“CACETE DE AGULHA” – MASSIFICAÇÃO E TOTALITARISMO NA EXPERIÊNCIA DA PANDEMIA DO COVID-19

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
“CACETE DE AGULHA” – MASSIFICAÇÃO E TOTALITARISMO NA EXPERIÊNCIA DA PANDEMIA DO COVID-19
Autores
  • Rodolfo Victor Cancio Evangelista
  • Eduardo Marandola
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 38 - Contemporaneidade, interdisciplinaridade e tradições fenomenológicas e existenciais-humanistas.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437699-cacete-de-agulha--massificacao-e-totalitarismo-na-experiencia-da-pandemia-do-covid-19
ISSN
Palavras-Chave
Ciência, Modernidade, Fenomenologia.
Resumo
“CACETE DE AGULHA” – MASSIFICAÇÃO E TOTALITARISMO NA EXPERIÊNCIA DA PANDEMIA DO COVID-19 Rodolfo Victor Cancio Evangelista Graduado em Psicologia pela PUC Minas, mestrando do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (ICHSA) da UNICAMP/FCA. rodolfovc13@gmail.com Eduardo J. Marandola Jr. Professor do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (ICHSA) da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). eduardo.marandola@fca.unicamp.br Introdução Nos encaminhamos para o final do segundo ano de uma pandemia que, entre surpresas ou previsibilidades, nos apresentou uma vivência nova que não havia se apresentado pelo menos nos últimos 100 anos. A intensidade de tal pandemia e suas repercussões na experiência contemporânea ainda estão por ser pensadas e compreendidas, em especial nos efeitos existenciais e nas repercussões nos modos de ser-e-estar-no-mundo. Como experiência-limite, mas cuja extensão se prolonga em uma duração ainda incerta, meditar suas consequências e repercussões é tarefa de um demorar-se. Este texto se inscreve neste registro, tomando o questionamento pela experiência da crise do Coronavírus a partir das manifestações do totalitarismo e da massificação, perguntando-se pelos modos de ser coletivos em sua manifestação a partir da pandemia. Enquanto preparação da pergunta, algumas bases que estão presentes na própria forma de se pensar as sociedades de massa, o totalitarismo e a experiência ocidental contemporânea, devem tomar lugar no horizonte de nossa proposta. Nesse sentido, adentraremos primeiramente uma revisitação histórica da temática, para, assim, questionarmos essas manifestações em nossa experiência atual, que se apresentam em um mundo de avanços tecnológicos e crises humanas. 1. Fundamentação teórica O enfoque dessa reflexão se desvela no questionar sobre a experiência, tendo como horizonte as manifestações totalitárias e de sociedade de massa na crise do Coronavírus. A trajetória dessa indagação apresenta primeiramente considerações sobre o processo de massificação da sociedade, que mostra no século XX, em um contexto de guerras e progresso científico, suas expressões mais radicais em fusão com o totalitarismo. As transformações sociais que marcam o desenvolvimento dos estados modernos nos séculos XIX e XX se apresentam importantes para nosso caminho, uma vez que, a relação entre totalitarismo e sociedades de massa possui um caráter histórico marcante. O uso do termo “totalitário” como adjetivo, remonta às denúncias do crescimento do fascismo na Itália, a partir de autores de orientação liberal, socialistas e católicos. Nesse mesmo contexto, as discussões sobre sociedades de massa ganhavam corpo através do aparecimento desse modo de ser coletivo em um mundo ocidental, que estabelecia a Europa como sua referência principal. No entanto, o progresso social pautado no desenvolvimento científico que tinha sido o grande projeto europeu, esbarra na primeira parte do século XX em dois grandes confrontos possuidores de uma marca fundamental, as multidões. Posteriormente a apresentação dos conceitos de nossa pergunta, tomaremos o comportamento de se reunir em grupo como direcionamento para o questionar sobre nosso momento atual. O modo de ser com os outros descobre possiblidades para movimentos que vão além da materialidade dos corpos reunidos. Após a preparação de nossa pergunta, iremos até a situação da pandemia do Coronavírus através de uma trilha fenomenológica, da qual buscaremos indagar pela manifestação do totalitarismo e da massificação na experiência, que se manifesta em um lugar onde ciência, vacina e verdade são questionadas. 2. Resultados alcançados No meio da multidão, abraçados por sua demasiada segurança, nos sentimos confortáveis enquanto nos transformamos em parte de uma única coisa. As massas são expressões homogêneas de partículas, que ao se misturarem, perdem toda sua particularidade. A massa se apresenta enquanto uma multidão guiada por seus símbolos e ideologia, caminhando sob a luz de uma única verdade, que não se confunde com o diferente. Por outro lado, os grupos que não apresentam o caráter de massa, possuem como conexão entre os membros, algo que por si só inviabiliza a aglomeração de um grande número de pessoas (ORTEGA y GASSET, 2016). Podemos então pensar que, para a formação desses grupos é necessário que tenha, pelo menos em parte, uma separação do todo. Um grupo ao se descolar da multidão revela algo de discordante, diferente, contrário aos demais, se apresentando assim como minoria. Remete, portanto, a uma particularidade que não encontra no geral sua similitude. Para investigar o mundo em que as sociedades de massa fundidas a estados totalitários emergiram, é necessário que voltemos nossos olhos