MASCULINIDADES EM FOCO: DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS SOBRE SER HOMEM

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-126  
Título do Trabalho
MASCULINIDADES EM FOCO: DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS SOBRE SER HOMEM
Autores
  • Edmarcius Carvalho Novaes
  • Miriam Pillar Grossi
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437869-masculinidades-em-foco--diferentes-perspectivas-teoricas-sobre-ser-homem
ISSN
Palavras-Chave
masculinidades; perspectivas teóricas; interdisciplinaridade; estudos territoriais.
Resumo
Introdução Os estudos sobre as masculinidades apontam para relações sociais demarcadas por violência, virilidade, força, culto ao corpo, repúdio à expressão de sentimentos e aos aspectos femininos, além de uma sexualidade heterocentrada obrigatória (DEL PRIORE & AMANTINO, 2013; MUSKZAT, 2018, CAETANO & SILVA JUNIOR, 2018). A masculinidade hegemônica (CONNELL & MESSERSCHMIDT, 2013) se sobressaí como um conjunto de discursos e práticas culturalmente construídos em uma sociedade, cujo propósito é subordinar aos seus desejos e leituras de mundo as demais existências e as masculinidades consideradas subordinadas, isto é, aquelas que vivenciam outros marcadores sociais de diferença: aspectos étnicorraciais, condições de deficiência, transmasculinidades e sexualidades dissidentes. A proposta deste trabalho é apresentar algumas perspectivas teóricas disciplinares a respeito de vivências de masculinidades, buscando construir um modelo interdisciplinar de análise. Trata-se das seguintes perspectivas: a) nos estudos de gênero, com o conceito de “masculinidades hegemônicas”; b) na antropologia, tomando gênero como categoria de análise para pensar a masculinidade como o papel sexual do ativo; c) nas artes, com a relação entre literatura, política e papéis sexuais que constituem masculinidades; d) na história, com a historiografia das masculinidades brasileira em seus aspectos afetivo-políticos das masculinidades a partir da colonização e o adestramento dos corpos; e) na educação, com a pedagogização dos corpos masculinos performatizados; e, f) na psicologia, com a construção social das masculinidades em processos de subjetivações, a partir do falocentrismo. 1. Fundamentação teórica O termo “masculinidade hegemônica” é cunhado por Robert Connell e James Messerschmidt no artigo “Masculinidade hegemônica: repensando o conceito”, que foi publicado em 2005 e traduzido para a Língua Portuguesa em 2013, na Revista de Estudos Feministas. A partir dos estudos de gênero, os autores apontam que o termo surge nos anos 1980 na Austrália, e que reflete sobre o papel social do masculino em múltiplas relações de poder – e, portanto, fala-se no plural, em masculinidades hegemônicas. Com o viés sociológico, bebe das teorias feministas sobre o patriarcado e da perspectiva marxista gramsciana, para ratificar sua existência de forma hierárquica, em detrimento de outras formas de masculinidades que não sejam heterocentradas. Miriam Pillar Grossi, em 2004, no artigo “Masculinidades: uma revisão teórica”, elabora uma análise antropológica, em que toma o gênero como categoria de análise numa perspectiva pós-estruturalista, utilizando do discurso para explicita a multiplicidade de formas pelas quais os indivíduos vivenciam suas identidades de gênero e orientações sexuais. Neste contexto, a masculinidade se define pela possibilidade de ser ativo, o ‘penetrador’, em cultura brasileira em que o passivo é visto de forma agressiva como uma masculinidade a ser rechaça, pois associa-se ao feminino em papéis sexuais. Já a obra “Masculinidades: teoria, crítica e artes” (2013), organizada por Fernando Marques Penteado e José Gatti apresenta em dezenove ensaios discussões sobre masculinidades no campo das artes, organizados em três eixos: literaturas/imagens (a partir do cinema, problematiza a relação entre masculinidade e homossexualidade, aspectos da virilidade e desconstrução como perspectiva, além das questões sobre masculinidade e raça); políticas/culturas (com foco nos novos discursos sobre a masculinidade e o corpo masculino, sua relação com o esporte, a aids e as performances de gênero); e, ardores/espelhos (aspectos sobre o banheiro masculino e as tensões entre espaços públicos e privados, aspectos corporais e da nudez, desejo e imagens, e a inversão de papéis sexuais masculinos sob as lentes da homofobia). Joseli Maria Silva, Marcio Jose Ornat e Alides Baptista Chimin Junior (2011) por sua vez, na obra “Espaço, Gênero & Masculinidades Plurais”, propõe uma análise geográfica e espacialização das masculinidades, tidas na condição de pluralidade. Assim, se propõe a pensar as múltiplas e contraditórias masculinidades em diferentes tempos e em diferentes espaços. Aponta que a discussão de gênero e das masculinidades são importantes para se entender as vidas das mulheres, mas também as dos homens, examinando suas subjetividades de gênero normativas e hegemônicas. Já em 2013, a historiografia da masculinidade brasileira é a proposta de Mary Del Priore e Marcia Amantino, em sua obra “História dos Homens no Brasil”. Em doze capítulos, as autoras e seus convidados apresentam várias pesquisas da cultura e história nacionais, a partir de diversos ângulos: a fundamentação da masculinidade com a ideia de masculinidade dos escravos vindos da África, dos jovens e dos trabalhos no período colonial, a busca pela modelagem e pelo adestramento do corpo, a figura do esportista como herói contemporâneo, além do celibato de padres, e das práticas de esportes de contato. Na área da educação, Marcio Caetano e Paulo Melgaço da Silva Junior organizam a obra “De guri a cabra-macho: masculinidades no Brasil” (2018), com onze capítulos sobre a temática. A partir da definição