CONSUMO DE BEBIDAS AÇUCARADAS, LANCHES SALGADOS FRITOS E DOCES EM GESTANTES DO MUNICÍPIO DE PINHAIS-PR

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
CONSUMO DE BEBIDAS AÇUCARADAS, LANCHES SALGADOS FRITOS E DOCES EM GESTANTES DO MUNICÍPIO DE PINHAIS-PR
Autores
  • Luíza Buzatto Schemiko
  • SANDRA PATRICIA CRISPIM
  • Claudia Choma Bettega Almeida
Modalidade
Resumo expandido - Relato de Pesquisa
Área temática
Produção e processamento de alimentos para sistemas alimentares saudáveis
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/493610-consumo-de-bebidas-acucaradas-lanches-salgados-fritos-e-doces-em-gestantes-do-municipio-de-pinhais-pr
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
gestantes; consumo alimentar; doces; bebidas açucaradas; lanches salgados fritos.
Resumo
Introdução A qualidade da dieta de mulheres em idade reprodutiva é um importante aspecto a ser considerado, uma vez que as altas exigências nutricionais da gestação colocam as mulheres em situação de vulnerabilidade nutricional, pois demandam maior quantidade de energia e nutrientes nesta fase da vida (KENNEDY; MEYERS, 2005; WHO, 2016). Neste sentido, uma alimentação saudável e adequada durante este período auxilia na proteção das consequências da má nutrição em suas diversas formas: carências nutricionais, obesidade, diabetes, câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis (USDA, 2015; WHO, 2018a; WHO, 2019). Ressalta-se ainda que a má alimentação no período da gravidez contribui para o agravamento de complicações de saúde dos filhos, como baixo peso ao nascer, retardo de crescimento, prematuridade, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis na idade adulta (BLACK, 2013; ROHATGI et. al., 2017; STARLING, SAUDER; KAAR, 2017; GRANDY et al., 2018). Além disso, a má nutrição pode ser agravada por fatores sociais e econômicos, os quais podem conduzir a gestante a algum grau de insegurança alimentar e nutricional (IAN). Neste sentido, o atual sistema agroalimentar brasileiro possui caráter importante neste processo, uma vez que reflete um quadro de transição nutricional que consiste na elevada produção e consumo de alimentos ultraprocessados associada à redução do consumo de alimentos in natura e minimamente processados, conduzindo a um quadro complexo de IAN, especialmente para as gestantes (TROESCH et. al., 2012; MONTEIRO et. al., 2016; DE PAULA, N., 2017; GRANDY et. al., 2018; BADANAI et. al., 2019). Assim, torna-se importante avaliar o consumo alimentar das gestantes para que deficiências nutricionais possam ser corrigidas, bem como para que a qualidade da alimentação possa estar adequada. Objetivo O objetivo deste estudo foi investigar a prevalência do consumo de bebidas açucaradas, doces e lanches salgados e fritos em gestantes em acompanhamento pré-natal no Sistema Único de Saúde de Pinhais, Paraná. Metodologia Esta pesquisa fez parte de um estudo nacional denominado “Estado nutricional de iodo, sódio e potássio entre gestantes, nutrizes e lactentes brasileiras: um estudo multicêntrico”. É um estudo observacional e transversal, desenvolvido em todas as Unidades Básicas de Saúde (11) do município de Pinhais, Paraná, entre março de 2019 e março de 2020. Participaram do estudo gestantes em diferentes idades gestacionais, em acompanhamento pré-natal no SUS. Para o cálculo do tamanho da amostra, fixou-se uma proporção mínima de 8% com erro relativo de 50% e nível de confiança de 95%. Esses parâmetros conduziram a uma amostra aleatória simples de 177 sujeitos. Por se tratar de uma amostra complexa, selecionada a partir das Unidades da Estratégia Saúde da Família – ESF, incluiu-se no cálculo, o efeito do plano amostral (design effect) de 1,5, o que aumentou o tamanho da amostra para 266 sujeitos. As gestantes responderam a questionários relativos à condição socioeconômica, demográfica, de saúde e consumo alimentar. Os dados foram coletados e tabulados no software RedCap. As informações referentes ao consumo alimentar foram coletadas por meio do Recordatório 24 horas e tabulados no software Globodiet. Foram então exportadas para o programa Excel® e posteriormente para o software SPSS versão 22.0 (CORP 2013) para as análises estatísticas referentes à prevalência de consumo de grupos alimentares. A partir do Recordatório 24 horas, os alimentos foram agrupados em 3 grupos: 12. Lanches salgados e fritos; 13. Doces; e 14. Bebidas açucaradas. Cada grupo recebeu a numeração 0 (não consumido) ou 1 (consumido), conforme o consumo ou não do alimento no dia anterior à pesquisa.. Resultados Participaram deste estudo 272 gestantes. A média de idade foi de 26,7 ± 5,87 anos, sendo que a maior parte das mulheres residia com o companheiro (81,5%), se declarou da cor/raça branca (52,9%) e não era beneficiária do Programa Bolsa Família (84,6%). Mais da metade possuía o ensino médio (60,9%), considerava o companheiro como chefe do domicílio (44,1%) e não tinha trabalho remunerado (48,9%). Dentre as gestantes, 61,6% delas possuíam renda domiciliar per capita inferior a um salário-mínimo. Quanto ao IMC gestacional, 39,8% apresentaram IMC adequado, apresentando diminuição desta condição quando comparado ao IMC pré-gestacional (50,4%). Pode-se observar também um aumento na porcentagem de IMC baixo peso (de 2,7% para 9,9%), bem como na porcentagem de excesso de peso (de 47% para 50,2%) quando comparado ao IMC pré-gestacional, sendo que 28,5% apresentaram IMC sobrepeso e 21,7% IMC obesidade. Em