ALIMENTAÇÃO E TERRITORIALIDADE: A COZINHA NO CANDOMBLÉ

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
ALIMENTAÇÃO E TERRITORIALIDADE: A COZINHA NO CANDOMBLÉ
Autores
  • Luiz Fábio Pinheiro Lima
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 35 - Cultura e Desenvolvimento
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437125-alimentacao-e-territorialidade--a-cozinha-no-candomble
ISSN
Palavras-Chave
Candomblé, Práticas Alimentares, Cozinha
Resumo
Luiz Fábio Pinheiro Lima Estudante de mestrado do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES E-mail: luizpinheirolima1@gmail.com Introdução O tema da pesquisa se centra na relação entre comida e territorialidade analisando as perspectivas das práticas alimentares em um terreiro de Candomblé na cidade de Novo Gama - Goiás. Tal análise será realizada com o intuito de abordar a importância da alimentação para os adeptos do Candomblé, visando a cozinha do terreiro como espaço de sociabilidades através da produção das comidas de santo e também da identidade dos filhos e filhas de santo e analisando o contexto das quizilas. A principal questão desta pesquisa é compreender a relação entre territorialidade e alimentação, enfocando as práticas alimentares do ponto de vista dos praticantes do Candomblé. A pesquisa será desenvolvida através de um estudo qualitativo de cunho etnográfico, baseado na observação participante. As entrevistas serão aplicadas aos filhos e filhas da casa como forma de extrair reflexões sobre as questões alimentares do terreiro. Já foram cumpridas as etapas iniciais de aproximação e apresentação da proposta de pesquisa para os sujeitos envolvidos, autorização da realização por parte dos mesmos, conhecimento preliminar das temáticas a serem estudadas através da observação, descrição e análise tanto de rituais e festas, quanto de situações rotineiras do terreiro. 1. Fundamentação Teórica Falar territorialidade é também pensar em tempos-espaços como significações da existência/real. O tempo num movimento aberto pelas entranhas do espaço, desenvolvendo vínculos e construções sociais, o espaço fluido e material ao mesmo tempo, como sujeito de representações e mediador dos vínculos do homem com mundo. No encontro de ambos se conjugam as bases das territorialidades humanas. Isso cria representações da natureza, que cognitiva e materialmente expressam um vir-a-ser do agir social, do movimento do tempo/espaço e do seu princípio de construção (MARTINS, 2010). A cultura alimentar está, sem dúvida, ligada às formas de inserção dos indivíduos na vida em sociedade e é um dos aspectos básicos que sustentam os vínculos e o sentimento de pertencimento a um determinado grupo social. O ato de comer faz parte do nosso dia a dia ao longo de toda nossa vida, vivemos e crescemos em lugares específicos, cercados de pessoas com quem compartilhamos hábitos e visões de mundo particulares. O que aprendemos sobre comida está inserido em um corpo substantivo de materiais culturais historicamente derivados (MINTZ, 2001). Portanto, o ato de comer é mais que ingerir um alimento qualquer, significa também as relações pessoais, sociais e culturais que estão compreendidas naquele ato. O Candomblé, segundo Prandi (2001), é a religião dos orixás formada na Bahia, no século XIX, a partir de tradições de povos iorubás, ou nagôs, com influências de costumes trazidos por grupos fons, aqui denominados jejes, e residualmente por grupos africanos minoritários. Além dos candomblés iorubás, há os de origem banto, especialmente os denominados Candomblés de Angola e Congo. Os Candomblés baianos das nações Ketu (iorubá) e Angola (banto) foram os que mais se propagaram pelo Brasil, podendo hoje ser encontrados em toda parte. A religião dos bantos, segundo Altuna (1985), era ordenada a partir da crença em uma pirâmide vital, dividida entre o mundo invisível e o mundo visível. Além de uma ordem hierárquica de extrema importância, no primeiro grupo encontravam-se a divindade suprema, os arqui patriarcas, os espíritos da natureza, os ancestrais e os antepassados. No segundo grupo estavam situados os reis, os chefes de reino, tribo, clã ou família, os especialistas da magia, os anciãos, a comunidade, o ser humano, os animais, os vegetais, os minerais, os fenômenos naturais e os astros e todas as energias. No Candomblé uma das principais ligações entre homens e deuses são as oferendas de alimentos e os sacrifícios. Conforme dito anteriormente, o alimento torna-se comida, não só para os seres humanos, mas também para os orixás. Isso mostra, de acordo com Poulain (2013), que a alimentação está relacionada aos vínculos culturais estabelecidos em sociedade e ao sistema de trocas recíprocas que marcam a vida social. Em relação ao sacrifício, é necessário compreender que os homens e os deuses não estão em contato imediato, segundo Mauss (2018), o sacrifício se distingue da maior parte dos fatos designados