PLANO MÍTICO DA NARRATIVA: A FUNÇÃO MÁGICA DA LINGUAGEM NA COMPOSIÇÃO DO SAGRADO EM DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
PLANO MÍTICO DA NARRATIVA: A FUNÇÃO MÁGICA DA LINGUAGEM NA COMPOSIÇÃO DO SAGRADO EM DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS
Autores
  • Clodoaldo Sanches Fofano
  • Raquel frança Freitas
  • Prof. Dr. Sérgio Arruda de Moura
  • Profª. Drª. Eliana Crispim França Luquetti
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 34 - Estudos dialógicos do discurso e Ensino da Língua Materna e Estrangeira
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/432382-plano-mitico-da-narrativa--a-funcao-magica-da-linguagem-na-composicao-do-sagrado-em-dom-casmurro-de-machado-de-a
ISSN
Palavras-Chave
Função mágica da linguagem; Sagrado; Dom Casmurro; Machado de Assis.
Resumo
FOFANO, Clodoaldo Sanches 1 Estudante de doutorado do Programa de Cognição e Linguagem (UENF) E-mail: clodoaldosanches@yahoo.com.br FREITAS, Raquel França 2 Estudante de doutorado do Programa de Cognição e Linguagem (UENF) E-mail: raquelfreitas_@hotmail.com MOURA, Sérgio Arruda de 3 Professor do Programa de mestrado e doutorado de Cognição e Linguagem (UENF) E-mail: arruda@uenf.br LUQUETTI, Eliana Crispim França 4 Professora do Programa de mestrado e doutorado de Cognição e Linguagem (UENF) E-mail: elinafff@gmail.com Introdução O plano mítico da narrativa se estabelece quando o sujeito na construção da narratividade do texto envolve-se com questões relacionadas ao místico em um mundo mágico/ encantatório, na busca pelo sagrado para auxiliá-lo em suas petições ou na tentativa de explicar questões que estão além do plano terreno. A relevância desta pesquisa evidencia-se pela análise proposta no romance Dom Casmurro, uma vez que na escrita da obra, Machado de Assis põe a religião do segundo império em xeque, quando constrói uma narrativa com personagens burguesas que buscavam o sagrado por intermédio da função mágica da linguagem para satisfazer suas necessidades, entretanto, viviam arrastadas por suas mazelas pecaminosas e por vezes banalizando a fé católico. Neste estudo, a metodologia empregada quanto à abordagem do problema foi pesquisa qualitativa de natureza discursiva e quanto ao ponto de vista dos objetivos, bibliográfica, aplicada e dedutiva, com a utilização de fontes teóricas que contribuem com a análise realizada em fragmentos específicos do romance machadiano. Três seções compõem esta pesquisa. A primeira discute a necessidade do sujeito da enunciação na busca pelo sagrado. Enquanto a segunda apresenta a influência da religião em narrativas machadianas, ao estabelecer relação entre literatura e religião. Por fim, a terceira verifica em fragmentos específicos do romance Dom Casmurro, a manifestação da função mágica da linguagem como forma de endereçamento de mensagens a um destinatário que não está presente no plano real. 1. Fundamentação teórica Este estudo considerou contribuições de um acervo teórico que embasa a busca de respostas sobre o tema abordado. Constituído de fontes pertencem às áreas da Linguística (em especial da Análise do Discurso), Ciência das Religiões e Literatura, vale destacar as principais: BENVENISTE (1974); CANDIDO (2000); ELIADE (2008); HALLIDAY (1989); HERINGER (2010); JAKOBSON (1976); JAKOBSON (2010); MAINGUENEAU (1997). Cabe ressaltar que, para a análise realizada de Dom Casmurro como corpus da pesquisa, foi utilizada a Análise do Discurso de linha francesa (ADF) como teoria especializada em analisar textos tipologicamente marcados pela subjetividade e por códigos ideológicos. Sendo assim, a Análise do Discurso (AD) representa uma teoria das ciências da linguagem que expões para o “olhar-leitor” os sentidos produzidos por um enunciador na constituição do discurso, presentes nos textos de forma interpretativa sem qualquer tipo de neutralização (MAINGUENEAU, 1997, p. 11). E como método de análise, a fim de compreender o sentido do romance, utilizou-se a cronotopia que se configura como conceito bakhtiniano, que conforme lupa reveladora demonstra o impacto do tempo e do espaço na formação humana/personagem/sujeito. Portanto, cabe ressaltar que tais elementos interpretativos foram úteis porque o romance que faz parte do corpus desta pesquisa representa uma narrativa mística, por isto ser um texto perneado pelo discurso religioso presente no século XIX. 2. Resultados alcançados Para a AD, o sujeito da enunciação é considerado elemento essencial, porque é por intermédio dele que os efeitos de sentido são concebidos entre os interlocutores. Além disso, o discurso surge a partir dele; mesmo que não haja domínio sobre o que é dito, mesmo que não se dê conta, diante de seu local de formação imponha o que deve ser dito. De tal forma, o sujeito na AD tem papel fundamental, ao conduzir as marcas da sociedade em que ele está inserido (BRANDÃO, 2004). Dentro do