“PROFESSORA, NÃO ESTOU ENTENDENDO NADA!” CONSTRUINDO PONTES E AFETAMENTOS COM AS CRIANÇAS NA PANDEMIA

Publicado em 11/11/2021 - ISBN: 978-65-5941-410-9

Título do Trabalho
“PROFESSORA, NÃO ESTOU ENTENDENDO NADA!” CONSTRUINDO PONTES E AFETAMENTOS COM AS CRIANÇAS NA PANDEMIA
Autores
  • Ruttyê Silva de Abreu
  • Mairce da Silva Araujo
  • Jennifer Schulze da Silva
  • Stephani Rocha
Modalidade
Sessões de Diálogos - Resumo Expandido
Área temática
EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES E NARRATIVAS: O MUNDO NA ESCOLA E A ESCOLA NO MUNDO
Data de Publicação
11/11/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/375069-professora-nao-estou-entendendo-nada-construindo-pontes-e-afetamentos-com-as-criancas-na-pandemia
ISBN
978-65-5941-410-9
Palavras-Chave
narrativas; educação básica; cotidiano; formação docente; práticas educativas
Resumo
A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros(...). Manoel de Barros, 2002. Convidamos para puxar o fio das conversasreflexões tratadas neste texto, o poema de Manoel de Barros. O poeta que nos provoca a remexer os nossos quintais e aprender com as coisas simples, apanhando aquilo que para muitos seriam coisas desimportantes. Na simplicidade dos fragmentos poéticos que referenciam as infâncias, nós professoras pesquisadoras em formação, nos sentimos motivadas a olhar com cuidado e a escutar sensivelmente as crianças que encontramos ora na escola (de forma virtual e remota), ora em nossos quintais da memória durante os anos de 2020 e 2021. Afetadas pelas perdas sofridas durante o ano de 2020 e pela luta incessante por medidas protetivas, as escolas públicas, incluindo toda sua complexidade e composição, iniciaram o ano letivo de 2021. O quadro era de total desânimo, por ainda estarmos dentro do furacão de notícias e acontecimentos provocados pelo vírus SARSCOV-19 que provocou inicialmente a epidemia do Coronavírus, e que gravemente tornou-se pandemia em todo território brasileiro e mundial. Um dos muitos desafios enfrentados por nós professoras foi iniciar o ano letivo distante do ambiente que anteriormente proporcionava maior segurança em nosso fazer docente. O momento continuava a impor o distanciamento de cada criança e família que compõe a comunidade escolar. Do outro lado, no círculo do grupo de pesquisa que compomos, nosso desafio foi e tem sido, o de entrelaçar os diálogos que emergem de diversas redes e seus municípios, a partir das narrativas das professoras que dele participam, convergindo em compreender e ampliar as aprendizagens que ali circulam. Desde 16 de Março de 2020, dia que marcou a vida dos.as brasileiros.as, observamos bruscamente nossos espaços escolares serem fechados. Naquele mês a proposta inicial era a de adiantar o recesso escolar de julho para não atrapalhar o calendário escolar e desta forma, também contribuir com o distanciamento social e a preservação de vidas. Visto que, até aquele momento era a única forma cientificamente comprovada para conter a propagação da doença. Entretanto, as duas semanas se tornaram meses, os meses se tornaram semestres e lá se vão um ano e meio desde que nossas rotinas foram reviradas pelo coronavírus. Assim, desde o segundo semestre de 2020, com a ameaça do vírus impedindo o retorno presencial das atividades, foi determinado o retorno das aulas, numa modalidade ainda não experimentanda na educação infantil e no ensino fundamental: o ensino online. Foi preciso romper com as dificuldades, aprender com os contratempos da internet, adotar aplicativos e plataformas, estratégias, pouco conhecidas/utilizadas até então, por nós professoras, e entender como as aulas/encontros poderiam ser realizados de forma virtual, sem abrir mão de uma relação diálogica com as crianças. Nos encontros semanais com o grupo de pesquisa Alfabetização, Memória, Formação Docente e Relações Etnicorraciais- ALMEFRE, percebemos e propagamos ressonâncias das nossas inquietações diante do quadro nacional que se anunciava e avançava. Foram momentos de interlocuções intensas, que a partir de trocas e da reflexão coletiva, nos trouxeram pistas para nos reinventar e manter o vínculo com as crianças. A partir desses primeiros encontros online com o grupo de pesquisa, nos propomos a discutir nossas preocupações e angústias, e refletir juntos.as com as graduandas, o que pensavam sobre a situação que nos encontrávamos. Tais conversas nos levaram a questionamentos que aos poucos emergiram nas diferentes vozes que ecoavam em nossos encontros: Como conceber as relações de aprendizagemensino dentro de um contexto pandêmico? Como a educação conseguirá seguir o seu curso, tanto nas escolas de educação básica, quanto nas demais etapas de ensino, incluindo o ensino superior ? Que atividades propor, de maneira remota, que atraiam as crianças a se sentirem motivadas a participar das aulas? Que aprendizagens o afastamento/isolamento provocado pelo coronavírus, no que diz respeito ao processo pedagógico, nos trouxe até esse momento? Como a vida seguiu diante das dificuldades percebidas e enfrentadas? Desejamos socializar neste texto, alguns questionamentos, achados e tentativas de construir pontes de diálogos com as crianças, tendo o distanciamento como percalço e também, pequenas realizações percebidas na interação diária entre professora, crianças e suas famílias em uma escola rural de uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro. Abordaremos algumas propostas