AQUISIÇÃO DE FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES POR FAMÍLIAS SEGUNDO OS NÍVEIS DE INSEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
AQUISIÇÃO DE FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES POR FAMÍLIAS SEGUNDO OS NÍVEIS DE INSEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL
Autores
  • Jamile Pierre Rodrigues
  • Gleiciane Bueno da Silva Luiz
  • Michele Sgambato
  • Camilla Christine de Souza Cherol
  • Lívia Gomes de Oliveira
  • ROBERTA TEIXEIRA DE OLIVEIRA
  • Rosana Salles-Costa
Modalidade
Resumo expandido - Relato de Pesquisa
Área temática
Determinantes e efeitos da Insegurança Alimentar e Nutricional
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/494991-aquisicao-de-frutas-verduras-e-legumes-por-familias-segundo-os-niveis-de-inseguranca-alimentar-no-brasil
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
Segurança alimentar e nutricional, Inquérito, Alimentos.
Resumo
Introdução As mudanças ocorridas no padrão alimentar da população brasileira nos últimos anos, detectada também pelos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018) sobre disponibilidade domiciliar de alimentos, indicaram aumento da participação de alimentos ultraprocessados nos domicílios brasileiros e redução da aquisição e consumo de alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras (FLV) (IBGE, 2020). As mudanças impactaram na qualidade da alimentação da população, sendo intensificada em famílias com menores rendimentos (SEGALL-CORRÊA, 2014). A POF apontou que os domicílios que possuem maiores restrições no acesso aos alimentos gastam menos com determinados produtos como FLV (IBGE, 2020). Entre os fatores que podem influenciar a aquisição e as despesas com alimentação pelas famílias estão a urbanização, mudanças demográficas, composição familiar, nível educacional, participação da mulher no mercado de trabalho, renda familiar, disponibilidade de acesso e o custo (ANDRIOLLI et al., 2017). O preço das FLV tem aumentado ao longo dos anos e possui um custo superior aos demais grupos de alimentos, o que resulta na baixa participação destes nos domicílios (MOREIRA e MONTEIRO, 2010; WIGGINS et al.; 2015). O acesso à alimentação é um direito humano, e quando ele é violado, há indicação de insegurança alimentar (IA). Por meio dos inquéritos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi possível observar um cenário de diminuição da prevalência de domicílios em situação de IA no comparativo das pesquisas entre 2004 e 2013 (34,9% versus 22,6%). Entretanto, os dados de 2017-2018 (IBGE, 2020) indicaram aumento da IA (36,7%) e retrocesso das conquistas de políticas de promoção da segurança alimentar e nutricional (SAN). Como a IA pode ser caracterizada pelas privações e a instabilidade de acesso aos alimentos, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, podendo afetar a saúde, o estado nutricional e o bem-estar dos indivíduos (BEZERRA et al., 2020), torna-se relevante avaliar a participação dos alimentos em famílias com IA. Assim, o presente trabalho objetivou avaliar a aquisição de FLV em famílias brasileiras de acordo com o nível de IA. Métodos Trata-se de um estudo transversal com microdados da POF de 2017-2018, realizado pelo IBGE, com amostra de 57.920 domicílios. A POF tem como principais objetivos disponibilizar informações sobre a composição orçamentária doméstica e sobre as condições de vida da população, incluindo a percepção subjetiva da qualidade de vida, bem como gerar bases de dados e estudos sobre o perfil nutricional da população (IBGE, 2020). A IA, desfecho do estudo, foi aferida pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Trata-se de uma escala psicométrica que avalia de maneira direta uma das dimensões da segurança alimentar e nutricional em uma população, por meio da percepção e experiência com a fome. A EBIA foi elaborada com base na escala norte-americana de avaliação do desfecho em estudos populacionais nos Estados Unidos e foi adaptada e validada para a realidade da população brasileira, sendo utilizada em inquéritos populacionais desde 2004. Sua versão mais recente é composta por 14 itens, com respostas dicotômicas “sim” ou “não”, que avaliam desde a preocupação com a futura falta do alimento até sua ausência, propriamente dita (SEGALL-CORRÊA et al., 2014). A IA foi classificada em quatro categorias: (i) segurança alimentar, (ii) IA leve, (iii) IA moderada e (iv) IA grave. Segurança alimentar é considerada quando o domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. IA leve é quando há preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro e a qualidade inadequada dos alimentos é resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos. IA moderada é caracterizada quando há redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos. Já IA grave é considerada quando há redução quantitativa de alimentos também entre as crianças e, nesta situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio (IBGE, 2020). A aquisição de alimentos foi registrada por um período de sete dias consecutivos, na qual o preenchimento foi realizado pelo morador responsável pelas aquisições e/ou administração das despesas do domicílio. Para o registro dos alimentos, foram coletadas as informações: unidade de medida, quantidade, peso ou volume, dia da semana, valor (em reais), forma e local de aquisição. Para o presente estudo, foram consideradas a qualidade, as quantidades dos itens alimentícios e o custo (em reais) das frutas, verduras e legumes nos domicílios. Também foram avaliadas informações dos chefes do domicílio, como raça/cor (branca, não branca) e escolaridade em anos de estudo (=8, >8). Foram analisadas as proporções e os intervalos de confiança (IC) de 95% da raça/cor e escolaridade