UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E O ECOTURISMO NA AMAZÔNIA: INCOMPATIBILIDADE DO DISCURSO ECOLÓGICO NA FLORESTA NACIONAL DE CARAJÁS NO SUDESTE DO PARÁ.

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E O ECOTURISMO NA AMAZÔNIA: INCOMPATIBILIDADE DO DISCURSO ECOLÓGICO NA FLORESTA NACIONAL DE CARAJÁS NO SUDESTE DO PARÁ.
Autores
  • Rafael Souza Guimarães
  • EDMA DO SOCORRO SILVA MOREIRA
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 12 - Outros olhares sobre o turismo: resistências possíveis a práticas hegemônicas
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/436849-unidades-de-conservacao-e-o-ecoturismo-na-amazonia--incompatibilidade-do-discurso-ecologico-na-floresta-nacional-
ISSN
Palavras-Chave
Ecoturismo, Unidades de Conservação, Mineração, Questões Ambientais, Amazônia
Resumo
INTRODUÇÃO O ecoturismo é apontado como uma alternativa de uso sustentável dos recursos naturais e dinamização da economia das localidades. Neste cenário, as unidades de conservação (UCs) possuem potencial para prática desta atividade, porém, se configuram como espaços de interesses diversos e, muitas vezes, conflituosos, onde os atores sociais buscam conquistar espaços políticos, redefinir suas identidades, explorar seus recursos e controlar seu acesso. No sudeste do Pará, as UCs se dividem entre seus objetivos de conservação da natureza e a exploração mineral, ao mesmo tempo que o ecoturismo vem sendo apoiado por gestores locais e um pequeno grupo de empresários cujo propósito é construir uma imagem de turismo “ecológico”. O trabalho tem como objetivo refletir sobre a construção do ecoturismo na Floresta Nacional de Carajás (Flona Carajás), onde a reprodução de um discurso “ecológico”, tem ocultado problemas socioambientais provocados pela mineração. Para isso, foram levantados teorias e conceitos que justificam a incompatibilidade do ecoturismo e a mineração; realizada análise documental de projetos desenvolvidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) e a observação participante de reuniões remotas, ocorridas em 2021, sobre o Programa de Uso Público da Flona. O ecoturismo, em sua essência, se confronta com interesses diversos, colocando em evidência conflitos entre a exploração mineral e a sustentabilidade da área para as atuais e futuras gerações. 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O ecoturismo ou turismo ecológico surgiu no Brasil a partir da década de 80, sobre forte influência dos movimentos ambientalistas, como alternativa ao turismo de massa. Nesse contexto, as áreas protegidas emergem como espaços com grande potencial para prática dessa atividade. Como destaca Diegues (2008), a manutenção de lugares paradisíacos e de paisagens cênicas seriam essenciais para que o ser humano pudesse recarregar suas energias em meio a vida estressante das grandes cidades e para isso, o turismo se torna o fator fundamental de aproximação entre a sociedade e a natureza. Para Rodrigues (2003), o ecoturismo é uma atividade econômica, de baixo impacto ambiental e que contribui para conservação da biodiversidade e sociodiversidade, trazendo benefícios para as comunidades receptoras. O conceito de ecoturismo, nasceu diretamente associado à Educação Ambiental na perspectiva de formar um sujeito ecológico, mais consciente e disposto a romper com a sociedade de consumo (FURLAN, 2003). O ecoturismo vem sendo apontado como a principal modalidade de uso pensada para as UCs no Brasil, sendo visto como uma modalidade de turismo estratégica e “salvadora” para possíveis alternativas econômicas dessas áreas, porém, Vallejo (2002), afirma que, para que as UCs consolidem suas funções ambientais e sociais é necessário a implantação de estratégias de cunho político e gerencial por parte do Governo, a fim de ordenar o território envolvendo os múltiplos atores no processo. Na região de Carajás, no sudeste do Pará, o gerenciamento das UCs esbarra em interesses controversos que perpassam pela exploração do minério de ferro, a conservação da biodiversidade e o uso sustentável do território. A mineração nessa região é fruto das políticas de ocupação e de desenvolvimento implantadas na Amazônia pelo governo brasileiro que beneficiaram grandes empresas em nome do “progresso” e do “desenvolvimento”, deixando um legado de problemas socioeconômicos e ambientais irreparáveis e sem precedentes para a região (GUMIER-COSTA; SPERBER, 2009). O ecoturismo, sendo visto como uma ação estratégica e educativa, “atua como um embrião da transformação dos sistemas produtivos, podendo se constituir numa ação crítica do mundo” (FURLAN, 2003), portanto, capaz de evidenciar contradições existentes nas localidades. Tal afirmação entra em conflito com a realidade das UCs na região de Carajás, haja visto que o desenvolvimento do ecoturismo, pode evidenciar os conflitos socioambientais provocados pela mineração. Ao mesmo tempo, Furlan (2003) também afirma que quando a ênfase do ecoturismo é puramente econômica, surgem grandes contradições de discurso e ação. A reprodução de um discurso “ecológico” é comumente encontrada nas práticas oportunistas de turismo disfarçadas de ecoturismo. 