relação ao consumo alimentar, observou-se que quase um quarto (24,6%) das gestantes havia consumido lanches salgados e fritos no dia anterior à pesquisa. Mais da metade (64,7%) consumiu doce e a maior parte delas (77,6%) havia consumido bebidas açucaradas. Discussão Investigar o consumo alimentar de mulheres durante a gestação é importante, pois uma alimentação de baixo valor nutricional afeta negativamente a saúde da mãe, do feto e do recém-nascido. Este estudo analisou a qualidade da alimentação de gestantes residentes no município de Pinhais, por meio da análise da prevalência do consumo de bebidas açucaradas, doces e lanches salgados e fritos. De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, a alimentação deve ser composta por alimentos in natura e minimamente processados, buscando a variação dentro de um mesmo grupo alimentar. Deste modo, além de se atingir a diversificação da dieta e a adequação em micronutrientes, também se atingem aspectos sensoriais, como a diversificação de sabores, aromas, cores e texturas, essenciais para que a gestante sinta prazer ao se alimentar (BRASIL, 2014). A elevada prevalência de consumo de alimentos doces, lanches salgados e fritos e bebidas açucaradas é um dado a ser destacado, uma vez que este indicador da qualidade da dieta está relacionado a práticas alimentares inadequadas. Estudos demonstram que o consumo de alimentos ultraprocessados é elevado entre gestantes e está associado a complicações maternas durante a gestação, como diabetes gestacional, parto cesáreo e prematuro, pré-eclâmpsia, assim como riscos à criança, como baixo peso ao nascer, risco de desenvolvimento de obesidade, resistência à insulina e doenças cardiovasculares (HALLDORSSON et. al., 2010; LAMYIAN et. al., 2017; ROHATGI; TINUS; CADE, 2017; STARLING; SAUDER; KAAR, 2017; GRANDY et al., 2018; RAPOSO et al., 2018; LAI et. al., 2018; SHARMA; GREENWOOD, 2018; SKRYPNIK; BOGDANSKI; ZAWIEJSKA, 2019). Pesquisa realizada por Aliwo et. al. (2019) na Etiópia verificou que 44,7% das gestantes tinham o hábito de consumir lanches, e no estudo desenvolvido nos Estados Unidos de Kornatowski e Comstock (2018), o consumo de bebidas açucaradas (sucos de frutas, refrigerantes, bebidas de chocolate, chás doces e bebidas energéticas) foi identificado em 75% das mulheres grávidas analisadas. Pesquisa realizada no Brasil com 256 gestantes (GOMES et. al., 2015), verificou que o consumo de refrigerantes e bolacha/biscoito em pelo menos um dia na semana foi elevado, sendo de 69,9% e 86,4%, respectivamente O consumo destes grupos de alimentos também revela o processo de transição nutricional, bem como evidencia a influência que os aspectos socioeconômicos, políticos e demográficos possuem sobre a alimentação. A influência destas questões pode ser notada ao comparar o preço destes, maior disponibilidade e acesso, menor tempo de preparo aos alimentados in natura e minimamente processados. Tais fatores, quando associados a sua alta palatabilidade, proporcionam maior busca e consumo desses produtos. Além disso, um importante aspecto que influencia na quantidade e qualidade da alimentação é a renda familiar. Estudo de Panigassi et. al. (2008) destaca que as famílias que convivem com a baixa renda per capita possuem maiores chances de apresentar quadro de insegurança alimentar e nutricional, uma vez que não possuem recursos financeiros suficientes para a compra de alimentos em quantidade e qualidade adequadas. Assim, entende-se que os contextos políticos, econômicos e sociais possuem influência sobre a alimentação e nutrição de gestantes, uma vez que estes determinam a produção, valor, disponibilidade e acesso aos alimentos. Desta forma, a vulnerabilidade socioeconômica é um fator determinante da insegurança alimentar e da qualidade da alimentação da gestante. Conclusão Os resultados do estudo demonstram expressiva prevalência de gestantes que consumiram doces, bebidas açucaradas e lanches salgados e fritos no dia anterior à pesquisa, refletindo em baixa qualidade nutricional e possível IAN. Deste modo, sugere-se a realização de mais pesquisas em torno do tema para que informações relativas ao consumo destes grupos alimentares em gestantes e IAN sejam esclarecidas. Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Conflito de interesse: não há conflito de interesse a declarar. Referências ALIWO, S. et. al. Dietary diversity practice and associated factors among pregnant women in North East Ethiopia. BMC Research Notes, v. 12, n. 123, 2019. BADANAI, N. L., et. al. Associação entre os padrões alimentares e grau de processamento de alimentos com o sentimento de depressão na gravidez. Revista Brasileira Saúde Materno Infantil, v. 19, n. 3, jul-set. 2019. BLACK, R. E., et. al. Maternal and child undernutrition and overweight in low-income and middle-income countries. Lancet, v. 383, n. 9890, p. 427-451, aug, 2013. BRASIL. Guia Alimentar para a População Brasileira. 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Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SCHEMIKO, Luíza Buzatto; CRISPIM, SANDRA PATRICIA; ALMEIDA, Claudia Choma Bettega. CONSUMO DE BEBIDAS AÇUCARADAS, LANCHES SALGADOS FRITOS E DOCES EM GESTANTES DO MUNICÍPIO DE PINHAIS-PR.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/493610-CONSUMO-DE-BEBIDAS-ACUCARADAS-LANCHES-SALGADOS-FRITOS-E-DOCES-EM-GESTANTES-DO-MUNICIPIO-DE-PINHAIS-PR. Acesso em: 26/04/2025

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