O Laboratório Espaço
e Política, da Universidade Federal de Pernambuco e a Rede Internacional de
Pesquisa Voto, Território e Classe, em parceria com a Universidade Federal
Fluminense e seu PPG em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU/UFF) e com a
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
promoverá o III Colóquio Internacional sobre Sociedade Espaço e
Política, com o tema ‘O voto em tempos
de cólera: o avanço da extrema direita no Brasil e na América Latina’ durante
os dias 01 e 03 de outubro de 2025,
na cidade de Niterói/Rio de Janeiro.
Em sua terceira edição, a organização do
Colóquio procura trazer ao debate uma pergunta chave: como e por que a
democracia, enquanto instrumento de soberania popular, por meio do sufrágio
universal, tem referendado projetos ultraliberais e com ele a ascensão da
extrema-direita em territórios onde predominam a pobreza e grandes
desigualdades sociais?
Estamos em um quadro geopolítico
desafiador. De um lado, temos a ascensão de governos ultraliberais comandando
nações importantes como os Estados Unidos, com Donald Trump, Giorgia Meloni na
Itália e Javier Milei, na Argentina. De outro, apresentam-se as resistências à
lógica ultraliberal e governos progressistas têm se rearticulado na América
Latina, com a vitória de Claudia Sheinbaum, no México e de Yamandú Orsi, no
Uruguai.
No Brasil, um governo de coalisão se
formou tendo o Presidente Lula à sua frente, em seu terceiro mandato, numa
eleição ganha voto a voto. União e Reconstrução, o lema de sua gestão, tem
enfrentado desafios de barrar a crescente extrema direita, cuja principal
representação no Congresso Nacional se dá pelo Partido Liberal, dono da maior
bancada. Com um plano de governo de caráter claramente progressista, a coalisão
formada tem enfrentado dificuldade de aprovação de sua agenda e, para além da
disputa política no legislativo, enfrenta também um grande volume de
desinformação, disseminada de dentro e de fora do Congresso, como foi o caso do
vídeo veiculado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL – MG) desinformando
sobre o PIX e que acabou fazendo com que o governo recuasse na sua tentativa de
coibir sonegação fiscal.
O resultado do travamento de agenda, do
aumento da taxa de juros em prol de uma disciplina fiscal e do discurso
incessante da imprensa de que a inflação e a dívida pública são os grandes
problemas da nação, tem levado a aprovação do Presidente Lula “a despencar”
como gosta de alardear a grande mídia. E assuntos de importância basilar, como
a suposta tentativa de golpe de Estado
que levou à apresentação de denúncia pela Procuradoria Geral da República, de
Jair Bolsonaro, seu candidato a vice na chapa Braga Neto e mais 32 indiciados,
entre militares e civis, parecem não atrair tanto os holofotes, em que pese que
no bojo da denúncia haja a inclusão de planos de assassinato do atual
presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal
Federal Alexandre de Moraes. Pela primeira vez na história da República um
ex-presidente é tornado réu e será julgado pelos supostos crimes cometidos; no
entanto, pesquisas de intenção de voto ainda consideram seu nome, apesar da
inelegibilidade já posta pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Tendo em perspectiva o atual cenário
político latino-americano e as eleições presidenciais no Brasil em 2026 e,
cônscios de que para se ganhar uma eleição democrática, há que se conquistar o
voto da população mais pobre, este III Colóquio convida pesquisadores e
estudiosos do tema, a debatermos os desafios que temos à frente, no sentido de
se compreender o avanço da extrema-direita e seu enfrentamento: que fatores têm
contribuído na definição do voto da população mais pobre? Como trabalhar com
territórios precarizados de sorte que sua população compreenda as diferenças
existentes entre propostas liberais e propostas progressistas? Como trazer as
políticas públicas para o cerne do debate político? Há o que se aprender com as
experiências uruguaia e mexicana? Temos experiências positivas em território
nacional?
Público-alvo:
professores, estudantes, estudiosos, pesquisadores, profissionais e práticos da
área de Planejamento Urbano e Regional, Geografia, Sociologia, História,
Filosofia, Antropologia, Psicologia, Ciência Política, Comunicação, Direito,
Economia e áreas afins.