2. RESULTADOS ALCANÇADOS A Flona Carajás foi criada em 1998 e abrange os municípios de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Água Azul do Norte, tendo em Parauapebas o seu principal acesso (GUMIER-COSTA; SPERBER, 2009). Mesmo com a elevada importância de sua biodiversidade, a concepção da área, restritamente ligada à exploração mineral, não representou um interesse genuíno com as questões ambientais, mas sim a manutenção dos interesses desenvolvimentistas e empresariais frente aos eminentes conflitos e pressões sociais (SANTOS, 2010). Atualmente, a expansão urbana de Parauapebas e a percepção do breve esgotamento da mina de ferro, tem pressionado o poder público municipal a buscar alternativas de dinamização da economia na tentativa de minimizar os impactos socioeconômicos da mineração. Sendo assim, o ecoturismo surge como alternativa, levando-se em consideração seu potencial de desenvolvimento econômico e social e os vastos atrativos naturais da região. Tratando-se da Flona Carajás, o turismo se apresenta de forma “tímida” e ainda limitada à algumas atividades de visitação, além de ainda não contar com estrutura adequada e uma participação abrangente da comunidade local. Esse fato, talvez se deva à série de limitações criadas ao longo dos anos para garantir a eficiência da produção mineral na região. Esta afirmação fica nítida quando analisamos o desenvolvimento da Flona Carajás ao longo dos seus mais de vinte anos de criação, pois a área permaneceu sob uso total e exclusivo da empresa Vale S.A, ex-empresa estatal privatizada em 1997. O ICMBIO, órgão gestor da Flona, vem trabalhando junto a prefeitura municipal de Parauapebas por meio de um acordo de cooperação técnica com o objetivo de “apoiar as ações de uso público, extrativismo sustentável, ecoturismo, educação ambiental, apoio aos agricultores familiares do entorno, e desenvolvimento socioambiental” (ICMBIO, 2020). O Programa de Uso Público é o instrumento que direciona e orienta as atividades de visitação, tendo como perspectiva fomentar as atividades de recreação e turismo que possibilitem a geração de renda para a comunidade e o incremento da economia local com baixo impacto sobre o ambiente natural. Ao mesmo tempo que são desenvolvidos projetos e ações para o desenvolvimento do ecoturismo e educação ambiental na Flona Carajás, na tentativa de “abrir” os atrativos à visitação e desenvolver uma consciência socioambiental crítica por parte da população de Parauapebas, os objetivos firmados pelo programa de uso público não atingem ampla participação popular, seja pela carência de investimentos nos projetos, seja pelas restrições de acesso impostas pela mineradora. Sendo assim, a mineração permanece como atividade dominante sobre o território, entrando em conflito com uma modalidade de turismo que, em sua essência, evidencia os problemas causados e exige uma mudança de postura quanto ao uso sustentável dos recursos naturais para as presentes e futuras gerações. Por outro lado, há o investimento dos gestores locais e um pequeno grupo de empresários em estratégias de marketing para a divulgação dos atrativos da Flona Carajás com intuito de captar recursos, fomentar o turismo local e firmar a região como um destino de ecoturismo. Porém, o discurso ecológico reproduzido tem ocultado os problemas socioambientais à medida que pronuncia a possibilidade de um desenvolvimento sustentável pautado na exploração mineral, colocando o ecoturismo como única atividade capaz de resolver todos esses conflitos. Nesse sentido, o ecoturismo, pautado na educação ambiental, se apresenta como uma possibilidade para construção de uma consciência coletiva sobre a importância da manutenção da floresta e o uso sustentável dos recursos naturais alertando para os reais impactos provocados pela mineração. Os projetos desenvolvidos pelo ICMBIO também podem contribuir para uma maior participação popular no planejamento e gestão da UC. Porém, é necessária uma postura crítica por parte de todos os atores sociais, para que o discurso ecológico se converta em ações reais, que busquem amenizar os impactos socioambientais, contribuindo assim, para o desenvolvimento sustentável da região. CONCLUSÕES Na Flona Carajás, o desenvolvimento da atividade turística esbarra em interesses controversos que perpassam pela exploração mineral, a conservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais. A mineração provoca impactos irreversíveis que, ao longo dos anos, reconfigurou o papel desta UC em benefício do acúmulo de capital. Neste sentido, o ecoturismo, se mostra incompatível com a realidade Flona Carajás, evidenciando conflitos de interesses entre a conservação, uso sustentável e exploração dos recursos naturais. Em termos práticos, o discurso ecológico reproduzido, não se aproxima do conceito de ecoturismo, ocultando impactos socioambientais negativos provocados pela mineração na região de Carajás. REFER~ENCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIEGUES, Antônio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. 6ª ed. Amplianda. São Paulo: Nupaub-USP/CEC, 2008. FURLAN, Sueli Ângelo. Ecoturismo; do sujeito ecológico ao consumidor da natureza. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri (org). Ecoturismo no Brasil: possibilidades e limites. São Paulo: Contexto, 2003. RODRIGUES, Adyr Balastreri. Ecoturismo: limites do eco e da ética. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri (org). Ecoturismo no Brasil: possibilidades e limites. São Paulo: Contexto, 2003.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

GUIMARÃES, Rafael Souza; MOREIRA, EDMA DO SOCORRO SILVA. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E O ECOTURISMO NA AMAZÔNIA: INCOMPATIBILIDADE DO DISCURSO ECOLÓGICO NA FLORESTA NACIONAL DE CARAJÁS NO SUDESTE DO PARÁ... In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/436849-UNIDADES-DE-CONSERVACAO-E-O-ECOTURISMO-NA-AMAZONIA--INCOMPATIBILIDADE-DO-DISCURSO-ECOLOGICO-NA-FLORESTA-NACIONAL-. Acesso em: 25/04/2025

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