realizadas junto às crianças das turmas de 4º e 5º ano do ensino fundamental, quando a princípio escutava-se: Professora, não estou entendendo nada!, diante da proposta de atividade apresentada, contrapondo a outras narrativas em que as crianças demonstravam com propriedade seus conhecimentos sobre os diversos mecanismos que envolvem o uso do celular e tecnologias, como podemos confirmar no registro transcrito do caderno de campo a seguir, Dia 20 de maio de 2020 Hoje fizemos nosso primeiro encontro virtual pelo aplicativo zoom com a turma. Separei um livro que conta sobre quanto é valioso ter um amigo e preparei-me para conversarmos. Diante da euforia da turma, paralisei e resolvi acompanhar a conversa das crianças, mediando quando necessário. Assim que se viram pela janela virtual os meninos logo se cumprimentaram: - Fala meu parceiroooo! - Fala Brow, cara eu tava com muita saudade! - Tia, a gente está com muita saudade! - Bora pegar o contato um do outro, cê tem telefone? - Baixa o jogo “x” pra gente jogar junto. Manda o seu ID. - Tia, deixa a gente trocar o ID rapidinho! As meninas da turma começaram a trocar informações sobre canais de Youtubers que seguem... A alegria do momento mostrou-me que apesar de reconhecer que aquele ambiente não seria a nossa sala de aula, seria ao menos um ambiente de encontros. (Caderno de Campo, 2020) Toda turma sabia com facilidade, menos a professora, que para jogarem juntos precisavam de um código de acesso: o ID. Com satisfação (e por que não diversão?) me explicaram como entrar no jogo, que armas escolher e como pontuar. A conversa foi tomada pela troca de informações, de jogos que as meninas da turma também apreciavam e canais que todos seguiam variando seus gostos. Mal sabíamos que os encontros virtuais se estenderiam durante o ano inteiro de 2020, atingindo o ano de 2021. Iniciamos cada mês com o pensamento de que seria apenas aquele, que novas notícias nos tirariam de nossos cativeiros domiciliares e que em breve voltaríamos aos abraços, aos sorrisos, ao contato presencial... estávamos enganados. Acreditamos que as experiências de acertos e tropeços narradas e intercambiadas por nós, o/as professores/as, mestres, mestrandos.as, doutorandos.as e bolsistas, participantes das reuniões virtuais do grupo de pesquisa, nos oportunizaram formas outras de olhar, escutar e refletir sobre o processo pedagógico, mobilizando o processo de investigaçãoformação. As narrativas nos ajudaram a perceber mais nitidamente o cotidiano escolar como um espaço que não se limita as ações rotineiras, um espaço que nos desafia a encontrar novas respostas para o já sabido, como também respostas antigas para enfrentar o novo contexto, como por exemplo, mobilizar as redes de aprendizagens mútuas entre docentes e crianças. Ter uma escuta sensível para as crianças, nos permitiu perceber o quanto suas curiosidades nos ajudavam na utilização de ferramentas, que outrora nem sabíamos como funcionava. Deste modo, apesar dos infinitos desafios que se apresentaram e conscientes da incompletude narrada tanto por Freire, quanto por Barros, nos valemos desta riqueza, para buscarmos escutar sensivelmente e olhar atentamente para/com as crianças e assim, aprenderensinar com elas. O fazer docente reinventado e construído no dia a dia somado à motivação do grupo de pesquisa, alicerçou a nossa concepção de manter o protagonismo e a produção autônoma das crianças mesmo diante desse novo cotidiano que nos foi apresentado. No redemoinho de dúvidas, incertezas e demandas pelo qual a prática docente foi tomada, fomos movidas a aprender com o novo cotidiano que tomou conta de brasileiros/as, a partir da metade do ano de 2020, como nos diz Manoel de Barros na epígrafe deste resumo, nos renovando usando borboletas. Essa necessidade de reinvenção não abarcava o sentimento de querermos o rotineiro, o dado, ao contrário nos motivaram a ir além. O cotidiano se confirmou, assim, como o espaço que produz e favorece a circulação de saberes não verticalizados, como nos apontam ALVES (2001), CERTEAU(1994). Acreditamos que ao narrar as experiências vividas, buscando nelas lições, no sentido benjaminiano, podemos contribuir para a produção de saberes outros sobre a prática docente, sobre as relações aprendizagemensino, sobre a construção de uma escola mais democrática e atenta às vozes de seus sujeitos, como também acontecia presencialmente. REFERÊNCIAS: ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho – o cotidiano das escolas nas lógicas das redes cotidianas. In: OLIVEIRA, Inês Barbosa de, ALVES, Nilda (orgs). Pesquisa no/do cotidiano das escolas; sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. ______.: GARCIA, Regina Leite. O Sentido da Escola. 5ª. ed. Petrópolis, 2008. BARROS, Manoel de. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro. Record, 2002.
Título do Evento
X FALA Outra ESCOLA
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário Fala Outra Escola
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ABREU, Ruttyê Silva de et al.. “PROFESSORA, NÃO ESTOU ENTENDENDO NADA!” CONSTRUINDO PONTES E AFETAMENTOS COM AS CRIANÇAS NA PANDEMIA.. In: Anais do Seminário Fala Outra Escola. Anais...Campinas(SP) UNICAMP, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/375069-PROFESSORA-NAO-ESTOU-ENTENDENDO-NADA-CONSTRUINDO-PONTES-E-AFETAMENTOS-COM-AS-CRIANCAS-NA-PANDEMIA. Acesso em: 25/04/2025

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