O ESTABELECIMENTO DA PSIQUIATRIA INFANTIL EM MINAS GERAIS: TRATAR E EDUCAR

Publicado em 23/12/2021 - ISSN: 2316-266X

DOI
10.29327/154029.10-72  
Título do Trabalho
O ESTABELECIMENTO DA PSIQUIATRIA INFANTIL EM MINAS GERAIS: TRATAR E EDUCAR
Autores
  • Carlos Eduardo Resende Sampaio
  • Adriana Araújo Pereira Borges - UFMG
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 16 - Educação, Memória, História
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437116-o-estabelecimento-da-psiquiatria-infantil-em-minas-gerais--tratar-e-educar
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Psiquiatria Infantil, Educação Especial, História da Psiquiatria, História da Educação
Resumo
Carlos Eduardo Resende Sampaio Primeiro Autor Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais carlosresendesapaio@gmail.com Adriana Araújo Pereira Borges Professora Adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais adriana.fha@gmail.com Introdução A psiquiatria infantil foi o último dos ramos da medicina a se constituir. A nosologia do transtorno psiquiátrico da criança, por vezes, ficou relegada como um decalque daquela apresentada pelo adulto. Não obstante, o “retardamento” (atualmente, deficiência intelectual) foi, durante um longo período, o único transtorno mental infantil. À medida que pedagogos e médicos aprofundaram a discussão sobre a clínica psiquiátrica infantil, essa população alcançou o protagonismo merecido. A partir dos anos de 1930, as discussões em torno do tratamento e do acompanhamento pedagógico dessa população demonstraram sua importância, estabelecendo o nascimento de uma nova clínica. Esse trabalho tem por objetivo discutir o processo de circulação e recepção da psiquiatria infantil emergente no estado de Minas Gerais, por meio da análise documental que reconstitui o estabelecimento do Centro Psíquico da Adolescência e Infância (CEPAI), em meados do século XX. O CEPAI, antes denominado Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, foi o primeiro local de internação exclusivo para crianças e adolescentes com quadros psíquicos da cidade de Belo Horizonte, ofertando tratamento e educação. Interessa, nessa pesquisa, discutir sob quais bases se estabeleceu a psiquiatria mineira. 1. Fundamentação teórica Bercherie (2001) estabeleceu três grandes períodos ao se considerar a estruturação da clínica da criança. O primeiro se deu durante os três quartos iniciais do século XIX. Segundo o autor, uma única entidade estaria presente nesse público, o “retardamento mental”. O segundo período se inicia após a segunda metade do século XIX, com o surgimento dos primeiros tratados de psiquiatria infantil nas línguas francesa, alemã e inglesa. Nessa fase, percebe-se um aprofundamento do espelhamento dos transtornos do adulto na criança que apresentaria as alterações esperadas para o adulto além do “retardo”. A terceira fase é marcada pelo nascimento de uma clínica pedo-psiquiatra, tendo seu início se dado a partir da década de 1930. Esse período foi possível devido ao desaparecimento da pesquisa clínica na psiquiatria do adulto, sendo a investigação psicopatológica ficando a cargo da psicanálise. Não obstante, a clínica psiquiátrica do adulto, conceitualmente pré psicanalítica, possui forte embasamento médico, enquanto a clínica da criança, apesar de beber dessa fonte, conseguiu se desenvolver em bases diferentes. Discute-se, portanto, como a Educação esteve desde o início, vinculada à psiquiatria infantil, a partir da história de uma instituição. Em Minas Gerais, no ano de 1948, foi criado o Hospital de Neuropsiquiatria Infantil e o Instituto de Psicopedagogia, anexo ao Hospital. Enquanto no primeiro ocorriam as internações, no segundo as crianças eram classificadas e recebiam orientação pedagógica. É importante destacar que desde o início do século XX, já funcionava o Pavilhão Bourneville, no Hospital Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro, inaugurando no Brasil a assistência que, além de médica, passa a ser pedagógica. No entanto, a organização do Hospital mineiro e sua relação com o serviço de apoio escolar ofertado, se deu de outra forma. Assim, pretende-se discutir recepção e circulação, tendo em vista as operações sociais que propagam determinado conhecimento. Através de fontes documentais primárias e secundárias será discutido o estabelecimento da instituição em Minas Gerais, tomando como referência os estudos de Ruchat sobre História da Educação Especial, além da História Cultural de Chartier. Pretende-se assim, retomar através da história da constituição de uma instituição, as relações entre a psiquiatria infantil emergente e sua relação com a Educação Especial. 