para a Modernidade. Durante os séculos XVIII e XIX a Europa passava por uma industrialização abrupta. As cidades se enchiam de pessoas, na maioria antigos camponeses que agora tinham seu lugar de trabalho nas fábricas (ARRUDA, 1974). As cidades se transformavam em grandes centros urbanos, onde além das novas invenções, como a máquina a vapor, e o suor dos trabalhadores, era possível vislumbrar uma sociedade europeia organizada, qual seja, patriarcal, burguesa e dominante. No entanto, após uma “época áurea” de organização social e avanços científicos no século XIX, o período pós-guerras Mundiais é marcado por uma destruição tão grande da Europa que seus próprios alicerces tinham sido abalados. O totalitarismo enquanto organização se propaga em potências que foram atores principais nas duas grandes guerras. Sendo assim, podemos ressaltar que na Primeira Guerra Mundial há o surgimento de três experiências históricas que se relacionam diretamente com a origem do totalitarismo enquanto conceito, quais sejam, o fascismo italiano, o nacional-socialismo alemão e o stalinismo russo. Os estados totalitários em desenvolvimento no hiato entre as duas grandes guerras são marcados pelo ingresso das massas na vida política (TRAVERSO, 2002). Esses regimes que emergiram com o final da Primeira Guerra, na eclosão da Segunda Guerra já estavam bem estabelecidos no poder. Destarte, após o fim da Segunda Grande Guerra as grandes construções da Modernidade como o próprio homem moderno, tinham sido reduzidos a estilhaços e escombros através de um do sucesso científico evidenciado em um objeto atômico. Diante dos destroços não foi possível ter tempo nem mesmo para as lágrimas. As transformações pós-guerra revelam o início de uma nova guerra às sombras. Apesar de grandes ameaças, no território dos atores principais nenhuma bomba foi jogada. Os campos de batalha estavam em outros lugares, em que o confronto se evidenciava na consolidação de uma só ideologia como organização social. Já no século XXI, em que o totalitarismo parecia ser apenas um conteúdo das aulas de história, o sucesso de uma crescente extrema-direita no ocidente pode ser explicado segundo Lowy (2015) apontando alguns fatores principais, como o processo de globalização neoliberalista que se apresenta paralelo a uma forçada homogeneização cultural. Nessa direção, a crescente desses movimentos que se assemelham ideologicamente às orientações dos estados totalitários de um pós-guerra, tem seu crescimento acentuado em um mundo estruturado a partir da tecnologia. Diferente das décadas de 20 e 30 do em que o rádio era difundido na Europa e que começava a aparecer as primeiras transmissões televisivas, temos um mundo em que estamos conectados a todo tempo através de uma única rede. No momento em que as primeiras notícias sobre um novo tipo de vírus começaram a chegar ainda no final de 2019, não esperávamos uma mudança em nosso modo de ser tão abrupta. O que se apresentava como novidade sobre a forma de um vírus, e que ganhava a atenção de todos entre as telas de bolso através de notícias confusas, logo virou rotina em todas partes do mundo. Em um momento de necessidade de isolamento, as liberdades individuais, que tanto contrastavam com medidas totalitárias, ganharam o caráter de omissão, de um descuido doloso. A presença em uma festa, o a andar sem máscara, que antes não tinham um significado coletivo, possibilitou a repulsa daqueles que entendiam que o isolamento era o único caminho enquanto a vacina não chegava. Destarte, a globalização que por muitas lentes era a causadora de tantos males da sociedade, se apresenta como a base para que uma vacina fosse produzida por um laboratório de outro continente e chegasse em pouco tempo em cidades interioranas de países tropicais. Dessa forma, junto com a necessidade de um agir coletivo (BATISTA, 2020), emerge à experiência de uma crise sanitária deste porte, a possiblidade de enfrentamento a partir de uma sociedade massificada, em flerte com o totalitarismo. Conclusões É nesse entre, que revela o modo que nós somos sendo, que abre possiblidade para refletir sobre o progresso científico que apresenta em nosso tempo a tecnologia enquanto base de um mundo em crise. Essa crise no modo de pensamento, que se apresenta em diferentes modos, como a crise ambiental (MARANDOLA JR, 2021), com o Covid-19 ganhou ainda mais amplitude. Talvez pelo fato de não podermos controlá-lo, assim como “achamos” que controlamos a natureza, tenha possibilitado uma grande ansiedade no mundo. Referências ARRUDA, José Jobson de Andrade. História moderna e contemporânea. 9. ed. São Paulo: Ática, 1978. CANETTI, Elias. Massa e Poder. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. MARANDOLA JR. Eduardo. Fenomenologia do ser-situado: crônicas de um verão tropical urbano. São Paulo: Editora Unesp, 2021. ORTEGA Y GASSET. J. A Rebelião das Massas. Campinas: Vide Editorial, 2016. TRAVERSO, Enzo. Il totalitarismo: storia di un dibattito. Milano: Mondadori. 2002.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

EVANGELISTA, Rodolfo Victor Cancio; MARANDOLA, Eduardo. “CACETE DE AGULHA” – MASSIFICAÇÃO E TOTALITARISMO NA EXPERIÊNCIA DA PANDEMIA DO COVID-19.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437699-CACETE-DE-AGULHA--MASSIFICACAO-E-TOTALITARISMO-NA-EXPERIENCIA-DA-PANDEMIA-DO-COVID-19. Acesso em: 29/04/2025

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