O tempo é como flecha que nunca volta, segue a diante e leva consigo as histórias daqueles que vieram antes de nós. Nesse ano, o PET-Filosofia UFPR comemora seus 30 anos, que poderia ser uma comemoração de bodas de pérola. Da velha ostra que ainda se lembra do seu passado do outro lado do oceano e que se fecha para se proteger, ainda existe a chance do novo, ainda pode ser que ela tenha sido morada de impurezas que se tornam joia imperfeita, das velhas estantes onde encontramos as obras de tantos filósofos que vieram antes de nós, a batalha das traças pela sua vida efervescente e da naftalina que preserva o passado das intempéries do tempo.
É nessa mistura de melancolia e esperança, memória e novidade presente no momento do fechar os olhos e assoprar as velinhas que o PET quer se inspirar para nossa XVI Semana de Filosofia e convida a toda comunidade interessada pela produção filosófica para participar conosco.
Naftalina. Gostaríamos de lembrar, dentro da ideia da ostra e da naftalina, dos docentes que fazem parte da nossa formação enquanto aqueles que nos alimentam com fibra e proteína produzidas pelo árduo trabalho de filtrar um oceano vivo e tempestuoso e pelo trabalho de manter nossos os conhecimentos preservados, assim como a naftalina que preserva o ar limpo e seco. Comemoramos com eles todos esses anos de departamento, suas conquistas e mudanças, lembranças dos professores aposentados e os planos para o futuro dos que aqui estão agora. São eles que possibilitam nossa formação, nos introduzindo aos debates do passado, criando o ambiente possível das novas ostras começarem a filtragem do oceano.
Traças. Da segurança dentro da ostra, nascem as pérolas. Das velhas estantes nascem as traças que correm por suas vidas, parece geração espontânea, mas é efervescência que se faz mais rápida do que os olhos podem acompanhar. Toda a história da Filosofia é feita do aluno que contesta o mestre, traz o novo e oxigena a discussão, traz o fresco, traz o agora, traz a urgência antes da prioridade. Comemoramos junto das traças, os 30 anos do PET, mas junto comemoramos todos os movimentos estudantis, como também o CAFIL e tantos outros que se fizeram presentes e devoraram os livros antigos em busca de sobreviver mais um dia.
Velha estante. Eterno campo de batalha entre traças e naftalina, um acabou de nascer e precisa correr e se alimentar o mais rápido possível, o outro está no árduo trabalho de adiar o trabalho entrópico do tempo para preservar os livros dos mestres do passado. O convite do PET este ano, por mais que generalista é de visitar suas estantes para pensar em suas comunicações, quais textos do passado será lido e qual traça terá a tua simpatia. Quantas vezes nas suas visitas a biblioteca você reparou de que material era feito a estante e o quanto de trabalho era feito para que você pudesse simplesmente ir até ali no lugar onde o livro deveria estar e encontrá-lo lá? Quantas vezes você foi a seção de teses dos antigos alunos do departamento para ver o que os teus colegas, filósofos brasileiros, já falaram sobre o assunto que você busca nos clássicos? Quantas vezes você, diante do enorme oceano da história, resolveu se fechar como ostra sem a pretensão de em algum momento se abrir e mostrar a pérola que produziu? Esse ano, ao contrário dos outros, o PET quando assoprar a vela de aniversário vai declarar em voz alta seu desejo. Desejamos tê-los conosco, docentes e discentes do departamento para relembrar nosso passado comum. Lembrar do quando docentes foram discentes, até mesmo representantes de CA ou petianos e sonhar quando os discentes se tornarão docentes, expondo suas pesquisas. Apreciar o valor da pérola que a ostra produziu, sem esquecer das vidas das traças devoradoras de livros.