como, ’’aliança pelo sangue’’, e é através dele que se produz, pela troca de sangue, uma fusão direta da vida humana e da vida divina. Diversas proibições dentro de uma casa de santo são designadas utilizando-se o termo quizila para designar as energias contrárias à energia positiva da divindade. Estas energias negativas podem estar em alimentos, cores, situações, animais e, até mesmo, na própria natureza. É uma forma de reação negativa que atinge as pessoas, não apenas causando algum mal estar físico, como também gerando algum transtorno na vida pessoal. Referem-se a proibições que não estão ligadas a momentos existenciais e sociais de passagem ou a questões de pureza ritual, mas que guiam o adepto na relação com o mundo dos orixás e com as cautelas que a relação lhe impõe (BASSI, 2012). 2. Resultados alcançados Alguns resultados já vem sendo alcançados, porém há muita coisa para refletir e buscar com a pesquisa que está em andamento. O foco é compreender a relação entre alimentação e territorialidade, analisando como as práticas alimentares influenciam na vida dos adeptos e como se constituem as relações de sociabilidade naquele território, observando aspectos rotineiros, rituais e festivos. As quizilas serão objeto de atenção especial no diálogo sobre as práticas alimentares, uma vez que as mesmas são elementos centrais na construção da pessoa no Candomblé. As quizilas, isto é, das aversões ou alergias das divindades a algumas coisas, sejam elas associadas a rituais específicos que restringem por tempo determinado algumas comidas, temperos e frutas ou à exclusão de determinados alimentos definitivamente da dieta do adepto. As relações sociais envolvidas na cozinha são de grande importância para o povo de santo, pois é através deste espaço sagrado que são produzidos os saberes, ensinamentos e as experiências que fazem com o que o indivíduo se reconheça e entenda sua função naquele espaço culinário religioso. As práticas alimentares envolvidas no fazer a comida do santo têm diversas especificidades - a forma de cozinhar, o movimento e direção com a colher ao mexer a comida, além de muitos outros atos minuciosos que ligam a vida do homem com a ancestralidade que a ele pertence. Por fim, é preciso destacar que esse tema é rico e complexo, demandando um maior aprofundamento em estudos futuros que contribuam no sentido de desmistificar as fantasias que alimentam o imaginário das pessoas em torno das comidas de santo, sobretudo aquelas que se encontram fora do Candomblé e ignoram a profundidade e riqueza de saberes que se expressa nesse campo religioso. Vide as recorrentes expressões de intolerância religiosa com violentos ataques aos templos das religiões de matriz africana e a tentativa de proibição dos ritos sacrificiais através de medidas judiciais. A comida consumida nos rituais do Candomblé atinge uma expressão gastronômica que tem como princípio básico a mitologia dos orixás. O fato de existirem preparações culinárias como oferendas, que agradam ou desagradam àquelas divindades, reflete o hibridismo cultural proveniente da interação dos povos. Os alimentos são fonte de vida não só para nós, mas também para o divino, é da essência daquela comida que se servem os ancestrais para extrair o axé que os alimenta. Conclusões (em construção) A pesquisa se encontra em andamento, sendo assim as considerações finais ainda estão sendo lapidadas. Visualizei que a pesquisa etnográfica demonstrou diversos pontos para reflexão além daqueles que foram propostos, o que sugere cautela, pois estudar a cultura de certo povo exige muita atenção, relativização e respeito. A realização desse estudo de cunho exploratório demonstrou a importância dos alimentos na preservação e continuidade das práticas das religiões de matriz africana, sendo a cozinha a principal ferramenta de sociabilidade e de aprendizado dentro da comunidade religiosa. A partir da cozinha podemos visualizar as riquezas e ensinamentos que o Candomblé proporciona, considerando que é na mesma que prevalecem os princípios responsáveis pela produção da identidade dos filhos de santo. Referências Bibliográficas ALTUNA, Raul Ruiz de Asús. A cultura tradicional banto. Luanda: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, 1985. BASSI, Francesca. "Revisitando os tabus: as cautelas rituais do povo santo." Relig Soc 32.2 (2012): 170-92. BASTIDE, Roger. "O Candomblé da Bahia (rito nagô)." Brasiliana 1961. PRANDI, Reginaldo. "Candomblé and the time." Revista Brasileira de Ciências Sociais 16.47 (2001). MAUSS, Marcel, and Henri Hubert. Sobre o sacrifício. Ubu Editora LTDA-ME, 2018.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

LIMA, Luiz Fábio Pinheiro. ALIMENTAÇÃO E TERRITORIALIDADE: A COZINHA NO CANDOMBLÉ.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437125-ALIMENTACAO-E-TERRITORIALIDADE--A-COZINHA-NO-CANDOMBLE. Acesso em: 29/04/2025

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