de gênero como categoria social sobre corpos sexuados, apontam que a mulher surge como sexo no início do século XIX. Até então, existia-se somente um somente o sexo masculino, pois a noção de sexo estava subordinada a ideia de perfeição metafísica que rondava o corpo masculino. É somente nos anos 1990 que a lógica do sistema sexo/gênero como ferramenta conceitual que possibilitou as análises das performatividades femininas e masculinas. Tais performatividades são regimes de verdade, de produção e regulação dos modos de subjetivação, que auxiliam a compreensão das masculinidades. Uma performatividade existente em torno da masculinidade é sua falocentrismo, que é explorado na obra. Por fim, no campo da psicologia, Malvina E. Muszkat (2018), em seu livro “O homem subjulgado: o dilema das masculinidades no mundo contemporâneo”, aponta que o masculino é subordinado tanto quanto o feminino à ‘Ordem’, isto é, ao conjunto de representações de um imaginário social elaborado por grupos detentores de poder, que mantem e/ou ampliam essa organização. Existe uma ordem que diz respeito às regras que disciplinam e definem comportamentos adequados para corpos masculinos e femininos em nossa cultura. Esse ordem parte do princípio do falo, que estrutura hierarquicamente um estado de exclusão de mulheres e de outras formas de vivências de corpos. Para tanto, a hegemonia masculina perpassa por conflitos com seus próprios afetos. 2. Resultados alcançados A proposta de um modelo interdisciplinar de análise que ora se apresenta é a abordagem dos estudos territoriais. Ao refletir as masculinidades hegemônicas como muliterritorialidades macrossociológicas de ser homem, em suas dimensões econômicas, políticas e culturais, o aporte teórico-metodológico dos estudos territoriais (SAQUET & SOUZA, 2009; HAESBAERT, 2004), considerada os aspectos simbólico-identitários que são pautados na relação espaço-tempo. Assim, as masculinidades hegemônicas tomadas como objeto de análise dos estudos territoriais são tidas como decorrentes de aspectos relacionais e processuais, dos níveis de relações de poder e de possibilidades de interferência em seu movimento: conflito, apropriações e dominações. Portanto, tais multiterritorialidades masculinas hegemônicas (marcadas por virilidade, uso da força, ausência de sentimentos, falocêntrico, homossociabilidade, machismo e homofobia), fomentam condições sociais construídas, vividas, percebidas e compreendidas como as dominantes, uma vez que nas relações, estas (multi)territorialidades cotidianas são construídas, e servem para identificar os grupos sociais aos quais cada indivíduo pertencente. Por outro lado, as masculinidades subordinadas, que indicam a pluralidade das formas de vivências das masculinidades a partir de outros marcadores sociais de diferença (aspectos étnico-raciais, condições de deficiência, transmasculinidades e homossexualidades), também constituem multiterritorialidades que se constituem com a articulação de estratégias de sobrevivência destes sujeitos. A interdisciplinaridade dos estudos territoriais indica a abertura para se pensar formas de eliminar limites, por meio das estratégias de sobrevivências dos sujeitos com suas marcas de masculinidades subordinadas. Conclusões As masculinidades são plurais, se constituem em determinados tempos e determinados espaços, e decorrem do processo de colonização e do adestramento do corpo, quando são analisados sob o ponto de vista que excede a existência de uma masculinidade hegemônica. As masculinidades são pedagogias dos corpos sexuados e que necessitam ser performatizados em suas expressões, públicas e privadas. Na política, na literatura, nos espaços de homossociabilidade, as performances indicam papeis sociais culturalmente desejados. Se as masculinidades são plurais, uma perspectiva interdisciplinar como a dos estudos territoriais, torna-se possível preciso (re)pensar as masculinidades e seus afetos em suas relações homossociais, suas performances marcadas pela virilidade do pênis sempre ereto e penetrante, da necessidade de constante vigilância do corpo violento para repulsar qualquer traço de feminilidade e homoafetividade. Referências bibliográficas CAETANO, Marcio; SILVA JUNIOR, Paulo Melgaço da. De guri a cabra-macho: masculinidades no Brasil.1 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2018. CONNELL, Robert W.; MESSERSCHMIDT, James W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Revista Estudos Feministas, Florianópolis: 21(1), 2013. DEL PRIORE, Mary; AMANTINO, Marcia (orgs). História dos Homens no Brasil. 1 ed. São Paulo: Editora Unesp, 2013. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2004. GROSSI, Miriam Pillar. Masculinidades: uma revisão teórica. Antropologia em Primeira Mão. Florianópolis, 2004, p. 4-37. MUSZKAT, Malvina. O homem subjugado: o dilema das masculinidades no mundo contemporâneo. São Paulo: Summus, 2018. PENTEADO, Fernando Marques; GATTI, Jose. Masculinidades: teoria, crítica e artes. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011. SAQUET, Marco Aurélio; SOUZA, Edson Belo Clemente de. Leituras do conceito de território e de processos espaciais. São Paulo: Expressão Popular, 2009. SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Marcio Jose; CHIMIN JUNIOR, Alides Baptista. Espaço, gênero e masculinidades plurais. Ponta Grossa: Todapalavra, 2011.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

NOVAES, Edmarcius Carvalho; GROSSI, Miriam Pillar. MASCULINIDADES EM FOCO: DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS SOBRE SER HOMEM.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437869-MASCULINIDADES-EM-FOCO--DIFERENTES-PERSPECTIVAS-TEORICAS-SOBRE-SER-HOMEM. Acesso em: 22/12/2024

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