Com o tema O voto em tempos de cólera: o avanço da extrema direita no Brasil e na América Latina, o III SOPAPO convida estudantes, pesquisadores e profissionais a apresentarem trabalhos na forma de resumos expandidos e pôsteres (modelo exclusivo para estudantes de graduação) para apresentação em sessões de comunicação nas seguintes temáticas:
A. Voto, território, classe e democracia
A compreensão das relações entre voto, território e classe são de suma importância para o desenho da geografia eleitoral. No Brasil, a estruturação do espaço nacional gerou divisões territoriais do trabalho que cindiu o país entre Norte e Sul, faixa litorânea e hinterlândia, trazendo cisões regionais e também dentro dos próprios estados (capitais x cidades interioranas).
De caráter desigual e excludente, a população mais carente tende a se espraiar pelas enormes periferias e áreas ambientalmente frágeis, por vezes inseridas em malhas urbanas mais bem estruturadas, cabendo aos estratos sociais mais privilegiados, em termos de capital econômico e cultural, ocuparem as melhores porções do território.
Via de regra, supõe-se que esses estratos mais privilegiados sejam alinhados ideologicamente com projetos liberais. Contudo, em termos nacionais, eles representam menos de 20% da população e portanto, sem nenhuma chance de vencer uma eleição majoritária. Por isso, nos interessa sobretudo compreender como vota os 80% da população restante. Que pautas a têm mobilizado?
Nesse sentido, essa temática contempla investigações que reflitam sobre a geografia eleitoral. Como tem votado a população em seus diferentes estratos de classe? O que ela busca com o seu voto? Como explicar o referendo pelo voto, da ascensão de uma ordem ultraliberal e concentradora de riquezas em detrimento do desenvolvimento geográfico desigual presente na maioria dos países latino-americanos?
Nesse eixo, são bem-vindos trabalhos que preferencialmente dialoguem com os seguintes tópicos:
▪ O avanço do conservadorismo e de uma agenda ultraliberal
▪ Os desafios da democracia representativa face à ascensão da extrema-direita
▪ Estado e políticas públicas em contextos ultraliberal e progressistas
▪ As relações entre voto, território e classe no Brasil e na América Latina
▪ O comportamento eleitoral e seu rebatimento no território
▪ Os desafios para politização da classe trabalhadora
B. Mais Estado ou menos Estado? A conquista do eleitorado por meio de (falsas) narrativas
Pós-verdade, fake news, cancelamento e disparos em massa, digital influencers: para além do espaço público, das manifestações de rua, as disputas também se dão no meio virtual. As narrativas que se tornam virais e alcançam milhões de visualizações num curto espaço de tempo, sejam elas verídicas ou não, têm demonstrado a sua força na condução do debate político e na anuência de boa parte do eleitorado em prol de uma agenda destituidora de direitos da classe trabalhadora.
Algumas questões se colocam prementes a esse eixo: a esfera pública tradicionalmente constituída pela mídia tradicional (jornal, rádio, TV) está perdendo força enquanto formadora de opinião? A internet tem assumido esse lugar? Que discursos fazem eco nos moradores de territórios empobrecidos de sorte que estes tendem a votar em planos de governo que são diametralmente contrário à melhoria de suas condições territoriais, sociais e econômicas?
São bem-vindos trabalhos que tratam:
▪ O papel da esfera pública na construção do consentimento
▪ A atuação das redes sociais e bolhas digitais na construção de discursos virais
▪ Mídia e desinformação
▪ Ciberespaço e extremismo político
▪ A regulamentação das redes sociais
▪ Colonialismo digital
▪ Resistência digital e estratégias contranarrativas
▪ A resistência nas redes e a politização da classe trabalhadora
C. Voto, religião e política
As eleições presidenciais de 2018 e 2022 foram marcadas por um forte discurso conservador, de cunho religioso, evocando a família como elemento central da narrativa. Paradoxalmente, o mesmo discurso que trazia Deus e família como pilares centrais, também defendia o porte de armas e se valia da linguagem corporal (os dedos indicador e polegar simulando uma arma de fogo) para sinalizar uma dos principais motes de campanha defendidos pelo então candidato Jair Bolsonaro.
Mais paradoxal ainda, foi observar os discursos e o uso do púlpito, sobretudo nas igrejas evangélicas, inclusive com orientações disponibilizadas nos canais digitais – como no caso da IURD, onde se buscava uma explicação bíblica que autorizasse o uso das armas de fogo, em contraponto ao “Não matarás”, constante do Evangelho.
