMON, 2013) Beatriz Santos e Elsa Polverel (2016), em seu artigo “Procura-se psicanalista segurx. Uma conversa sobre normatividade e escuta analítica”, trazem uma reflexão sobre o psicanalista perigoso, descrito como aquele que expressa julgamentos normativos sobre os pacientes, tendo sua escuta comprometida por certezas formadas pelas normas do seu tempo e da sua sociedade. Elas propõem que a busca dos analistas seguros siga a mesma lógica que orienta a formação de zonas seguras no ativismo feminista: espaços capazes de se manter exteriores às relações de força habituais. Sob essa perspectiva, o autista deve ser respeitado em suas defesas e sua forma de se expressar. De acordo com Foucault (2013), o poder de localizar e exilar os leprosos, os anormais em comunidades separadas, onde eram obrigados a viver e morrer, era um ato de divisão maciça e binária entre uns e outros. Construindo justificativas através dos saberes, pôde-se, cada vez mais individualizar os excluídos, porém servindo-se dos procedimentos de individualização para marcar estas exclusões. Até hoje, os saberes vêm sendo utilizados com essa mesma função. Em contrapartida, já existem zonas seguras dentro de alguns espaços de ativismo que possibilitam a existência e o fortalecimento dos grupos que não são aceitos pela norma. Para além da disputa identitária por fronteiras do autismo, existe também uma corrente que questiona o diagnóstico precoce (enquanto um fechamento identitário), demonstrando que, em muitos casos, esse diagnóstico pode causar um efeito iatrogênico. Cavalcanti e Rocha (2007) alertam para esta questão, sustentando esta tese ao longo de todo o seu livro intitulado “Autismo: Construções e Desconstruções”. Um dos exemplos sublinhados por elas é a fala de um pai que teve seu filho diagnosticado autista muito precocemente, e que diz: “Enquanto pensávamos que ele nada entendia terminávamos também por nada compreender e, assim, perdemos o nosso filho.” (CAVALCANTI E ROCHA, 2007, p.106). A busca deste trabalho é por uma clínica que se disponha à escuta da longa, complexa e singular trajetória do indivíduo autista, capaz de apreender (fazer eco) os vários modos possíveis de subjetivação sem se deixar enredar pelas classificações sintomatológicas da psiquiatria e da própria psicanalise, que muitas vezes entram como uma barreira que ensurdece o médico, o psicólogo e até os pais. (Cavalcanti e Rocha, 2007) É esse ensurdecimento que conduz a sociedade a conceber o sujeito autista como uma “fortaleza vazia”, metáfora que, ao nosso ver, caracteriza menos os sujeitos do que uma escuta que não se abre para as diferenças, criando assim um muro.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

HENRIQUES, Bruna D'Alincourt Carvalho. AUTISMO E NEURODIVERSIDADE: INCLUSÃO DA DIFERENÇA.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/112701-AUTISMO-E-NEURODIVERSIDADE--INCLUSAO-DA-DIFERENCA. Acesso em: 27/04/2025

Trabalho

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