“AMERICANISMO E FORDISMO” E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
“AMERICANISMO E FORDISMO” E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Autores
  • Ariadne Aparecida Rodrigues de Araújo
  • Ana Lole
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 24 - "Eu só vou [trabalhar] se o salário aumentar": mas cadê o emprego? Perspectivas e desafios do trabalho no Brasil contemporâneo
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/432505-americanismo-e-fordismo-e-a-precarizacao-do-trabalho-no-brasil-contemporaneo
ISSN
Palavras-Chave
Precarização do trabalho, Americanismo e fordismo, Brasil.
Resumo
Introdução O contexto atual brasileiro é marcado por retrocessos estruturantes dos direitos sociais e das políticas públicas. Acompanhamos diariamente a busca desenfreada pela exploração da força de trabalho com a finalidade da retomada das taxas de lucro através de contrarreformas, como a trabalhista e a previdenciária. O objetivo das classes dominantes é impedir que as classes e as camadas da população excluídas do exercício do poder tomem consciência de suas potencialidades políticas e almejem a participação no controle social. Busca-se, assim, o desenvolvimento de uma cultura para os/as trabalhadores/as a qual não reflete as suas reais demandas. A abordagem metodológica do presente trabalho consiste em uma análise textual. Buscamos no pensamento gramsciano elementos e ferramentas que contribuam para analisarmos os atuais impactos no mundo do trabalho no cenário brasileiro, sendo adequada uma reflexão sobre as notas “Americanismo e Fordismo”, onde Antonio Gramsci (1891-1937) analisa o processo de racionalização do trabalho, tomando o Taylorismo e o Fordismo como central para uma nova realidade social, na qual se busca a adesão voluntária do/a trabalhador/a às novas demandas do capitalismo. 1. Fundamentação teórica A teoria marxista é a que melhor fornece base para perceber e verificar as relações complexas e contraditórias estabelecidas na sociedade, no âmbito dos conflitos e das lutas de classes, assim como na relação capital versus trabalho – com a produção e reprodução do capitalismo. Consideramos que o principal referencial teórico deste trabalho consiste no Caderno 22 dos Cadernos do cárcere, que trata do “Americanismo e fordismo”. Também serão utilizados em nossa análise textos de teóricos marxistas que nos ajudem a refletir sobre as metamorfoses do mundo do trabalho, articulando “Americanismo e Fordismo” com a flexibilização do trabalho no Brasil contemporâneo. No caso brasileiro, a reestruturação do capital mundializado se intensificou nas últimas décadas do século XX e provocou mudanças qualitativas na organização da força de trabalho. A realidade neoliberal começou a ser implementada nos anos 1990, pelo governo Collor e, posteriormente, por Fernando Henrique Cardoso. Dessa época até os dias de hoje, acompanhamos uma reformulação do Estado brasileiro para um tipo de adequação à lógica perversa do capital que visa, por exemplo, terceirização, precarização das relações de trabalho, desemprego estrutural e chegando em privatizações de empresas públicas com o argumento neoliberal de que o Estado não consegue administrar de forma eficaz as suas próprias instituições. O projeto neoliberal é expressão da reestruturação política e ideológica conservadora do capital, que tenta naturalizar as desigualdades sociais e o desmonte das conquistas históricas da classe trabalhadora, com isso, consideramos que uma reflexão sobre a categoria gramsciana “Americanismo e Fordismo” é importante para se buscar ferramentas de luta que contribuam para pensarmos no fortalecimento e organização dos/as trabalhadores/as brasileiros/as. 2. Resultados alcançados Uma das principais características do capitalismo é a acumulação, sendo o fim último do capital o dinheiro. Segundo Karl Marx (2007, p. 586), “a produção capitalista não é apenas a produção de mercadorias, ela é essencialmente produção de mais-valia. O trabalhador não produz para si, mas para o capital”. A exploração do/a trabalhador/a é, assim, o instrumento direto para se criar mais-valia, havendo a subordinação do trabalho ao capital. A fim de alimentar os lucros do capitalismo, autores da economia clássica pensaram modos de controle sobre a força de trabalho, sendo Frederick Winslow Taylor (1856-1915) quem desenvolveu uma gerência científica do trabalho, com métodos de organização. O trabalho é pensado em Taylor apenas como instrumento para o crescimento dos lucros capitalistas. Nas palavras de Gramsci: Taylor expressa com brutal cinismo o objetivo da sociedade americana: desenvolver em seu grau máximo, no trabalhador, os comportamentos maquinais e automáticos, quebrar a velha conexão psicofísica de trabalho profissional qualificado, que exigia uma certa participação ativa da inteligência, da fantasia, da iniciativa do trabalhador, e reduzir as operações produtivas apenas ao aspecto físico maquinal. (2007, p. 266). Com o Fordismo foi introduzida a esteira rolante, representando ganhos