2. Resultados alcançados Através da análise das fontes, foi possível perceber que a inauguração do Hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Belo Horizonte inseriu-se em uma mobilização mais ampla em torno da infância. Outras instituições de apoio à chamada “criança anormal” estavam sendo criadas na capital, muitas delas incentivadas por uma figura importante no cenário mineiro da época: Helena Antipoff. Em 1929, o então secretário da Saúde Pública e Instrução, Francisco Campos, iniciou um processo de reforma com a construção de novas escolas, além do incentivo a adoção de novas posturas teóricas e metodológicas de ensino. Foi seguindo durante movimento, que Helena Antipoff foi convidada em 1929 para lecionar psicologia educacional na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte. Helena Antipoff participou de movimentos importantes relacionados à Educação em Minas Gerais, além de outras frentes como a consolidação da Psicologia no estado, a Educação Rural e atuação no departamento Nacional da Criança. Destaca-se, em relação ao campo da Educação Especial, a criação da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (SPMG) que inaugurou a atuação interdisciplinar que visava o diagnóstico e o tratamento de crianças com problemas mentais (Borges, 2015) Em 1932, com a criação da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, uma rede de apoio dedicada às crianças anormais passou a funcionar. Nessa rede, destaca-se o papel dos médicos que abriram espaço em suas agendas nos consultórios particulares para atenderem, de forma gratuita, as crianças que necessitassem do serviço. Esses atendimentos foram a semente do que se constituiria depois como o Consultório Médico Pedagógico da Sociedade. Importantes nomes da medicina mineira passaram pelo Consultório, com destaque para Iago Pimentel, Theophilo Santos, Fernando Magalhães Gomes e Aureliano Tavares Bastos, além de Santiago Americano Freire, este último contratado pela SPMG, quando o consultório passou a funcionar em sede própria, no Instituto Pestalozzi. O Instituto se organizou como uma escola especial e foi fundado em 1935 (Borges, 2015). É possível constatar, portanto, que a psiquiatria mineira começa a se organizar enquanto campo específico de atuação, a partir das iniciativas do grupo de Helena Antipoff que, à frente da Sociedade Pestalozzi, imprimia sua marca. O modelo de consultório médico pedagógico (Loosli- Usteri, 1935) implementado em Belo Horizonte foi inspirado no modelo genebrino, que Antipoff conhecia muito bem, devido a sua formação no Instituto Jean-Jacques Rousseau (IJJR). Cirino (1984), em trabalho intitulado “Da ortopedia mental aos meninos de Barbacena, uma perspectiva histórica da Saúde Mental Infantil em Minas Gerais”, afirma que a presença de Antipoff foi catalisadora de algumas preocupações que já existiam em relação à infância e que os primeiros planos para a criação de um Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, partiram dela. Os resultados da pesquisa demonstram que: primeiro, a psiquiatria infantil inicia sua organização em Minas Gerais através do estabelecimento do Consultório Médico Pedagógico, na Sociedade Pestalozzi. A formação dos primeiros psiquiatras infantis, se dá em serviço, atendendo as crianças. Segundo, desde o início a vinculação entre tratamento e educação estava posta, demonstrando a influência do IJJR e a ênfase na interdisciplinaridade. E, por fim, o estabelecimento do Hospital de Neuropsiquiatria junto ao Instituto de Psicopedagogia, organizado sobre as bases do que já estava sendo realizado na capital mineira. Conclusões O estudo da trajetória de uma instituição pode ser ferramenta importante de discussão, uma vez que traz em seu cerne uma conjuntura de elementos sociais, apresentando o pensamento de uma época. A constituição da assistência em saúde mental de Minas Gerais demonstrou que o campo se constituiu a partir dos primeiros atendimentos realizados no Consultório Médico Pedagógico da SPMG e que a relação entre tratamento e educação, estabelecida desde o início no Hospital de Neuropsiquatria Infantil, teve como fundamento, as práticas estabelecidas no Consultório, o que pode ser atestado pela interdisciplinaridade. Referências bibliográficas Bercherie, P. (2001). A clínica psiquiátrica da criança. Em O. Cirino. Psicanálise e psiquiatria com crianças: desenvolvimento ou estrutura (pp. 129-144). Belo Horizonte: Autêntica. CIRINO, O; VIANA, F.J.M. Da ortopedia mental aos meninos de Barbacena. Uma perspectiva histórica da Assistência Pública a Saúde Mental Infantil, em Minas Gerais. Trabalho elaborado para o II Congresso Internacional de Saúde Mental Infantil, Rio de Janeiro, 1984. Trabalho elaborado para o 4º Encontro de Psicólogos da 4º Região, Belo Horizonte, 1984. LOOSLI USTERI, M. LES ENFANTS DIFICILLES ET LEUR MILIEU FAMILIAL. L’ACTIVITÉ D’UNE CONSULTATION MÉDICO PÉDAGOGIQUE. NEUCHÂTEL PARIS : DELACHAUX & NIESTLÉ, 1935 DE ANORMAIS A EXCEPCIONAIS: História de um conceito e de práticas inovadoras em educação especialAutores: Adriana Araújo Pereira Borges 2015 RUCHAT, M. Inventer les arriérés pour créer l’intelligence – L’arriéré scolaire et La classe spéciale – Histoire d’um concept et d’une innovation psychopédagogique – 1874-1914. Bern: Peter Lang SA, 2003
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

SAMPAIO, Carlos Eduardo Resende; UFMG, Adriana Araújo Pereira Borges -. O ESTABELECIMENTO DA PSIQUIATRIA INFANTIL EM MINAS GERAIS: TRATAR E EDUCAR.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437116-O-ESTABELECIMENTO-DA-PSIQUIATRIA-INFANTIL-EM-MINAS-GERAIS--TRATAR-E-EDUCAR. Acesso em: 06/09/2024

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