A RAINHA DO IGNOTO NO BRASIL DO SEC. XIX: UM RESGATE DA UTOPIA FEMINISTA DE EMÍLIA DE FREITAS

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
A RAINHA DO IGNOTO NO BRASIL DO SEC. XIX: UM RESGATE DA UTOPIA FEMINISTA DE EMÍLIA DE FREITAS
Autores
  • anne marielle
  • Elton Dias Xavier
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 09] Estudos de gênero, sexualidades e corporalidades
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/113569-a-rainha-do-ignoto-no-brasil-do-sec-xix--um-resgate-da-utopia-feminista-de-emilia-de-freitas
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Rainha do Ignoto; Utopia; Feminista; Memória
Resumo
Nas décadas de 60 e 70 do século XX, foram publicadas relevantes obras literárias ficcionais utópicas que expressam o descontentamento do universo feminino com dominação da sociedade patriarcal e das relações hierárquicas de gênero dela decorrentes. Foi uma época de redescoberta da utopia feminista, em que autoras, influenciadas pelo movimento feminista, como Ursula K. Le Guin, Joana Russ, Marge Piercy, Octavia Butler e Margaret Atwood, questioram o presente tratando de temas que abordam os vários tipos de opressão sofrida (DE LA ROCQUE, 2006). Suas ideias transformaram-se em obras relevantes da literatura estrangeira de autoria feminina, que usam as utopias tanto para criar mundos sem desigualdades de gêneros quanto para apresentar mundos distópicos, em que essas desigualdades são amplificadas. No Brasil, em que pese os vários trabalhos acadêmicos que estudam este tipo de literatura feminista, sobretudo aquelas estrangeiras publicadas na segunda metade do século XX, pouco destaque é dado para o pioneirismo da obra Rainha do Ignoto (1899), de Emília de Freitas, considerada a primeira literatura de ficção utópica feminista do país. O objetivo do presente trabalho é resgatar a memória do descontentamento feminista contido na obra de Freitas, a fim de refletir sobre o papel da mulher brasileira frente a dominação masculina no final do século XIX, enfatizando a função crítica da narrativa utópica bem como seu papel transformador. Como metodologia de pesquisa, foi empreendido um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, a partir da revisão de literatura, sendo que as hipóteses do trabalho assentam-se na perspectiva de que as reflexões críticas a partir de obras utópicas feministas podem oferecer um contributo de transformação das realidades. Embora tenha sido publicada em 1899, A Rainha do Ignoto foi redescoberta no final dos anos de 1970 pelo pesquisador Otacílio Colares, que prefaciou a segunda edição do livro. A respeito do silêncio da crítica em relação à obra de Emília de Freitas, o autor entende que teriam deixado de considerar o aspecto inovador do romance, qual seja, o traço fantástico-maravilhoso (COLARES, 1977). A utopia romântica de Freitas está ambientada no século XIX e trata de uma sociedade secreta de mulheres, organizada hierarquicamente em uma ilha da costa do nordeste brasileiro, denominada Ilha do Nevoeiro, governada por uma Rainha que incorporava novas mulheres (suas paladinas) ao seu reino a partir do sofrimento por elas vivido no cotidiano de cidades brasileiras. A autora discorreu sobre temas relacionados à “alma feminina” e as injustiças sofridas pelas mulheres na sociedade patriarcal, numa época em que circulavam na província ideias cientificas e filosóficas de matriz misógina, segundo as quais as mulheres eram consideradas inferiores ao homem biológica, intelectual e moralmente (OLIVEIRA, 2007). Para externar seu descontentamento com o mundo presente, Freitas opta por uma literatura ficcional, por meio do qual suas personagens, a Rainha e suas paladinas, apresentam-se como seres dotados de poderes sobrenaturais, que percorriam diferentes cidades brasileiras protegendo mulheres e combatendo injustiças, fazendo uso de artifícios esotéricos como transmutação, hipnose e invisibilidade. A ilha do Nevoeiro é revelada como um mundo mais evoluído, lugar dos símbolos da modernidade como linhas férreas e indústrias, bem como lugar onde as paladinas podem ser médicas, engenheiras, professoras, pianistas e até maquinistas, destoando-se da realidade vivida pela autora, em que tais funções eram quase exclusivamente masculinas. Como uma ficção utópica, contém críticas ao seu presente; elas refletem e contribuem para os debates do seu tempo, apresentando propostas alternativas, sendo, portanto, uma janela para debate político. Para Sargisson (2012), todas as utopias fictícias expandem ideias e conceitos e os colocam em um contexto alternativo. A obra de Emília Freitas revela-se uma produção desestabilizante, uma vez que o papel da mulher na sociedade brasileira do século XIX restringia-se à esfera privada. Sendo uma obra utópica, anseia pela construção de novas formas de subjetividade e sociabilidade através do distanciamento daqueles modelos de identificação tradicionalmente reconhecidos pela dominação masculina. Resgatar a Rainha do Ignoto e tantas outras mulheres que diariamente sofrem com as injustiças da sociedade patriarcal mantém latente os anseios por um futuro que proporcione verdadeiramente a igualdade de gênero, na medida em que, apesar dos inúmeros avanços experimentados pelas mulheres, ainda há muito por fazer. A esperança resume a vocação do utopismo, sendo que até mesmo as distopias têm uma mensagem positiva, porquanto constituem alertas explícitos para o que poderá acontecer no futuro se não agirmos no presente (SARGENT, 2008). A ficção utópica tem se mostrado uma opção bastante atraente para a reprodução dos discursos feministas, na medida em que tem por características criticar e apresentar alternativas através da criação de mundos melhores ou piores que o presente. A construção de sociedades verossímeis, embora fictícias, são instrumentos para, de forma bastante provocativa, se (re)pensar a vida em suas mais diversas instâncias.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MARIELLE, anne; XAVIER, Elton Dias. A RAINHA DO IGNOTO NO BRASIL DO SEC. XIX: UM RESGATE DA UTOPIA FEMINISTA DE EMÍLIA DE FREITAS.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/113569-A-RAINHA-DO-IGNOTO-NO-BRASIL-DO-SEC-XIX--UM-RESGATE-DA-UTOPIA-FEMINISTA-DE-EMILIA-DE-FREITAS. Acesso em: 28/04/2025

Trabalho

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