significativos de produtividade e de controle do ritmo do trabalho. O Fordismo expressava não apenas um método de organização e controle do processo de trabalho, mas também a constituição de um novo estilo de vida. Buscava-se conquistar a adesão dos/as trabalhadores/as e dominar a força de trabalho, almejando uma sociedade voltada a produção e ao consumo de massa. As mudanças no processo de trabalho e na vida dos/as trabalhadores/as nesta sociedade de massa são designadas por Gramsci de “Americanismo e Fordismo”. Para Gramsci (2007, p. 241), “o americanismo e o fordismo resultam da necessidade imanente de chegar à organização de uma economia programada”. No começo do século XX nascia nos Estados Unidos um novo tipo de trabalhador/a, adequado a uma indústria “fordizada”. O sistema produzia o tipo humano adequado às novas demandas do capitalismo, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico. A adaptação dos indivíduos a esta nova rotina do mundo do trabalho era o fator determinante para o desenvolvimento das condições econômicas de produção, com a elite utilizando mecanismos de coerção e consenso para o adestramento da força de trabalho a condições específicas da indústria da época. Além disso, buscava-se o enfraquecimento dos sindicatos. Na América, a racionalização determinou a necessidade de elaborar um novo tipo humano, adequado ao novo tipo de trabalho e de processo produtivo: essa elaboração está até agora na fase inicial e, por isso, (aparentemente) idílica. É ainda a fase da adaptação psicofísica à nova estrutura industrial. (GRAMSCI, 2007, p. 248). As características da formação social americana permitiram a implantação do modelo fordista de racionalização da produção e do trabalho. Na busca por maiores lucros, o capital criou mecanismos de controle-consentimento dos/as trabalhadores/as, interferindo até mesmo nos aspectos da questão sexual dos indivíduos. De acordo com Gramsci: “A vida na indústria exige um aprendizado geral, um processo de adaptação psicofísica a determinadas condições de trabalho, de nutrição, de habitação, de costumes, etc.” (2007, p. 251). O objetivo consistia em que os/as trabalhadores/as não refletissem sobre as suas reais condições. O Toyotismo apresenta uma linha de continuidade, ainda que com mudanças e adequações, em relação a organização de trabalho no Taylorismo e no Fordismo. Com isso, compreendemos que a racionalidade analisada por Gramsci em “Americanismo e Fordismo” é o gerne de uma nova realidade social, com desdobramentos que nos permitem pensar a realidade do Brasil nos dias atuais. Com o Toyotismo o perfil exigido passou a ser o de um/a trabalhador/a mais qualificado/a, multifuncional e polivalente. Neste novo sistema a produção é flexibilizada e os/as trabalhadores/as podem ser submetidos a contratos flexíveis, temporários, sem estabilidade e sem registro em carteira de trabalho assinada. Ganham força termos como “empreendedorismo”, “cooperativismo” e “trabalho voluntário”, que consistem em formas de tentar fazer com que a pessoa pense ser “parceira” da empresa. Tenta-se, assim, esconder, através destas expressões, a exploração que o/a trabalhador/a passa ao vender sua força de trabalho em condições cada vez mais precárias. Conclusões A contribuição gramsciana se faz importante para se pensar a realidade brasileira, assim como para se buscar elementos e ferramentas que contribuam para o fortalecimento teórico e crítico na atualidade, permitindo criar novas estratégias de enfrentamento ao conservadorismo, neoliberalismo e precarização do trabalho. A categoria “Americanismo e Fordismo” de Gramsci, se mostra atual e aponta a utilização de estratégias de coerção e consenso como fundamentais para a garantia da construção de uma sociedade de massa, interferindo de forma direta na forma de agir e pensar dos/as trabalhadores/as. Tal reflexão se faz importante diante das mudanças no mundo do trabalho no Brasil, com o amplo investimento ideológico do capital em busca de cooptação de trabalhadores/as, individualismo, competitividade e enfraquecimento de sindicatos. Referências bibliográficas ANTUNES, Ricardo, Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2021. GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Vol. 4: Temas de cultura. Ação católica. Americanismo e Fordismo. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Vol. 2: O processo de reprodução do capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. PINTO, Augusto Geraldo. A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e toyotismo. São Paulo: Expressão Popular, 2007. SIMIONATTO, Ivete. Gramsci: sua teoria, incidência no Brasil, influência no Serviço Social. 1 ed. São Paulo: Cortez, 1995.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ARAÚJO, Ariadne Aparecida Rodrigues de; LOLE, Ana. “AMERICANISMO E FORDISMO” E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/432505-AMERICANISMO-E-FORDISMO-E-A-PRECARIZACAO-DO-TRABALHO-NO-BRASIL-CONTEMPORANEO. Acesso em: 30/04/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes