SABERES FEMININOS E ECOFEMINISMO: DIÁLOGOS EM EPISTEMOLOGIAS DO CONHECIMENTO

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
SABERES FEMININOS E ECOFEMINISMO: DIÁLOGOS EM EPISTEMOLOGIAS DO CONHECIMENTO
Autores
  • Clara Sena Mata Oliveira- Andrea Maria Narciso Rocha de Paula- Programa PROAP da CAPES
  • Carine Guedes
  • Ana Paula Glinfskoi Thé
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437474-saberes-femininos-e-ecofeminismo--dialogos-em-epistemologias-do-conhecimento
ISSN
Palavras-Chave
Corrente epistemológica, Saberes ecológicos, Desigualdade de gênero
Resumo
1.Introdução As relações histórico-sociais são construídas por meio de processos dialéticos que também formam visões de mundo. Tais olhares são inúmeros ao redor do planeta, entretanto percebe-se a hegemonia de um modo de pensar na contemporaneidade, o Racionalismo científico. Esse mecanismo é aliado de outras condições sociais, como o patriarcado, a desigualdade de gênero, classe e raça, assim como o domínio sobre a natureza e as culturas. Diante disso, o Ecofeminismo se apresenta como uma epistemologia que parte da reflexão sobre as relações com a natureza e gênero, propondo a libertação de ambas. A desigualdade de sexos se dá a partir da divisão sexual do trabalho e aborda outras esferas, sendo: políticas, econômicas, sociais e culturais. Diante as assimetrias sociais é preciso a superação dessas relações, juntamente com mudanças de hábitos extrativistas sobre o ambiente. Torna-se necessário mobilizações para fomentar espaços de discussões que valorizem a vida e a sociobiodiversidade. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo discutir o Ecofeminismo, saberes femininos e a condição dos mesmos diante a organização social e epistemologias do conhecimento. Dessa forma, utilizaremos uma revisão bibliográfica da epistemologia do conhecimento científico, compreendendo dimensões teóricas de saberes ao questionar e apresentar outras formas de pensar e lidar com o ambiente. Tal revisão terá como abordagem principal a perspectiva da desigualdade de gênero, epistemologia do conhecimento, saberes e a dominação da natureza. 1. Fundamentação teórica O conhecimento científico moderno se consolidou de maneira hegemônica por volta do século XVIII, na Modernidade, por meio de pensadores como Kant, Descartes, Hume, entre outros. O Racionalismo se apresentou como uma forma de enxergar a realidade, criando modelos para explicar fenômenos de maneira palpável para a interpretação (LUZ, 1988). Para a autora, a ciência também funciona como um mecanismo de soluções para as problemáticas sociais. Dessa forma, o pensamento científico moderno produziu inúmeros benefícios, mas também reforçou a produção de desigualdades nas relações sociais. A consolidação desse método fortaleceu o modo de produção capitalista de informação e consumo, ultrapassando fronteiras geográficas, sequestrando culturas, dificultando a continuidade histórica das mesmas ou mesmo, o extermínio completo de exemplares da sociobiodiversidade. Essa fragmentação favorece um paradigma totalitário do pensamento, que para Souza-Santos (2018) significa o fim de conhecimentos locais e a domesticação dos mesmos. Para ele, esse paradigma causa a perda irreparável nas identidades culturais, ao negar a diversidade existente nas formas de interpretação com outros princípios. Diante dessa visão, os conhecimentos simplificam saberes entre científicos e senso comum, proporcionando uma desigualdade e opressão sobre modos de viver e interpretar. As desigualdades epistemológicas do conhecimento também atingiram mulheres pela estruturação patriarcal da sociedade. O patriarcado oprime, exclui e desvaloriza mulheres e as objetificam bem como se faz com a natureza (SHIVA e MIES, 2014). As condições sócio históricas femininas permitiram espaços específicos para as sujeitas, nesse sentido as formas de enxergar a realidade também foram circunstanciais para com as relações com a natureza. Para as autoras, esses saberes foram passados de geração em geração, fazendo com que mulheres se tornassem verdadeiras guardiãs da natureza com um arcabouço memorial histórico e biocultural significativo. Dissoantes da desigualdade de gênero, raça e classe, movimentos sociais simbolizam a luta em prol da transformação e pela promoção da justiça social e nesse sentido, o Ecofeminismo se apresenta por dentro do movimento feminista na defesa da expressão das diferente concepções de natureza e pelo fim das opressões do patriarcado e do capital. Essa corrente busca por relações éticas com o meio, com comunicação entre relações sócio-políticas e naturalistas, visto que as relações de gênero estão implícitas no ambiente (HOLLAND- CUNZ, 1996). Para a autora, o movimento feminista de modo geral, tem enfrentado dificuldades para reconstruir sua história e busca se inserir em espaços de investigação e participação política. Essas dificuldades também se apresentam para a formulação de teorias mais plurais para valorização da diversidade das relações teórico-práticas e anti-opressoras. 2. Resultados alcançados Diante a estruturação do pensamento científico em paradigmas e epistemologias podemos considerar espaços diferentes de discussão, desse modo, a revisão representa tópicos que passam pelo Racionalismo e saberes ecológicos de mulheres. Comecemos pela identificação de natureza, que se tornou objeto de interpretações, para Latour (2020) a mesma não existe em si, é uma análise humana a partir do cenário social, político, mítico e científico. Nesse sentido, as concepções de mundo são particulares conforme questões sócio históricas locais, sendo únicas. De acordo com SHIVA (2000) a ideia de recursos naturais, em sua etimologia, considera a vida como reciprocidade, um processo que mesmo consumido é vívido. Com a exploração humana, justificada pela ciência, a natureza se tornou um objeto, morto e sem continuidade, o que também considerou acesso ilimitado aos recursos. Para a autora, transmutar o ambiente é um processo de alienação ao direito ancestral, visto que existem significações teóricas, míticas, culturais, religiosas, entre outras. A hegemonia desse pensamento contribuiu para a justificativa de processos colonizadores, bem como a aniquilação de pensamentos populares. Para Toledo (2015), os pensamentos populares representam um complexo entre metafísica, física e práxis, simbolizando a história humana. Além disso, esses saberes constituem uma memória tripla, na genética, linguagem e cognição, revelando um espectro biocultural na tecnologia, economia, política, entre outras áreas. É válido ressaltar que o conhecimento biocultural de comunidades locais e tradicionais são oriundos de trocas ecológicas com o ambiente, muitas dessas não passíveis de valoração monetária. Nesse sentido, algumas sociedades têm uma responsabilidade ambiental adquirida por cognição e experiência, ao longo da história e cultura, fundamental para a manutenção dos socioecossistemas. Consoante as condições femininas na sociedade, a desigualdade de gênero historicamente ocorre mediante a divisão social do trabalho. Resultado disso é que a presença feminina é condicionada frequentemente a espaços geralmente domésticos devido a uma “crença natural” (FEDERICI, 2019). Além disso, o patriarcado é capaz de eliminar as subjetividades femininas abolindo participações em outros espaços. O Ecofeminismo é uma epistemologia do movimento feminista que identifica que o patriarcado domina tanto a mulher como a natureza (GERABA, 1997; MIES e SHIVA, 2014). Nessa análise, os conhecimentos científicos também foram e são construídos aliados ao machismo e ao capitalismo. Por meio do Ecofeminismo é possível questionar os paradigmas e ideologias sociais, pois representa uma outra forma de pensar almejando a transformação social em que mulheres possam ser valorizadas, juntamente com seus saberes adquiridos, evidenciando o potencial de conservação ambiental e manejo da natureza (idem). Outrossim, para Mary Mellor, em uma entrevista para Jaume Blasco (2002), as interações entre humanidade e ambiente só são plurais em interpretações culturais e materiais sem a limitação do cientificismo, proporcionando continuidade da vida física e biológica. A autora complementa que a práxis do movimento significa a combinação entre teoria, história e meio, entre idealismo, naturalismo e pragmatismo. Mesmo com as diversidades do feminismo e das mulheres, por meio da exploração, ambiental e de gênero, é possível realizar uma união em prol da transformação. Dessa forma, o Ecofeminismo combinado ao Ecossocialismo são apresentados como um caminho de experiência mais sustentável. 3. Conclusões Podemos considerar que a desigualdade de gênero possibilitou a imposição de um lugar subalterno às mulheres, que também foram privadas de epistemologias do conhecimento. Outrossim, é possível colocar que a mobilização social em movimentos também deve considerar uma perspectiva ecológica e de gênero, visto a relação diferenciada entre mulheres e natureza, e também, diante da crise ambiental em que nos encontramos. Desse modo, acreditamos que o Ecofeminismo é uma corrente epistemológica feminista que pode auxiliar no processo de revolução que rompa com a desigualdade e considere os vínculos especiais de mulheres com a natureza. Diante dos paradigmas científicos e categorização de saberes, também é válido considerar a necessidade de valorização de práticas e conhecimentos tradicionais e populares, que representam identidades, culturas e modos de vida. 4. Referências bibliográficas DE SOUZA SANTOS, Boaventura. Construindo as Epistemologias do Sul: Antologia Essencial. Volume I: Para um pensamento alternativo de alternativas / Boaventura de Sousa Santos; compilado por Maria Paula Meneses,1ª ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO, 2018. V. 1. FEDERICI, Silvia. Le capitalime patriarcal. Paris: La fabrique éditions. Traduit por Étinne Dobenesque, 2019. GERABA, Ivone. Teologia ecofeminista: ensaio para pensar conhecimento e religião. Editora Olho d’água, set, 1997. HOLLAND-CUNZ, Barbara. Teoría/práctica feminista y “cuestíon ecológica”. In: Ecofeminismos. Ediciones Cátedras: Madrid, 1996. LATOUR, Bruno. Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. Trad. Marylua Meyer. São Paulo/ Rio de Janeiro: Ubu Editora/ Ateliê de humanidades. LUZ, Madel Therezinha. A construção da racionalidade científica moderna. In: Natural racional social: Razão médica e racionalidade científica moderna. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1988. MELLOR, Mary. Ecologismo, feminismo y socialismo: de la integración ideológica a transformación social. Entrevista de Jaume Blasco. Cuadernos de Ecología Política, 23. 19-24, 2002. MIES, Maria; SHIVA, Vandana. Ecofeminismos: teoria crítica e perspectivas. Trad Mirela Bofill, Daniel Agullaredu, Ardo iriarte, Marta Perezsanches e Joansoler. Editora Icaria: Barcelona , 2014. SHIVA, Vandana. Recursos naturais, In: Dicionário do Desenvolvimento: Um guia para conhecimento e poder. Editora Vozes,1ª ed., 2000. TOLEDO, Victor; BARRERA-BASSOLS, Narcisio. A Memória Biocultural: a Importância Ecológica das Sabedorias Tradicionais, Editora Expressão Popular, 1ª edição (31 dezembro 2015).
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CAPES, Clara Sena Mata Oliveira- Andrea Maria Narciso Rocha de Paula- Programa PROAP da; GUEDES, Carine; THÉ, Ana Paula Glinfskoi. SABERES FEMININOS E ECOFEMINISMO: DIÁLOGOS EM EPISTEMOLOGIAS DO CONHECIMENTO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437474-SABERES-FEMININOS-E-ECOFEMINISMO--DIALOGOS-EM-EPISTEMOLOGIAS-DO-CONHECIMENTO. Acesso em: 22/12/2024

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