Diante de tamanho paradoxo, algumas questões são levantadas: que papel a igreja, e de seus diferentes credos, têm desempenhado na condução política do país? Como explicar sua associação com políticas e discursos de cunho fascista? E com a defesa de golpes de Estado, como foi o caso da TFP (Tradição, Família e Propriedade), de matriz católica, apoiadora do golpe de 1964? Existe uma relação entre o avanço das igrejas neo e pentecostais com o avanço da ideologia neo e ultraliberal?
São bem-vindos o diálogo com os seguintes temas:
▪ Comunidades Eclesiais de Base e a organização dos territórios
▪ Igrejas evangélicas e a organização dos territórios
▪ Influencers cristãos e suas narrativas
▪ Religião e formação sociopolítica progressista
▪ Religião e formação sociopolítica liberal
Nessa edição contaremos com a modalidade PÔSTER dedicada a estudantes da graduação, que podem enviar trabalhos pertinentes a qualquer temática indicada anteriormente.
São atividades previstas para o III SOPAPO
- Mesas Redondas
- Sessões de Comunicações
- Pôsteres
- Roda de Debates
- Oficinas urbanas (atividade pós evento)
MESAS REDONDAS
Dia
01 de outubro de 2025, das 9h00 às 12h00
O voto em tempos de cólera: o avanço da
extrema direita no Brasil, na América Latina e na Europa
Maria Julia
Gimenez – UFRRJ (lattes)
Matthew Richmond
– Newcastle University (Newcastle University Staff Profile)
Dia
02 de outubro de 2025, das 9h00 às 12h00
Mais Estado ou menos Estado? A conquista do eleitorado por
meio de (falsas) narrativas
João Feres Junior – UERJ (lattes)
Viktor Chagas – UFF (lattes)
Dia
03 de outubro de 2025, das 9h00 às 12h00
Voto,
religião e política
Alexandre Brasil Fonseca (lattes)
Henrique Vieira – Deputado Federal pelo
PSOL (Perfil Câmara dos Deputados)
SESSÕES DE COMUNICAÇÕES
Compreendem a
apresentação de pesquisas a partir da submissão de resumos expandidos (vide template) por
pesquisadores e estudantes de pós-graduação que tenham trabalhos relacionados
com as temáticas. A seleção dos trabalhos será realizada por pares e às cegas
(sistema duplo cego) por meio de uma comissão científica. A programação das
sessões de comunicações ocorrerá após a divulgação do resultado dos trabalhos
aceitos para apresentação oral.
PÔSTERES
Modalidade exclusiva para
estudantes de graduação, sua apresentação deverá acontecer durante os dias 01,
02 e 03 de outubro. A seleção dos trabalhos ocorrerá a partir da submissão de
resumos simples (acesse o template aqui) que será realizada
por pares e às cegas (sistema duplo cego) por meio de uma comissão científica.
A programação das sessões de pôsteres ocorrerá após a divulgação do resultado
dos trabalhos aceitos para esta modalidade.
RODA DE DEBATES
Assim como na edição anterior, o
III SOPAPO contempla espaço para lançamento de livros e conversa com os
autores.
Obs.: Caso você queira
lançar seu livro no III SOPAPO, entre em contato conosco pelo e-mail:
coloquiosopapo@gmail.com
OFICINA URBANA
Visita programada para o dia 04
de outubro, como atividade pós-evento.
Maiores detalhes em breve.
Prof. Dr. Luciano Muniz Abreu (UFRRJ/UFF – coordenação geral)
Profa.
Dra. Cristina Araujo (UFPE – coordenação geral)
Profa. Dra. Helena d Agosto Miguel Fonseca (Cefet MG)
Prof. Dra. Helena Lúcia Zagury Tourinho (UNAMA)
Prof. Dr. Lutemberg Francisco de Andrade Santana (IFPE)
Prof. Dra. Sandra Catharinne Pantaleão Resende (UEG/PUC
Goiás)
Doutorandas
Letícia Rocha de Santana (UFPE)
Raissa Gomes de Sales (UFPE)
Yasmmim Oliberia Gomez
Bitencourt Heichard (UFF)
Mestrandos/as
Dyanna de Abreu Cardozo (UFF)
Ester Naiana (Unama)
Israel Adorno (PUC-GO)
Marco Aurelio Barbosa da Silva (UFRPE)
Thaís de Oliveira Gomes (UFF)