Apresentação e Proposta
O Simpósio do Patrimônio Material e Imaterial de Jundiaí, que completa
dez anos em 2022, é uma realização do Departamento de Patrimônio Histórico da
Unidade de Gestão de Cultura de Jundiaí (DPH) em parceria com a Fatec Jundiaí e
a Fatec Itu. O Simpósio faz parte da programação do Mês do Patrimônio
Histórico e Cultural de Jundiaí, um programa municipal de educação patrimonial realizado durante o mês de agosto, que tem o objetivo
de inserir
na pauta de discussões da gestão patrimonial de Jundiaí e de outros municípios
os resultados das pesquisas, reflexões e intervenções no âmbito da preservação
do patrimônio cultural. Desde 2019, O Mês do Patrimônio faz parte do calendário municipal oficial de
Jundiaí.
Este ano, em sua décima edição, a ser realizada de 29 a 31 de agosto, o
Simpósio tem como tema central “Memória, Identidades e Patrimônio Cultural
na Modernidade”. Devido ao abrandamento da pandemia do Coronavírus, as atividades serão divididas em presenciais e
transmitidas online pelos canais da Unidade de Gestão de Cultura. Em um ano em que se comemoram as efemérides dos 200 anos da
Independência do Brasil e dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, o Simpósio se
coloca como uma oportunidade para discutir a constituição dos caminhos percorridos pela Nação para
a construção de sua identidade, ou identidades, sobre a construção e
compreensão da ideia de patrimônio cultural brasileiro, e como esses eventos
foram definidores da modernização do País.
Se o embrião do desenvolvimento brasileiro é marcado pela
idealização positivista de progresso, a ordem se colocou como seu complemento
necessário. Em meio às contradições construídas nas concepções e práticas
voltadas para a justiça social e a soberania nacional, o desenvolvimentismo se
consolidou na perspectiva de uma modernidade conservadora. Tratava-se de
ampliar, ainda que muito parcial e lentamente, o contingente populacional capaz
de usufruir das condições capitalistas de produção e consumo. Comumente
divorciadas das políticas de emprego e renda e de desenvolvimento científico e
tecnológico, sabe-se que essa ampliação por meio das políticas públicas foi
limitada também quanto aos seus efetivos objetivos de escolarizar e garantir os
direitos socioculturais à população. A relação com o patrimônio histórico e
cultural torna-se, assim, problemática. Se para preservar é necessário
conhecer, como preservar sem conhecer e sem se reconhecer nesse patrimônio?
A ideia de
identidade nacional, ao ser unívoca, não foi capaz de abarcar as culturas
brasileiras, como considerou Alfredo Bosi ao entender que em sociedade moderna
alguma é possível existir a unidade ou uniformidade cultural. Por isso, o
moderno pode ser entendido como o advento da pluralidade e da diversidade. Uma
das contribuições da Semana de Arte Moderna, que completa 100 anos em 2022,
consiste em ter colocado em perspectiva tanto a questão da atualização
artístico-cultural de uma sociedade subdesenvolvida como a problemática da
nacionalidade. Após a Semana de Arte Moderna, como o desenvolvimento associado
à modernização pode ainda dar as costas para as identidades culturais e a
riqueza dos territórios em que elas florescem e frutificam?
Passados
duzentos anos da Proclamação da Independência, a ideia de modernidade no
Brasil, tendo como um dos seus marcos a Semana de 1922, precisa se distanciar
de comparações simplificadoras com experiências culturais de outras tradições e
se aproximar de algo que ainda precisa ser mais valorizado: a brasilidade ou as
culturas brasileiras. Mais do que motivo para comemoração, essas
efemérides são, em geral, momentos para a reflexão sobre o que ainda não foi
conquistado.
Há que se superar o mito do homem cordial, da democracia
racial e do gigante adormecido, entre outras representações e discursos que nos
levaram a compreender que seríamos o país do futuro ainda que de costas para o
passado e tratando os problemas contemporâneos com eufemismo.
As concepções e práticas voltadas para o patrimônio
histórico e cultural já com a influência de Mário de Andrade se voltam contra a
perspectiva limitadora da pedra e do cal. Para além da Semana de Arte Moderna,
o modernismo também foi a construção de um repertório imagético para colocar em
pauta uma brasilidade que se reconhece em Macunaíma, no Abaporu e na Paulicéia
Desvairada, mas que deveria ter um olhar atento também para os retirantes de
Portinari e os quartos de despejo de Carolina Maria de Jesus. A arte enquanto
historiografia do sofrimento acumulado e enquanto mais expressão que sublimação
tem sido capaz de dar voz e visibilidade às realidades que problematizam as
concepções de modernidade.
Perante
as importantes comemorações da Semana de Arte Moderna e da Proclamação da
Independência do Brasil, o gesto de “partir do final”, percebendo que “é tudo
pra ontem”, como faz Emicida, pode nos trazer não só a tradição e a importância
histórica dos bens culturais, mas a sua potencialidade de transformação ao
iluminar o passado a ser superado e ao mostrar a emergência de um futuro que
precisa estar aí.
A
Constituição de 1988 ficou marcada pela titularidade dos cidadãos no que se
refere à defesa dos direitos culturais e colocou a municipalidade no centro da
defesa e da garantia desses direitos. Uma das questões que se colocam é como é
possível construir uma cidadania cultural no âmbito das cidades, palcos por
excelência do que se pressupõe como modernidade? As identidades culturais se
constituindo nos territórios exigem um olhar atento ao que acontece nos
municípios. E como essas identidades culturais vêm se constituindo nesses
territórios, muitas vezes distantes, não só fisicamente, dos grandes centros
urbanos, mas também em uma perspectiva histórica?
Em Jundiaí,
o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural local foi criado pela Lei
Complementar 443 de 2007, que, em seu Artigo 2º, indica que a política
municipal de proteção do patrimônio histórico constitui um processo contínuo e
permanente de preservação da memória, e será concretizada pela aplicação dos
instrumentos urbanísticos e das diretrizes estabelecidas nesta Lei Complementar
e no Plano Diretor do Município. Uma das diretrizes dessa política municipal é
a de promover a formação de uma cultura de preservação na cidade, por meio de
ações que gerem informação, mobilização e participação da população. Dentro
desse escopo, e por meio da Diretoria do Departamento de Patrimônio Histórico,
que foi criada em 2013, ganha centralidade a realização anual do Simpósio do
Patrimônio Material e Imaterial e o Mês do Patrimônio Histórico e
Cultural de Jundiaí.