processo comunicativo/interativo, o sujeito faz uso de várias funções da linguagem. Sendo assim, por meio da função mágica da linguagem, o enunciador se dirige a um destinatário ancorado em um “eu” e um “tu”, os quais não constituiu no mundo real, nem representa uma pessoa física. Perante tal fato, apreende-se que Jakobson não acreditava muito na existência da manifestação dessa função da linguagem, talvez por fazer parte de um processo comunicativo pertencente a um universo místico. Por isso, no entendimento do linguista “[...] a função mágica, encantatória, é sobretudo a conversão de uma "terceira pessoa" ausente ou inanimada em destinatário de uma mensagem conativa. (JAKOBSON, 1976, p. 126). Sendo assim, esse enunciador endereça mensagens a um destinatário “inanimado” que não se encontra presente no plano natural, configura-se como uma entidade mágica. Na cultura religiosa popular cristã, as rezadeiras desenvolvem muito bem esta representação, são elas que o povo busca para fazerem petições ao divino como se fossem mediadoras. Já na cultura burguesa do século XIX, quando o catolicismo romano representava a religião oficial do império, esta simbologia enunciativa estava na figura do padre dentro de um mundo sagrado, constituído por preceitos cristãos. Assim, tem-se na função mágica uma relação entre “eu”, “tu” e “ele”. Este último, representa o sujeito para quem está se dirigindo a prece, “alguém ou algo de quem se fala” (JAKOBSON, 2010, p. 125). As obras de Machado de Assis são textos que fazem estes registos relevantes, passíveis de reflexão acerca da influência religiosa na literatura, bem como alguns biógrafos apontam, o renomado escritor não foi um homem “alheio” à religião. Possivelmente, o autor nem tenha praticado a fé católica, contudo, respeitou a Igreja de sua formação, visto que frequentou algumas missas. É possível afirmar isso diante de seu amplo entendimento da liturgia católica presente em suas narrativas. Outrossim, o literato produziu diversas censuras à Igreja, já que o clero assumia um papel de grande influência na sociedade brasileira oitocentista. Segundo Heringer “o diálogo da obra de Machado de Assis com a religião foi contínuo e raras vezes pacífico. A tradição religiosa se faz presente, das mais diversas formas, em inúmeras vezes na obra em estudo do autor” (HERINGER, 2010, p. 98). Nesse sentido, nos romances machadianos, encontra-se na construção do enredo, influências cronotrópicas porque são obras que abordam o homem burguês, comum da sociedade, influenciado pelo seu contexto histórico social; não mais uma figura exemplar, mas personagem inacabada em um processo evolutivo sem conclusão. Logo, a cronotopia funciona como agente de transformação do sujeito. Portanto, o Bruxo do Cosme Velho soube manusear as palavras, ao explorar toda a magia da significação, com intervenção de tempo-espaço (cronotopo artístico) na constituição e transformação do sujeito da enunciação. Para tanto, o autor ficcionalizante de Machado deixa evidente para o leitor que na escrita do livro recebeu ajuda de entidades mágicas. Em outro momento, demonstra seguir um estilo peculiar das narrativas místicas quando por meio da linguagem reproduz costumes cultuais e sociais. E por último, Dom Casmurro utiliza a linguagem de forma metafórica para desprezar, banaliza e ironizar a fé cristã, influenciado pelas ideias cientificistas. Conclusões Diante da análise de fragmentos específicos, percebeu-se que Machado de Assis utilizou em Dom Casmurro a função mágica da linguagem na cooperação da constituição do sagrado, no endereçamento de mensagens a um destinatário que não está presente no plano real, como instrumento de interação do sujeito da enunciação com entidades encantatórias, durante os momentos de petições presentes na narrativa que revelavam anseios e necessidades daquela burguesia. Referências bibliográficas BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. Introdução à análise do discurso. Campinas: Unicamp, 2004. HERINGER, Victor Doblas. Diálogos em falência: o sagrado e o profano em Dom Casmurro. Machado de Assis em linha, ano 3, n. 6, dez. 2010. JAKOBSON, Roman. Linguística e poética. In: ______. Linguística e comunicação. 22ª ed. São Paulo: Editora Cultriz, 1976. ______. Linguística e comunicação. Tradução de Izidoro Blikstein. 22. ed. São Paulo: Cultrix, 2010. MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em Análise do Discurso. 3. ed. Campinas-SP: Pontes/Unicamp, 1997.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FOFANO, Clodoaldo Sanches et al.. PLANO MÍTICO DA NARRATIVA: A FUNÇÃO MÁGICA DA LINGUAGEM NA COMPOSIÇÃO DO SAGRADO EM DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/432382-PLANO-MITICO-DA-NARRATIVA--A-FUNCAO-MAGICA-DA-LINGUAGEM-NA-COMPOSICAO-DO-SAGRADO-EM-DOM-CASMURRO-DE-MACHADO-DE-A. Acesso em: 28/04/2025

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