por nível de IA. Em seguida, realizou-se o teste de regressão de Poisson para comparar as razões de prevalências (RP) na aquisição de frutas, verduras e legumes para cada nível de IA, considerando-se a significância de 5%. Para isso foi utilizado o programa Stata 16.0, utilizando-se a análise de amostra expandida. Quanto aos aspectos éticos, segundo a Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde, não é necessária aprovação ética para pesquisas que utilizam informações de banco de dados de domínio público. Resultados Entre os domicílios em situação de IA grave, 76,4% (IC 95%: 73,5-79,1) dos responsáveis eram não brancos e 23,6% (IC95% 20,8-26,5) eram brancos. Já os domicílios que se encontravam em segurança alimentar, 44,7% (IC95% 43,4-46,1) dos chefes eram não brancos e 55,3% (IC95% 53,9-56,6) brancos. Dos domicílios em IA grave, 66,8% (IC95% e 63,7-69,9) dos responsáveis possuíam =8 anos de estudo, enquanto que aqueles em segurança alimentar, 67,8% (IC95% 66,7-68,9), possuíam >8 anos de escolaridade. Domicílios com IA grave estavam associados à menor aquisição de frutas (RP= 0,37; IC95% 0,30-0,45), verduras e legumes (RP= 0,50; IC95% 0,42-0,59), quando comparados aos domicílios com segurança alimentar, seguido de domicílios com IA moderada (frutas: RP= 0,44; IC95% 0,38-0,51; verduras e legumes: RP= 0,55; IC95% 0,49-0,62). Entre os domicílios em situação de IA leve, a aquisição de frutas (RP= 0,55; IC95% 0,51-0,60), verduras e legumes (RP= 0,63; IC95% 0,57-0,69) foram significativamente menores que os domicílios com segurança alimentar (p-valor < 0,05). Discussão De acordo com o estudo, foi possível analisar que os responsáveis pelos domicílios de cor/raça não branca e com escolaridade =8 anos possuíam maiores proporções de IA, e que famílias com IA apresentaram menor aquisição de FLV, sendo ainda menor entre aquelas com IA grave. Os achados corroboram os dados de SANTOS et al. (2019), que identificaram que pessoas com escolaridade abaixo de oito anos relataram que o custo de comprar FLV pesa no orçamento familiar, o que pode estar relacionado aos salários mais baixos devido ao nível de escolaridade e da taxa de empregabilidade. Os estudos de OLIVEIRA et al. (2020) e IBGE (2020) também identificaram menor aquisição de FLV em famílias com menores rendimentos. Considerando que a aquisição de alimentos influencia no seu consumo, a aquisição de FLV deve ser investigada, por se tratar de alimentos saudáveis e, portanto, o seu consumo inadequado pode comprometer os efeitos benéficos que exercem na saúde da população. O baixo consumo destes alimentos pode ocasionar carências nutricionais, tornando o corpo mais suscetível a doenças (OLIVEIRA et al., 2020). Apesar disso, somente cerca de 34,7% da população consumia FLV de maneira regular (JAIME et al., 2013). A renda está diretamente associada à IA (LIGNANI et al., 2020), e com a redução do poder de compra das famílias, o aumento do desemprego e dos preços dos alimentos (SOUZA et al., 2019), foi possível identificar no presente estudo a relação da IA com menor aquisição de FLV. A população com menor renda é mais afetada pela dificuldade de adquirir alimentos saudáveis e variados, assim como as famílias chefiadas por indivíduos de menor escolaridade e de raça/cor não branca (LIGNANI et al., 2020), ressaltando, dessa forma, a desigualdade social. Conclusão Os resultados revelaram a presença de desigualdades na aquisição de FLV entre as famílias brasileiras, principalmente daquelas com níveis mais graves de IA. Ressalta-se, principalmente, a problemática do acesso dificultado aos alimentos em qualidade e quantidade suficientes entre os mais vulneráveis, o que pode comprometer a saúde da população. Fontes de financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) [Edital Universal 2018, 423174/2018-5] e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) [Edital APQ1 2019, E-26/10.001596/2019]. Conflito de interesses: Não há conflito de interesse a declarar. Referências Andriolli, Bianca & Ferraz, Diogo & Oliveira, Fabíola. (2017). O padrão de consumo alimentar das famílias brasileiras: fatores determinantes e tendências. 10.14488/ENEGEP2017_TN_STO_242_402_32715. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_242_402_32715.pdf>. Acesso em: 03 fev. 2022. Bezerra, Mariana Silva; Jacob, Michelle Cristine Medeiros; Ferreira, Maria Angela Fernandes; Vale, Diôgo; Mirabal, Isabelle Ribeiro Barbosa; Lyra, Clélia de Oliveira. - Insegurança alimentar e nutricional no Brasil e sua correlação com indicadores de vulnerabilidade - Ciência &amp; Saúde Coletiva; 25(10); 3833-3846; 2020-10. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/csc/a/vpGZNFNcKySWVrVy4KR3Gtc/abstract/?lang=pt>. Acesso em: 03 fev. 2022. Jaime PC, Stopa SR, Oliveira TP, Vieira ML, Szwarcwald CL, Malta DC. Prevalência e distribuição sociodemográfica de marcadores de alimentação saudável, Pesquisa Nacional de Saúde, Brasil 2013. Epidemiol Serv Saúde 2015; 24(2):267-276. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ress/a/FNmww74jSWy5WJZn8jFHFZD/abstract/?lang=p. Acesso em: 27 abr. 2022. Lignani J de B, Palmeira P de A, Antunes MML et al. (2020). Relationship between social indicators and food insecurity: A systematic review. Rev bras epidemiol 23, 1–15. 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Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

RODRIGUES, Jamile Pierre et al.. AQUISIÇÃO DE FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES POR FAMÍLIAS SEGUNDO OS NÍVEIS DE INSEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/494991-AQUISICAO-DE-FRUTAS-VERDURAS-E-LEGUMES-POR-FAMILIAS-SEGUNDO-OS-NIVEIS-DE-INSEGURANCA-ALIMENTAR-NO-BRASIL. Acesso em: 30/04/2025

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